quarta-feira, 25 de junho de 2014

entre eros e afrodite 21 - cartas a Penélope 07

25 de Junho de 2014 às 0:02
* Victor Nogueira

Chegou finalmente o verão, envolto em chuvas e, numa noite destas, súbitos relâmpagos iluminavam para lá da janela como se dia fosse, raios silenciosos de início, cada vez mais atroantes à medida que a a tempestade se aproximava com a chuva em catadupas. Está pois abafado e electrizante o tempo, as núvens de flocos brancos em céu azul alternando com as de cinza em várias tonalidades. A  visita foi ao jardim do Palácio dos Arcos, que teria dado o nome à vila, agora aberto ao público.

Aguarela com uma representação do Paço dos Arcos em tempos antigos.
Publicada no blogue Portugal, sem indicação de autor, data ou proveniência. - http://portugalidade.blogspot.pt/2009/11/o-paco-dos-arcos-mais-de-meio-milenio.html

Aguarela com uma representação do Paço dos Arcos em tempos antigos. Publicada no blogue Portugal, sem indicação de autor, data ou proveniência. - http://portugalidade.blogspot.pt/2009/11/o-paco-dos-arcos-mais-de-meio-milenio.html

O Paço foi construído no século XV e reedificado no XVIII, na sequência do terramoto de 1755. Do conjunto original, o actual edifício mantém os dois torreões ligados por uma grande varanda, apoiada em três grandes arcos.Conserva também a capela, com um magnífico altar barroco, dedicado a Nossa Senhora do Rosário. Dizem as crónicas que D. Manuel I ter-se-ia hospedado várias vezes no Palácio, quer para participar em caçadas na quinta do morgadio, quer para assistir à partida das caravelas para a índia. Também D. Fernando II, D. Luís e a Rainha D. Maria Pia nele teriam permanecido várias vezes. Citando o blog Portugal (1) «a Quinta de Paço de Arcos terá sido uma das mais frondosas e magnificentes da zona ribeirinha de Lisboa, nela tendo caçado ou veraneado vasto número de governantes e figuras ilustres da aristocracia lisboeta. »

Na 1ª foto uma vista aérea do que sobreviveu dos jardins e da Quinta do Palácio após a construção da estrada marginal do Estoril, a sul, e da linha férrea, a norte, para onde se expandiu a vila, encosta acima, primeiro  em vivendas, ladeando a Avenida Conde das Alcáçovas,  e em casas de rendimento nas laterais, até à avenida do Conde S. Januário (juntando-se ao núcleo da Fonte de Maio, antiga zona agrícola bordejando a ribeira de Porto Salvo),ou na urbanização de J. Pimenta numa fase posterior . Na 2ª foto verifica-se a destruição da zona  norte da propriedade, junto à linha férrea, para a construção dos edifícios dos quartos e piscina 


Para além do jardim, com árvores centenárias, a propriedade possuía uma quinta e terrenos de caça, desmantelados há muito pelo crescimento urbano. O palácio, seu recheio (2) e jardim anexo foram doados pelo seu proprietário ao Município de Oeiras, com a condição de nele se instalar uma Casa-Museu e do seu jardim ser fruído pela população. Na posse da propriedade desde 1997 e com o argumento dos elevados fundos necessários para travar a degradação do edifício e sua recuperação, a Câmara entregou as obras de restauro a um grupo hoteleiro que em 2013/2014 nele instalou uma unidade de charme, com construções de raiz anexas que sacrificaram cerca de metade da área verde primitiva, sem que se construísse o museu pretendido pelo Conde de Arronchella e de Castelo de Paiva, José Martinho de Arrochela Pinto de Lencastre Ferrão. Para quem estiver interessado neste “caso” de "sedução", sugiro um artigo sobre o assunto intitulado “Palácio dos Arcos: que futuro?”, onde se questionam as opções e soluções adoptadas. (3)  Na foto a seguir, os resultados da intervenção de charme, com diárias de 200 €. Como se vê a "operação" de restauro e recuperação nada tem a ver com a envolvente nem com os desejos manifestados pelo proprietário ao fazer a doação. Aliás, o que a cadeia hoteleira valoriza na publicidade é o facto da unidade estar a 15 minutos por comboio quer para Cascais quer para Lisboa, embora no pátio estacionem automóveis de alta cilindrada.


Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - os quartos

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - os quartos

Foto Victor Nogueira - Páteo do Palácio, vendo-se em 1º plano a galeria "moderna" que une a zona dos quartos ao Paço

Foto Victor Nogueira - Páteo do Palácio, vendo-se em 1º plano a galeria "moderna" que une a zona dos quartos ao Paço

No que resta do frondoso jardim, parcialmente destruído, persistem árvores majestosas, mesas com cadeiras e uma deslumbrante vista para o rio coalhado de embarcações de recreio.  A diáfana neblina destas tardes de verão não permite visualizar para montante a leveza da ponte 25 de Abril, distinguindo-se  apenas um borrão impreciso, que é o Cristo-Rei.  A “poesia” inspira os grupos escultóricos, de que se destaca a “mesa dos poetas”, onde estão representados cerca de duas dezenas de poetas e poetisas contemporâneos, incluindo os que estão espalhados pela redondeza, como por ex. Sebastião da Gama, Ary dos Santos, António Aleixo, Herberto Helder, Manuel Alegre e António Gedeão ou Irene Lisboa e Fernanda de Castro . A presença da poesia é atestada pelos poemas transcritos nas paredes dos corredores e pelo nome de poetas com que foram “baptizados” os 76 quartos da unidade hoteleira. Contudo o jardim apenas está cuidado junto ao palácio, mais parecendo quase matagal na zona oriental.

Não visitei nem o Palácio, nem a Capela, onde nos anos 60 do século passado assistia à missa com a minha tia-avó, em alternativa à vizinha Ermida do Senhor Jesus dos Navegantes, entre as Travessas da Ermida e a do Conde das Alcáçovas. Encerrada ao culto após a construção da nova igreja, a capela abre as portas anualmente, por altura das festas de verão, para ver sair a procissão em honra do Senhor Jesus dos Navegantes, o seu patrono. 

Do interior da capela do Palácio nada me recordo, embora seja referido o valioso trabalho em talha dourada proveniente dum convento lisboeta, no séc. XIX.  Sobre o Palácio encontra aqui vasta  informação (4)

No início da Travessa Conde das Alcáçovas encontra-se um chafariz do séc XIX, recentemente reconstruído, incluindo  os bancos onde se sentava para conversa quem na espera estivesse, para encher as bilhas. Fronteiro ao Palácio, a Casa da Dízima, actualmente restaurante, que remonta ao século XV e mantém a traça original. Era aqui que se cobrava a dízima, um imposto no valor de 10%  do valor carregado ou descarregado das mercadorias e  pescado. que revertia para o Rei.


Salvo indicação em contrário as fotos são de minha autoria e datam de 2014.Junho

NOTAS

vem de entre eros e afrodite 20 - cartas a Penélope 06

continua em entre eros e afrodite 20 - cartas a Penélope 08

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1975

Foto Victor Nogueira -  trav da ermida 1975

Foto Victor Nogueira - trav da ermida 1975

Foto Victor Nogueira -  trav conde das alcáçovas 1975

Foto Victor Nogueira - trav conde das alcáçovas 1975

Foto Victor Nogueira - jardim e palácio   1975

Foto Victor Nogueira - jardim e palácio 1975


Foto Victor Nogueira - Paço de Arcos  (núcleo primitiovo) - 1975Foto Victor Nogueira - Paço de Arcos (núcleo primitiovo) - 1975

2014

Foto Victor Nogueira -  trav da ermida 2014

Foto Victor Nogueira - trav da ermida 2014

Foto Victor Nogueira -  cafariz (sec. XIX) e trav conde das alcáçovas 2014

Foto Victor Nogueira - chafariz (sec. XIX) e trav conde das alcáçovas 2014

Foto Victor Nogueira - entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - páteo na entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - páteo na entrada para o palácio (hotel) e jardins

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - escultura de Herberto Helder

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - escultura de Herberto Helder

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" (pormenor)

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" 

(pormenor)

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" (pormenor)

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" (pormenor)

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -  vista do rio tejo

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - vista do rio tejo

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -  vista do rio tejo

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - vista do rio tejo

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - conjunto escultórico

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - zona oriental

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio - zona oriental

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" (pormenor)

jardins do Palácio - conjunto escultórico "A mesa dos poetas" (pormenor)

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - jardins do Palácio -

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos (reflexo)

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos (reflexo)

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos -

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos -

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - Capela

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - Capela

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - capela (pormenor)

Foto Victor Nogueira - Palácio dos Arcos - capela (pormenor)

Foto Victor Nogueira - Casa da Dízima

Foto Victor Nogueira - Casa da Dízima

Foto Victor Nogueira - gato em abluções na travessa da ermida

Foto Victor Nogueira - gato em abluções na travessa da ermida

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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)