segunda-feira, 11 de novembro de 2019

pingos do mindelo 17.19 - entre o "Clair de Lune" e o pôr-do-sol, com ... mais flores, mais flores, mais flores!

  Tintin, criação de Hergé


* Victor Nogueira

Em anteriores pingos falou-se de Paul Verlaine e do seu poema "Claire de lune", que foi objecto de composição musical por Claude Débussy (Suite bergamasque), Beethoven (Sonata para piano nº. 14 em C♯ menor "Quasi una fantasia", Op. 27, No. 2) e por Gabriel Fauré [Op. 46 "Two Songs" (1887)], que se apresenta de seguiida.


Teresa Stich-Randall e Gerald Moore -"Clair de lune", por Fauré / Verlaine-

Em contraponto, um "Madrigal renascentista - Estrela no Céu é Lua Nova". do folclore afro brasileiro,um arranjo de Heitor Villa-Lobos.



Estrela do céu é lua nova
cravejada de ouro ma kumbêbê,
Óia ma kumbêbê,
Óia ma kumbaribá,
Estrela do céu é lua nova
cravejada de ouro ma kumbêbê
Óia ma kumbêbê,
Óia ma kumbaribá.

E, para finalizar este intemezzo, duas interpetações da canção estudantil coimbrã: "À Meia Noite Ao Luar"


Estudantina Universitária de Coimbra - "À Meia Noite Ao Luar"


Nuno da Câmara Pereira - " À Meia Noite Ao Luar"

À Meia Noite Ao Luar - tradicional do fado Coimbrão

Á meia noite ao luar
Vai pelas ruas a cantar
O boémio sonhador

E a recatada donzela
De mansinho abre a janela
À doce canção de amor

Ai como é belo
Á luz da lua
Ouvir-se um fado em plena rua

Sou cantador apaixonado
Vibrando as cordas
A cantar o fado

Dão as doze badaladas
E ao ouvir-se as guitarradas 
Surge o luar que é de prata

Mas, descendo à terra, por vezes há dias de sol aqui pela nortenha, fria e nublada Scotland,  como diz o meu amigo Carlos, que se havia habituado aos quentes verões eborenses e às tépidas e amenas temperaturas lisbonenses. É de seguida um pôr-do-sol, ali na Ponta da Gafa, aqui no Mindelo. Na foto aparece uma recorrente fotógrafa amadora, referida por mim num anterior "pingo", embora ela more à beira-mar e só tenha de atravessar a rua, enquanto eu estou a uns 2 km da Gafa e tenha de percorrer toda a longilínea Rua da Praia para lá chegar.

Dias de sol  ....




A fotógrafa fotografada 




... noites e dias de chuva






"Veneza" no milheiral, após uma noite de temporal



~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Este é verdadeiramente um pingo de complementaridade. Num anterior referira "Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!", um verso dum poema de Alberto Caeiro, a seguir reproduzido na totalidade.


Alberto Caeiro
XLIII - Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto

XLIII

Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto,
Que a passagem do animal, que fica lembrada no chão.
A ave passa e esquece, e assim deve ser.
O animal, onde já não está e por isso de nada serve,
Mostra que já esteve, o que não serve para nada.

A recordação é uma traição à Natureza.
Porque a Natureza de ontem não é Natureza.
O que foi não é nada, e lembrar é não ver.

Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!

7-5-1914
“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.





Mais flores, mais flores, mais flores!



Luis Cilia - "É preciso avisar toda a gente" (1967) - poema de João Apolinário

É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
duma força que nada  a detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta.

É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.





Captação de imagens em 2019.11.03/10

Sem comentários:

Enviar um comentário

Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)