De Monte Real a Lisboa
A automotora chegou perto das 14 horas. Chegámos a Lisboa com cerca de uma hora de atraso, às 18:30.
Entre a Cela e o Campo Serra tivemos que mudar de carruagem, pois os motores avariaram-se. A nova, que ia a puxar, foi a que se avariou, tendo passado para o meio. Viajámos em 1ª classe.
Muitas das estações [da Linha do Oeste] tinham bonitos jardins. Em Óbidos vimos o Castelo, que é enorme. Salvo erro a vila ainda se encontra dentro das muralhas. Chegámos ao Bombarral, terra dos vinhos, às 16h 16m Lá vi diversos homens com o barrete ribatejano, verde e vermelho. Em Torres Vedras vi uma casa acastelada mas arruinada. Passámos por três pequenos túneis e antes de Jer[…] por um comprido. Passámos depois pela Malveira, Alcainça. Moinho, Pedra Furada, Sabugo, Telhal. Cerca das 18h 30m entrámos no túnel da Campolide e uns cinco minutos depois estávamos em Lisboa. Ficámos no Hotel [Americano, na Rua 1º de Dezembro. (Diário III, 8/9 Setembro 1963, págs 348/351)
Lisboa
Ficámos no Hotel Americano, na Rua 1º de Dezembro. Ao entardecer vim dar uma volta, para ver as montras nos Restauradores e Avenida da Liberdade. Vi os cinemas Éden, que parece luxuoso, e Restauradores (que dá sessões contínuas). Subi a avenida e cheguei ao Parque Mayer. Dei por lá uma volta, tendo feito o gosto ao dedo na barraca de tiro ao alvo. Parte do [filme] "O Parque das Ilusões" passa‑se aqui. Quando cheguei ao S. Jorge [um pouco mais acima] voltei para o hotel. Passei pelo Tivoli e pelo Condes. As montras das lojas são variadas. Utilizei a passagem subterrânea. Depois do jantar fomos comer uns camarões e beber umas cervejas. A casa onde comemos tem as paredes forradas de conchas. (1963.09.09 - Diário III)
De manhã fomos a um mercado no bairro da encosta do Castelo ([1]). Depois visitámos o Castelo de S. Jorge, que é grande. Gostei bastante de vê‑lo. Regressámos ao Hotel, tendo antes ido à Igreja do Carmo, subindo no elevador [de Santa Justa]. As ruínas nada têm de especial, mas há lá um Museu Arqueológico interessante, com objectos da Idade da Pedra, túmulos, múmias e outras coisas do meu agrado. (...) ([2]) (1963.09.10 - Diário III).
Após o almoço fomos ver o Museu Militar, de que também gostei. No Museu de Angola, em Luanda, também temos algo, mas não se pode comparar a este. Gostaria de tê-lo visto com mais vagar. Seguimos pela Avenida Marginal até à Torre de Belém. (Diário III 1963.09.10 pags 354/355)
Após o almoço seguimos pela Avenida Marginal até à Torre de Belém. Visitámos tudo, desde a torre até às masmorras, que são parecidas com as do Forte de S. Pedro da Barra, em Luanda: frias e húmidas. Visitámos o Museu dos Coches, que também me agradou. (...) O avô Luís já não teve disposição para vermos o Mosteiro dos Jerónimos. (...) Vi também a Casa dos Bicos e os pilares da Ponte sobre o Tejo. ([1]) (...) O tempo tem estado muito quente, mas hoje à tarde esteve chuvoso e à noite também: é uma espécie de "cacimbo" (1963.09.10 - Diário III)
Vista do Estuário do Tejo, ainda sem a Pote, na altura em construção
No Jardim Zoológico
Regresso ao Porto
Às 8:30 tomámos o rápido da linha do Norte. Caía uma chuva miúdinha e no céu via-se um lindo arco‑íris. Matabichámos no bar da estação de Santa Apolónia, em, Lisboa, que é original, com motivos do caminho de ferro.
À saída de Lisboa passámos por um aeródromo militar. Monte Real era sobrevoada por aviões a jacto, da Base Aérea 5. A primeira paragem foi em Santarém. As cadeiras da automotora são mais espaçosas que as do rápido. Às 9:40 chegámos ao Entroncamento, a terra dos fenómenos. Ia tão entretido a ler que, entre Fátima e Pombal, passámos por um túnel sem eu dar por isso.~
Antes de Pombal passámos por um outro que estava em obras. Nesta altura chovia.
Às 11:10 chegámos a Alfarelos e pouco depois à estação de Coimbra B. O rio Mondego estava quase seco - e é um rio importante do continente! Passámos por Pampilhosa da Serra (11:43), Cúria (11:50), Aveiro (12:18), Estarreja, Ovar, Espinho, Granja (13:05), Vila Nova de Gaia (13:25), Campanhã e S. Bento (13:50).
Na nossa carruagem seguiam 4 indianos que deveriam ter saído em Coimbra, mas por ignorância (passaram lá sem saber) não o fizeram e resolveram seguir até ao Porto. Muitas das estações do percurso tinham bonitos jardins. (1963.09.11 - Diário III)
Fotos Victor Nogueira e JL Castro Ferreira
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)