sábado, 27 de março de 2021

o sismo de 1969

 


* Victor Nogueira

QUEM SE LEMBRA DO SISMO DE 1969 ? Ei-lo, nas minhas  notas da altura:

«Enviei-vos há dias um telegrama, horas depois do violento abalo sísmico que se fez sentir em Évora e em todo o país. Muita gente, especialmente as miúdas, anda desde então com os nervos em frangalhos. O eles terem-se repetido nestes últimos dias, embora com uma intensidade muito menor - nem sequer os sinto pois durmo beatificamente a essa hora - muito deve contribuir para isso.

Estava eu muito bem a dormir, quando dei por mim num estado de semi-sonolência. Pensei: "Isto é um camião" [ou uma carroça rodando no empedrado da rua]. Não sei porquê senti que não podia ser, acendi o candeeiro da mesa de cabeceira e levantei-me! A luz apagou-se, o chão vibrava assustadoramente e eu pensei "Esta merda (do chão) vai abaixo e eu atrás". Pensei em pôr-me junto da parede, para o caso do tecto ruir, mas o problema do chão persistia. Assim optei por pôr-me junto à janela - talvez influências subconscientes dos quadros existentes no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, mostrando aspectos daquela cidade após o terramoto de 1755.

Tudo isto foi feito instantaneamente. Foram 60 segundos intermináveis, angustiosos (tive a nítida sensação de impotência perante algo contra o qual nada poderia fazer senão aguardar, aguardar). Como se sentirão os condenados à morte quando na câmara de gás, ouvindo o PLOFF das cápsulas?! Bem, calcei as pantufas, enfiei o roupão e desci ao piso inferior. Todos se encontravam bem. Lá estivemos todos na sala de jantar. Os ressuscitados.

Bem, liguei o rádio, nesse momento o Rádio Clube Português retomava as emissões - eram 4 h 30 m - e às cinco, num segundo noticiário, tivemos conhecimento da extensão do sinistro. Partindo do princípio que a coisa se não repetiria, enfiei-me debaixo dos lençóis e acordei às 6 horas com o estridente tocar da campainha do telefone. Desci as escadas a correr: era o maninho duma das miúdas a saber notícias.» (NSF - 1969.03.05)

Uma vez em Évora, já nos idos de 74, comentava com o meu pai - engenheiro civil - que as paredes da parte antiga de évora, pela sua espessura, deveriam ser muito resistentes aos abalos sísmicos e ele respondeu que não, que se tratava de pedras maiores ou menores unidas com argamassa e que bastava saltar uma para a parede e o edifício ruírem.  (2014 03 27)


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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)