Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sábado, 27 de março de 2021

o sismo de 1969

 


* Victor Nogueira

QUEM SE LEMBRA DO SISMO DE 1969 ? Ei-lo, nas minhas  notas da altura:

«Enviei-vos há dias um telegrama, horas depois do violento abalo sísmico que se fez sentir em Évora e em todo o país. Muita gente, especialmente as miúdas, anda desde então com os nervos em frangalhos. O eles terem-se repetido nestes últimos dias, embora com uma intensidade muito menor - nem sequer os sinto pois durmo beatificamente a essa hora - muito deve contribuir para isso.

Estava eu muito bem a dormir, quando dei por mim num estado de semi-sonolência. Pensei: "Isto é um camião" [ou uma carroça rodando no empedrado da rua]. Não sei porquê senti que não podia ser, acendi o candeeiro da mesa de cabeceira e levantei-me! A luz apagou-se, o chão vibrava assustadoramente e eu pensei "Esta merda (do chão) vai abaixo e eu atrás". Pensei em pôr-me junto da parede, para o caso do tecto ruir, mas o problema do chão persistia. Assim optei por pôr-me junto à janela - talvez influências subconscientes dos quadros existentes no Castelo de S. Jorge, em Lisboa, mostrando aspectos daquela cidade após o terramoto de 1755.

Tudo isto foi feito instantaneamente. Foram 60 segundos intermináveis, angustiosos (tive a nítida sensação de impotência perante algo contra o qual nada poderia fazer senão aguardar, aguardar). Como se sentirão os condenados à morte quando na câmara de gás, ouvindo o PLOFF das cápsulas?! Bem, calcei as pantufas, enfiei o roupão e desci ao piso inferior. Todos se encontravam bem. Lá estivemos todos na sala de jantar. Os ressuscitados.

Bem, liguei o rádio, nesse momento o Rádio Clube Português retomava as emissões - eram 4 h 30 m - e às cinco, num segundo noticiário, tivemos conhecimento da extensão do sinistro. Partindo do princípio que a coisa se não repetiria, enfiei-me debaixo dos lençóis e acordei às 6 horas com o estridente tocar da campainha do telefone. Desci as escadas a correr: era o maninho duma das miúdas a saber notícias.» (NSF - 1969.03.05)

Uma vez em Évora, já nos idos de 74, comentava com o meu pai - engenheiro civil - que as paredes da parte antiga de évora, pela sua espessura, deveriam ser muito resistentes aos abalos sísmicos e ele respondeu que não, que se tratava de pedras maiores ou menores unidas com argamassa e que bastava saltar uma para a parede e o edifício ruírem.  (2014 03 27)


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