* Victor Nogueira
2014 03 04 memórias e (des)afectos
Pois ... Há objectos que são como que pessoas, aos quais nos afeiçoamos. Não sendo eu um habilidoso manual salvo para o corriqueiro-simples, a máquina de calcular Facit, barulhenta mas fiável, que me valeu durante todos os meus estudos nos anos 60 e 70 do passado milénio ainda foi recuperável por um especialista. Hoje é uma peça de museu, tal como a régua de cálculo, já sem cursor, que o meu pai me oferecera, in illo tempore.
Já a velha Oliveti Lettera 2000, na qual escrevi muitos trabalhos, correspondência, artigos e textos literários, essa não era recuperável salvo por um preço injustificável em termos de custos/benefícios. E foi para a sucata, sem que ao menos uma foto dela tivesse tirado. Mas não ganhei o mesmo afecto à que comprei para substituí-la até à generalização dos computadores e as cábulas dos comandos do MS DOS pré Windows e de programas hoje esotéricos como o Word Star, o dBase III e o Quatro Pro, todos longe dum clique. Enfim ....
a propósito de "O enterro do berbequim", por Ricardo Garcia, in
http://blogues.publico.pt/nosnomundo/2014/03/02/o-enterro-do-berbequim
2014 03 04 Vida e Morte duma Cosina 1000 S (reflex)
(...)
.
1 - Neste local ermo [Lourinhã] , já com a noite adiantada, apanhamos um valente susto. Ao contornar a igreja gótica, no local do destruído castelo, encontramos uma motocicleta estacionada, mas prosseguindo, afoitamente, chegamos à fachada principal, que não tivemos tempo de admirar e fotografar, pois alguém assomou e gritou por entre a escuridão dos arbustos do jardim vizinho; resolvemos abreviar a visita e procurar local menos isolado, incomodados pelos passos rápidos que se aproximam cada vez mais até que surge um jovem de capacete na mão, olhar esgazeado e fixo, dirigindo se-nos sem responder às minhas interpelações, sempre direito a nós, sem que eu encontrasse no chão algo que permitisse usar em nossa defesa.
2014 03 04 Ele há cada contradição, D. Carlos I foi o ultimo rei de Portugal a pescada nunca escapa mesmo que tente e a fome, por mais que a matemos, é como felino de sete vidas ou hidra das sete cabeças, sempre em pé: nunca conseguimos dar cabo dela. É como fenix, das cinzas sempre renascida./
2015 04 03 As histórias de Lucky Luke, o "pobre cowboy solitário
muito longe de casa" e que "dispara mais rápido que a própria sombra" são situadas nos EUA, com argumentos normalmente baseados em episódios da sua história, no tempo do chamado "farwest". Desenhado por Morris, teve como 1º argumentista - delicioso - Goscniny, tb co-autor de outros personagens hilariantes da BD como Asterix, Iznogoud ou o indio Humpahpah.
Continua em Lucky Luke
2016 03 04 Luanda - numa das churrasqueiras dos arredores - manuel, victor, maria emília, zé luís
– carta do irmão de 22 anos ao irmão de 17
Não vou fazer um enunciado dos deveres filiais. Lembro-me, no entanto, da ternura que em princípio todos os filhos devem ter pelos pais; ternura, amor, respeito. Creio que talvez tenhas razões, quiçá justas e ponderáveis, para te fechares na tua torre de marfim. Mas seria bom para ti que te habituasses a descer ao povoado, pois se agora não podes esquecer ou superar os agravos que julgas ter recebido, da parte daqueles que, apesar de tudo, de todos os seus erros e fraquezas, te amam porque teus Pais, como agirás no futuro face aos teus companheiros de profissão, à família que porventura constituirás, em súmula face ao Mundo? Ocorrem-me, neste momento - e não é a primeira vez que isso sucede - o azedume que tenho espalhado e por vezes ainda espalho ao meu redor! Um sorriso amargo vem-me ao espírito ao recordar as nossas mesquinhas - agora, mas não então - macas (questões, zangas) por causa dos recortes dos jornais, da "Plateia" e do "Zorro", do álbum de fotos. Quanto azedume nas nossas relações, quanto má vontade, só porque éramos incapazes de sairmos da nossa torre! E no entanto, assim o creio, no fundo dos nossos corações éramos e somos amigos! Não deixes que sejam os outros a condicionarem a tua atitude, quando essa influência for negativa!
Tens de encarar os Pais (e toda a gente, afinal) como seres humanos normais, comuns, com virtudes e defeitos, como qualquer ser humano. É normalíssimo os filhos idealizarem uma imagem perfeita dos Pais. A idade, o desenvolvimento da consciência, faz ver que adoravam ídolos de barro, assim o pensam. Mas têm de superar esta desilusão, de transformar a adoração infantil pelo amor adulto! (JLNS - 1968.08.08)
CARTA aos 23 anos A UMA AMIGA
É possível que no próximo Verão eu vá a Luanda. A minha Mãe, esquecendo-se da minha face má, sonha ansiosamente com essas férias, para tentar juntar uma família que nunca esteve junta (embora vivendo sob o mesmo tecto), pelo menos até onde a minha memória alcança. E eu também lá quero ir, para tentar enterrar definitivamente alguns "fantasmas" e encerrar páginas do livro da minha vida. Para que desapareçam dois ídolos esboroados, de pés de barro, e nasçam finalmente dois Amigos: O Manuel e a Maria Emília.(NSM - 1969 PÁSCOA)
2019 03 04 foto victor nogueira - carnaval em setúbal - mural (vista parcial) comemorativo do 50º aniversário da morte de Fernando Pessoa (1935/1985) - Este mural. situava-se na Rua Acácio Barradas, no muro dum antiga fábrica conserveira de peixe, ambos entretanto demolidos
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Águas passadas não movem moinhos? Bem ... enquanto passaram podem ou não tê-los movido e assim ajudado ou não a produzir a farinha para o pão que alimenta o corpo sem o qual o espírito não existe. (Victor Nogueira)