foto victor nogueira - monte da arouca (unidade colectiva de produção soldado luís)
O catrelas, como diz o zé pinto, em frente à casa do feitor todas iguais, como a da professora e do "mais que tudo" (este nas férias ou aos fins-de-semana) como as dos restantes trabalhadores - telha vã, 3 "quartos" sem portas interiores e paredes a pouco mais de meia-altura, com uma lareira/cozinha, moscas durante o dia e muitos mosquitos dos arrozais, hordas deles, ao cair da tarde. Lama por todo o lado no tempo das chuvas,nuvens de pó nos restantes. Uma "santa" vida, água acartada em bilhas desde a fonte junto ao lavadouro público, um pouco mais adiante, iluminação a petróleo, banhos num enorme alguidar de zinco e necessidades satisfeitas ao ar livre. O avio provinha da aldeia defronte, Vale de Guiso, duas travessias de bote, em cais de palafitas. Avio transportado à cabeça ou naa mão, para quem não tinha senão os pés. Eram os "bons" tempos do latifúndio.
Algumas das casas tinham um alpendre com videira, como as da foto, outras canteiros com flores, como a nossa. O resto eram aridez, ervas, estevas, sardinheiras e cactos, para além dos arrozais, de pinheiros mansos e de sobreiros. Na primavera ficava tudo de verde coberto, com pequenas flores campestres, umas brancas, outras amarelas, como as dos tremoceiros, ou vermelhas,das malvas.
O acesso de carro - o R4 da professora ou o jipe dos agrários - fazia-se por um trilho desde a Herdade da Barrosinha, paralelo à vala de irrigação, intransitável no inverno, ou através dum labirinto de trilhos não sinalizados a partir da estrada de Alcácer do Sal a Montemor-o-Novo.
O agrário, que morava na vila, tinha neste monte uma casa, com mais comodidades, mas desocupada e fechada. Embora a mulher do agrário e a Celeste fossem ambas professoras e nos encontrássemos por vezes em Alcácer do Sal, só quando começaram as ocupações da Reforma Agrária se lembraram de no-la oferecer, o que nunca haviamos solicitado. A casa viria a ser ocupada por uma família mais numerosa que a nossa, na herdade.