Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sábado, 30 de maio de 2020

Luanda 1966 / 68 - antigo Liceu Nacional Salvador Correia

Luanda 1966 / 68   Liceu Nacional Salvador Correia - actual Magistério Mutu-Ya-Kevela

Salvador Correia foi o comandante da esquadra aparelhada e financiada pelos senhores do engenho brasileiros para retirar aos Países Baixos o controle do tráfico esclavagista que haviam obtido  com a ocupação de Angola em 1640. . A ideis inicial era tornar Angola e Benguela dependentes do Brasil, mas a burguesia esclavagista angolana optou por ficar dependente de Portugal, por ser mais favorável aos seus interesses mercantis.

Mutu-ya-Kevela (Luvemba, Reino Bailundo, c. 1870 - Reino Cuanhama, c. 1903), foi um comandante militar e vigésimo sexto Soma Inene (rei) do Reino Bailundo, sendo o último monarca do país Bailundo ainda independente. A ele é atribuído o feito de ter liderado os maiores exercícios militares em solo africano contra uma potência colonial antes da Primeira Guerra Mundial, durante a parte final da Segunda Guerra Luso-Ovimbundo. (wikipedia)

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Tomara que chova, três dias sem parar.

* Victor Nogueira


Ainda estamos na Primavera mas os dias parecem estivais, carregados de electricidade prenunciadora de trovoadas e com elevada humidade que impede a evaporação do suor, pegajosas gotículas cobrindo-nos desagradavelmente a pele. Tomara que chova para limar a aspereza do tempo.

Como dizia mesmo aquela "Marchinha de Carnaval"?

Tomara que chova,
Três dias sem parar,
Tomara que chova,
Três dias sem parar.

A minha grande mágoa,
É lá em casa
Não ter água,
Eu preciso me lavar.

De promessa eu ando cheio,
Quando eu conto,
A minha vida,
Ninguém quer acreditar,

Trabalho não me cansa,
O que cansa é pensar,
Que lá em casa não tem água,
Nem pr'a cozinhar.

~~~~~~~~~~~~~

Marchinha de Romeu Gentil e Paquito, interpretada por Emilinha Borba no Carnaval de 1951 (Brasil)

sexta-feira, 29 de maio de 2020

medra a procissão no adro


* Victor Nogueira

medra a procissão  no adro
para que medrando
rime

e no agitar das ondas
sem rima remando
em catadupas
se esconda o pivete.

baralham
e no
baralho
viciado
embaralham-se
ensarilham-se
na salgalhada

estóico
alapado
pensam acorrentar
o mexilhão
à lapa
e
ao
rato ?

e a floresta
dos
animais
negra de enganos

é entrar
é entrar
meninos e meninas
é a valsa da burguesia
o baile dos tais
fatais
nos
sinais
da canga

lobos com hienas
lacraus e víboras
moscas e moscardos
em contínuo zum-zum
tubarões e sardinhas
polvos e aventesmas
no saco das farinhas
macacos e macaquinhos
avestruzes e pavões
em sacudidos safanões
aranhas e aranhiços
patranhas e enguiços
com melros e catatuas
pegas e papagaios
rosados ratinhos
e de cinza as ratazanas
o salalé roendo o miolo
e o cupim com estupim
crocodilos e piranhas
em alegre chilreada
palrando
as araras e os abutres
em babilónica sintonia
aos saltitos
ensarilhada salgalhada
cabras e ovelhas
nas parelhas
galos e galinhas às pintinhas
e galifões saltitões
caimões
carapaus com paus
e
os cordeiros com orelhas
velhas
de gato por lebre
e a febre
de
perúas e pardalitos
avestruzes catrapuzes
na teia
aranhas e aranhiços
com patranhas
e sumiços

com figurinhas e figurões
vai  ensurdecedora a zoadeira na feira ?

e nós 

azémolas
cavalgaduras
na pendura
de camelos e dromedários !?

setúbal 2014.05.29

quinta-feira, 28 de maio de 2020

na fila do califa


* Victor Nogueira

na fila do califa
a cáfila
não cala e fila
a faca

afia
e
não fia
confia

segue em
em fila

não dorme
o dromedário

medra
com o doce perfume
da rima
e

rio
dando á costa
seguro
e calo
os camelos
com mel e sol

na sombra
pela rédea
adere

duas
e nuas
as dunas
aluvião
de
areia

seca
que seca
a meca
perfilada
e
perfilhada
perfídia
a
28
de
maio

desmaio
ou
saio

com
abril em maio ?


setúbal 2014.05.28

no amarelo




no amarelo
singelo
a
flor rima
com ardor e rema
com amor
que trama
e
ateia
a teia
com o andor
ou estupor
de calmaria
ardente sarça
a raça
na barca
embarca
ou
embaraça
com abraços
em baraços aos molhos
laços
nos teus olhos
lassos
abrolhos
abr'olhos

setúbal 2014.05.28

Foto Victor Nogueira -  Flores campesinas

efémera

* Victor Nogueira
Tudo passa, tudo escorre, tudo maça, tudo morre
Duvida das palavras que dizem serem eternos os sentimentos
o amor e a amizade
em gestos de grandiosidade
.
efémera
.
Esses são os mais falsos, máscara,
porque as suas âncoras entroncam no lamaçal
do sonho ou da mentira
fortaleza frágil com fundações na água que passa
A verdade é feita do silêncio e da sabedoria
de que nada é eterno
e que a eternidade se conquista no dia-a-dia
passo a passo
abraço
pedra a pedra
gesto com gesto
com o gesto e na voz que se querem presente
e que a poesia
ah, a poesia
essa, essa ...
.
... mas que pressa !
.
.
Victor Nogueira
2012.05.28

domingo, 24 de maio de 2020

vive e convive

vive
e
convive
convida
com vida
sem vida o covid
e vive a vida
com destemor
afecto humor cor
amor e fantasia
sem azia

antes morrer de pé do que de rastos

2020.05.24

é como se fosse ...

* Victor Nogueira


Ah! Ela é tão gira nessa foto de perfil Assoma num repente sorridente e num ai se vai É como se fosse ... como se fosse .... perdido num emaranhado de palavras e sentir ... é como se fosse ... é como se fosse uma claridade um sossego em mim logo se partindo logo desassossegando é como se tivesse sido .... como se fosse a carícia da brisa suave no meu rosto! Ahahahah diz a musa a pauta em fiapos des(a)fiando Setúbal 2020.05.24

o poema treme

* Victor Nogueira

o poema treme
não rema
nem rima
treme
não arrima

nem abaixo
nem acima
não encaixo
nem em caixa
em baixo

no desvão
as lettres
soletres
a mão
no chão

ão ão ão
béu béu
re bé béu


Setúbal 2020.05.24

quinta-feira, 21 de maio de 2020

não quero nem posso




eu sou aquilo que fiz


* Victor Nogueira 

1. - Ali no gravador canta o Zeca Afonso, que tinha uma voz muito bonita. E ao mesmo tempo fico triste com elas (canções), porque me fazem lembrar o tempo do fascismo, quando havia esperança de lutar e conseguir um mundo melhor, sem guerra,. nem miséria, nem fome, mas onde houvesse alegria, liberdade e paz. (SNS - 1987.04.26)
2. - Se me ficasse apenas pela aparência do que os meus olhos vêm, a neblina e o cinzento que envolvem a cidade prenunciariam um dia frio, de chuva miúdinha. Mas o suor goticular que permanece à flor da pele sem que se evapore indica que o resto do dia, para além de nublado, será quente e húmido. Uma boa chuvada seguramente que refrescaria o tempo e afastaria este pesado chumbo que me envolve, que em Luanda, na estação quente, prenunciaria grandes e violentas bátegas de água quando não relampejantes e ensurdecedoras trovoadas. Mas este é um país de brandos costumes, de pequenas tempestades, de meias águas e de meias tintas. (Setúbal, MMA - 1994.06.15) 3. - O Mesquita é um incompetente, não prepara as lições e mete água. Mas é o Mestre, Senhor todo poderoso enquanto os estudantes continuarem a falar pelos cafés, cada qual metido no seu individualismo, no seu morno egoísmo, na sua indiferença quotidiana! (MCG - 1972.10.18) 4. - Quando um dia for escrita a história do Instituto , verifica-se-à quão castradora foi a sua acção - e esterilizante - quão veementemente destruiu nas pessoas a espontaneidade, a solidariedade, a camaradagem. Não propriamente destruir, porque nesta maldita sociedade portuguesa feudalizada, cinco séculos de história contribuíram para nivelar as pessoas no temor, na mediocridade e na inautenticidade. A coragem, a hombridade, a lealdade, o entusiasmo inovador, eis o que falta ao castrado povo português! (NSM - 1971.01.14) 5. - Sou (sobretudo) aquilo que faço e não apenas aquilo que digo..(VN) 6. - Vejo hoje no Instituto o dr. Amílcar Mesquita, o Rola, o Director do Instituto e outros professores. Sobe por mim a contrariedade que me despertam: o arrivismo, a cretinice, o autoritarismo, a desumanidade dum país de que a escola é o reflexo pela política dos jesuítas. Sobe por mim o desejo de gritar NÃO a tudo isto que profundamente abomino e que tão dolorosamente suportei durante estes seis anos de luta para não me deixar negar. (MCG – 1974.04.27/28) 7.- Salut, camarada! Se puede enganar a todo el pueblo parte del tiempo Se puede enganar a parte del pueblo todo el tiempo pero no se puede enganar a todo el pueblo todo el tiempo. (Lincoln) Aqui está a minha esperança! Nós venceremos. Mesmo que eu seja derrotado ou me venda, outros tomarão o meu lugar, empunharão o estandarte. Algum dia venceremos! Algum dia! Salut, camarada! (MCG - 1972.08.13) ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ * José Afonso “Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político, como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os álibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta”. Em entrevista a Viriato Teles, in «O Jornal», 27/4/84.

o teu silêncio



caricatura por Barradas Teixeira - 1966





Foto Victor Nogueira - caricatura por  Carlos Barradas Teixeira - 1966 Luanda - festa dos finalistas do liceu nacional salvador correia

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Ciranda a Évora deambulando pela casa,





Ciranda a Évora entre mim e o Rui deambulando pela casa, por vezes com a sua cama e cobertor atrás. Um dia destes enquanto via uma das minhas séries policiais apercebi-me de movimentos ao meu lado: era ela tentando e conseguindo tapar-se com o cobertor. Não gosta que a fotografem e levanta-se e segue-me mesmo que pareça adormecida. Por vezes senta-se ao lado da cadeira em que estou sentado e fica a olhar para a TV. Que verá ela? Em que pensará, tão sossegada?

monte da arouca (unidade colectiva de produção soldado luís)




foto victor nogueira - monte da arouca (unidade colectiva de produção soldado luís)

O catrelas, como diz o zé pinto, em frente à casa do feitor  todas iguais, como a da professora e do "mais que tudo" (este nas férias ou aos fins-de-semana) como as dos restantes trabalhadores - telha vã, 3 "quartos" sem portas  interiores e paredes a pouco mais de meia-altura, com uma lareira/cozinha, moscas durante o dia e muitos mosquitos dos arrozais, hordas deles, ao cair da tarde. Lama por todo o lado no tempo das chuvas,nuvens de  pó nos restantes. Uma "santa" vida, água acartada em bilhas desde a fonte junto ao lavadouro público, um pouco mais adiante, iluminação a petróleo, banhos num enorme alguidar de zinco e necessidades satisfeitas ao ar livre. O avio provinha da aldeia defronte, Vale de Guiso, duas travessias de bote, em cais de palafitas. Avio transportado à cabeça ou naa mão, para quem não tinha senão os pés. Eram os "bons" tempos do latifúndio.

Algumas das casas tinham um alpendre com videira, como as da foto, outras canteiros com flores, como a nossa. O resto eram aridez, ervas, estevas, sardinheiras e cactos, para além dos arrozais, de pinheiros mansos e de sobreiros. Na primavera ficava tudo de verde coberto, com pequenas flores campestres, umas brancas, outras amarelas, como as dos tremoceiros, ou vermelhas,das malvas.

O acesso de carro  - o R4 da professora ou o jipe dos agrários - fazia-se por um trilho desde a Herdade da Barrosinha, paralelo à vala de irrigação, intransitável no inverno, ou através dum labirinto de trilhos não sinalizados a partir da estrada de Alcácer do Sal a Montemor-o-Novo.

O agrário, que morava na vila, tinha neste monte uma casa, com mais comodidades, mas  desocupada e fechada. Embora a mulher do agrário e a Celeste fossem ambas professoras e nos encontrássemos por vezes em Alcácer do Sal, só quando começaram as ocupações da Reforma Agrária se lembraram de no-la oferecer, o que nunca haviamos solicitado. A casa viria a ser ocupada por uma família mais numerosa que a nossa, na herdade.

terça-feira, 19 de maio de 2020

Setúbal - A Belavista é formada por três bairros distintos

 

 - Setúbal - A Belavista é formada por três bairros distintos conforme a cor predominante: amarelo, rosa e azul (este com uma vista deslumbrante sobre o estuário do Rio Sado.). 

Projectados  para acolherem o operariado das grandes unidades industriais, incluindo Sines, esse objecto foi abandonado devido à crise petrolífera de 1973. 

Depois do 25 de Abril nele foram alojados entre outros os deslocados pela independência das colónias e os realojados dos bairros de lata. de que resultou um por vezes explosivo "melting pot", devido á diversidade de grupos etno-culturais.  

Do grandioso projecto inicial resta um aprazível parque verde e um enorme complexo habitacional que a Câmara tenta "reabilitar" com a colaboração dos moradores, num processo difícil e moroso. 

Antes de todo este realojamento as casas foram comercializadas pelos Serviços Municipais de Habitação e agradou-me na altura a "vivência colectiva" que presidira à sua concepção: os pátios interiores, as varandas corridas e de usufruto comum.  Visitei-as e os fogos eram amplos e desafogados. 

Felizmente desistimos de adquirir lá casa. Com efeito e devido aos realojamentos feitos por populações díspares e sem acompanhamento social com vista a integração harmoniosa, o bairro entrou em degradação e os espaços colectivos foram, sempre que possível, "privatizados" devido ao espírito individualista e, por razões de segurança (com redes, gradeamentos e cancelas, como se vê na foto).

Nesta zona havia a célebre ´"Água da Belavista", comercializada engarrafada mas também de abastecimento livre pelas populações. A  inquinação dos lençóís freáticos  levou ao encerramento da empresa e no lugar dos edifícios demolidos surgiu mais um supermercado, no caso o Lidl que, conjuntamente com dois mini-mercados Mini-Preço levou ao encerramento da esmagadora maioria do pequeno comércio tradicional.

A  Câmara liderada pelo Partido Socialista de 1986 a 2001, atendendo aos interesses das especulações imobiliária  e urbanística, pretendeu demolir toda o complexo habitacional com desalojamento das populações, considerando as esplêndidas vistas da zona sobre o Estuário do io Sado e o pôr-do-sol. . Mas o processo não foi avante.

Sobre  "parque verde da belavista" encontra-se uma photo-reportagem setúbal - parque verde da belavista

A Belavista foi objecto dum projecto cinematográfico de que se fala em  http://ionline.sapo.pt/302679 e em no vídeo ao lado.

Sobre Setúbal falo também em Sobre setúbal 02 https://www.facebook.com/notes/victor-barroso-nogueira/sobre-set%C3%BAbal-02/10151503286989436/



foto  victor nogueira

segunda-feira, 18 de maio de 2020

(convidas-me?)

* Victor Nogueira

(convidas-me?) 1. - Esta sol, calor e céu límpido, azul. E eu? Eu estou sentado, sem covid mas com vida escorrendo sem que a morna brisa floresça. Um leve aceno da lanchoa para o Universo. Espero estejam bem, apesar do fragor do silêncio 2. - Anoitece. A brisa entra pela janela entremeada pelo dedilhar compassado no teclado, os signos como se de alvo marfim fossem em cintilante fundo negro, seguido pelo baque seco e regular na barra de espaços. Não sendo a velha Olivetti Letera 2000, a mudança no fim de cada linha é automática, sem o som do carreto accionado pela alavanca avançando um, dois, três espaços. 3. Levanto-me, carrego no interruptor, a luz ilumina a sala. O céu, lá fora, para lá da janela, esse agora está cinzentonho. 4. - Os segundos somaram minutos e estes tornando-se horas. A vidraça reflecte o que me cerca e para lá dela, o negrume da noite e o silêncio, quebrado pelo dedilhar das teclas enchendo a tela de carreirinhas de formigas, as letras. 5. - Neste caleidoscópio neste jogo de espelhos baços e toscos, sem laços, lasso ... Não ferve a verve; os tições não vivificam as ilusões. Nas horas que passam e nas várias encruzilhadas, delas está Penélope ausente. No plaino abandonado, o horizonte é uma linha indefinida, oscilante. Foto Victor Nogueira, em Beja, no passado milénio Setúbal 2020.05.18

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Versão segunda

(convidas-me?) 1. - Esta sol, calor e céu límpido, azul. E eu? Eu estou sentado, sem covid mas com vida escorrendo estéril por entre os meus dedos, como naufrago num mar oceano de arco íris que a morna brisa não aquece, estiolados os poemas de amoramizade, sem verve. Um leve aceno da lanchoa para o Universo. Espero estejam bem, apesar do fragor do silêncio 2. - Anoitece. A brisa entra pela janela entremeada pelo dedilhar compassado no teclado, os signos como se de alvo marfim fossem em fundo negro, seguido pelo baque seco e regular na barra de espaços. Não sendo a velha Olivetti Letera 2000, a mudança no fim de cada linha é automática, sem o som do carreto accionado pela alavanca avançando um, dois, três espaços. 3. Levanto-me, carrego no interruptor, a luz ilumina a sala. O céu, lá fora, para lá da janela, esse agora está cinzentonho.

Setúbal 2020.05.18
Foto Victor Nogueira, em Beja, no passado milénio



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Versão primeira

Viva. Esta sol, calor e ceu limpido, azul. E eu? Eu estou sentado, com vida escorrendo esteril por entre os meus dedos., como naufrago num mar oceano de arco iris que a morna brisa nao aquece, estiolados os poemas de amoramizade, sem verve. Um leve aceno da lanchoa para o universo. Espero estejas bem.


POST-SCRIPTUM

Como estou? Com a normalidade do costume.
Escrevi hoje um novo texto
Quando escrevia à mão ou emendava os textos dactilografados, as palavras riscadas, sobrepostas, intercaladas, permitiam seguir o processo criativo do escriba, do artesão do verbo ou das letras.
Hoje, com os computadores, salvo se se guardarem cópias (de algumas) das várias versões é que essa tarefa poderia ocorrer. Esta publicação dum texto que teve múltiplas versões, reteve apenas 3 delas.  É apenas um exercício de habilidoso, sem calor, mero exercíciozito com as palavras.

o silêncio tem a dimensão do Universo.





1. - Muitas vezes, para o bem ou para o mal, o silêncio tem a dimensão do Universo. Seja ou não tecido ou (des)construído de palavras silabadas. (2016.05.18)

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2. -   Notícias do Bloqueio II   

Estão suspensas as palavras
Proibidos os gestos
………de ternura, amizade e amor.
O silêncio invade as ruas
………entra nas casas
………senta-se à mesa da gente.
Que sentido tem dizer
………amor
………amiga
………camarada
………companheiro?
Que sentido tem
………abrir as mãos e os olhos
………e perguntar qual o significado do
………que vemos, ouvimos, entendemos e sentimos?
Gaivotas loucas, alvoraçadas, enchem os ares
………de movimento e ruído.
Enquanto a vida escorre pelos dedos
………indiferente
………medíocre
………submissa.

1985.Outubro.02 - Setúbal
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FOTO - "
"Silencio" foto de THOMAS BACCARO in http://www.lilianpacce.com.br/moda/o-silencio-em-imagens/nggallery/image/thomas-baccarodivulgacao-2/

TEXTO - Victor Nogueira  por causa de  http://blogues.publico.pt/tudomenoseconomia/2016/05/18/silencio-entre-silencios/


MÚSICA - ERNESTO CORTAZAR - Beethoven's Silence


Hora do Intervalo - TV - séries


*Victor Nogueira


Bem, vou jantar e depois ver uma excelente série como são as  da RTP2.: Uma Aldeia Francesa.(durante a ocupação alemã da França). E de seguida, rumo à FoxCrime ou à RTP 2 para ver os policiais: Vera, Inspector Morse, Endeavour,  Midsomer Crimes (britânicas) Candice Renoir, Um crime um castigo (francesas) ... Pode ser que um dia escreva sobre estas e  outras, como A Herança, (dinamarquesa), A família Krupp (alemã),  Gomorra (italiana), Versaiiles, O Paraíso,  Mosqueteiros, Guerra e Paz, (britânicas), Hospital Real, (galega) ....  Terminadas que foram as "reposições" na RTP Memória das britânicas Sherlock Holmes, Poirot e Miss Marple (embora nem todas as intérpretes da idosa detective me agradem) Divirtam-se !

ÉVORA 1980 - piquenique e o R4

 



FOTO VICTOR NOGUEIRA - ÉVORA 1980 - piquenique e o R4 (AG - 44 - 62 ) com muitas histórias de atravessar os campos, as veredas e os trilhos do alentejo 




  • Susana Silva não reconheço ninguém

  • Zulmira Castro Lobo Faz-me lembrar a minha infância.


  • Victor Barroso Nogueira pois ... Susana Silva o AG são o Artur e a Fátima Guerra, para além da Mariazinha, a Celeste, tu, o Miguel Bacelar (teu padrinho) e os filhos entre outros que não identifico. Não sei se a Joana tb está na foto, mas com estes e muitos outros, como o Urs e a Helena Zuber, a Isabel e o marido, o Queiroga e a mulher, o Bizarro e a Helena, a Teresa e o marido,todos com os filhos da tua idade na altura,para além da Noémia, fizemos muitos piqueniques e convívios, para além de irmos a casa uns dos outros ;-P
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  • Joana Espanca Bacelar Pois Victor Nogueira, eu estou sentada no chão de blusa amarela e branca, que belos momentos tivemos quer no campo ou em casa uns dos outros como dizes. Obrigada por partilhares estas fotos lindas. Nesta foto as crianças são os meus filhos, Mi, Pedro e João e a tua Susana.

  • Joana Espanca Bacelar Victor Nogueira, não fomos todos no teu carro pois não?

  • Joao Espanca Bacelar eu estou ao lado esquerdo, no meio do arbusto :) Não sei se fomos todos na 4L mas recordo passeios onde íamos bem encavalitados

  • Victor Barroso Nogueira oh Joana Espanca Bacelar Já passaram tantos anos. Deve haver outro carro, talvez o vosso, que não terá ficado na foto :-)

  • Victor Barroso Nogueira Pois, João Bacelar, naquele tempo não havia cintos de segurnça nem cadeiras para as crianças no banco de trás LOL

  • Joao Espanca Bacelar hehe.. nem as estradas permitiam grandes velocidades.. lembro-me de que ir a Moura parecia uma travessia de dia inteiro e incluía uma aventura que era passar o Guadiana através de uma barca de madeira.

  • Victor Barroso Nogueira LOL João Bacelar. Eu vim um bocadinho mais de longe, do outro lado do equador, e estava sempre em viagem entre Beja, Amareleja, Porto, Barcelos, Lisboa o Luanda, qd fora de évoraburgomedieval. Mas o R4 era um grande carro Um abraço :-)
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  • José Eliseu Pinto Lembro-me bem da «catrela».


  • Victor Barroso Nogueira Eh pá, o que é "catrela" ? ahhhhhhhhhhhhhhh descobri, deve ser corruptela de 4L Jose Eliseu Pinto LOL