sábado, 29 de agosto de 2015

floreandando

* Victor Nogueira

Duas ou três das roseiras ainda florescem e as granjas ou hortênsias secas estão. Nos dias cinzentos e chuvinhentos as dálias viram as corolas para o chão, como que alquebradas, arrebitando e erguendo as hastes com a soalheira. Em dias ventosos as perpétuas ficam de rojo, soerguendo-se com o bom tempo. Os malmequeres brancos sobressaem entre a folhagem verde mas não adianta desfolhá-los em busca de Penélopes ou Miquelinas.

Para lá da janela desta sala e do muro mais além - ainda sem espigas formadas que se distingam daqui - o milheiral  matiza-se de variados verdes desde o baço e mortiço ao dourado,de acordo com a luminosidade dos dias.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

o milheiral

* Victor Nogueira


No passado inverno, ao assomar a uma das janelas, verifiquei que havia trabalhos de rega no milheiral das trazeiras, fotografando assim as diversas fases do trabalho. Por vezes o tractor com equipamento de rega acoplado parecia uma avioneta em manobras de aterrar ou levantar voo. Terminada a faina, recolheu as asas e abalou. Oito meses depois, aí está o campo pujante e ainda verdejante, esperando que as maçarocas cresçam, umas vezes imóvel, outras balouçando ao sabor do vento.,





domingo, 23 de agosto de 2015

Cinzentonho está o tempo


Cinzentonho está o tempo
pluvioso e ventoso
sem sonho
bisonho e tristonho

No milheiral verde baço
as hastes e as folhas
curvilíneas 
alinhadas em baraço
oscilam doidosamente
p'ra lá e p'ra cá p'ra cá e p'ra lá
como ondas alterosas encrrespadas pelo vendaval

Gélido e pegonhento´ é o frio
trespassante até aos ossos
frio e feio
nada estival
mas outonal.

Não há versos conversos
nem poesia que resistam.

Passo a mão pelo rosto
como se de lixa fosse a pele
e
por pirraça e para lá da vidraça
dançam folhas e hastes
ainda sem maçarocas
nem pipocas
no quintal em brando oscilar
abanando
curvadas e decaidas
as dálias juncam de pétalas
amarelo laranja
a geira acastanhada
e
adormecida



Mindelo 2015.08.23
foto victor nogueira
 - Vila do Conde invernal, em 2014.12 -  Casa do Submosteiro ou Solar dos Vasconcelos -

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Portimão e ponte sobre o rio arade



1986
DO MEU LIVRO DE VIAGENS (1986 -antes da construção da chamada Via do Infante) -- Por uma estrada atravancada de carros, espinha dorsal transversal do Algarve, fomos [de Lagos] até Faro. Pelo caminho, lá em baixo, Portimão à beira do curso de água, com os seus restaurantes característicos de sardinhadas. A cidade situa se na foz da Ribeira do Arade.. Do cimo da ponte, lá em baixo, os restaurantes com a fumarada da sardinha assada e o reflexo das traineiras nas águas que balouçam suavemente. Foi importante centro ligado à indústria conserveira, como Peniche, Setúbal e Matosinhos, hoje em decadência.  (1986)


2000.04.14
(Portimão)
Centro – ruas estreitas, casas sem graça, muitas cobertas de azulejos e ladrilhos.

2000.04.15
Portimão
Praia da Rocha

2000.04.16
Portimão
Alvor
(Reserva Natural do Alvor)
Praia da Rocha

2000.04.16
Portimão
Alvor
(Reserva Natural do Alvor)
Praia da Rocha

2000.04.18
Ao pé de Portimão uma ponte parecida com a de Vasco da Gama, no rio Tejo. O rio Arade está seco e cheira mal. Muito trânsito. Atravessamos Alcantarilha com a Igreja lá no cimo, meia tapada por um enorme edifício antigo cor de rosa escuro. Passamos pela Zoomania (ou Zoomarina?)

2000.04.21 – 135 km
(Portimão)
À saída de Portimão a caminho de Monchique, fotografia a pombal. De Portimão até Monchique a estrada corre por entre pequenas elevações cobertas por arvoredo, tudo verdejante. Aqui e além, muito raramente, um pequeno grupo de casas.

Cruzamo-nos com um grupo de turistas com tendas e alforges. Atrás do selim. (?) Acabaram os burros que transportavam as pessoas, as mercadorias e as bagagens e em substituição ficam as bicicletas. Não se dá cabo da saúde dos burros e as pessoas ganham-na pedalando.

À beira da estrada, aqui e além, vende-se artesanato do Alentejo e laranjas vistosamente floridas. A 2 km de Monchique a subida torna‑se mais acentuada e curvilínea.

2000.04.22 – 42 km
(Calvário)
foto a platibanda
Estombar
Foto a igreja matriz e várias casas.
Ferragudo
Chuvada repentina, obrigando-nos ao refúgio numa cabine telefónica.
Escadinhas do Arade, Travessa da Sé, Calçada do Compromisso, Ruas da Ribeira e da Igreja
Portimão

Foto ao interior da Igreja matriz.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Na varanda soalheira onde hoje o sol não escalda ...

* Victor Nogueira



Na varanda soalheira onde hoje o sol não escalda corre uma brisa fresca e algo frigída. Chilreiam aves e ouvem-se não cucos  mas o que me dizem ser  rolas bravas, como que arrulhando. De vez em quando passam carros trepidando suavemente na calçada da rua e aviões sulcam e atroam os ares neste fim de tarde semi-estival. 

Esparsamente ouvem-se latidos esganiçados de cães nos quintais vizinhos; como já me reconhecem, não é por minha causa mas por estranhos que circulam na rua, alguns dos quais vislumbro pelo canto do olho, enquanto ponho a leitura em dia, com o “Público” que o Alcino, o vizinho da frente, me facultou por sua iniciativa e amavelmente. 

As moscas dão-me uma abençoada trégua.  Foi dia de festa: recebi vários telefonemas e algumas mensagens em retribuição das minhas.

São horas de jantar e a cozinha chama por mim.

foto victor nogueira - mindelo - a praia

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

cont(r)a-corrente

* Victor Nogueira


Vou às compras ao Modelo/Continente de Vila do Conde e resolvo seguir não pela por vezes ronceira EN Porto/Viana do Castelo mas pela "paralela" A28. Chegando à rotunda perto dos arcos do Aqueduto de Santa Clara verifico que no sentido inverso vigora o pára-arranque, com mais páras que arranques. Ainda são apenas 18 horas, a tarde está soalheira, um soalheiro que a brisa torna quase invernal, e resolvo seguir até à marginal costeira, inflectindo para sul  rumo ao centro de Vila do Conde. Para Norte vigora também o pára-arranca mas na direcção que sigo a via está desimpedida. Entusiamo de pouca dura pois cerca do Castelo de S. João Baptista, na foz do Rio Ave, mergulho no inferno do pára-arranca nas vias estruturantes da cidade, do qual não consigo livrar-me, por mais caminhos interiores alternativos que procure. Vou sempre desembocar no sufoco.

Resta-me esperar que o tempo passe e desafogue o trânsito. Regresso à fieira de esplanadas junto ao Castelo, vazias de clientes. A brisa fresca não é acolhedora e vou olhando para o interior dos pouco apelativos e correspondentes "cafés". Escolho um à sorte, o ar denuncia o fumo do tabaco do jovem que namorisca a empregada, jovem de negro vestida - muitas jovens de negro vestidas encontro empregadas por esta zona -  encomendo uma torrada e um iced-tea. Por estas bandas as torradas "comem-se" e não são saborosas como as de Setúbal. Enquanto mordisco a torrada e bebo, vou lendo um livrito de contos de ficção científica. Nem aqui me livro do mosquedo, sarnento, que esvoaça em torno de mim. O tempo escorre, o trânsito seguramente ter-se-á esvaído, pago e rumo ao Fiesta. 

A bateria da máquina fotográfica falha ao fim de duas ou três fotos, descarregada. Em tempos comprara duas para suplentes de reserva, mas a maquineta recusa-se a "reconhecê-las". É de "finuras",  o aparelho.

São já 19h 30m  e  desisto de ir à loja do Ti Belmiro. Sigo pela recta do Mindelo e na zona industrial, estilo "Chinatown" de armazéns de vendas por grosso, paro no "Mini-Preço" para abastecer-me de víveres. Nestes mini-mercados da zona, incluindo o Modelo, é pouca a variedade de produtos.  Abasteço-me e são quase 21 h quando arrumo o Fiesta no quintal e cerro o portão.


Sobre o castelo e a envolvente ver  na foz do rio Ave in


no pára-arranca paralelo ao rio ave,com o convento de santa clara em fundo


terça-feira, 18 de agosto de 2015

Otelo, o Iago da Revolução

* Victor Nogueira

Pois ... Otelo, ao sabor das marés, o Iago da Revolução. Otelo, que sendo candidato, "confessou" ter votado não em si mas ... em Eanes (o homem do 25 de Novembro). Segundo Otelo, com Eanes a democracia estava consolidada. Se não disse bem assim, a ideia era esta. O mesmo Otelo que "confessou" que estava arrependido de ter "feito" o 25 de Abril ! Onde pára Otelo, ultimamente afastado dos holofotes e dos megafones ?

comentário em 18.08.1975 – O famoso discurso de Vasco Gonçalves em Almada 
http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2015/08/18081975-o-famoso-discurso-de-vasco.html

as crises, os PAF's e os PLOF's

* Victor Nogueira

Escreve FS  "O discurso radicalizado à volta de "nós ou o caos" diz bem da crise do pensamento político entre nós." Substitua-se "pensamento"  por "comentarismo" e temos o TINA ps(d)cds marginalizando a restante "realidade". 

Como se não houvesse mais vida, pensamento(s) político(s) e pessoas para além do colete de forças do alterne ps(d)cds e para lá dos PAF's e dos PLOF's. 

Porque a crise insolúvel (para lá das aparências) é a do capitalismo e a de certo pensamento político e a do sistema socio-económico que este defende.


comentário a http://entreasbrumasdamemoria.blogspot.pt/2015/08/ou-nos-ou-o-caos.html

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

sol e sombras com eça

* Victor Nogueira


O sol bate na casa o dia inteiro e mesmo no inverno, se não estiver o tempo nublado, instalo-me ali na varanda, sentado numa cadeira, os pés noutra, absorvido numa qualquer leitura, por vezes observando fortuitamente quem passa na rua ou os cucurutos perpassando defronte, no quintal do vizinho

Hoje a leitura foi de "Os novos Maias", uma edição do Expresso (1) comprada em saldos na tabacaria da praia, contos desenvolvidos em torno de Carlos da Maia ou seus descendentes. Gostei dos que foram escritos  por Rentes de Carvalho e por Clara Ferreira Alves. embora em dois dos quatro e a despropósito lá apareça metido a martelo Estaline e os seus "massacres". No da Clara o descendente é um vencido da vida, vivendo das rendas e da venda do património familiar, reaccionário e  blasé. Com ele termina a descendência de Afonso da Maia, avô de Carlos. Não havia nos saldos o volume escrito por José Luís Peixoto e por Agualusa, este um autor angolano que aprecio, conjuntamente com Pepetela e com Luandino Vieira.

No quintal as dálias cumprem o seu ciclo de vida: juncam de pétalas a terra enquanto desabrocham novos botões entre corolas fenecidas e pétalas vivazes.


Está um dia soalheiro, o céu límpido e de anil


* Victor Nogueira

Está um dia soalheiro, o céu límpido e de anil, uma suave brisa agita em leve balancear o verde e cerrado campo de milho; onde o outonal amarelo  - ainda pálido - vai surgindo por entre as folhas ponteagudas, as dálias em fogo como que arribaram, soerguendo-se. da terra....

Aves saltaricam em voos rápidos e as moscas zumbindo - ah! as moscas, como se fossem sarna - esvoaçam e ferroam e picam como sanguessugas ou carraças, aparentemente imunes ao insecticida. Bem se pode afirmar que se mil elefantes incomodam muita gente, uma mosca incomoda muito mais. 

Tudo é silêncio, de vez em quando quebrado pelo atroar das aeronaves em manobras de aterrisagem ou levantamento aos ares no vizinho  aeroporto  das Pedras Rubras.

É hora de almoço ! Aguardo a vinda do trolha.(ou pedreiro)

Mindelo, 2015.08.17

sábado, 15 de agosto de 2015

mindelo num fim de tarde cinzentão

mindelo num fim de tarde cinzentão

* Victor Nogueira

O dia esteve soalheiro, ameno, de céu azul. A partir do meio da tarde tornou-se cinzentonho e chuviento. A caminho da praia o som atroador caracterísco de feiras, esta durando apenas o dia de hoje, ocupando o parque de estacionamento. Em cima do palco uma rapariga executa gestos de ginástica ritmica, repetidos pelo assistentes de variadas idades. O recinto é pobre: tendinhas do que pretende passar por artesanato, alguns locais de comes e bebes, um animal assando num enorme espeto, recinto para as crianças .. O público é pouco e o tempo não convida nem torna apelativa a pobrezes do recinto.

A caminho de casa resolvo não ir pelo interior da freguesia passando por baixo do viaduto e sigo em frente, cruzando a passagem de nível. Verifico assim que o mini-mercado Biguana já nãoé na estrada para Vila do Conde, junto às bombas de combustível da Galp mas  sim perto da estação do metropolitano de superfície. Aproveito para fazer algumas compras e a senhora sorridente que me atende responde-me que a criança que provoca o adiantado estado de gravidez nascerá em breve.

post-scriptum -  Uma vez mais, cerca da meia-noite, estralejam foguetes, assinalando talvez o fim da festa, neste mês de feiras e romarias, umas ricas, sumptuosoas, bem afreguesadas, com cortejo e andores, outras nem por isso.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

mindelo e a praia


* victor nogueira

Mindelo - a praia tem esta zona rochosa. antigo ancoradouro dos barcos de pesca. e outra arenosa estendendo-se por km ao longo da costa. No areal outrora secavam-se os sargaços, depois utilizados para fertilizar os campos agrícolas

Mais sobre a praia em


e em

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Porto e Ponte da Arrábida

 * Victor Nogueira


foto victor nogueira - porto e ponte da arrábida, sobre o rio douro, vistos de vila nova de gaia, em 2015. Esta ponte (na época o maior arco de betão armado do mundo) é da autoria do engº Edgar Cardoso, tal como a de S. João (ferroviária). 

Em 1963 estava eu a estudar no Porto e à inaugração da Ponte da Arrábida faço referência no meu diário de então

"O Presidente da República, Américo Tomás veio ao Porto inaugurar a  Ponte da Arrábida (1963.06.22/23 - Diário III)

À tarde fomos, o avô Luís e família, à Ponte da Arrábida, tendo percorrido a auto-estrada. Em seguida fomos ao Palácio [de Cristal] onde jantámos. Escusado será dizer que andei nos automóveis eléctricos. Andei também nos barcos do lago. A princípio não sabia guiar aquilo, mas... aprender até morrer! (Diário III - 1963.06.30)"



Esta auto-estrada cobria então a fenomenal distância de .. cinco km, entre o Porto e os Carvalhos, situação que se manteve durante largos anos. Aliás, à saída de Lisboa pouco maior distância cobria, sendo as centenas de km entre ambos os troços suprida pela ronceira EN 1.

Na zona do Porto é o rio Douro atravessado por seis pontes_ D. Maria e D. Luís (ambas do séc XIX e arquitectura do ferro), Arrábida, S. João, Arrábida, Freixo e Infante (D. Henrique). Restam ainda os pilares da antiga ponte pênsil, na Ribeira, e a memória do desastre da Ponte das Barcas  ocorrido durante uma das invasões francesas, desastre em que teriam morrido ccerca de 4 mil pessoas que fugiam aos exércitos napoleónicos. Dizem que Luísa Todi, cantora lírica setubalense perdido teria perdido as suas jóias, o que não teria impedido o general francês Soult de lhe dar protecção, pois Todi era célebre nos palcos selectos europeus da época.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

está hoje morrinhento o tempo

* Victor Nogueira

está hoje morrinhento o tempo
pálido e sombreado
assombrado

sem poesia

baço o milheiral
de cinza o céu sem núvens que se vejam
impregnante até aos ossos a fria  e trespassante humidade

as moscas lângudias são como carraças
a erva daninha no quintal foi arrancada
ficando o castanho da terra e o verde clorofila
pintalgado de multicoloridas flores

nos intervalos
o desejo contido e solitário

"bom dia com humor e fantasia"

mindelo 2015 08 11

TRÊS HORAS ENTRE DOIS AVIÕES, um conto de F Scott-Fitzgerald

* Victor Nogueira

Numa tabacaria na praia, aqui no Mindelo, encontro em saldo vários exemplares dispersos duma colecção antologica de "Grandes Mestres do Conto”, numa "Biblioteca de Verão" em tempos editada pelo "Jornal /Diário de Notícias" (1), de que adquiri alguns dos números disponíveis. Cada pequeno volume está sujeito a um tema e dos "Humorísticos" resolvi partilhar o que dá o título a esta nota.


 Ilustração de Nuno Saraiva in Público retirada de http://beboliqueime.blogspot.pt/2015/06/boas-ferias.html

Esta de através do Facebook reencontrar amizades e conhecimentos, sobretudo de Luanda, Porto, Lisboa Évora …, muitas vezes  perdidos na bruma dos tempos e da memória, é uma "experiência" notável. Alguns são apenas um nome, uma fotografia, que a memória mútua nem sempre preenche biunivocamente. Mesmo que o cérebro dê ao personagem espessura e lembranças convividas, é por vezes um balde de água fria o não reconhecimento pelo outro (m/f).

Num dos almoços anuais dos antigos alunos da Escola Industrial de Luanda, em que acompanhei a minha mãe que lá dera aulas, com grande contentamento alguém se me dirigiu -  um "rapaz" - dizendo que convivêramos na Praia do Bispo e perante o meu não reconhecimento, décadas depois, referiu a malta comum dos convívios. Não fixei o nome, apenas a sua desilusão apesar da minha cordialidade. E um colega que esquecera completamente e me reencontrou nesta "rede"  lembrou as inúmeras vezes que como  muitos outros (m/f) fora ao meu quarto de estudante no meu "exílio" em évoraburgomedieval, referindo os animados debates e conversas, os discos que lá ouvira ou lhe emprestara. E  no entanto, eu que julgava até aí de ninguém me esquecer, senti posteriormente o não reconhecimento na rede, o "ignorarem-me", pessoas como a Amélia, a Antónia ou a Teresa. em Portugal, ou a Tóia, que outrora e de Luanda me escreveu belas e entusiásticas cartas.

Muito tempo depois do referido almoço, ao reler os meus diários da pré-adolescência para recolher material para a minha série “Memórias do Salvador Correia”,  encontro referências frequentes a um Carlos, de brincadeiras e folguedos, mas o nome nada me diz. Muito tempo depois do referido almoço, ao reler os meus diários da pré-adolescência para recolher material para a minha série “Memórias do Liceu Salvador Correia”,  encontro referências frequentes a um Carlos, de brincadeiras e folguedos, mas em mim nada lhe dá corpo, sendo deste modo uma existência sem roupagem, um ser diáfano.

Olho para as fotos ou leio as referências na minha correspondência ou diários de outrora e, reconhecendo a maioria delas, que histórias comuns retivemos? E depois, o entusiasmo e o desfolhar de memórias comuns muitas vezes, com maior ou menor brevidade, não faz confluir os rios das vidas entretanto separadas por múltiplos e variados motivos. Na maioria das vezes as vidas continuam separadas, para além das lembranças e dos afectos que persistam, mesmo que a distância física não ultrapasse o virar da esquina ou do café ao lado. Marcar encontros? Quem dá o primeiro passo na real ? Será gratificante ou decepcionante o reencontro? E serão ou não frustantes encontros "colectivos" sem "âncoras",  perdidos e mais ou menos sem norte na imensidão do nada?

Nesta virtualidade em rede, quão decepcionante é “reencontrar” alguém que foi importante na nossa vida e nós na dela e essa pessoa não nos reconhecer ou ignorar-nos. O fazer parte muda, inerte, duma lista mais ou menos longa de amizades que secaram ou se não vivificam.

Fica a palavra de F. Scott Fitzgerald, dos loucos anos ´20, da Geração Perdida,  que terminou no crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929, prelúdio de uma nova e ainda mais sangrenta e generalizada Guerra Mundial.





segunda-feira, 10 de agosto de 2015

entre santa clara e o ave

* Victor  Nogueira

Deixado o Fiesta mesmo no centro, no parque arborizado nas trazeiras do mercado municipal, fui em busca da Indacqua descendo a caminho do rio a partir dum edifício projectado por Siza Vieira, e decobri uma desafogada  praça - a José Régio - onde nunca estivera, com a estátua do escritor (que nesta cidasde tem uma das duas casa-museu (a outra em Portalegre, a da "Toada"). Algumas esplanadas e alguns edifícios que me parece serem estilo arquitectura do Estado Novo (o tal que caíu de velho).

Continuando o percurso desemboquei na Praça da República, arborizada, arrelvada e florida, com o seu fontenário e a  Casa da Cultura, hoje fechada por ser 2ª feira. A beleza das fotos ou do que a vista alcança não mostra, contudo, o mau cheiro na podridão ou estrume (dos canteiros ?) ou as incómodas mocas que se nos colam ao corpo ferrroando-nos. Um olhar mais atento descobre pelas áleas pombos mortos.

Junto ao rio circulam jovens nas suas bicicletas, nos  bancos enternurecem-se casalinhos e no rio vogam mais ou menos velozes deslizantes canoas. Nas margens, mais além, pacientam-se pescadores. Dominando a Praça e no morro sobranceiro impõe-se a mole imensa do Convento de Santa Clara.

O sol, dificultando não poucas vezes a visualização do que se fotografava, e a descarga da bateria limitaram a photo-reportagem nesta tarde quente e luminosa.

mindelo - as fases do quintal


*  Victor Nogueira

No tempo do meu avô no quintal e no terreno contíguo do meu tio Zé Barroso - entretanto vendido pelos meus pais - semeavam-se pencas, batatas e cebolas, repartidas entre o meu avô e a vizinha que  os cultivava e olhava pela casa durante o ano. Anos após a morte do meu avô, em 1976, os meus pais puseram termo ao acordo com a senhora que cultivava o terreno para ela proclamava pela vizinhança que a propriedade era dela, por usucapião. No tempo do em avô este - na Rua dos Bragas - guardava as batatas e as cebolas na parte do sótão que era em telha vã, contíguo ao quarto onde eu ou a minha mãe ficávamos quando íamos ao Porto.

Assim, tirando plantas florais e árvores de fruto, nada mais se cultivava. Entre 2007 e 2014 não voltei ao Mindelo e o quintal transformou-se em matagal, sendo entretanti arrelvado e agora tem plantas florais, uma oliveira, uma palmeira e uma árvore da borracha, tencionando que nele seja plantado um limoeiro.

fotos em http://kantophotomatico.blogspot.pt/2015/08/mindelo-as-fases-do-quintal.html

domingo, 9 de agosto de 2015

está chão o mar espelhado


* Victor Nogueira

está chão o mar espelhado
plano como a via láctea
e no areal de sargaços e dunas,
o peregrino.
na mão a bússola
mil azimutes apontando,
ínsulas na península
em voos planados grasnam as gaivotas
em rápidos mergulhos
a presa filhada

e desfibrada
.
Mindelo 2015.08.09

texto e foto victor nogueira

Está em Ítaca


* Victor Nogueira

Está em Ítaca,
Penélope assombrada,
mas não só, e em pensamento viaja.
Voga Ulisses em chão-mar
ouvindo das sereias o cântico
tágides aos golfinhos.
Está soalheiro o dia
e de neblina o pensamento
sem a odisseia
de em mares por outrem navegados
encontrar não Helena
mas Penélope,
não amblíope.
Está pois pasmado Ulisses
e parado o tempo
que incessantemente se acumula.

Mindelo 2015.08.09

foto victor nogueira

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Está Ulisses sentado


* Victor Nogeira

Está Ulisses sentado
á beira-bar recrustado
e penélope
destecendo a manta
não incendeia a teia

as aves perpassam de longe
- núvens por Juno em Agosto -
e continua ulisses abafado
os pés mergulhados na areia
como outrora estará joão bimbelo

setúbal 2015 08 04

foto victor nogueira - setúbal -  pôr do sol no estuário do rio sado

domingo, 2 de agosto de 2015

Está Penélope liquefeita




* Victor Nogueira

Está Penélope liquefeita
desfibrado o pensamento
sem vir hora escorreita
que branqueie o vento
Pé ante pé pela estrada
segue feliz o riacho
busca a foz, a entrada,
que não seja em capacho
Está o ar de suão, abafado
sem eira nem beir'a verve
que lânguida de pasmado
não esfria nem ferve

Setúbal 2015.08.02

foto victor nogueira - estuário do rio sado e serra da arrábida