sábado, 30 de setembro de 2017

a vida, um puzzle sem solução à vista ?



* Victor Nogueira

Está pois João Bimbelo sentado no alto da madrugada, uma vez mais a maldita espertina, o negrume da noite para lá da vidraça, os pirilampos refulgindo em terra até ao horizonte, o silêncio rompido apenas pela desagradável zoeira no ouvidos, como se mil cigarras fossem, o bate seco e apressado das batidas no teclado que vão enchendo de signos o alvo monitor defronte de si, o candeeiro lançando luz e sombras sobre a mesa de trabalho. Nada há de novo, nada para lá da vulgaridade em que se encontra.

Passando a mão pelo rosto sente a barba como se fosse lixa, a boca seca, as dores no estômago. João, que é um razoável analista e retratista de pessoas, falha rotundamente e não poucas vezes na correcta leitura e consequente interpretação dos sinais quando é o seu enamoramento por outrem que está em causa.

Que interessa pois falar em Penélopes ou Miquelinas, se nunca serão um para o outro como José e Pilar, se os caminhos de ambos parecem divergentes, ocasional e acidentalmente coincidentes,  se durante estes anos todos – um lustro sem lustre nem lustro - como ainda hoje mesmo sucede, é João que fica no cais e Penélope, a do coletinho de lã, que parte para Tróia, para aqui e para ali, num constante cirandar, sem lugar para ele na preenchida agenda dela.

Entra a vã esperança e a realidade, qual prevalecerá ?

Nesta CANTILENA COM MAU GOSTO
.
Quem quer ver a moça bela
Que na rua vai passando,
Florida, com sentinela,
0 meu sossego roubando?
.
0 meu sossego roubando
Sem leveza d'andorinha,
Em má prisão esvoaçando
Não te vendo, Oh! sinházinha!
.
Não te vendo, oh! sinházinha,
Um deserto vai nascendo;
Bem longe da minha vinha
Por ti mal, vou fenecendo,
.
Por ti mal, vou fenecendo
Nesta casa sem calor;
Não quero ficar sofrendo
Como trigal sem verdor,
.
Como trigal sem verdor
Não me deixes tu ficar;
É bom ter calma d'amor
No mar alto a navegar,
.
No mar alto a navegar
Remando àquele porto,
Com roussinol a cantar
Mui cantante, sem desgosto.
.
Mal cantante, com desgosto,
Vou deixando de cantar;
Ficando mal, mal disposto,
Pela companh'a a fugar! 
(1992)

Será mesmo verdade que O AMOR É BEM QUE SUAVIZA?

A tua presença na minha casa
Enche o ar de color e alegria,
Arte, doce, terna, bela magia;
Assim meu coração ganha outra asa.

Cozinhamos o pão que não esfria,
Brincando, procuramos boa vaza
P'ra espantar a tristeza, que arrasa
Rio, danço, com tua cantoria.

Com tua feição nos vasos pões flor
A tudo dando vida e bom sabor;
Caricio teu corpo, os teus lábios,

Afago teu rosto, aparto as dores;
A rua, plena de sol e louvor,
É verde planura com riso dos sábios.(Setúbal 89.09.05)

Pois a verdade é que

  1. Na tua mão
                                               bate estrangulado
                                               o meu coração.
                                               Preso no teu olhar
                                               bate suave
                                               muito leve
                                               com desejo de voar.
                                               Onde o riso e a palavra
                                               que o façam sossegar?

 2.                                          Com os meu dedos
                                               sigo lentamente o teu olhar
                                               Uma leve brisa agita o teu rosto
                                               e não sei bem se é um pássaro
                                                                             ou uma flor
                                               o sorriso que nasce nos teus lábios.
                                               Será noite
                                               ou uma criança  a navegar?

3.   Nas minhas mãos
         o dia escurece
         e não ouço nelas
         o calor da tua voz a cantar.
         Uma gota cai lentamente no
                                         [ horizonte
         E outra
         E outra
         E mais outra ...
         E as minhas palavras são
                         um novelo em busca do mar!
         O teu rosto,
         o teu rosto é uma linha  a navegar
         onde loucas gaivotas
         querem mergulhar.
         Quem as recolherá
         como um cristal  a brilhar? 
(1995)

Ou de tudo isto ficará apenas e mais uma vez um rasto amargo e seco de flores esmaecidas, do rapaz à beira do cais de que fala António Reis nos seus Poemas Quotidianos ?

070. HÁ SEMPRE UM RAPAZ TRISTE

Há sempre um rapaz triste
em frente a um barco

(a água é sempre azul
e sempre fresca)

Em que país encontraria
um emprego e esquecimento

em que país encontraria
amor e compreensão

Em que país
sentiriam
a sua vida e a sua morte

Não respondem as gaivotas
porque voam

Há sempre um rapaz triste
com lágrimas nos olhos
em frente a um barco

António Reis - Poemas Quotidianos, [1957].

Mas que interessa tudo isto, este mero e paupérrimo rosário de palavras desfeitas pelo silêncio do alto da madrugada ? Fecho as palavras, meto-me na mala e prossigo a peregrinação em busca de portos e marés onde não reine esta desolação, este encanto sem canto, desencantado e desencontrado ? Mas que interessa este retorno ao passado se é no presente que se constrói o futuro ?

Meto os papéis ao bolso, amarfanhdos  pelos dedos de ambos, de Ulisses e de Penélope. O horizonte, esse daqui a pouco passará do negro ao vermelho e, daqui a umas horas, regressará o negrume para dele surdir novo horizonte vermelho e assim ciclicamente até ao suspiro final.

Palavras!    Palavras!    Palavras!
Tudo palavras
as ilhas e os desertos
nós e os rios
as angústias os temores
as alegrias as esperanças as ilusões
as circularidades esferóidemente lineares
porque eu não sou eu sendo eu
e o mar não é uma estrela
nem sei porque escrevi isto
o florir do desencontro
não é um poema
são os dedos batendo nas teclas
é o barulho no silêncio da madrugada
como disseram
digo
e dirão
o cansaço e a mão farpada
no silêncio da noite
ou no ruído diurno
inautêntico
sem sentido das palavras
mero exercício
tac tac tac tac
e o carreto girando
um espaço
sentado à mesa incómoda
costas direitas
o frio nas pernas
a cabeça dorida
mas que interessa tudo isto?
Sim, mas que interessa tudo isto
FIM ... por enquanto,
por hoje ... FIM!

Évora, 1971.11.23

setúbal, no alto da madrugada em 2017.09.30



sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Para com os seus botões pensa João Bimbelo que as palavras têm vida

* Victor Nogueira



Para com os seus botões pensa João Bimbelo que as palavras têm vida, e podem ser refrigério ou gélido sopro gretando e queimando os lábios por aprisionadas, num grito silencioso. muitas vezes aguardando o sopro que as fará florescer plenas de cor e doçura, Há palavras ridículas, como as de Pessoa a Ofélia. Mas sabes tu, Penélope, com que palavras tece Ulisses a teiapalavras íntimas, resguardadas, palavras que assim escritas pareceriam deslavadas, pois ambos navegam por mares não dantes navegados, tão longe de Ítaca em rotas desencontradas ? 

Tem sido Penélope mulher reservada nos gestos e nas palavras, mas de repente abre a janela de par em par, e diz com aquele seu tom gaiato e encantatório, embora estilo bate-e-foge, para trás do cortinado: “és o meu anjo”, ”não me abandones”, deixando Ulisses só, sem a chave do enigma, pois logo ela parte ficando João perplexo à beira do cais onde ela o deixou sem olhar para trás, sem um retorno dos passos  ou aceno do beijo como pássaro lançado ao vento na ponta dos dedos. Se Penélope assim o quiser, Ulisses   com ela ficará, como rio que corre para o mar, com o sol e a lua no horizonte.


Relê, pois, João as palavras enrodilhadas prisioneiras num papel amarfanhado e nelas não encontra poesia mas apenas uma trivial carreirinha de signos codificados com oculta chave, buscando a saída para o mar. Como se ele tivesse deixado de ser o malabarista do verbo tecendo a tapeçaria onde ambos possam repousar.



Carta de Ulisses a Penélope


* Victor Nogueira

Está pois João na berma do caminho, o ar uma vezes sereno e luminoso, outras cinzento e coberto de névoa, mal se distinguindo o horizonte. Está pois João na berma da estrada, perto da encruzilhada dos 4 Caminhos, e perante ele desfilam ou perpassam as pessoas, os comboios, os automóveis. Está pois João só, Cansado da Guerra, pensando em Penélope, aquela cujo nome se não pode pronunciar por encoberta estar, aquela cujo retrato está fechado a sete chaves nos abismos profundos dum cofre  forte. Continua pois João na berma do rio enquanto Penélope com o seu puzzle ciranda entre Veneza, Tóquio, Toronto, Machu Picchu ou Pompeia. Espera pois João que a brisa ou  as águas lhe tragam Penélope mas poucas vezes as suas estradas se cruzam e caminham lado a lado. Há quantos anos João precustra o horizonte, como se Penélope ou Faia Maria fosse o Wally ? Navega pois Penélope, a Menina do Alto da Serra com seu coletinho de lã para  lá de Ítaca,  em busca de outros portos e marés, e na vida dela ele é apenas "um" embora para ele ela seja "A".  Quantas vezes no presente milénio esteve Ulisses esperançoso na cidade das muitas e desvairadas gentes pensando ir ao encontro de Faia Maria e no seu lugar encontrou apenas o vazio e o silêncio da sua ausência ?


Os anos são a soma de segundos, horas, dias, meses que se acumulam, de afectos que se vão entrecruzando, frágeis perante a mais leve brisa, sem a solidez do roble centenário.  É pois Ulisses fraco marinheiro, pois na berna do caminho, só continua, com Penélope no seu pensar e no bolso jazem  as palavras enrodilhadas e uma carta amarfanhada,  Por entregar.



Cena do filme Tempos Modernos de Charles Chaplin


quinta-feira, 28 de setembro de 2017

PAIR Chinese Ming Style DRAGON Ginger Jars LAMPS Vases Porcelain Blue & White



PAIR Chinese Ming Style DRAGON Ginger Jars LAMPS Vases Porcelain Blue & White - Price:US $400.00 - Approximately EUR 339.95

* Victor Nogueira

Deixa-me lá ver se percebi bem, vamos lá reler. Ah, pois, andaram de mãos dadas com pardalitos e lagartixas e óspois .... Nao se convertem ao azul e branco com a rutilante chama vermelha dos dragões abrindo o verde dos caminhos da sempre renovada esperança ... 

Também, se fôssemos todos azuis e brancos com a chama vermelha, que seria do amarelo e do trinado dos rouxinóis ?. Mas fogem dos azuis e brancos com a chama vermelha como o diabo e Dracula fogem da cruz :-P


Hergé - Dupond e Dupont - O Lotus Azul

CRÓNICA DE JOGO
Os problemas do Benfica não começaram em Basileia
“Encarnados” sofrem um dos piores resultados da sua história europeia, ao perderem em casa do campeão suíço por 5-0.


quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Está pois Penélope sentada defronte de João Batista Cansado da Guerra



* Victor Nogueira

Está pois Penélope sentada defronte de João Batista Cansado da Guerra, os cabelos matizados, lenço azul ao pescoço. por vezes ausente. Estendem-se as palavras entre eles, mas as palavras .. Ah as palavras, são uma rede de dois gumes, com tantos ou múltiplos significados, umas vezes véu ou pesado reposteiro entre ambos, outras fonte de água fresca, suave riacho, outras tumultuoso rio, que tudo arrasta e confunde, derrubando as pontes e erguendo muros, pesadas muralhas que desertificam João Bimbelo e enchem a planura de sinuosidades, de flores desfeitas, como seco e frágil canavial, entre o encontro/encanto e o desencontro.

Tão assertiva é por vezes Penélope, tão directiva, tão  impaciente, tão segura das suas interpretações, fazendo João regressar ao passado em vez de se lançar o futuro, as pontes e a fonte  límpida e serena que para ele Penélope  seria e que ele nela busca e gostaria de encontrar.  Mais do que mil por vezes enredadas palavras vale o gesto físico, o toque na face, o afagar dos cabelos, a mão no ombro, o abraço que tudo serenam e apazigua. Não vive João no passado, não está dele prisionero.  Do passado conserva o que de bom nele houve, não vive João receoso do futuro, de buscar novos portos e marés, antes procura no presente abrir a estrada e os caminhos para os dias vindouros, caminhos que não sejam sinuosas veredas.

Ciranda pois Penelope, tão sedutora, como Circe enredando Ulisses, na ilha luminosa e  bela em que estão, tão plena de tesouros e formosura: os quadros, as miniaturas tão delicadas, o pequeno e saboroso banquete, o bosque que se avista da janela do paço, o humor de Mordillo, o sorriso e a voz cristalina com timbre juvenil, tão doce, atenta e melodiosa, mas nem sempre. Talvez não esteja Penélope zangada, mas parece, talvez o sorriso de João não seja trocista ou irónico que quem não o conhece mal interpreta. Tão mal se conhecem ainda um ao outro !

Mas a ilha fica para trás, bem gostaria João de nela ficar, mas no Fiesta com Penélope no pensamento e no sentir, no banco vazio a seu lado, está João só, timoneiro ao leme conduzindo uma barca mal aparelhada, em mar de calmaria onde a brisa não corre na tarde abafadiça, embora luminosa, soalheira, outonal.


Gravuras - excerto dum poema de Almeida Garret
Cartoon de Modillo

domingo, 24 de setembro de 2017

a marquesa de alorna no parque dos poetas em oeiras



* Victor Nogueira, em 2017.09.21

foto victor nogueira- a marquesa de alorna no parque dos poetas em oeiras ou o poeta sem musa nem música ~da série Faia Maria.-

UM DIA TU VIRÁS 
.
Um dia tu virás
Enchendo o ar de coralegria
E o meu riso terá a cor do mar
Liberto em tua cantoria
Um dia tu virás
E sentirei a tua pele macia
O ardor do teu andar
Com nenhuma apatia
Um dia tu virás
E os dias cheios de fantasia
Como água a navegar
Preso na magia
Um dia tu virás
E seremos um rio ao luar
ave desperta
rosa aberta
No calor do teu olhar
Um dia tu virás
Um dia ...

Victor Nogueira - Setúbal, 1989.11.06


ao entardecer no Parque dos Poetas, em Oeiras, sem musa nem música - 

Faia Maria, textos de esperança, de encanto e desencontro



René Magritte - La condition humaine (1935)


* Victor Nogueira, em 2014



Foto Victor Nogueira - Lisboa Expo 98 (1998)


de quantas pétalas é tecido o sol
e de quantas escamas o mar?
quais as malhas que entretelam o lençol
e de que notas se  veste o luar?

é difícil a rima,
verso branco que arrima
e anima
oco louco
muito ou pouco ?

e a seara cerealífera
na esfera da espera

na concha do sentido
caracol
pelíicula a película (des)folheada
quantos sentidos se encerram ou libertam ?

de quantos caracteres, signos e palavras
se retiram duma só?
sol rissol solidão metanol briol
solário vário
refrigério
quente ou frio
etc & tal

ou assim e assim
afinal
sem pós de perlimpimpim ?

Paço de Arcos 2014.06.29




Almada Negreiros - A sesta (1939)


Perguntas porque estou ausente, sério,
sentado, contigo, na esplanada,
entretecido em malha parada,
como se no ar houvesse mistério.

A chave da caixa está no saltério,
não frente-a-frente mas lado-a-lado
com o gesto bem articulado
buscando em nós suave minério;

flor, roseiral, de juntos na jornada
reconhecernos nossa voz, teus passos,
sem que minha alma ande penáda,

presa no silêncio dos teus laços.
sem o gesto, o verbo, a chamada,
destemido rio sem embaraços.
2014.07.21 setúbal


Albrecht Dürer - Adão e Eva (1504)


Do cimo do forum está, bem vejo,
brilhante, refulgente, o rio,
entretecendo a roca, o fio,
da serra-mãe, em braçada, um beijo.

Tu comigo, dona do meu desejo,
és senhora do meu abecedário,
ária de ópera, um santuário,
delicado cante no azulejo.

E na arrábida é o Portinho
que além, naquela ponta vês,
com santa margarida bem juntinhos

dos deuses, deidades mil, golfinhos,
vogando cavaleiros sem arnês.
no forte do outão, com pão e vinho.
2014.07.21 setúbal


René Magritte - Les amants (1926)

O forte, no cimo daquele monte,
terrorizante é de S. Filpe
com a serra, o sado, em despique
o vale, palmela no horizonte.

O rio azul, da musa é fonte
E eu, circundando este acepipe,
em ti busco vaza, o trunfo, naipe,
para que entre nós o sol desponte.

É de novo Setúbal a teus pés,
a brisa luminando teu sorriso,
minha pena liberta das galés

como se vogando no paraíso
pintando ou esculpindo no crés
com sapiência, preclaro aviso.

2014.07.21 setúbal 


Van Gogh - A sesta (1890)


Em teu brando olhar eu me aqueço,
com sons que no horizonte verdecem,
e as linhas dos teu lábios tecem
mil sóis rendilhados que não esqueço.

Ah! o mar e sol em vós, confesso
afastam-nos dos cais que anoitecem;
no monte, flores, águias, entretecem,
esculpindo nosso amor em gesso.

O mundo todo abarco e nada afasto
dos sábios tendo ciência, sabedoria,
certeira, na caminhada com rasto,

Será tal riqueza da alegoria
que nosso sentir não será nefasto.
antes estralejando de alegria.

2014.07.20  setúbal


Boticelli - Adão e Eva 


recordo o teu sorriso
desejo meu de nele mergulhar

Na madrugada  que tu és
retenho sempre
as finas rugas do teu olhar
o teu porte e a tua voz doce
ridente e cristalina
de menina e moça
donairosa

Mas ...
face à tua reserva
guardo em mim as palavras ...

… e os gestos

Quando partes
sufocam-me o deserto
o vazio em mim
este nó na garganta e no peito
as flores esmaecidas
pela tua ausência.

Ah! Não me convidares
numa só palavra
num só gesto
o da tua mão na minha
e
contigo partirmos
na onda
senda de novos portos
e marés.

Este é, sem ti
fraco poema
malabarismo
oco e apagado verbo
verbo sem veia
que sem rima não rema
- desincendeia.


2014.07.19 setúbal



Pablo Picasso - Os dois acrobatas: Arlequim e sua companhia (1901)

quem me quer não quero eu
quem eu quero não me quer
assim no banco, de breu,
fica jogo por fazer

eu sem sumo assumo:
em branco, tu somas, somes,
e eu no mar sem tua rima,
nu cant'o desconto, canto ...

... e o desencanto conto:
a vera fera o ferro ferra
... em fuga seu encanto
de mim, mal conto e erro

muito pouco nada

2014.07.18 setúbal


Edward Hooper - Nighthawks (1942) - pormenor

(es)vai-se a vida num instante
e corrend'a charneca em flor
estala fogo, crepitante,
na campina, com esplendor.

Soará na brisa sufoco
ou aragem refrigerante;
nas minas santa-do-pau-oco
e na cidade contrastante.

Em rendilhado, no andor,
a teia, tece e ateiam
no mar, as ninfas com seu esplendor,
os marinheiros que doideiam.

Letra a letra nasce a pintura
nota a nota vem a pauta
com jogos, baile de cintura,
de eros e com pã a flauta.

Isto não é boa poesia,
pois em papel se esfarela,
como se em neurastenia
se rompesse a farpela!

De nada valem, meras tretas,
em carreirinhas desiguais,
são lantejoulas, mal rimando,
papoilas, pardais, nos trigais.

2014.07.13 setúbal


Auguste Renoir - O almoço no barco (1913)

os dedos em arremedos

um beijo em solfejo
abraços em baraços
nós sem laços
e na rua
a lua nua`
lassa
cruciforme
baça
sem ti

e o destino
um malão de cartão
no porão
e
a
ínsula

onde a pena ou a "pen" da península
istmo com ritmo

o  sábio astrolábio ?

2014.06.04 setúbal 


Edward Hooper - Summer evening (1947)

MEMÓRIA DESCRITIVA

no jardim
aragem chinesa ou nipónica
em filigrrana rendilhada
um jogo de luzes em  chiaroscuro
dicotómico e caleidoscópico

sombria de sombras
na penumbra em contrastaria
rútilo é o i

entre o gradeamento
e a folhagem
a preto e branco
síntese ou ausência da cor
senza cuore il senso
a  cinza e a neve
il silenzio

sem refração
na espiral rectilínea
visto o registo
em curvilínea planura

2014.07.03 Setúbal 


 Roy Lichtenstein - In the car (c. 1963)


aqui o paredão
ali as rochas
o iodo das águas
sem lodo
e
as velas
a dança ritimica
compassada
das ondas
marulhando

ao vento em filigrana
o teu cabelo bailando

ao fundo o bugio
e o teu sorriso planando
finas rugas no teu olhar

o mar

na praia e na rede
o mistério
e
o suave perfume
do corpo apetecido
e do sorriso
riso liberto

quem mora dentro de nós ?

Paço de Arcos 2014.06.10, talvez no 1º encontro


Hendrick Goltzius - A queda do homem  (1616)


 Pierre-Auguste Renoir - Bal au moulin de la Galette (1876)


sábado, 23 de setembro de 2017

who's who - Faia Maria


* Victor Nogueira

Está pois a musa oculta nas Cartas a Penélope e por detrás de muitas fotos ou à margem delas, Na série Entre Eros e Afrodite, envolta em mil véus e posta e Em sossego esta pois aquela que em Ítaca e por Ulisses não tece a teia. 

Está pois a musa  na clandestinidade e adormecida  com  o seu sorriso por detrás dos óculos escuros, finas rugas ao canto dos olhos, passo apressado, cabelos quase da cor do trigo em flor esvoaçando com  o sopro da leve aragem que varre as ruas da cidade, a ternura dentro dela, triangulando entre Cascais, Lisboa e Setúbal, mas sempre longe de Ítaca e alheia a Helena de Tróia. 

Que nome lhe hei-de eu dar, que secreto nome cuja chave seja apenas conhecida de mim e dela ? Na sua ausência e pensando nela, todo eu tenho a fragilidade do canavial agitado pela mais leve brisa, sem a solidez do roble centenário.

“Que nome lhe hei-de eu pôr”, interrogação que me persegue desde há muito tempo. “Menina do coletinho de lã”? Hum, não. Que nome lhe hei-de eu pôr ?  E de repente dei comigo a trautear uma canção do Zeca Afonso e “Faia Maria” ficou. Esperemos que não seja uma  “Maria-vai-com-as.outras”, desencaminhada por seus ditos e mexericos. Mas de reserva, tendo em conta a sua emotividade mal contida, que transborda em chispas quando a contrariam ou lhe salta a tampa, “Espalha-Brasas” também fica.


Está esta apresentação desenxabida, desmerecedora da caminhante que ela é, algumas vezes a meu lado, outras defronte a mim na mesa do café ou do restaurante, que alguns belos textos me tem inspirado. Mas sendo esta uma prima obra desvendada qb como na farmacopeia, não saíu uma obra prima. Quanto ao futuro, diz a sabedoria popular, que esse a Deus Pertence. Ou às  Deusas !


João Bimbelo, aka João Baptista Cansado da Guerra, em Setúbal, a 23 de setembro de 2017

quarta-feira, 31 de agosto de 2016


Cheguei e tenho no meu pensar o encanto



Cheguei e tenho no meu pensar o encanto e sedução da beleza da tua voz e sorriso. Anoiteceu e o frio desceu á terra. Em mim e ao meu olhar em ti nascem as minhas palavras, sonoridades que estiolam no silêncio em que nos envolves e encerras. Como as ondas rendilhadas que - alterosas ou não - se perdem e morrem no areal à beira-mar.
Mindelo 2016.08.31
Foto Victor Nogueira - setúbal - barcos em fim de vida num desactivado estaleiro naval



fotos victor nogueira


Maria Faia - Zeca Afonso

terça-feira, 19 de setembro de 2017

O enigma do Trem das Onze, sem faúlhas, e da Musa Electrizada


Eldad Erel - Publicado a 29/11/2006



Lembrando a ridente, salerosa, gostosa e colorida companhia da Musa do Eléctrizado Trem, sempre no andor mas sem andor por mim 
***
Há uma outra versão do angolano duo Ouro Negro 




joao do rio - Publicado a 04/02/2011

Trem das Onze é uma famosa canção de Adoniran Barbosa, popularizada pelo grupo Demônios da Garoa. Em sua letra faz referências ao bairro do Jaçanã, situado na zona norte da cidade de São Paulo.

A música foi premiada no carnaval de 1964 do Rio de Janeiro, sendo vencedora do Prémio de Músicas Carnavalescas do IV Centenário do Rio de Janeiro, além de ter sido escolhida pela população de São Paulo em um concurso da Rede Globo, tendo sido incluída entre os 10 maiores sucessos da música popular de todos os tempos (wikipedia)

 

 - Publicado a 06/10/2014


Trem das Onze
Adoniran Barbosa
  
“Trem das Onze” é o título da famosa canção de Adoniran Barbosa, popularizada pelo grupo Demônios da Garoa, que em sua letra faz referência ao meio de transporte popular da época, bem como ao bairro do Jaçanã, situado na zona norte da capital de São Paulo.

A música foi premiada no carnaval de 1964, sagrando-se vencedora no Prémio de Músicas Carnavalescas do IV Centenário do Rio de Janeiro.
O famoso trem foi desativado em 1965, tendo funcionado por 50 anos e fazia o percurso do centro de São Paulo até Guarulhos, passando pelo bairro do Jaçanã. Saia da estação do Tamanduateí, seguia pelo ramal do Areal, passava pelas estações do Carandirú, Vila Paulicéa, Parada Inglesa, Tucuruví, Vila Mazzei, Jaçanã, Vila Galvão, Torres Tibagi, Gopoiva, Vila Algusta, Guarulhos e Cumbica, num todal de 21 km.

Segundo a revista Rolling Stone ela ocupa hoje o 15º. LUGAR entre AS 100 MELHORES MÚSICAS BRASILEIRAS DE TODOS OS TEMPOS.(Wikipedia)


Trem das Onze
Adoniran Barbosa

Não posso ficar nem mais um minuto com você Sinto muito amor, mas não pode ser Moro em Jaçanã, Se eu perder esse trem Que sai agora às onze horas Só amanhã de manhã. Além disso, mulher Tem outra coisa, Minha mãe não dorme Enquanto eu não chegar, Sou filho único Tenho minha casa para olhar E eu não posso ficar.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Luanda e Setúbal


postal ilustrado


Setúbal - foto victor noguei



Luanda e Setúbal, a baía e o estuário, o oceano e o rio, as fortalezaras de S. Miguel e de S. Filipe, a Ilha do Cabo e a Península de Tróia, a água e o céu límpido e azulLuanda e Setúbal, a baía e o estuário, o oceano e o rio, as fortalezas de S. Miguel e de S. Filipe, a Ilha do Cabo e a Península de Tróia, a água e o céu límpido e azul

"De Setúbal falei nas linhas anteriores. Mas a cidade de hoje [1997] nada tem a ver com aquela que me encantou, ponto de passagem dum estudante universitário de Angola exilado em Évora a caminho de Lisboa ou do Porto. Setúbal era a Avenida 5 de Outubro, com acácias floridas e as miúdas em bando, era o estuário do Sado visto do Forte de S. Filipe, era o Castelo de Palmela visto de qualquer ponto da cidade tal como o estuário do Sado com a Serra da Arrábida ao fundo. Setúbal era também o enorme paredão ribeirinho cheio de carros ao entardecer ou de pescadores de cana, com o pôr do sol sempre variado espelhado nas núvens ou cintilando nas águas do rio. Setúbal eram as praias, o desejo das praias que se vieram a revelar desagradavelmente frias e de acesso difícil.

As acácias floridas, rubras ou roxas, a luminosidade do ar e o céu azul faziam lembrar Luanda, tal como o Estuário do Sado, visto do Castelo de S. Filipe, assemelhava à Baía de Luanda vista da Fortaleza de S. Miguel, com a península de Tróia confundindo-se com a Ilha do Cabo. "(Notas de Viagem, 1997)


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 Muralhas de Setúbal - Forte de S. Filipe

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Greatest Hits Of The 60's - Best Of 60s Songs




Faltam os Beatles, os Rolling Stones, Françoise Hardy, Silvie Vartan, os Sheiks, os Gatos Negros, os Concha, o Duo Ouro Negro, Joan Baez, Bob Dylan, Adriano Correia de Oliveira, José Afonso ..... ...

01. 00:00 Simon & Garfunkel - The sound of silence 02. 03:04 The Animals - The house of the rising sun 03. 07:33 The Mamas & the Papas - California dreaming 04. 10:12 Ben E. King - Stand by me 05. 13:15 Roy Orbison - Oh, Pretty Woman 06. 16:11 Bobby Lewis - Tossin and Turning 07. 18:38 The Supremes - Baby love 08. 21:14 Percy Sledge - When a man loves a woman 10. 24:10 The Turttles - Happy together 11. 27:06 Charlies - Love is blue 12. 30:16 Paul & Paula - Hey Paula 13. 32:48 Mungo Jerry - In the summertime 14. 36:19 Manfred Mann - Do wah diddy diddy 15. 38:43 The Hollies - Bus stop 15. 41:36 Petula Clark - Downtown 16. 44:34 The Dave Clark Five - Because 17. 46:59 Ray Charles - Hit the road Jack 18. 48:57 Peter & Paul And Mary - Early morning rain 19. 52:02 Bobby Vinton - Mr Lonely 20. 54:46 Elvis Presley - Are you lonesome tonight? 21. 57:52 The Shirelles - Will you love me tomorrow 22. 1:00:33 The Tremeloes - Silence is golden 23. 1.03:42 Shocking Blues - Venus 24. 1.06:48 The Archies - Sugar sugar 25. 1:09:40 Paul Anka - Put your head on my shouder 26. 1:12:19 Mungo Jerry - In the summertime 27. 1:15:52 Elvis Presley - It's now or never 28. 1:19:11 Frankie Valli & The Four Seasons - Beggin' 29. 1:24:34 the 5th Dimension - Aquarius/Let the sunshine in 30. 1:29:20 The Monkees - I'm a believer