Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

1111 - mil cento e onze

* Victor Nogueira
Diz ali o contador que cerca das 15:45 horas de 2017.08.25 admiti o/a 1111º amigo/a. Claro que antes disso e ao longo destes oito anos e tal [desde 9 de Maio de 2009 pelas 10:53 h] houve não poucas pessoas que saíram sem dizer água vai, uma meia dúzia bloqueou-me mas alguns/mas retornaram, eu bloqueei apenas uns dois ou três, na maioria dos casos não inter-agimos. Dos que saíram sem dizer água vai alguns/as foram uma surpresa, pois inter-agíamos e a estima e a amizade virtual pareciam-me estreitas e sinceras.
A maioria ds 1ªas amizades no inFaceLock transitaram do hi5 e continuamos nas listas mútuas. Foi bom ter encontrado malta de Luanda, malta do Salvador Correia, malta de Económicas, malta de Évora, malta doutras lides ... Mas, após o breve e fulgurante brilho do reencontro, com maior ou menor brevidade (quase) tudo se extinguiu, como a chama breve dum fósforo que logo se apaga em negritude.

O 1111 foi um quarteto musical célebre nos idos de 60/70 do passado milénio, originalmente chamado “Conjunto Mistério”. O 1º disco do “Quarteto 1111” foi um EP, editado em 1967, e continha “A Lenda de El-Rei D. Sebastião”. Ei-la, já de seguida


A Lenda D'el Rei D. Sebastião

Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei D. Sebastião
Perdeu-se num labirinto
Com seu cavalo real

As bruxas e adivinhos 
Nas altas serras beirãs
Juravam que nas manhãs
De cerrado de Nevoeiro
Vinha D. Sebastião

Pastoras e trovadores
Das regiões litorais
Afirmaram terem visto
Perdido entre os pinhais
El Rei D. Sebastião

Ciganos vindos de longe
Falcatos desconhecidos
Tentando iludir o povo
Afirmaram serem eles
El Rei D. Sebastião
E que voltava de novo

Todos foram desmentidos
Condenados às gales
Pois nas praias dos Algarves
Trazidos pelas marés
Encontraram o cavalo
Farrapos do seu gibão
Pedaços de nevoeiro
A espada e o coração
de El Rei D. Sebastião

Fugiu de Alcácer Quibir
El Rei Rei D. Sebastião
E uma lenda nasceu
Entre a bruma do passado
Chamam-lhe o desejado
Pois que nunca mais voltou
El Rei D. Sebastião
El Rei D. Sebastião

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

desbarbeamentos

* Victor Nogueira



paço de arcos - auto-retrato em 2017.08.24 - após o desbarbeamento

1. - Quando era pequenina, "a long time ago", ao ver-me depois de eu ter rapado a barba e o bigode, exclamou a minha filha susana: "olha, outro victor !"



2. - Aqui, à minha esquerda [no Café Arcada, em Évora], está o velhote pequenitates que anda à Charlot; costuma pôr uma flor no copo de água que normalmente acompanha a bica, fala em verso - os dois últimos primam quase sempre pela falta de rima e métrica - e oferece moedas da sua colecção às personalidades importantes que passam por Évora e às caras bonitas. Fala com toda a gente e não sei se falará com alguém. Quando regressei de Luanda reparou que eu tinha rapado a barba ... largos meses depois do acto solene que me tornou irreconhecível ao espelho, provocando-me, durante alguns dias, ataques de hilaridade frente àquela face rejuvenescida e francamente risonha, sem o sorriso voltaireano que dizem ser o meu - irónico e trocista - de que muitas vezes me apercebo mas não contenho, mesmo nos momentos mais solenes e sérios, de gravidade de circunstância. (...) (NSF - 1971.01.31)



quarta-feira, 23 de agosto de 2017

noz sem nós



* Victor Nogueira

Há dias e noites em que  sentimos a falta da mão de outrem no nosso rosto, do sabor a sal e do cetim ou do veludo da pele de outrem. Há dias e noites tramadas com o silêncio e a ausência em redor de nós, sem nós nem laços, cercados de lassidão Há dias e noites lassos, sem laços, duros e ásperos da noz sem nós  :-P

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Confissão

* Victor Nogueira

De espelhos cristalinos ou em caleidoscópio, de sonoridades ou paletas irisadas, se tecem os escritos lançados ao vento, suave brisa ou tempestuoso ciclone. Se (entre)tecem com o sol e a lua rendilhados escritos. E a vida !

Grato pela tua delicada amizade  :-)

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

rostos e pseudo-combinações


Lucifera



* Victor Nogueira


uma "piquena" linha

Beijos meus com os cinco sentidos e mais outros tantos que os cinco multipliquem :-)

10 de janeiro de 2017


acerca dos sonhos
E perguntavam as aves e as ribeiras sussurrantes, saltitando sinuosamente de pedrinha em pedrinha: "Quando verei, a cor do teus olhos e o encanto do teu sorriso ?" Jamais, pois de certos sonhos não vive a realidade - 17/7 às 15:59

17 de julho de 2016

é penélope


é penélope
a musa
em calíope
in-fusa.

e à janela
míope
a  gazela;
e o antílope,

A galope
o chavalo
sem hissope
a cavalo.

E lucifera é
sem que ensope
em rapa-pé
o frangope.

Onde o magma
que de penélope
abra o enigma
com chope?

Setúbal 2014 07 24

quem me quer não quero eu

quem me quer não quero eu
quem eu quero não me quer
assim no banco, de breu,
fica jogo por fazer

eu sem sumo assumo:
em branco, tu somas, somes,
e eu no mar sem tua rima,
nu cant'o desconto, canto ...

... e o desencanto conto:
a vera fera o ferro ferra
... em fuga seu encanto
de mim, mal conto e erro

muito pouco nada

Setúbal 2014.07.06


os dedos em arremedos

um beijo em solfejo
abraços em baraços
nós sem laços
e na rua
a lua nua`
lassa
cruciforme
baça
sem ti

e o destino
um malão de cartão
no porão
e
a
ínsula

onde a pena ou a "pen" da península
istmo com ritmo

o  sábio astrolábio ?

setúbal 2014.07.04


talvez eu nem sempre seja justo para contigo
mas não vejo o teu olhar, o teu sorriso, a tua voz
e talvez por isso as letras - as minhas e as tuas - (a)pareçam secas, áridas, descoloridas
taslvez por isso elas nos aprisionem em vez de libertarem
talvez ...


2013.08.31


Espero que esteja tudo bem contigo. Todo o dia pensei em ti, mesmo quando absorvido pelas tarefas e preocupações. Tive vontade de ouvir a tua voz, mas temos operadoras diferentes e mesmo que tivesses fixo estás ausente da beira-rio. Como não é surpresa para mim, de ti veio apenas o silêncio e de ti soube acidentalmente pelas fotos que partilhaste na "geral" - sobre o nevoeiro, o barco e o d. sebastião. A este e à Dulcineira ou a D. Quixote, prefiro Penélope e e Ulisses


2013.08.28


como não conheço o mapa de ti nem o sabor das montanhas ou a cor dos desfiladeiros ou a brisa do olhar não poderei sonhar com a luciferazinha nenúfar e flor do mar 

como não sei os caminhos das penedias e se são ou não acetinados como não ouço o murmúrio da brisa nos desfiladeiros serei em meus sonhos um cego e surdo sem luz 

um dia que nos encontremos fecharei os olhos e com os meus dedos e lábios traçarei o mapa de ti, devidamente cartografado bem, se calhar levarei uma lamparina que me fará ver as estrelas 

ela delira e na pira com a lira suspira
com a pira ateia incendeia presa na teia

2013.08.27


Era a noite,


Era a noite, a noite sem ti, uma noite onde todas as encruzilhas eram um caminho/carinho ignoto, feito de passada larga e despreocupada ou de passos cuidadosos, temerosos. Era noite, uma noite tecida com intermináveis silêncios, prenhes de tudo o que a imaginação nela possa ver matizado com cinzel baço ou ágil pincel. como tear de penélope sem ulisses em incessante vai-vem.


Era noite, uma noite onde as palavras em sonhos se liquefaziam, ásperas ou lânguidas em ais ou suspiros, a boca entreaberta ou os dentes cerrados, as mãos enclavinhadas ou arabescos bailantes. Era a noite a as palavras não surdiam. Era a noite do silêncio e das encruzilhas, melhor ou pior talhadas, 



Era a noite sem o dia !

 2013.09.26

eu não estou zangado contigo
eu não te tenho raiva
eu gosto de ti

2013.08.26


na leitura de ti


na leitura de ti
é dos deuses o manjar
bem picante e sonante

e eu
pobre escriba
sem fibra
na lira
esturrico
qual mafarrico


setúbal 2013.08.25


alinharei as letras

alinharei as letras
linha a linha
alinhavadas
sem tretas
nota a nota a pauta bem janota
. entoarei pela porta tu à janela singela
a mesa posta com presteza e gentileza
Setúbal 2013 08 25


passo a passo passo a passo no paço a espaço passo o tempo passa grainha sem modinha nem vinha vou não estou virei pé ante pé
setúbal 2013.08.25



não sei qual é de ti o sabor não sei qual é de ti o sabor a paleta da cor o aconchego do calor de ti sei apenas a neblina longe da oficina oh Céus coberta de véus ! de linho te cobres e não descobres o leito refeito o rio frio e seco onde o norte a ode piano-forte ?



agosto 25, 2013



Flor do Mar entre eros e afrodite ................a via láctea ................duas lanternas cintilantes e o beijo bem vejo a serpente serpenteante entrelaçada estrangulada ...................entre a vida e a morte na planura duas colinas ........entreaberto o pico ........rosado e fremente do seio o vale-desfiladeiro na leveza da pele ............moreno vale o prado-bosque ............da seara em flor a rosada cisterna ósculo óculo bainha de veludo onde nos perdemos e re-encontramos a nau à bolina de onda em onda o fragor silente do desejo explodindo em cem mil lucernas
setúbal 2013.08.25

paciência a vida continua como os rios que correm para o mar se os rios se não encontram, é pk os portos e marés são outros, não é ?

há quanto tempo começámos esta relação a que eu talvez erradamente chamaria namoro virtual ou conversas que, a partir de certa altura, eu passei a considerar para não magoar outrem nem ficar uma vez mais magoado, simples exercícios florais ?

2013.08.24


quem vai ao mar Tanto que eu parvamente gosto dela e por ela em vão espero mas com todos os seus passos/passes de dança ainda não me convenci se é mulher para olhos nos olhos me dizer que me ama. «Se te referes a ti, não sei como, pk ou és inamovível como uma rocha, ou serpenteante como uma enguia». [perante esta provocação] levanta-se a mocinha inopinadamente a cadeira da esplanada atirada para trás um ar inquisitorial no olhar brilhante a mão esquerda na anca o indicador direito como gatilho apontado ao meu coração a voz imperativa: RESPONDE Seria fácil responder se estivéssemos à beira-rio numa esplanada. Ela tem sempre uma fuga. [E em sonhos] Meu deus que romântico ela na cama e eu desvendando aqui um bocadinhdo do lençol além uma entreaberta no pijama depois os dedos como pardalito desenhando o contorno dela. O segredo e a arte estão na descoberta gradual. É muito mais sedutor na primavera uma camisa entreaberta deixando ver um bocadinho do seio do que uma garina logo de supetão toda sem roupa na praia do meco. Convidas-me ? ts ts bem morrerei de fome faminta. Mas o teu véu é estilo a do eça ou estilo mata-hari? Posso fotografar-te de véu? Mas não de laranjeira. Com ou sem véu, quem me interessa és tu. Ah ! querias que fosse de espada em riste no meu alazão para desafiar-te na praça de armas do castelo que te protege ? Dentro da cama de cristal esperando o ósculo do príncipe encantado(r) ? Quem vai ao mar em busca de guarida avia-se em terra que a viagem é longa e o caminho das estrelas ensombrado e parece-me que o princípe terá de ir bem aviado pois a princesa em seus meneios obrigá-lo-ia a gastar muita energia para não desmaiar enquanto os sinos tocassem e por isso podes descansadamente deixar a janela da varanda escancarada com toda a segurança.

agosto 23, 2013


e como tu és pelinho de arame em porcelana rendilhada ....
breve o teu cetim se transformaria em picos afiados e a brisa em ciclone

Saí se vieres, qd chegares, liga-me para eu te abrir a porta


agosto 21, 2013


Gostei bué da tua carta

Gostei bué da tua carta mas agora é como se a tivese ido buscar ao apartado 65, em évora, ou ao do terreiro do paço, em lisboa, dirigindo-me para o arcada ou para o nicola ou para a pastelaria no camões - onde ficava a farmácia de que a minha tia-avó era directora técnica, aquela pastelaria com a empregada que tinha uma covinha no queixo. As ventoinhas de pás imensas giram lentamente, fingindo espantar este calor abafado e opressivo, tal como a porta giratória. Tudo é fumarada, quase smog, e o barulho da máquina de café ou o tilintar das louças no balcão ou a serem poisadas nas mesas é uma sinfonia pouco melodiosa. Já vim ali da tabacaria onde a menina me vendeu o papel e o envelope, a Pelikan tem tinta preta para muitas folhas (hoje a Parker ou a Mont Blanc ficaram no quarto)



Se for no arcada a resposta no meio do barulho e da fumarada terá de ser escrita nos intervalos dos dedos de conversa na mesa do grupo do arcada ou interpelações de quem passa. Mesmo que me sente sózinho breve estarei rodeado de colegas. Já tenho os selos e mais logo, antes das 21:30, porei esta no marco do correio para que a recebas amanhã. Ainda não sei se pertence ao domínio da ficção científica, nestes anos 70, as pessoas poderem comunicar instantâneamente e, se alguma vez tal suceder, se se perderá a magia !



Isto é o que penso, mas a não ser que te telefone, (mas as chamadas são caras mesmo para quem é relativamente abonado como somos os "estrangeiros" do grupo do Arcada) só amanhã saberás os meus pensamentos. Até lá terei de contentar-me com os sonhos que sonho em ti. Tal como tu.



VM



Enquanto sonho, todo eu sou uma ave em ti, ave alvoraçada mas estrangulada nas tuas mãos, nas quais procuro a nossa liberdade

agosto 16, 2013


Quem tu és, não sei ! Quem tu és, não sei ! E saberás tu quem tu és ? Compassado, mais ou menos célere, uma série de batidas suaves entremeadas pelo baque seco da tecla de espaços. Um aperto no coração, mas ao escrevê-lo, minto, pois o coração é insensível embora nele se acolham ilusoriamente todas as emoções. Ou a ausência delas. É pois o coração insensível e imune à nossa vontade, anos e anos de mais ou menos regulares diástoles e sístoles, até que de vez a serenidadade do nada regresse: um traço contínuo no monitor. Em si o coração não arde nem fica gélido; limita-se à combustão lenta das células, ao afluxo ou refluxo que empalidece ou cobre de vermelhão o rosto ou as mãos. As mãos com que escrevo, que alguém um dia apaixonadamente descreveu como se fossem as dum maestro da escrita. Está pois um fim de tarde soalheiro, o corpo coberto de pequenas gotas de suor, o ventilador e a janela fechadas. Estou pois sentado aqui na sala e tu defronte de mim, na outra cadeira, a brisa agitando a folhagem e os espanta-espíritos e todo eu sou uma uma flor que se abre com o teu sorriso, no calor do teu olhar, na leveza e melodia dos teus dedos, no trinado da tua voz. Poderia estar sentado não defronte mas sim ao teu lado, a minha mão na tua, a tua na minha, mas não sei se o aceitarias. Alguns nomes ficaram, outros não criaram raízes no tronco carcomido que enfraquece as muralhas que nos cercam, num desagregar do canavial que somos. Que alguns de nós somos. Perguntas-me se desisti do fogo ? Como tudo na vida, o fogo, o vento, o mar, o sol, tanto podem ser fonte de vida como negação dela. Olho para ti e sigo com os lábios e os dedos o contorno de ti, em busca de nós, que tanto podemos ser nós como laços entre nós. Sempre esta ambiguidade das palavras neste jogo em que ora as estendo perante ti, como tapeçaria aveludada, ora as recolho e baralho de novo todo as cartas, com nova tessitura. Como tu, hora a hora, por vezes me parece fazes comigo Escreveste palavras de amor, de enleio, umas seguramente para mim, outras porque assim pensei tivessem sido, e deixei-me cativar e o mar e o por-do-sol ganharam outra cor, outra vida, e tu foste a paleta rendilhada em que me revi. Mas partiste e ficaram apenas no areal as pegadas da raposinha, gaivota ou luciferaznha, um carreriro de formiguinhas. Partes sempre, de Setúbal para Coimbra, de Coimbra para Veneza, de Veneza para outro lugar qualquer. E eu fico aqui no cais, à beira da estrada, ouvindo as vozes dos marinheiros e, com flama, nenhuma desassombradamente chama por mim. A macieza da tua pele, o brilho do teu olhar, o canto da tua voz, a música dos teus dedos em mim são apenas recordações e as recordações são um campo de flores esmaecidas. Ou foi apenas um desejo que mal manifestei. Nem tu nem eu encontrámos as palavras, as palavras e os gestos que não sejam vereda tortuosa ou maré de enganos. Não, não desisti. Mas de enganos está a minha alma cada vez mais tecida. E tu, tu uma vezes brincas ao esconde-esconde, outras recolhes-te. Ou talvez tu não sejas quem eu penso ou gostaria que fosses. Ou veja em ti o reflexo do que não existe. ... ... ... As horas e os minutos amontoam-se e o relógio defronte de mim diz-me que são 20 as que este dia somou até este momento. Horas de parar, de anotar o dia e o o local em que estes sinais foram lançados ao vento. Hora de, sem ti, preparar o jantar e alimentar a máquina que somos. E sem ti passear à beira-rio. Até quando quiseres. Sabes sempre onde me encontrar. Quem tu és, não sei ! E tu, sabes ?
Setúbal 2013.08.11

Gosto de ler-te. Isto é o mínimo dos mínimos. O resto está em mim e fora de mim é uma folha em branco, umas vezes límpida e clara, outras papel amarfanhado, desenrugado e novamente amarfanhado nos meus dedos ou dobrado no meu bolso, às 3 pancadas. Em torno do número 3 muito se poderia escrever e com isso encher ou não páginas e páginas, com letra de imprensa ou manuscrita, miudinha e muito certinha ou enorme e desencontrada. E não sei pk, vem-me à memória a frase "Ousar lutar, ousar vencer." Ah! mas em lutas em que entra o coração, a ousadia muitas vezes perde-se nos enleios e nas voltas da vida ! E nas voltas, em vez de viver a vida, perdemo-la. Na encruzilhada, entre o sonho e a vida, entre o tudo ou nada, qual o caminho, estrada larga ou vereda ?

7 de julho de 2013


René Magritte - Les Amants, 1928

Yolanda Botelho



*  Victor Nogueira

Porque procuramos "domesticar" as imagens projectando nelas o que nos vai na alma ou no fundo do coração ? Porque não as fruímos apenas, sem ver nelas significados ou parecenças com o que nos parece ser a realidade em que as temos de encaixar ou classificar ?

É um Cristo crucificado ? Uma açucena ou a flor dum jarro ? Um cálice ou uma espiga de milho ? Uma desfolhada em busca do milho-rei ? Um insecto ou uma ave ?


Seja o que for é uma agradável composição apesar duma certa frieza. das cores.

pintura de Yolanda Botelho

inFaceLock

* Victor Nogueira

Pois. O inFaceLock por vezes risca-nos  de listas de amizades sem nada nos perguntar, pois os que estão em causa afirmam não tê-lo feito, noutras, acrescenta-nos por vezes insólitas amizades, à nossa revelia

EM TEMPO - Para além das milhentas sugestões do inFaceLock a que não ligo nem dou atenção, o que nos últimos tempos me sucede é pedirem-me amizade pessoas cujo "perfil" vou ver previamente e não vejo qual o interesse que possam ter no que publico. A umas, atendendo à galeria de fotos  e ao que publicam, digo logo que não, a outras, digo que sim mas também não aquecem nem arrefecem pois não dão sinal de vida ou pelo menos o inFaceLock não nos dá conta da sua existência e participação. Enfim ...


José Luandino Vieira em Os Papéis da Prisão

* Victor Nogueira

Pois ...Mas também marcante na minha adolescência foi o início da Guerra Colonial e a desmistificação  da multirracialidade com os massacres  - indiscriminados - em Luanda post  4 de Fevereiro, em que o Outro, com outra cor de pele, era, para as "milícias" e liminarmente  o inimigo a abater. Sem esquecer a difusão das ideias e dos propósitos do MPLA. a que não poucos de nós aderimos, como simpatizantes ou como militantes.

Naqueles tempos de adolescente também me determinaram livros como Ascensão e Queda do Terceiro Reich, de William L. Shirer (nas aulas de OPAN consegui que a professora concordasse que o nazi-fascismo e o corporativismo eram semelhantes),  A Cabana do Pai Tomás, de Harriet Beecher Stowe  ou o Diário de Anne Frank.

 para 


À partida, tanto quanto posso recuar no tempo, a questão política está antes de começar a escrever. Ainda no liceu, quando fazíamos escolhas para jogar futebol,já fazíamos escolhas políticas. Eu lembro-me que só tive três colegas negros em cento e tal alunos. Mesmo assim quando fazíamos as escolhas para jogar pequenos jogos de futebol, ficávamos juntos, de um modo geral, por exemplo, Gentil Viana, Iko Carreira, na mesma equipa e os outros ficavam noutra equipa. Era uma escolha. Não percebo como, porque é aquela escolha em que se põe um pé à frente do outro, até que quem pisa escolhe primeiro… No fim dávamos conta que eram quase sempre os mesmos na «nossa» equipa. Numa dada altura, com 15/16 anos, houve um clivagem entre os que, na Mocidade portuguesa, escolheram ir para a milícia, para a parte mais militarizada, e os que escolheram ir para os desportos náuticos. E aí nós dividimo-nos. Depois fui-me dando conta da realidade com a leitura dos russos: Gorki, Turguêniev, Techkhov, Dostoievski… só depois Tolstoi… o melhor veio pela literatura.
José Luandino Vieira em Os Papéis da Prisão
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Os três "manos" - Luanda 1951

sábado, 12 de agosto de 2017

um holocausto nuclear à vista ?


* Victor Nogueira

Se os poderes de Trump, Obama e antecessores não são ditatoriais, então o que são eles ? Pode mesmo Trump iniciar o holocausto nuclear, sem retorno e sem esperança para a Humanidade e para a vida na Terra ?

Em 6 e 9 de Agosto de 1945 os EUA destruíram Hiroshima e Nagaski usando bombas nucleares contra um Japão já derrotado. Num ápice arrasaram  ambas as cidades e morreram de imediato e nos dias seguintes de 150 mil a 200 mil pessoas, ascendo a largas dezenas de milhar as vítimas das sequelas ao longo dos anos subsequentes

Foi um Crime de Guerra e, muito mais que isso, um Crime contra a Humanidade, destinado a tentar amedrontar a União Soviética, até então aliada e vencedora na luta contra o nazi-fascismo. Até hoje nenhum outro país utilizou o arsenal nuclear, que foi crescendo nos países que os EUA consideram "aliados" do Império como Israel, mas não permitem noutros.


novas vitralices

* Victor Nogueira







sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Crime scene - do not cross


M - um filme de Fritz Lang (1931)




* Victor Nogueira

Ah, Gostei imenso da série Morse mas também da que narrava a sua entrada para a polícia, Endeavour, que é o seu malfadado nome próprio.Há outra sequela, o Lewis, em que o intelectual é o sargento James Hathaway, ex estudante de Teologia.
Há interessantes séries na FoxCrime, como os Mistérios do Dr Blake com a brilhante interpretação da sua governanta, a Jean Beazley

Mais divertidas ou mais sérias, por vezes salpicadas de humor, algumas destas séries são puro "entretenimento", como as baseadas nos romances de Agatha Christie ou Conan Doyle, mas outras abordam com pertinência questões e problemas sociais ou destacam-se pela extrema violência. Para além dos protagonistas principais outros secundários também se destacam, especialmente os que exercem medicina-legal.

Os cenários variam entre uma Oxford gótica e labiríntica e os espaços campestres e rurais abertos das séries Vera e Shetland, da Nova Iorque dos dias de hoje a Londres oitocentista, das cidades australianas (Miss  Fisher e Dr Blake) até aos bairros degradados de séries como Gomorra mas também em Candice Renoir. ou Gently. sem esquecer a "sofisticação" dos cenários em que se movem a british Miss Marple e o cosmopolita Poirot. Penedias sobre o litoral marítimo e portos são também um cenário recorrente nalgumas destas séries.


inspector chefe Endeavour Morse (John Thaw) e sargento-detective  Robert Lewis (Kevin Whately). Morse, humano.solitário, mas com feitio algo azedo e ácido, frequentou a Universidade de Oxford, faz parte dum grupo coral, aprecia opera e Wagner, com pouca sorte nas suas relações com as mulheres: não poucas vezes "encantando-se" pela que descobre ser a criminosa. Engana-se por vezes nas pistas que segue mas reconhece-lo. 


inspector chefe Fred Thursday (Roger Allam) e sargento-detective Endeavour Morse (Shaun Evans). Thursday combateu na 2ª Guerra Mundial e é um homem humano mas amargo, duma afectividade controlada e com uma vida familiar aparentemente satisfatória. Endeavour entra como polícia mas os seus dotes de observação e a sua cultura levam-no a colaborar com Thursday, apesar da obstinada oposição do comissário. A "protecção" do inspector acaba por vencer e convencer o comissário, e Morse passa a sargento-detective


inspector Robert Lewis (Kevin Whately)  e sargento-detective James Hathaway (Laurence Fox). Nesta série com humor o "intelectual" é o sargento e Lewis não poucas vezes lida com ele com uma sobranceria similar à de Morse para consigo. São recorrentes ao longo da série as bicadas entre os dois detectives Há um fio romanesco ao longo das temporadas, que se vai tecendo em torno de Lewis e da médica patologista,  Laura Hobson (Clare Holman). Entre estes personagens, incluindo a super-intendente-chefe Jean Innocent (Rebecca Front) existe maior cumplicidade e afectividade do que as existentes entre o mais distante e amargo embora afectivo  inspector Morse e quem o rodeava.


 Jean Beazley (Nadine Garner) e Lucien Blake (Craig McLachlan). Este é médico algo tímido que tem consultório clínico e exerce medicina legal em colaboração com a polícia local e situa-se nos anos a seguir à 2ª Guerra Mundial, em que participou. Saborosa e deliciosa a relação entre Blake e a desenvolta Jean, sua assistente e governanta.



sargento-detective John Bachus (Lee Ingleby)  e inspector George Gently  (Martin Shaw). Gently é um rude, amargo mas humano detective que se "refugia" numa cidade de província, coadjuvado por um sargento algo baldas e bastante preconceituoso.


 Reverendo Sidney Chambers (James Norton) e inspector  Geordie Keating (Robson Green). Há uma relação de cumplicidade e de amizade entre o vigário e o detective que se vai estreitando ao longo do tempo, com histórias paralelas aos crimes que procuram desvendar, como os mal resolvidos problemas afectivos entre Chambers e  Amanda Kendall  (Morven Christie).


a inspectora chefe Vera Stanhope (Brenda Blethyn) é workaholic e teve dois sargentos; Joe Ashworth (David Leon) e Aiden Healy (Kenny Doughty). Vera é uma solitária frequentemente irascível para com os seus coadjutores que sofrem tratos de polé com as suas exigências, pois não tem em contas as respectivas vidas e compromissos familiares..


inspector Jack Robinson (Nathan Page) e  Phryne Fisher  (Essie Davis). Nos loucos anos 20, Phryne é uma desenvolta, destemida e ociosa jovem australiana pobre que herdou uma fortuna, educada na Europa e que colabora com o Inspector da Polícia local no desvendar de crimes. Tal como em Blake aqui também há um enredo amoroso que se desenvolve entre Miss Fisher e o tímido e conservador Inspector JacK ou entre a recatada mas determinada Dot e Williams, o assistente do Inspector.


Joan Watson (Lucy Liu) e  Sherlock Holmes (Jonny Lee Miller). Sherlock e Watson mudam de Londres para Nova York e do século XIX para o XX, sendo consultores da NYPD. Watson é uma cirurgiã inicialmente contratada pelo pai de Sherlock para acompanhar a desintoxicação das drogas por Sherlock. Jan é asertiva, independente e não é passiva nem submissa como o fora John. Tirando o feitio irascível, o auto-convencimento e a falta de empatia aliados a um acurado poder de observação, os enredos dos episódios nada têm a ver com a obra original de Conan Doyle.


Dr. John H. Watson (Edward Hardwick) e Sherlock Holmes (Jeremy Brett)  - Granada Television


Hercule Poirot (David Suchet), o que melhor me parece "corresponder" ao convencido e por vezes irascível detective particular, apesar da sua capa de mundana simpatia.


a comandante Candice Renoir (Cécile Bois) tem como adjunto o capitão Antoine Dumas (Raphaël Lenglet). Candice é uma mãe divorciada, independente, com sucessivos amantes e quatro filhos traquinas a cargo, que apesar do seu ar de "loura" e da má vontade da comissária, consegue resolver intrincados casos com a ajuda da sua equipa.


inspectora.chefe Jane Tennison (Helen Mirren).  Assertiva,Tennison não procura cair nas boas graças da sua equipa, cuja estima consegue no entanto granjear, num mundo e num meio machistas, contra o qual luta para se impôr


a mulher polícia Jane Tennison, em início de carreira, coadjuva o inspector Stefanie Martini (Sam Reid) em Prime Suspect - Tennison


a detective Angelika "Angie" Flynn (Kristin Lehman) contracena com o sargento Oscar Vega (Louis Ferreira)


 inspector Jimmy Perez (Douglas Henshall) é um fleumático na pequena comunidade rural em que vive, sem os problemas existenciais de Morse, de Vera ou de Sidney Chambers.



Miss Marple, a velhinha de ar aparentemente inofensivo, teve várias intérpretes mas as actrizes que me pareceram mais "identificadas"  foram  Geraldine McEwan e Margaret Rutherford


o inspector-chefe Tom Barnaby teve inúmeros sargento-ajudantes ao longo da série


a série envolve a família Reagan cujo patriarca é o comissário Francis Xavier "Frank" Reagan (Tom Selleck) 


Em Portugal foi A Balada de Hill Street


o desajeitado mas perspicaz  tenente-detective Columbo (Peter Falk)


O Polvo (10 temporadas) teve como principal protagonista o comissário Corrado Catanni (Michele Placido), "assassinado" pela Mafia no final da 4ª temporada, a que se seguiu Davide Licata (Vittorio Mezzogiorno), também "assassinado", na 6ª temporada


Nesta violenta série italiana retrata-se  vida e as traições dentro duma "famiglia" da Camorra -  os Savastano - com as manobras ambiciosas dum dos cappos, Ciro Di Marzio (Marco d'Amore) enfrentando a mulher do clã: Donna Imma - Immacolata Savastano - interpretada por Maria Pia Calzone


Raymond « Red » Reddington (James Spader) é um ex-agente secreto norte-americano que se ligou ao mundo do grande crime organizado, e se propõe colaborar com o FBI na entrega duma Lista Negra de criminosos e terroristas, alguns deles infiltrados até aos mais altos escalões no aparelho de Estado dos EUA, pondo como condição trabalhar em equipa com a agente federal Elizabeth Keen aka Masha Rostova (Megan Boone). Trata-se duma série com enormes voltas e reviravoltas, em que o que parece nem sempre é.



OUTRAS SÉRIES