Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNsábado, 28 de novembro de 2015
No tempo em que eu era mais novo
Foto victor nogueira –Mindelo – Sombras com chaminé em relva verde que será colhida na Primavera para forragem do gado sendo então substituída pela cultura do milho a ser apanhado no Outono seguinte. E assim ciclicamente até que os campos sejam retalhados para loteamento urbano.
No tempo em que eu era mais novo
Fazia muitas perguntas e
metia conversa com muita gente, fosse em que lugar fosse.
No tempo em que eu era mais novo
A casa dos meus pais tinha sempre as portas e janelas abertas - ao sol e ao vento -
e à mesa sentavam-se do operário ao engenheiro
o médico e o enfermeiro
o professor e o empreiteiro
qualquer que fosse a cor da pele
Também a minha casa sempre teve portas e janelas abertas
- hoje não tão escancaradas -
E à minha mesa senta(va)-se toda a gente.
- este toda a gente tem como limite reconhecer-me no outro/outra –
E muitas vezes os operários me dizem
que me consideram um deles
Hoje estou mais velho
- envelheci neste país pequeno, cinzento e de vistas curtas –
No tempo em que era jovem e no país em que nasci
- no estrato social a que pertenciam os meus pais –
e mesmo depois na Universidade em Lisboa
os rapazes e as raparigas saíam juntos
no café, na praia, no cinema, em passeio
Agora envelheceram-me
E se o Victor dos 20 anos se sentasse defronte do Victor de hoje
Seriam quase dois estranhos frente a frente
- neste país pequeno, cinzento e de vistas curtas –
Não perdi a juventude
mas envelheceram-me ou envelheci
e no outono da vida
continuo à espera da primavera.
Apesar de tudo as mãos e os gestos continuam abertos
- embora mais retraídos –
Mas das mãos escorre apenas areia
e um deserto de flores esmaecidas.
Vim com a esperança de rever velhas amizades e conhecer novas
mas nenhuma delas respondeu ao meu convite
e recolhido em mim
desisti de reencontros ou de conhecer novas gentes
Assim regresso ao sul
ao céu azul, luminoso e pleno de claridade
para um mar chão e de calmaria
onde não há penélope e ulisses
e a amizade é também quase sempre uma palavra vã..
No tempo em que eu era mais novo
cada pessoa era um amigo/amiga
e entre nós a cidade não tinha muros nem torres de atalaia.
Mas isso, isso é passado,
Hoje ..., hoje as aves não cantam no alto da madrugada.
- Alguma vez voarão de novo, altaneiras ?
Mindelo, 2015.11.26 (2)
De regresso ao sul
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Restauro de azlejos no antigo liceu salvador correia em luanda
NUOVO
* Victor Nogueira
No ovo
o povo
a ova
nova
e
o polvo
O mote
o bote
o lote
a lota
e
a luta
A sorte
forte
A porta
aporta
com a morte
da bota
A ementa
e
a
pimenta:
ensopado de enguias
e lulas guisadas
ou coelho com “potas”
e cavacas das caldas.
terça-feira, 17 de novembro de 2015
homem e cão á beira-mar
Comments
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
Raízes em 11 de novembro
* Victor Nogueira
(...)
Em Luanda nasci
Em Luanda vivi
Em Luanda estudei
Não Angola mas Portugal
Todos os rios e afluentes
Todas as linhas férreas e apeadeiros
Todas as cidades e vilas
Todos os reis e algumas batalhas
as plantas e animais
que não eram do meu país.
De Angola
pouco sabíamos
até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março
Veio a guerra e
....................a mentira
que alimenta
..................a Guerra,
Veio a guerra e a violência
veio a guerra e a liberdade.
Em Évora a 11 de Novembro
Em Luanda a bandeira do meu país
no mastro subiu.
Era o tempo da liberdade e da esperança.
No Porto
Em Lisboa
Em Évora estudei
Em Évora casei
Em Évora vivi e nasceram o Rui e a Susana.
Em Setúbal moro e no Barreiro trabalho
Perdidos os amigos,
perdida a infância
Estrangeiro ......sem raízes ......sou em Portugal.
Victor Nogueira
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
passo a passo
estuário do rio sado e poesia intemporal do photographo
o lume
e
solta
a
revolta
canção
da
revolução
da fome
acende o lume
liquida o estrume
Mantém a flâmula acesa
Mantém a flâmula acesa
Em girândola o orvalho
resguardando a flama
a chama
que a teia incendeia
Da luz a vela
luminária desfraldando as veias
velas
para lá das sentinelas
Mindelo 2015.11.09
domingo, 8 de novembro de 2015
o sol e a sombra
* Victor Nogueira
Em carreirinha preciosa
- linda a nova -
sedosa e graciosa
algodão doce que fosse
de trigo a sementeira
E o grifo
águia ou dragão
liberto e desperto
O grito
na imensidão do deserto
na concha da tua mão
aberto o ninho de ouro
ágata benfazeja.
E a esfinge
o enigma
com sintagma
vulcânico magma
Mindelo, 2015.11.08