Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNdomingo, 31 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
As gracinhas da Susana e do Rui Pedro
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* Victor Nogueira
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O "Vitinho" está a crescer de dia para dia. (FNS - 1976.03.14)
A Celeste lá vai andando, bem como o mini, que deve nascer lá com a força do calor. (MEB - 1976.06.01) A Susana lá vai crescendo e engordando. (1). A semana passada já pesava 3,200 kg. Não chora muito, mas fá lo normalmente a horas inconvenientes, isto é, ente as 24 e as 2 da madrugada. Já tem uma configuração diferente mas não sei com quem é parecida. Ah! Ah! Ah! Dizem que é comigo! Coitadinha da criancinha, bem poderia ter saído mais bonitinha!
Nós cá vamos com uma nova actividade: o "tratar da Susana" (o nome sugerido pelo tio Zé [Luís] (...) Quando lhe damos as gotas [de Vi Dê] faz umas caretas enormes que nos faz rir (E a tomar banho também. Delicia se, salvo quando lhe molham a cabeça). O Victor está um pai "baboso" (NSF - 1976.08.30)
A Susana cá vai crescendo. Já tem cara de gente e vai engordando. Agora está bebendo o leite de biberon. Já nos segue com os olhos, desde que estejamos ao pé dela, e de vez em quando vai sorrindo, cada vez com mais frequência. Tem recebido bastantes prendas, mas sucede lhe um pouco como aos noivos: qualquer dia não sabe o que há de fazer aos "babetes" e aos "baby grows" (macacos). (NSF - 1976.05.09)
A Susana tem grandes palrações e de vez em quando berra para lhe irem fazer companhia. Pesa 6,050 kg. (MEB - 1976.11.29)
A D.Maria [avó] e a Susana dormem. A Susana fala muito, embora por enquanto só ela entenda o seu palrar. Nasceu lhe um dente e outro está a romper. Agarra as coisas e diverte se a tocar o guizo ou a fazer chiar o cão de borracha. Fora isso bebe o leite todo mas faz grandes fitas para comer a papa. (NSF - 1976.12.13)
A Susana está com muitas gracinhas. (NSF - 1977.05.22)
A Susana está para ali amuada pois quer ir para casa da Isabel, nossa vizinha. (MCG - 1978.06.27)
A Susana tosse - tem estado com anginas. Está numa fase de afirmação de si própria e só quer fazer o que muito bem entende. Não sei como lidar com ela! (NSF - 1980.08.28)
Apesar dos nossos "desentendimentos" [entre mim e a minha mãe] a casa ficou vazia, como sucede quando o Rui (2) e a Susana se vão embora, especialmente após estadias mais prolongadas. (MMA - 1993.08.10)
Hoje [o Caló] anda por aí muito feliz e risonho com as magias do Rui (...) e para as quais me vem chamar a atenção com frequência. (MMA - 1993.08.15)
À tarde o Rui queria ir ao cinema (...) [e] a Susana preferia ver as lojas da Baixa Pombalina, para arejar o dinheiro. Prevaleceu a proposta da Susana, que comprou adereços de artesanato em pele e missangas, tendo oferecido ao maninho uma fina pulseira em cabedal. (MMA - 1993.08.19)
O Rui anda ali no corredor exibindo o seu esqueleto bronzeado como se fosse musculado e atlético, ao murro à irmã, esquecendo se que em resultado de brincadriras semelhantes ela anteontem torceu lhe o dedo indicador, o que é um grave acidente com repercussões nos seus exercícios de viola e no seu dedilhar do computador. (MMA - 1993.08.20)
O Mindelo é para mim um quartel-general donde parto para as minhas explorações paisagísticas e turísticas. Para o interior e ao longo dos rios dão-se belos passeios, com protestos da Susana, que não aprecia ver pedras e monos. (MMA - 1993.08.21)
O Rui anda todo orgulhoso porque lhe teria aparecido uma borbulha de acne no rosto, sinal, segundo ele, de que já entrou na puberdade. Agora deu-lhe para experimentar penteados a ver qual lhe fica melhor. Já não bastava o orgulho na musculatura! (MMA - 1993.09.16/19)
Neste fim de semana a Susana não quis sair, a não ser para ir ás compras comigo, e pespegou-se em frente ao televisor ou a ouvir música, para além de se ter encarregado dos almoços e jantares e de aspirar a casa. O Rui pespegou-se frente ao computador a jogar com o Bruno, um dos filhos da vizinha Estrela, e desta vez não houve ensaios de viola porque a não trouxe. Outras vezes fazem um estendal no chão com carros, canhões e soldados simulando grandes, discutidas e barulhentas batalhas terrestres. (...)
De qualquer modo agora tenho com frequência companhia ao almoço. Com efeito o Rui XE "família: Rui e Susana"§anda com uma paisite aguda, de que te falei um dia destes ao telefone, pelo que vem até aqui frequentemente para almoçar ou quando não tem aulas, pois a Escola da Belavista fica a dois passos. Normalmente traz um colega, nem sempre o mesmo, para almoçar também ou para jogarem no computador. E neste fim de semana resolveu ficar ... até 3ª feira (5 Outubro), embora a Susana tivesse ido embora hoje. De vez em quando chega se inesperadamente a mim para beijar-me ou abraçar-me e retribuir-lhe. A Susana é que de vez em quando tem destes ataques de ternurite, mas vindos do Rui é novidade. Sabes, aqui é sempre o mais novo, enquanto que na casa da mãe passou a ser o do meio. Aliás o Jorge é um miúdo precoce, como a Susana, e o Rui ressente-se das habilidades comentadas dos irmãos das extremas. Quando está sózinho comigo é fácil de aturar, mas quando está com a irmã dá-lhe a veneta e aparecem as fitas para ser o centro das atenções.
O Rui agora passa a vida a experimentar penteados, parecendo-me que se fixou na risca ao meio com os cabelos para os lados, como se usava nos anos 40. Um dia destes rapou o bigode e depois comentava para a irmã que já o sentia crescer quando passava a lingua pelo lábio superior! (MMA - 1993.10.03/04)
Está uma tarde fria e cinzenta. Almoçamos em casa do Zé e da Ana. O Zé e o sr. Caldeira cantaram músicas do Alentejo; o pai da Ana tem uma voz muito bonita. O Rui também abrilhantou o almoço, com a sua viola, que já toca bem. Com os seus truques de magia e cartas, bem poderia começar a pensar em animar as festas de bairro!
A Susana foi dar uma volta; ficou de vir às seis para irmos ao Jumbo comprar a prenda para o César, o filho da Ana e do Zé (de Pias), que hoje fez 3 anos. Quanto ao Rui, comigo, é mais caseiro e agora anda para ali aos saltos com o Bruno, desalojados que foram do computador, e em animada conversa com a Catia e a Aida, as filhas mais velhas da Ana e dum outro Zé (da Amareleja), com quem vivem. (MMA - 1994.02.06)
Pois é, a Susana chegou ontem aqui a casa positivamente nas nuvens. Estou apaixonada, disse me ela. Com aquele ar de extase ainda só a tinha visto quando me sabe interessado por alguém e me pergunta emocionada como vão as coisas ... comigo. (MMA - 1994.02.07)
1 - Nasceu em Évora a 7 Agosto 1976. Quando rebentaram as águas à Celeste, fomos para o hospital, tal como a Joana Espanca lhe dissera que fizéssemos. Apanhámos o táxi, de malinha na mão. Lá chegados, disseram-nos que ainda era cedo demais, que só voltássemos quando o intervalo das dores fosse de 5 minutos. A pé, lá regressámos à Rua Serpa Pinto. Quando as dores apertavam queria a Celeste ir para o hospital, enquanto eu, de relógio na mão, contando o tempo lhe dizia que o intervalo ainda estava longe dos cinco minutos. Mas, como ela protestasse, lá apanhávamos de novo um táxi, de malinha na mão, regressando a pé, com o mesmo recado. E a cena repetiu-se algumas vezes até que, sendo ao entardecer, os médicos acederam no seu internamento. Contudo a criancinha só nasceu no dia seguinte, pouco antes da visita. Quando a vi, acabadinha de nascer, toda vermelha, os olhos bogalhudos e a cabeça com a forma duma bola de basebol, fiquei desgostoso, comentando: mas que filha tão feia! Contudo passado algum tempo já estava bonitinha e assim se tem mantido! Falava muito, horas seguidas, sendo também muito teimosa. Como os livros na sala estivessem ao alcance da mão, dizia lhe que lhes não mexesse, Como persistisse, batia lhe na mão prevaricadora, mas ela, voltada para mim, com a outra, atrás das costas, ia mexendo nos livros. Tencionávamos chamar-lhe Natasha; contudo, no dia em que fui increvê-la para a consulta de pediatria, disseram-me que tinha de fazê-lo com um nome e, como não tivesse a certeza que no registo civil aceitassem o que pretendia, dei-lhe o de Susana, que havia sido sugerido pelo meu irmão Zé Luís e me parecia pouco comum. Qual não foi o meu desgosto quando no dia da consulta eram chamadas mais que muitas ... Susana! Estávamos todos enlevados com as gracinhas da recém nascida, até que vi um filme feito pelo Zé João tendo como protagonista o João Filipe, filho da Isabel, da mesma idade, e que fazia exactamente as mesmas ... gracinhas. Pelo que caí em mim, ao aperceber-me que em todo o mundo milhares de criancinhas faziam exactamente as mesmas graças perante familiares enlevados que as consideravam únicas!
2 - O Rui nasceu completamente careca, ao contrário da Susana, sendo menos sociável e risonho. Só aceitava o colo das avós e dos pais, chorando quando algum estranho lhe queria pegar. Habituado a andar com um capote alentejano, por causa do inverno, queria no pino do verão seguinte sair à rua ... de capote, chorando por isso.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (14)
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* Victor Nogueira
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Esta é a minha casa, esta é a casa dos meus filhos, fosse ou não a mãe deles viva. Eles chegaram primeiro que tu, um em 1976, outro em 1980. Como vês, muito antes de ti. De quem me divorciei foi da mãe deles, não deles. Como naturalmente te divorciaste não dos vossos filhos, mas sim do pai deles. É completamente disparatada, irracional, a aversão que tens à Natasha e à Ester.
Enquanto estás para aí, eu estou para aqui. O tempo passou e já são três da manhã, sem que o meu cansaço ou fartura da vida e das pessoas tenha diminuído. O barulho provocado pelo vento amainou e o silêncio apenas é quebrado pelo zumbido contínuo do ventilador do computador e pelo tac tac mais ou menos regular, mais ou menos rápido, do teclado. A violenta tempestade passou, tempestade que fazia bater as janelas com fragor, conjuntamente com a porta de acesso ao terraço que se deve ter aberto e, em vai vem, soava com estrondo.
Diz a sabedoria popular que não há uma sem duas nem duas sem três. Como já estão três páginas escritas, vão sendo horas de ir para Vale de Lençóis, para os braços de Morfeia, na companhia esquiva mas pronta e quase sempre fiel da Joana Pestana.
Setúbal, 1997.11.23 / 24
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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sábado, 23 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (13)
* Victor Nogueira
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Fiquei ontem muito preocupado contigo, com a tua aflição. Não podendo ir à da Rainha, fiz das tripas coração e liguei para tua casa, a casa de Setúbal onde deverias estar mas não estás. Por ti, porque estava preocupado contigo, s(...)Decididamente, deixei de gostar dos teus filhos: até prova em contrário, ambos não passam de meninos da mamã, mimados, egoístas (...)
Devo te algumas coisas: a tua ajuda, quando não é impositiva, a tua presença quando fiz o exame no Vasconcelos, a tua companhia e alguns momentos de alegria. O que te devo é pouco, face ao muito que os teusa filhos te devem, nem mais nem menos do que os meus devem à mãe e a mim. Sou lúcido, por vezes demasiado, e não sou de modo algum do estilo mãe galinha, sempre pronta a passar uma esponja sobre as suas crias e a ver com olhos negros e chamejantes as crias dos outros, como sucede contigo.
Os teus filhos não são capazes de telefonar-me, mesmo que seja por causa da mãe deles, e o teu filho mais novo, nas tuas palavras, 'tadinho, é um joguete nas mãos de outrem ... Pareceu me que estavas aflita e se eu não estivesse doente teria ido ter contigo; coitados dos teus filhos, que não são capazes de telefonar-me, eu que lhe telefone, condescendia o Jorge, dando desculpas esfarrapadas, que tu perdoas! Coitados dos teus filhos, tão bonzinhos, tão educadinhos, que não são capazes de telefonar-me para saberem de ti ou para combinarmos a assistência de que tu precisarias ou para se arranjar alternativa ajustada, como consegui telefonando aos meus pais que - estes sim - a ti nada devem mas se prontificaram a ir buscar-te, se necessário e a qualquer hora! Decididamente, não gosto da educação que deram aos vossos filhos.
Admito que o telefonema do Jorge tenha sido uma das causas da tua crise e aflição! Tu dizes que não; eu, conhecendo as tuas histórias, admito que sim. Mas neste caso a verdade não me interessa. A verdade que me interessa é que os teus filhos não me gramam e tu não gramas os meus. Embora discordando dalguns resultados da educação que deste aos vossos, a verdade que me interessa e repito é que acho muito bem que tenhas sido e continues a ser amiga deles, que os tenhas acompanhado e ajudado e que continues a fazê lo, que tenhas convivido, convivas e continues a conviver com eles. A verdade que me interessa é que não me reconheces esses mesmos direitos e deveres relativamente aos meus filhos.
A verdade que me interessa é que as nossas casas são à beira Sado. A verdade que me interessa é que os teus filhos vivem na tua casa donde saíste e os meus vivem na minha casa, donde não saí. E a verdade que me interessa é que eu não entro nem tenho cabimento na tua casa enquanto tu entras e tens tido cabimento na minha casa. A verdade é que os teus filhos mimados não são pêra doce para ti, mas não é por isso que os pões fora de tua casa, o que, repito, acho muito bem, assim como acho muito mal que queiras que eu corra com os meus da minha, para estares à vontade comigo, como já mo disseste várias vezes! O que é verdade é que comes à mesa com os meus filhos mas eu não como à mesa com os teus, que te convidam como se eu não existisse.
Não é nada disto que eu quero, repito-te novamente. Jogas um jogo comigo que não é o jogo da verdade. Não estás habilitada para a profisssão que dizes ter.
Pensei um futuro contigo mas o que pensei não tinha consistência. Tu não me dizes a verdade, os teus filhos, que nunca hostilizei, não me gramam, tu não gramas os meus filhos, que praticamente desde o início tens hostilizado sem qualquer fundamento ou razoabilidade. A minha vida é em Setúbal, onde moro e trabalho. Não é onde vives agora Ausente de Setúbal durante a semana, não é fora da minha casa que quero passar sistematicamente os meus fins de semana, pois aqui tenho assuntos a tratar, para além das minhas coisas que gosto de desfrutar.
Se não fosse outro, o curso que estás a tirar aí, tirarias aqui em Setúbal ou no Barreiro. Em qualquer destas terras tens casa tua, que compraste, e só a tua terceira não é a minha porque não gramas os meus filhos nem os aceitas, nem é razoável que, vivendo tu comigo não os aceitando, tu saias para conviver com os teus filhos porque estes não me gramam. Não ao emprego em Setúbal
Estás por aí. Eu estou para Setúbal. Temos cada um de nós à volta de 50 anos de idade. Eu não vou aí sistematicamente porque a minha vida e a minha casa são em Setúbal e porque tenho dois filhos a quem tenho de dar assistência, quer tu queiras e aceites ou não. Atitude louvável que tomaste relativamente aos teus, que assististe até uma idade mais avançada, tão avançada que até saíste da tua casa sem que eles, beneficiários, o aceitem e compreendam. Dever de assistência que não aceitas nem compreendes tu que eu tenha relativamente aos meus filhos. No teu entender, os teus filhos, 'tadinhos, não podem ir buscar-te ou levar-te à povoação onde vives preesentemente ou a qualquer sítio, hoje como ontem. Mas, no teu entender, eu posso e devo!
Não vens a Setúbal porque é longe, porque é caro, porque não gramas os meus filhos. Doentes ou não, o futuro é passarmos os dias, férias e fins de semana cada um para seu lado. Eu telefono-te, por vezes mais duma vez. Tu não me telefonas ou porque é caro ou porque estás em casa dos teus tios e não estás à vontade. Tu podes telefonar-me a qualquer hora, desde que eu não tenha o telefone desligado. Eu não posso telefonar-te: ou porque te deitas cedo, ou porque está a chover, ou porque acordei os teus tios, ou porque estou a incomodá-los.
Se te telefono, procuro não aborrecer-te. Fazes tu sempre o mesmo? Não! Por exemplo, digo te que o micro-ondas está avariado e tu metes logo veneno contra os meus filhos, como meteste com os teus postais que eles teriam rasgado mas afinal ainda estavam em Terras da Rainha! Falei na história do micro-ondas a várias pessoas, algumas das quais têm filhos, que conhecem os meus tão bem ou melhor do que tu, e o que todas as pessoas disseram foi: Vê lá, que maçada, habituamo-nos à sua comodidade e depois faz falta!
Passo o fim de semana em Setúbal, metido em casa porque estou doente. Mas se não estivesse doente, se não estivesse contigo, então só teria ordem tua para sair com a minha mãe e os meus tios, para almoçar ou jantar com eles ou para telefonar-lhes!
Telefono-te porque estou sozinho, telefono-te porque talvez estejas sozinha, telefono-te porque me apetece falar contigo, embora as chamadas possam ser dispendiosas. E tu, esquecida dos amorzinhos e dos beijinhos e doutros ... inhos, manifestas surpresa e comentas que não me telefonaste nem tens que fazê-lo porque ... já tínhamos falado e porque acordara a tua tia e porque torna e porque deixa! Tens razão, queridinha, parvo sou eu.
Se estava a chover, a tua tia só tinha que dizê-lo. Se estavas a dormir, só tinha que dizer-me e tu continuares a dormir, porque não mando quem quer que seja telefonar-me. Mas se me telefonas, não tenho que ouvir-te dizer-me que estou a brincar contigo ... porque o meu telefone estava, uma vez mais, ocupado, talvez em prelúdio de mais uma descabida cena de ciúmes. Como se a linha tivesse que estar desimpedida para ti, à espera dum eventual telefonema teu, como se ninguém cá em casa pudesse entretanto fazer ou receber chamadas. Olha, minha linda, se marquei hora contigo, procuro que o telefone esteja desimpedido. Se não, o telefone está livre, nem que seja para eu falar com outrem, já que estás longe ou indisponível, pelo adiantado da hora, porque chove ou porque estás a dormir. Para falar com quem é meu amigo, não me chateie e me faça esquecer a minha solidão.
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (12)
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* Victor Nogueira
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Estou cansado e pesa-me o silêncio, mas não tenho música a tocar. O domingo foi triste, frio e cinzento; passei o dia fechado em casa e não comprei jornais. Continuei a escrever o meu infindável livro de viagens. Há sempre um acréscimo a fazer.
Acabei de ler um livro de Fernando Dacosta, chamado Máscaras de Salazar, feito essencialmente de colagens de pequenos testemunhos do personagem e de quem com ele conviveu, convenientemente interligados. É um livro que se lê duma penada, com agrado, mas que me não trouxe novidades. Tinha me sido recomendado pelo sr. Graça, livreiro da Antecipação. Li, confirmando no catálogo aí comprado nas Caldas, que foi o escultor António Duarte quem fez os moldes da máscara funerária e da mão direita de Salazar após o seu falecimento, sem que depois aparecessem interessados, segundo Dacosta, o que é desmentido no referido catálogo, pois embora o molde em gesso pertença ao escultor, existem bronzes numa colecção particular. Ora, independentemente do que Salazar tenha sido, é inquestionável que foi um personagem determinante e marcante na história portuguesa e condicionante do desenvolvimento dos portugueses e dos povos das colónias. Inválido, muitos se afastaram, morto, muitos o esqueceram ou desprezaram, o espólio disperso quando não vendido ao desbarato, a casa da aldeia em ruínas, a estátua estralhaçada por uma bomba em Santa Comba Dão, onde quem afinal vence eleições parece ser o Partido Socialista.
Mas, deixando as leituras e reflexões, que fiz mais? Andámos os três em arrumações: aspirar a casa, limpar o pó, descongelar o frigorífico e a arca, matar as baratas que parece terem vindo para ficar, limpar azulejos e casas de banho. Nos intervalos ouviu se música, umas vezes escolhida por mim, outras pelo Pelágio com a Cabeça na Lua. Era para ver um filme português, Oxalá, de António Pedro Vasconcelos, mas como entretanto me apercebi que na TV estava a dar uma fita do James Bond interpretada pelo já envelhecido Roger Moore, acabei por escolhê lo. A história era uma cowboyada, essencialmente passada num comboio, mas como envolvia uma companhia de circo com números circenses e algum humor, acabei por vê lo até ao fim.
Ainda não vi a 5ª e 6ª séries d'O Polvo. Qualquer dia tem de ser, pois não vale a pena esperar por ti, senão esqueço os episódios anteriores. Entretanto, nestes dias de recolhimento forçado, vi um documentário de Mariana Otero sobre a SIC e o debate entre Álvaro Cunhal e Mário Soares. A SIC reagiu mal àquele documentário, que comprou e passou de madrugada. A mim não me trouxe novidades, mas passado em horário nobre poderia eventualmente levar ingénuos tele-espectadores, que são a maioria, a mudarem de canal e lá se iam as audiências, a publicidade e os lucros do sr. Balsemão e Pandilha. Quanto ao debate, embora ambos os intervenientes dissessem coisas com interesse, este foi um pouco monótono, pois qualquer deles se limitou a ler as folhas, com maior ou menor ênfase, com pior desempenho e embaraço do Cunhal no que se refere à leitura. Foi mais vivo quando passaram ao taco-a-taco. Entre a assistência estavam jovens, muitos, e menos jovens, bastantes, aqueles com ar interessado, artilhados de bloco e caneta para as notas que raramente tomavam, estes muito sérios, alguns mesmo com cara patibular. Durante a intervenção do Soares um assistente da 1ª fila dormia esparramado na cadeira, a cabeça apoiada na mão. Mas fora este, a câmara não focou pessoas a bocejarem ou com ar de muito enfado.
Na assistência distinguiam se algumas celebridades: Durão Barroso, Francisco Louçã, Pezarat Correia, Pedro Canavarro, Jorge Coelho, Medeiros Ferreira, Fernando Rosas ... Alguns dos assistentes sobretudo os menos jovens, mostraram-se pouco à vontade quando focados pela câmara, outros não esconderam o seu inchaço, talvez babosos para o vídeo lá em casa gravando para a família e para a posteridade. Contudo, a 2ª parte do programa televisivo foi perfeitamente surrealista: nela participaram três jornalistas: Maria João Avilez, Bettencourt Rodrigues e Vicente Jorge Silva. Aquilo foi um fartar vilanagem a desancar no Álvaro Cunhal, a propósito e, sobretudo, a despropósito, com especial relevo para os dois últimos e alguma moderação da Joãozino Avilez. Uma autêntica masturbação, daquelas que se admitem lá em casa ou à mesa do café, em roda de família e amigos, mas não para massacrar os telespectadores.
E, neste ponto da leitura, imagino te a murmurar: mas que raio de carta, ainda não me chamou amorzinho uma vez que fosse ou me disse que tinha saudadinhas minhas ou me mandou beijinhos. Pois é ! ...
Levanto me, fecho a janela da sala e as correntes de ar diminuem, embora continue a entediante batida de portas e janelas. Continuo cansado, dói me a garganta, que parece estar por dentro aos folhos, e tenho o nariz semi entupido. Levanto me novamente e vou pôr a água a aquecer para tomar o antibiótico. Não no micro ondas mas sim no fogão a gás, porque o micro ondas começou a fazer um ruído estranho e resolvi pô lo fora de serviço. Não imaginas a falta que faz. É como se de repente deixássemos de ter electricidade e passássemos a ser alumiados com luz de vela ou candeia. Uma seca! A propósito, embora elegantes, as chávenas brancas que comprei contigo para substituir as que se foram partindo têm pouca estabilidade e são fáceis de entornar quando postas aqui em cima da mesa onde trabalho, no meio de livros e papéis; é preciso mais cuidado. Por vexes não se pode ter tudo: ou estabilidade, ou elegância!
Recebi três postais teus, havendo um quarto em Paço de Arcos, devendo amanhã chegar outro lá abaixo à caixa do correio. Como nos telefonamos, mais propriamente sou eu que o faço, por escrito poucas novidades temos a dar. Ainda bem que os postais apareceram todos. E ainda bem que, datados por ti de 4 e 5 de Novembro, ostentam ambos os envelopes carimbos do dia 13 (treze) do mesmo mês, embora recebidos por mim em dias seguidos. Azar teu, que eu tinha razão ao dizer que devia ser problema dos correios, azar teu, porque não foram os meus filhos que lhes haviam dado sumiço, como era a tua verdade.
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Azar meu porque, embalado nesta conversa, bebi o café sem tomar o antibiótico, o que se remedeia com o resto da água quente que ficou na cafeteirinha e que previdentemente não havia despejado no lava louças! Resolvido este incidente, prossigamos.
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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terça-feira, 19 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (11)
Quando tu precisas de mim, sabes sempre onde estou ou como procurar me. Não te minto nem ando fugido. Mas se precisar de ti, nem que seja só para falar com uma voz amiga, nem sempre sei onde estás, como resultado das tuas fugas e mentiras.
Não era assim que esta carta estava escrita no meu pensamento. Aliás, no meu pensamento esta carta já teve várias formas. Mais fluidas. Variando conforme o estado de alma e o correr do tempo. Mas quando chegou a altura de fixar a fluidez do pensar, o que fica é esta pálida, imperfeita e distorcida imagem, feita de signos que se alinham em carreirinha uns a seguir aos outros.
Esperei que aparecesses no Brasil-América á hora de almoço. Estupidez minha! Porque haverias de aparecer hoje no Brasil-América? Afinal telefonaste me, faz uma semana, prometendo que ligarias no dia seguinte. Esperei por ti, pelo teu prometido telefonema na 6ª, no sábado e no domingo. Primeiro com preocupação pelo teu silêncio (estará doente? ter lhe á acontecido alguma coisa?). Depois com desencanto e alguma ira por estares de novo a fazer de mim palhaço ou gato sapato. No domingo á noite telefonei á tua irmã Ester, que não sabia de ti desde 6ª feira anterior. Se saberia ou não, isso é lá convosco.
E quanto a fugas, é no mínimo a terceira vez. E há muitos ditos populares em torno deste número. Por exemplo: Não há uma sem duas, nem duas sem três. Ou ainda: Á terceira é de vez. Para não dizer que Na primeira, todos caiem, na segunda cai quem quer e na terceira ... Olha, não me lembro como termina esta expressão! Faço um telefonema cultural e ... cá está! Na primeira, todos caiem, na segunda cai quem quer e na terceira só quem fôr parvo ou louco. Pois é, agora percebo. Há uma outra expressão que diz De médico e louco todos temos um pouco! Como não sou médico nem louco como é que me desenvencilho disto, Capuccinno Vermelho??!
Mas isto também não é muito importante. Quiseste entrar na minha vida de rompante, como quem ocupa uma cidade para se impôr aos seus habitantes. Quizeste entrar na minha vida e na minha alma como se eu não existisse: tentaste impôr me amizades, vivências, comportamentos, atitudes. É como a história da tua fotografia na minha mesa de cabeceira, ali, como quem marca o terreno e a propriedade. Não preciso da fotografia para me recordar de ti ou para me comover ou enternecer ao pensar em ti. Não é preciso que os outros saibam que eu me lembro de ti. E não me recordo de ti por causa da fotografia. Lembro-me de ti quando arrumo o armário da sala e vejo os frascos que me deste. Ou quando abro o porta-moedas e encontro o pequeno canivete. Ou quando reparo no colorido boneco do negro tocando trompete. Ou quando vejo a saboneteira, ao utilizar o lavatório. Recordo-me de ti quando barro o pão com o doce que me deste e que está no fim. Ou quando visto a camisa de flanela aos quadrados. São marcas tuas, a partir das quais, conforme o dia, nascem outras recordações, enquanto para mim tiveres qualquer significado.
Olho para a saboneteira e lembro me de Gaio-Rosário e da casa cheia de sol e do corredor com "azulejos". Vou ao Barreiro e no jardim lembro me que estivemos lá: "Estive aqui com o Capucinno Vermelho!" E lembro me do Seixal e dos cafés barulhentos e da primeira vez que foste a minha casa. Ou recordo a vez em que fomos ao Carregado ou a Santarém.. Recordo me das vezes em que me apeteceu ficar contigo até de manhã, mas em que não fiquei porque não queria que as pessoas falassem de ti .
São tanto marcas tuas que um dia, após aquele em que saíste de minha casa na sequência de mais um dos teus disparates, fiz um molho com as tuas "ofertas" todas: camisas, toalhas, suspensórios, barrete do Pato Donald, fronhas das almofadas, camisolas de lã, "bonecos", para ir descarregar tudo na tua casa. Porque não queria coisas que me fizessem lembrar de ti. Salvo erro foi pela altura em que te pus a tua fotografia no teu saco. Porque o que é importante és tu e não a tua fotografia ou as tuas "marcas", que sem ti nada valem. Quando deixares de ser importante para mim, então não passarão senão de adornos ou de objectos utilitários no meio de outros adornos e objectos utilitários.
Mas voltemos atrás. Tivesses tu outro feitio, fosses menos disparatada, impulsiva e temperamental ! ... Já te disse e já te escrevi: gosto de ti e sinto a falta de ti, da ajuda que me dás, da companhia que me fazes, do teu corpo junto ao meu, da tua cabeça no meu braço, do teu braço no meu peito, da minha mão cariciando os teus cabelos e não só. Mas não sou impulsivo como tu e não gosto dos teus ciúmes descabidos, dos teus disparates, dos teus destemperos, numa palavra, de tudo aquilo que referi muitas vezes de viva voz e na carta que te escrevi.
Como te disse, procuro paz, alegria, serenidade e bem estar comigo e com os outros.
Quiseste entrar na minha vida de rompante, como quem ocupa uma cidade para se impôr aos seus habitantes. O que foi contraproducente. Terás tentado entrar ávida e possessivamente na minha vida, talvez como que bebe com sofreguidão a água da fonte, sequiosa por carinho e atenção após a travessia do deserto. Como se só tu existisses! Tu e os teus filhos e eu por acréscimo! A vida tem um ritmo e tu não avanças com a delicadeza duma flor mas sim com o rompante dum bulldozer ou dum furacão, que arrasam tudo por onde passam.
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Em conversa com os meus botões (11) - Da Literatura
* Victor Nogueira
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sábado, 16 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (10)
Olá, Capuchinho Vermelho
O tempo está frio e cinzento, como aliás sucede desde a nossa chegada. No entanto, ao contrário dos dias anteriores, o sol ainda não deu um arzinho da sua graça. Daqui da janela da sala avisto as couves enormes que crescem no quintal e, mais além, os campos verdejantes e, ao fundo, uma mata [um renque] de árvores cujo nome desconheço.
O Pelágio com a Anda Cabeça no Ar e a Natasha vêm televisão na sala da frente enquanto a minha mãe dorme no quarto dela. Ainda não fui á praia (o tempo não ajuda, embora esteja cheia de gente) nem dei nenhum dos meus passeios. É difícil fazer andar uma "carruagem" com tantas locomotivas, cada um com seu gosto e hora de levantar. Gostaria que tivesses vindo, para passearmos por estas bandas.
Não gosto muito de escrever á mão, porque tenho de fazê-lo lentamente para ver se percebem a minha letra hieroglífica, o que nem sempre sucede. E tu, tens conseguido decifrar o que tenho escrito?
A tua carta levou quase uma semana a chegar! Recebi-a no dia em que chegámos, após uma viagem não muito tormentosa.
O que nela expressas poderia em grande parte ser dito por mim, embora possivelmente eu o fizesse doutro modo.
Bem, faz me falta o computador; mas não quis deixar de dar-te um arzinho da minha graça, para que não penses que me esqueci de ti.
Beijo te com amizade e ternura.
Algures à Beira Rio Ave, 94.08.21
VM
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (9)
* Victor Nogueira
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Se isto é, pela tua parte, a expressão de compreensão, amizade, amor e desejo de paz, então, Capuchinho Vermelho, eu vou ali e já não volto.
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Como escrevi atrás, como amigo e apenas nesta qualidade posso tentar perceber e "desculpar" os teus ciúmes descabidos, os teus sentimentos possessivos, o teu mau relacionamento com os meus filhos, a tua "submissão" de mãe galinha para com os teus. Mas nem aos amigos e muito menos á minha companheira desculpo o cinismo, a mentira, a falsidade, o engano premeditado. Porque nada de sólido e perene se fundamenta no lodo destas atitudes.
.Ao contrário do que combinaras, não me telefonaste no dia seguinte, após o teu pretenso "regresso" de Leiria. Por um lado era natural que me falasses da tua "viagem" e por outro deixaste-me preocupado com o teu silêncio, porque foras viajar e com uma pessoa desconhecida e poderia ter acontecido algum precalço ou acidente. Mas entendi também que resolveras cortar comigo (1) e até admiti que te tivesse deixado numa casa e logo tivesses partido para outra. Um facto é certo: nunca procederia contigo como tu procedeste para comigo, porque apesar de tudo, Capuchinho Vermelho, não és para mim uma pessoa qualquer.
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1 - Como atrás disse, esta carta tem sido escrita ao escorrer do tempo e numa conversa entretanto havida confirmaste a primeira destas minhas suposições.
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As pessoas não devem ser possessivas. Cada um de nós tem as suas qualidades e os seus defeitos, que se ajustam ou não. Não podemos é pensar que cada um de nós preenche todas as expectativas e todos os requisitos. Uma panela de pressão sem válvula de segurança é potencialmente explosiva e destrutiva. Uma coisa é as pessoas compartilharem aquilo que é comum, outra é quererem "policiar" tudo, com exigências exclusivistas. Num casal, o exigível, para mim, é a lealdade, a verdade, a confiança, respeito e solidariedade mútuas, a cooperação. E além disso deve deixar-se a cada um a liberdade das suas recordações, da sua memória, dos seus (outros) afectos e simpatias. Há um tempo e um lugar para tudo e para todos na vida, que para mim tu tens matado ao longo destes anos, com os teus ciúmes descabidos, os teus destemperos, as tuas exigências de exclusivismo e posse, os teus "mistérios". Não "ando" com esta e com aquela! Não ando pois a saltitar entre ti e as outras ou "aproveitando" as ocasiões". Estou contigo e com mais ninguém enquanto estiver contigo e não te disser o contrário. Mas tu não entendes isto. Não concluas daí que eu sou o bom e tu a má da fita. O que sucede é que não nos temos ajustado e cada um de nós não tem correspondido ás expectativas que trazia em si relativamente ao outro
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (8)
* Victor Nogueira
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Continuando, desde logo um primeiro facto nos começou a separar: os teus ciúmes descabidos, a tua tentativa de me quereres impor a escolha das minhas amizades, todas elas anteriores ao nosso relacionamento mais íntimo, a tua tentativa de controlares a minha memória, os meus sentimentos e o meu passado, como se fossem um livro que duma penada rasgavas e deitavas ao caixote do lixo, ao sabor da tua insegurança, imaginação, conveniência e humores. (1)
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1 - A minha terra é Angola/Luanda; está longe, já não é a mesma e não sei se alguma vez lá voltarei. Por outro lado, já estive ou andei por muitas terras, já conheci muita gente, já tive e perdi muitos amigos porque o tempo, os lugares, a vida (ou a morte) e a política dificultaram ou cortaram a convivência. Gostaria que a vida fosse um eterno presente, com todos os lugares e todos os amigos ali sempre ao alcance da vista, da mão e da voz. Mas nada disto acontece e tu nada entendes da minha vida e sentir, porque és como és. Há pelo menos três poemas meus que "falam" disto: "Elegia pela minha família dispersa", "Raízes" e "Obrigado".
Nota que nessa altura, "andando" já comigo, tu, Capuchinho Vermelho, falavas me dos teus amigos, dos seus telefonemas, dos "flirts" que te faziam á mesa do bingo, acompanhada pela Leandra e que não rejeitavas, sem que eu te fizesse reparos, enquanto simultânea e possessivamente querias que eu rasgasse escritos, fotografias e pusesse termo ás minhas amizades e relacionamentos. As cenas e os teus "sofrimentos" por causa duma amiga minha, a quem pretendias partir a cara e cujas fotografias, anteriores ao nosso relacionamento íntimo, furtaste de minha casa abusando da minha confiança, e as tuas afirmações descabidas sobre o pretenso facto dela ser uma prostituta (1), de acordo com as tuas "investigações", só não puseram termo á nossa relação porque entendi que estavas psicologicamente perturbada e porque era teu amigo - e os amigos sempre "desculpam alguma coisinha".
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1 - Como outras duas, em teu entender, não passariam de malucas, que me deveriam desamparar a loja. Aliás tu dizes e desdizes com a maior das naturalidades: hoje fizeste "investigações", amanhã já dizes que não; hoje dizes que não "furtaste" as fotografias e ficas "indignada" e a seguir dizes que o fizeste por brincadeira, ontem dizias que me andaste a seguir de táxi, amanhã afirmarás que não fizeste nada disso! Hoje dizes que apareceram dois "amigos" que te convidaram para jantar e para os "fados", a seguir dirás que não foi bem assim, antes pelo contrário. Ontem, telefonaste para um amigo nas Caldas ou no Diabo a Sete para encontrar te com ele, a seguir é tudo invenção minha. As tuas parecem canhestras histórias do capuchinho e do lobo!
No contexto em que surgem estas "fábulas", tudo isto seria risível, Capuchinho Vermelho, se não fossem para mim duma imensa "tristeza" quando não enfado! É que, não te fazendo eu cenas destas, por muitíssimo menos tens me tu "chagado" a cabeça e a (boa) disposição. Que tenhas amigos, homens e mulheres, é natural. Que procures cultivar as tuas amizades, nada tem de censurável, do meu ponto de vista. Não tenho e muito menos faço cenas de ciúmes, ao contrário do que possas pensar dos meus comentários ou "brincadeiras"-resposta ás tuas "seriedades" por vezes disparatadas. Qualquer acto de convivência social com as minhas amigas, como um telefonema, uma qualquer ida ao cinema, ao restaurante ou, muito raramente, a casa de qualquer delas era e continua a ser para ti um acto condenável, na tua mente e nas tuas palavras acabando quase sempre na cama (e porque não no banco do carro?) em verdadeira "orgia". (1) Francamente Capuchinho Vermelho, isto é base para uma vida feliz e tranquila? (2) Não estou disposto a vidas duplas nem a descabidas cenas de ciúmes que infernizem a vida de quem quer que seja. (3)
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1 - Já nem telefonemas posso receber no dia dos meus anos!
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2 - Como te disse tenho mais amigas do que amigos, e a maioria deles já vêm de longe. São amizades que nuns casos já têm cerca de 40 anos, noutros apenas sete ou oito. São na esmagadora maioria amizades anteriores ao meu casamento ou posteriores ao meu divórcio, porque as amizades do casamento "foram-se" com o divórcio. Não tenho qualquer problema em apresentar-te ás minhas amigas, se e quando entender oportuno e conveniente. Mas não tenho que fazê-lo face aos teus descabidos ciúmes, "exigências" de rompimento de amizades de décadas, nalguns casos, ou com ameaças de escândalo ou de "pancadaria". Não és tu mas sim eu e mais ninguém quem decide das minhas amizades. Por exemplo, gosto de ajudar e ser prestável para com as pessoas. Sou amigo dos meus amigos! O que tu não aceitas ou mal entendes.
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3 - Disse e repito - há muitas pessoas casadas que convivem umas com as outras, sem que disso dêem cavaco à outra metade ou que esta faça dramas por tal motivo. É uma questão de "educação" e princípios de vida. Agora há homens e mulheres que efectivamente só pensam nas mulheres em termos de "perna aberta" e nos homens em termos de "boi de cobrição". Não é o meu caso nem o da maioria das mulheres com que me tenho relacionado ao nível da amizade. Mas isto não consegues tu aceitar e compreender. Como se durante os longos anos em que fomos apenas amigos ou conhecidos, em que andaste comigo sozinha no carro ou sozinhos estivemos nos teus gabinetes, eu alguma vez tivesse - como é que se diz ? Ah! ... como se alguma vez eu tivesse tentado faltar-te ao respeito! É assim que se diz em certos meios, não é, Capuchinho Vermelho?
(...)
Mas entretanto, como se não bastassem os teus descabelados ciúmes, um segundo facto veio agravar a situação. Quem me conhece sabe que condicionei a minha vida e carreira profissional, os meus fins de semana e as minhas férias e o tempo das férias escolares para poder acompanhar os meus filhos, tal como quotidianamente o fiz na vigência do meu matrimónio com a mãe deles. (1)
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1 - É natural que conheça os meus filhos melhor do que tu e assim como sempre lhes fiz ver que a mãe deles tinha o direito de (re) fazer a sua vida com outro homem (isto foi oportunamente falado entre nós os três), também eles sempre foram compreensivos e estiveram abertos a que (re) fizesse a minha vida com uma mulher que me fizesse feliz e que, obviamente, fosse amiga deles. Eles não levantaram qualquer objecção á nossa relação, até que, a partir de certa altura e claramente, lhes deste a entender que os querias escorraçar da minha vida. Foste tu e não eles que iniciaram uma guerra cujo termo é exclusivamente da tua responsabilidade se estivesses verdadeiramente interessada na persistência da nossa relação. Não são eles que te fazem guerra; és tu que a fazes, especialmente contra a Natasha, que pessoalmente e durante anos nunca te ofendeu, agrediu ou maltratou. Como aliás o Pelágio com a Cabeça na Lua, que apenas reagiu com um aviso face ao facto de estares sempre acintosamente contra a irmã dele.
(...)
Aliás estas letras têm sido escritas ao (es) correr do tempo e, noutra vertente, posso acrescentar que um dias destes voltaste novamente aos teus ciúmes, agora com pretensas viagens de taxi por ti feitas atrás de mim para controlares as minhas "voltas" e "convivências". (1) Simultaneamente, continuaste as tuas canhestras e cansativas tentativas de provocar-me ciúmes, com “misteriosos” telefonemas que te fazem ou fazes, para além de almoços, jantares e “passeatas”.
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1 - E dizes tu que já estás curada" dos teus ciúmes. Por eles seria eu o responsável, em teu entender pela minha falta de "naturalidade", no meu entender tal sucede apenas pela tua falta de confiança em mim e em ti.
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Victor Nogueira
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terça-feira, 12 de agosto de 2008
Entre Adão e Eva (7)
* Victor Nogueira
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Aliás este nosso relacionamento na Capital do Antigo Empório não faz para mim qualquer sentido. Como disse, não sei o que és nem qual o teu futuro profissional (1). Estando na mesma terra, não estou interessado em "conviver" contigo apenas depois das vinte horas. Não estou interessado em jantar ou em andar sozinho, convivendo apenas com quem tu queres ou autorizas. (2) Não estou para jantar contigo "fora" apenas quando se proporciona e muito menos por sistema. Gosto de comer em casa e não gosto de andar sempre na rua e aprecio estar na minha casa, no meu canto, sobretudo á noite, lendo, escrevendo, ouvindo música, convivendo ... Não estou para ter "namoros" policiados. (3) Não os tive aos 25 anos, no tempo do fascismo, muito menos os terei em "democracia" aos cinquenta. Vivendo na mesma terra, não estou para que durante a semana esteja cada um para seu lado, no seu "quartinho". (4) Não estou para viver em "quartinhos", alugados ou não, e não tenho dinheiro para ter uma casa de habitação à beira Sado e outra em Portucale ou noutra terra. (5) Não estou para "fins de semana" e "férias" encurtadas, por compromissos "profissionais" em duas urbes distintas, que arranjaste livremente. (6) Não estou para não me sentir bem comigo mesmo. Não estou para deixar de cultivar as minhas amizades. Não estou para deixar de ser quem sou, naquilo que considero positivo. Que temos pois para "dar" um ao outro, «Capuchinho Vermelho»?
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Como está e com as suas características e perspectivas de futuro, esta não é para mim uma relação sustentável. Não vejo que mudanças haverá e quais elas sejam. A continuar assim, para isto, prefiro continuar sozinho. O tempo dirá pois se o nosso futuro é de paz, liberdade, serenidade e confiança mútuas! O tempo dirá do futuro e da qualidade da nossa relação; isso depende também de ti. No entanto, por muito que aprecie certos aspectos da tua companhia e personalidade, por muito que sinta por vezes a tua falta, não mudo em nada daquilo que considero essencial. Nem te exijo a ti que o faças!
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Não te escrevi um poema. Não te escrevi uma carta poética. Escrevi-te simplesmente. E as minhas mãos estão vazias e o caminho á minha frente não existe; existe apenas o instante á frente do meu nariz e para além dele névoa e sombras. Nada mais do que isso, onde nasce o desencanto pela vida e pelas pessoas. (7) Não quero magoar-te, mas sinto-me tão cansado que gostaria que fossemos apenas amigos. Para serenidade de ambos. ( 8)
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Porque sou teu amigo e gosto de ti. Mas não .gosto que me magoem nem, de magoar os outros. Nem gosto dos teus destemperos e do modo como (re) ajes perante determinadas situações. Eu procuro a paz, a compreensão e o que me liga aos outros; tu não conheces senão a guerrilha intermitente.
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1 - Aliás, não percebo que futuro queres. Não sei se alguma vez puseste anúncios para arranjares emprego com a habilitação profissional que dizes ser a tua - não vieram publicados nos dias que disseste, na linha dos teus "azares" - nem sei se alguma vez respondeste a algum nesse sentido. O que sei é que afirmando tu que não queres continuar nessa situação de "dama de companhia", também andas há cerca de quatro meses (!) para pores um anúncio para arranjares emprego de acordo com a especialidade profissional que dizes ser a tua, com o argumento de que - oh ! céus - não tens tempo. Quando o terás ? Dizes me que tiveste para ir trabalhar para a Figueira ou para as Caldas, que estiveste em Lisboa, aqui ou acolá ! Se és o que dizes ser, então (re) faz a tua vida, segue em frente! Se não és, então (re) faz a tua vida e segue também em frente. Mas neste caso não creio que seja nas margens do Rio que corre para Norte, onde me parece terias dificuldade em justificar a tua passagem a "dama de companhia" ou "empregada de balcão". Talvez por isso me dizes que mesmo que vivêssemos juntos, estarias a semana inteira à beira Doiro, não irias e virias todos dias, "por ser cansativo". Não te prendas nem te "justifiques" comigo.
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2 - As pessoas não devem ser possessivas. Cada um de nós tem as suas qualidades e os seus defeitos, que se ajustam ou não. Não podemos é pensar que cada um de nós preenche todas as expectativas e todos os requisitos. Uma panela de pressão sem válvula de segurança é potencialmente explosiva e destrutiva. Uma coisa é as pessoas compartilharem aquilo que é comum, outra é quererem "policiar" tudo, com exigências exclusivistas. Num casal, o exigível, para mim, é a lealdade, a verdade, a confiança, respeito e solidariedade mútuas, a cooperação. E além disso deve deixar-se a cada um a liberdade das suas recordações, da sua memória, dos seus (outros) afectos e simpatias. Há um tempo e um lugar para tudo e para todos na vida, que para mim tu tens matado ao longo destes anos, com os teus ciúmes descabidos, os teus destemperos, as tuas exigências de exclusivismo e posse, os teus "mistérios". Não "ando" com esta e com aquela! Não ando pois a saltitar entre ti e as outras ou "aproveitando" as ocasiões". Estou contigo e com mais ninguém enquanto estiver contigo e não te disser o contrário. Mas tu não entendes isto. Não concluas daí que eu sou o bom e tu a má da fita. O que sucede é que não nos temos ajustado e cada um de nós não tem correspondido ás expectativas que trazia em si relativamente ao outro.
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3 - Aliás já passamos a fase da simples amizade ou do namoro, mas também não somos "companheiros" de vida em comum, mas apenas de fim de semana (24 a 36 horas por semana)
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4 - Não deixa de ser interessante notar que sendo tu tão "exageradamente" demonstrativa do teu afecto e amor por mim - ele são beijos, abraços e "amores" - qualquer que seja o local mais ou menos público e frequentado onde nos encontremos, és demasiado "reservada" quando estamos com José. Porquê esta diferença de comportamentos? Afinal, de facto, é como se vivesses comigo. É evidente para os meus filhos, para os meus pais, para os meus vizinhos. Porquê então este "recato" e estes "quartinhos" separados - um na Má Hora, outro na Tapada , face ao sr. José? Ou tudo isto faz parte dum jogo teu a ver se "amoleço" e me "esqueço" do que há para esclarecer entre nós ou do que nos tem separado?
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5 - "Censuras me" porque não ia ter contigo quando tinhas casa na Margem Sul à beira Douro. Ora a verdade é que durante esse tempo os teus ciúmes e, sobretudo, o teu mau relacionamento com o Pelágio que anda na Lua e a Natasha não o justificavam. Mas mesmo que fosse tudo ouro sobre azul na nossa relação - e não era - tinha e tenho obrigação de assistir e acompanhar as minhas crias, adolescentes (as crias são da mulher mas também do homem). Nunca entendeste isto, embora quisesses que eu entendesse e aceitasse com naturalidade que em contrapartida tinhas obrigação de olhar pelas tuas, bem adultas e de barba rija. Por outro lado "estranhas" porque não ia á tua casa ,como se fosse natural que a frequentasse, apesar da nossa relação íntima, em "amena" convivência e cavaqueira com ... o teu marido, embora há anos o fosse apenas ... no papel! O que ficou falado, incluindo com a Lena, foi que lhe darias a parte dele, ficando tu com a vossa casa. Não foi isto que acabou por suceder, mas por isso não sou responsável. Estando tu a tratar do divórcio, era óbvio que terias de "negociar" a saída do teu ex-companheiro. Nada disto sucedeu.
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Como posso então ser eu responsável pela situação em que te encontras presentemente, "dama de companhia" num "quartinho" na margem direita Doirada, como pretendes? E depois, durante a semana, estando ambos aí, que me propões durante a semana senão estar contigo até de madrugada aí pelas ruas ou dentro do carro, faça sol, frio, chuva ou calor, indo depois cada um para o seu "quartinho", abraçado á almofada e tu olhando para a minha fotografia?!
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6 - Não passaste comigo o Verão de 1996 porque estávamos de candeias ás avessas e tu com os meus filhos, não passaste comigo as "pontes" e feriados do Natal porque estavas comprometida com o sr. José não passaste comigo a "ponte" do Carnaval de 97 pelo mesmo motivo. E será isto durante quanto tempo? Porque não posso estar com outrem quando tu não podes estar comigo?
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Não estou em "cativeiro", aguardando a tua "liberdade" e disponibilidades de tempo! Não posso ajudar uma pessoa amiga, enquanto estás na casa dos teus filhos a arrumá-la. Não posso encontrar-me ou falar com outrem, enquanto estás "ocupada" com o sr. José ou com outros "compromissos". Tive uma "ponte" no Carnaval, mas passei-a estupidamente à beira-Sado, para evitar mais "chatices" contigo. E agora na Páscoa de 97, há mais uma "ponte" estragada. Tu não tens feriados, nem tardes, nem fins de semana completos nessa tua "profissão". E aos fins de semana estás ocupada com outras tarefas «inexistentes» e (pre-) ocupada com teus "miúdos". Programei as coisas para estarmos juntos esta Páscoa. Programei as coisas , mas tu só percebes da tua "guerrilha" e só vês a tua infelicidade e agravos. Queres um cãozinho e um capacho, mas isso é o que não sou para quem quer que seja. Porque se estivesse disposto a sê lo, então seria tudo ouro sobre azul e tu estarias, parece me, nas tuas sete quintas.
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7 -. Disto fala um outro poema meu: "Notícias do Bloqueio II" (Mu(n)do Phonographo: inFELICIDADE)
8 - Os teus ciúmes, o teu mau relacionamento latente com os meus filhos, a tua vinda para a margem direita Doirada nos termos em que se verificou, o sempre adiado esclarecimento sobre a tua verdadeira habilitação e futuro profissionais, tudo isto são obstáculos / indicativos para que o nosso relacionamento não deva subsistir senão ao nível da amizade, para felicidade de ambos. A atitude dos teus filhos para contigo e para com a nossa relação, aliados aos "inacreditáveis" destemperos do teu Menino d'Oiro, descambando em descabidos insultos e ameaças para comigo, de modo algum abonam a favor do futuro da nossa relação noutra base que não seja a da amizade. Não fui eu que criei estas situações. Para solidão e separações na família já chegam a que trago comigo e existem na minha família. Como diz o Sérgio Godinho, numa das suas canções, "P'ra melhor, está bem, está bem, p'ra pior, já basta assim"
ADENDA
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Victor Nogueira
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