Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sábado, 31 de outubro de 2020

os textos em 31 de outubro

 * Victor Nogueira



EM CIMA DO BANCO A BANCA orden(h)a


em cima do banco a banca ordenha

ordena a banca em cima do banco

e vai dando a contra-senha

acenando com o tamanco


é vivo o terno da usura

do lumpen-grã-capital

que lixa com lisura

e nos deixa sem bornal


é a troika do gamanço

bem estribada no poial

e assim no desenrascanço

vai destapando … o paiol


pois não há rima que resista

com ali bábá e seus ladrões

são mestres, sacrista,

em nos quererem .., anões.


Setúbal 2013.10.31

Bem, morcegos e morcegas, sem outro destino nem companhia, vou para Vale de Lençóis ler, que os braços de Morfeia e Joana Pestana por mim esperam no alto desta silenciosa madrugada, silêncio apenas quebrado pelo zumbido nos ouvidos e pela baque seco e regular da tecla de espaços

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A manhã está nevoenta e parece ter chovido. Ao alvorecer gaivotas em bandos esvoaçavam defronte à minha casa, em voo elegante, ora batendo as asas com elegância, ora planando graciosamente, demasiado rápidas para conseguir "fixar" o seu voo pela máquina fotográfica. A bola de fogo levantando-se no horizonte estava encoberta pelas nuvens alaranjadas e o estuário do Rio Sado parecia um rio prateado serpenteando languidamente pela planície. Pura ilusão pois o estuário é como se fosse um lago. A manhã está desconfortavelmente plena de humidade, que se infiltra desagradavelmente pelo meu corpo. Neste alto da torre no cimo duma encosta mal se distinguem os ruídos na avenida, lá em baixo, cheia de movimento do trânsito automóvel agora um autocarro depois uma motorizada ou um automóvel, com o ruído de fundo continuo do que parece ser um aparador de relva no Parque Verde. Parece mas não deve ser.

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A tarde esteve soalheira mas com núvens brancas, o estuário do sado refulgia como se um espelho levemente ondulado fosse e as gaivotas esvoaçavam em terra, sinal de que - segundo a popular sabedoria - haverá tempestade no mar. Mas ... para cada situação, há (quase) sempre um provérbio que afirma o seu contrário ou contraditório. Pescando na Proverbial, convém estar sempre de bem com Deus e com o Diabo, não vá este tecê-las.

Tempo de solidão e de incerteza. Tempo de medo e tempo de traição Tempo de injustiça e de vileza Tempo de negação. Tempo de covardia e tempo de ira Tempo de mascarada e de mentira Tempo de escravidão. Tempo dos coniventes sem cadastro Tempo de silêncio e de mordaça Tempo onde o sangue não tem rasto Tempo da ameaça. (Sophia de Mello Breyner)

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A tarde está soalheira, o céu com nuvens cinza claro e azul acinzentado e não chove. A constipação percorre-me o corpo ocupando todas as veias, artérias, poros e vasos capilares, querendo empurrar-me para debaixo dos cobertores. Mas resisto !

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

os textos em 30 de outubro

 * Victor Nogueira



TOCCATA SEM FUGAS

a mente, simples e vera
- boa é a tua companhia -
alegria do beijo solfejo
- lanternacisterna -
a mão na vinha
adivinha
o pão
centeio e rosmaninho
a nau inebriante
com as velas pandas
malandras
rimando

Setúbal 2013.10.30

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- noite e dia -
não sonho
com o teu silêncio
me deito e levanto
- sem espanto -

Setúbal 2013.10.30

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ODE

Não entristeças
entretece o dia
com salero
majestoso e radioso
na calmaria
da sinfonia
com alegria

Setúbal, 2013.10.30

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Na pendência
da tua ausência
não sonho
risonho ou bisonho

Setúbal 2013.10.30

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em ti me fio
e com fio
na fiança
com sapiência
me teces
e entreteces

Setúbal 2013.10.30

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Esta madrugada, antes de deitar-me, mudo a hora nos relógios. Quando hoje entre no carro para ir almoçar ao Porto, olho para o relógio e leio 12:40. Telefono à minha tia Teresa a dizer-lhe que vou chegar atrasado e ea responde-me coma sua habitual placidez sorridente: "Ainda vens muito a tempo, só são ainda 10:40. Não sabes que ontem mudou a hora ?"

Bolas, andei eu na esgalha e afinal em vez de atrasar a hora adiantei-a. Enfim .. Talvez assim e no caminho ainda tenha tempo de fotografar a Igreja românica de Cedofeita.

Isto de chegar tarde é uma pecha de família. Para tentar evitá-lo a minha mãe tinha o relógio sempre adiantado 10 minutos e eu comentava-lhe que se eu tivesse o relógio adiantado 10minutos nem por isso chegaria a tempo pois sabia que ele estava .. adiantado e dava o desconto.

Ontem a imagem ao lado foi a minha foto de perfil mas, com as minhas "apressuras" e habituais leituras em diagonal, li que deveria adiantar a hora quando, reparando melhor, o Tintim às duas horas está não a puxar para diante o ponteiro das horas mas sim a empurrá-lo para trás.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

os textos em 29 de outubro

 * Victor Nogueira



GRAVURA - "olê, mulher rendeira 1" por EDINA SIKORA


Esta Pénelope
não em Ítaca
mas no cimo do cerro
encerrada

por Ulisses não serra
as grilhetas
em cíclope tarefa.

Cadenciadamente
cai areia nas ampulhetas
e a teia
não ateia nem incendeia,

sem chama
a nau vagueia.

Tece pois Penlope a manta
sinhá moça rendeira
e em Tróia jazz
sem paz o segredo
que rima
em degredo

A harpa
hárpia é
uma farpa na rude escarpa

Não arrima Penélope
e
sem corda não acorda
sem ponte que aponte a fonte

não corre

em cerrado morre no cerro

sem Lampião
Maria, a Bonita !

.

Mindelo 2016.10.28

o "agit-prop" das direitas

Não é só com os "populismos" que a "direita" "liberal" e "ordeira" - adepta do darwinismo social - faz "agit-prop" de sinal contrário, mas acusando/acenando/ameaçando/amedrontando/aterrorizando com a "acusação" e o espantalho de que todos os que se lhe opõem são a "extrema-esquerda", nesta incluindo os "moderados". isto é, mesmo aqueles que não ponham em causa a des/ordem socio-económica estabelecida mas queiram apenas mais "justiça social" . Todos essa "extrema-esquerda" (subliminarmente) apresentada como usando faca na liga, navalha nos dentes e petardos nos bolsos.

OPINIÃO

A lengalenga do “populismo”

MANUEL LOFF 29/10/2016 - 05:27

De que partido é candidato Trump? O dos dois Georges Bush. De que partido europeu faz parte Berlusconi? O de Merkel, Passos Coelho ou Rajoy.

https://www.publico.pt/2016/10/29/mundo/opiniao/a-lengalenga-do-populismo-1749218?


Vou fechar a loja por agora. Aos/às raros/as leitores/as, até mjais logo e durmam bem e rezem ao Senhor dos Passos do Coelhone !

De repente um enorme ruído e vejo através das vidraças da loja as folhas a dançarem furiosamente e as cadeiras e mesas da esplanada adjacente a voaram literalmente, seguindo-se uma impiedosa e forte bátega de água. A tempestade chegou a Setúbal ! Abrandada a chuva regresso ao carro, ainda longe, encharcado até aos ossos, de nada servindo o guarda-chuva 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

em setúbal, a vivenda ruxa

 * Victor Nogueira




Foto Victor Nogueira - Vivenda Ruxa, em Setúbal

Em Setúbal a Vivenda Ruxa, hoje demolida, situava-se na Rua António José Baptista, cerca da Rua dos 4 Caminhos.  Quando vim para Setúbal leccionar na antiga Escola Industrial e Comercial, em 1977 / 78, foi aqui que aluguei um quarto, que incluía banhos e pequeno almoço mas não tratamento de roupa, tendo dito que era casado e que nalguns fins de semana a minha esposa viria a Setúbal, tendo-se em função disso ajustado o preço do aluguer.

Passado algum tempo, alegando que a minha esposa vinha por vezes ao fim-de-semana, a Senhora D. Aciolinda (cujo marido era operário, creio que afagador de tacos) pretendeu aumentar o preço, o que recusei.  

A partir daí logo de madrugada ela ligava o radio em alto som, até que me vi forçado a sair e alugar um quarto noutro local, na Praceta Olga Morais Sarmento.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

entre eros e afrodite 10 - (os cadernos do vendaval)

 12 de outubro de 2013 às 21:15


* Victor Nogueira

 

Ao de leve, muito ao de leve 

 

a moça chegou

o moço cantou

a zorra beijou

e eros pousou

o amor floriu

o sino tocou

o bom som vibrou

o bailar sorriu

o mar afagou

o verso rimou

o jardim abriu

o tempo passou

o vento soprou

chuva desabou

esta flor murchou

o fosso abriu

tudo arrasou

o roble partiu

o sonho voou

o nada ficou

o poço secou

a brisa chorou

o verbo calou

o sol afogou

o mar levou

o ar parou

só, ele ficou,

a concha fechou

e desanimou

Sem ela morreu !

Rima que não rema !.

 

 

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 Olho para a tua fotografia 

 

Olho para a tua fotografia

que sorri

mas não rio

frio que estou

sem ti!

O rio passou

o ar secou

o mar morreu

o sol ardeu

Só, eu fiquei !

 

2011.11.05

.

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As fotos são mui belas  

‎2008/8/19

 

As fotos são mui belas. Devíamos ter destruído todo o passado que nelas está representado? Adorei as fotos mas o passado é memória de erros que devemos evitar no futuro e testemunho de alegrias que tivemos. De qualquer modo, mesmo no desacordo que entre nós surge muitas vezes, gracias pelas belíssimas fotos do pps, que compartilho com algumas das pessoas que estimo ou amo, apesar da sua ausência. ( Victor Nogueira para Hannah)

 

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Sorri

 

Na brisa do teu olhar

navegando

vivi

com as tuas palavras

sonhando

Corri

dos teus lábios

o calor bebendo

Voei

em teus braços e colo (re)pousando

Na serenidade do entardecer

em ti................renasci

e

sem ti

.........................morri !

 

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Eros voou 

 

Eros voou

Afrodite ficou

o Amor (re)nasceu

 

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Gira sóis na floreira

 

Adoro gira sóis. No antigamente apanháva-los na berma da estrada para o Alentejo qd trabalhava aqui na Península de Setúbal e morávamos em Évora. Agora, tenho apenas artificiais que parecem naturais na sala.

 

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Ping Pong 

 

 

É já noite e não saí nem nada fiz do que deveria ter feito, salvo ler ou dormir. Vi há muito um filme cujo actor principal é o Anthony Hopkins mas esqueci o nome da actriz principal e da película. Em síntese, uma professora no Reino Unido encomendava livros a um alfarrabista nos EUA e o tempo e as cartas foram consolidando uma amizade entre duas pessoas que nunca se haviam encontrado na vida real. Até que um dia e muitos anos volvidos a professora foi aos EUA para conhecer aquele que se tornara um grande amigo, mas em vez da  loja, encontrou um lugar abandonado. Foi em busca da família dele e por ela descobriu que ele morrera e que esta sabia da amizade entre ambos, Tive também aqui uma amiga no mIRC, a manariana, com quem falava e que me retorquiu que eu saberia se ela tinha morrido porque uma amiga dela mo diria. Não era feliz com o homem com quem vivia, mas achava que ele era um "homem bom" e não queria magoá-lo. Um dia escreveu-me,  agradecendo os meus e-mail "colectivos", a minha gentileza, lamentando que não pudéssemos ter sido felizes. Muito esporadicamente envia-me um mail, que me vai seguindo e sabendo de mim pelos meus blogs.

 

Sempre pensei ter uma grande família de que eu fosse uma espécie de patriarca, mas tal não sucedeu. (...)

 

Por esse Portugal fora encontro pessoas que se me dirigem com simpatia, que me conhecem dos plenários sindicais e dizem fazer questão de me cumprimentarem. (...) Tenho horror ao vazio, ao nada fazer. Não sou contemplativo nem conformista   e faço muitos trabalhos simultaneamente; (...)  No meu coração cabem todas as amizades, o passado e o futuro: (...) Nada nem ninguém esqueço, nem mágoas  nem alegrias,  e por vezes desejaria que assim não fosse, porque se torna cansativo não ser leve nem saltitante como as borboletas, pois com  o passar dos anos o peso torna-se por vezes cansativo - o peso das alegrias e felicidades que perdi, o peso/novelo daquelas que não alcancei (...)

 

Gosto muito da pessoa que está por detrás do que escreves

 

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Fartos

 

Fartos

um dia morreremos

de fome ou solidão

ou não

Um dia partiremos

no esquecimento

com sofrimento

ou não

Um dia ficaremos

pálida esmaecida memória

no papel ou na paleta

com ou sem treta

na História ou em historieta

um nome ou nada !

.

 

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O poema é ...

 

um arado

um campo por lavrar

uma rede

em tuas mãos (re)colhi

e

os signos

carreirinha de metáforas

de vento

brisa

ou

suão

........sereno

........ou

........furacão

com sabor/saber

a sol

a maresia

anémona

à beira-mar vo(g)ando

na orla das ondas (re)nascendo

sem parar

.

 

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Tacteando

 

Tacteando

vou tentando

escrever o "Poema"

soneto ou madrigal

rimando ou em branco nascendo

de palavras

sem alíneas nem parágrafos

de metáforas

rítmicas

como o nosso coração

ou não

Procuro o sabor

e

o calor

que lhe darás

em ti pensando

por ti vivendo

contigo renascendo

.

 

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A minha mão presa

 

A minha mão presa ou liberta

na tua pele macia

e

eu sorria

.

em ti (re)nascia

outro sabor

outro calor

com amizade rimando

a felicidade

os mares lavrando

o sol e o sal colorindo

em ti ficando

uma ave serena

da paleta refulgindo

.

 

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Sorri

 

Sorri

na brisa do teu olhar

navegando

vivi

com as tuas palavras

sonhando

Corri

dos teus lábios

o calor bebendo

Voei

em teus braços e colo (re)pousando

Na serenidade do entardecer

em ti................renasci

e

sem ti

.........................morri !

.

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O Poeta é um fingidor

 

 

O Poeta é um fingidor - Mas o que para mim resta da nossa relação são apenas pó e cinzas. Acredito que talvez possam renascer o encanto, a sedução, a magia, a empatia. Porque continuo a querer-te como amiga que me deu felicidade, alegria, vida e paz. Perante ti despi-me de todas as máscaras e armaduras que a vida me fez erguer para me proteger. Perante ti fui eu mesmo e não me reconheceste ! (Victor Nogueira)

 

Não sei se regressarás hoje e se o teu silêncio e ausência continuarão, O sol ainda não rompeu a neblina mas o dia está a ficar luminoso e brilhante, ameaçando ser de muito calor.

 

Afinal o dia esteve soalheiro. De repente penso em nós e a magia desapareceu. Se a farás ressuscitar ou não, não sei ! Podes escrever-me ou falar à vontade, se assim o quiseres. Mas se sempre formos viajar, tens de aprender a dar injecções, que desde ontem que me começou a doer uma vértebra lombar e tive de pedir a uma amiga minha enfermeira que me viesse dar a 1ª de 3 injecções de voltaren, pois se não mal posso andar e conduzir nem pensar LOL Ai, que não me posso rir !

 

Deixo-te um pedaço dum livro de Saint-Éxupery. O Principezinho como obra literária parece-me fraquinho, mas tem pedaços duma enorme beleza humana e poética, como este  .  http://aoescorrerdapena.blogspot.com/2007/07/o-principezinho-captulo-xxi-e-foi-ento.html

 

"O silêncio é de ouro e tem a dimensão do universo, a palavra é de prata, a solidariedade de platina e a amizade uma esmeralda diamantífera ! O gesto e a palavra certos não têm equivalente !"

 

Fiquei contente ao ver-te e eu era como a brisa ao sabor do teu olhar. Mas tu partiste repentinamente e uma noite plúmbea e um véu de silêncio desceram novamente sobre mim, cobrindo--me não de poalha dourada mas dum pó cinzento que esfarela a vida e os ossos. Tantas perguntas sem resposta ! Sobre ti,  sobre nós, sobre a vida que fazes renascer em mim ! Que sou eu de facto para ti ? De Montalegre partirás para Coimbra, de Coimbra para Veneza, de Veneza para outro local qualquer !

 

Tenho saudades tuas, mas para ti sou aoenas uma pessoa enquanto que para mim tu és a Pessoa. Eu sou "um" e tu és "A". Estou cheio de sono mas tenho de ir para Lisboa (Paço de Arcos) - não me apetece mesmo nada conduzir Apetecia-me ir para muito longe, sem me preocupar nem com os pais nem com os filhos. Toda a vida tentei ser livre e agora estou enleado numa teia de compromissos e preocupações familiares. 

 

 

o    DISTRACÇÃO

 

Procuro-te

levando-me-te

como quem nas mãos leva

um sopro de fragilidade

que tu

em gesto ou palavra dispersas.

Caindo na seriedade

o sorriso

apagado..

Setúbal . 1989.Setembro 

 

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Está uma manhã de sol, linda, brilhante, cálida. Enviei-te uma foto ao nascer do sol mas a memória do telemóvel está cheia. Beijos com sabor a sal, sol e maresia !

 

escrito  hoje: "Eu quero tudo (entenda-se, no ser e não no ter) ou um pouco mais se puder ser. Pk apesar de tudo, das mágoas, das desilusões, no fundo de mim amo a liberdade, minha e de outrem, e acredito que o sonho comanda a vida, apesar dos pesadelos que frequentemente a ensombram e a enegrecem."

 

Nem sequer sabia que existias qd publiquei este vídeo e no entanto, ao revê-lo hoje, parece uma previsão deste nosso fim de semana: a beira-mar, a praia, a ternura e carinho entre nós, o pôr do sol, a mocinha dos cabelos da cor do trigo em flor, o bailar de alegria ... Gosto tanto de ti que me petece chorar, não sei bem porquê e os meus olhos ficam orvalhados de lágrimas brilhantes, cintilantes ... Será isto um esboço imperfeito, prestes a nascer, dum poema para ti, ao fim de tantos anos de silêncio ?!

 

Chorar pode ser de alegria, de tristeza de raiva, de emoção ...  E chorar pode ser tb um modo de lavar as tristezas, as angústias ...   de abrir caminho ao renascer da vida, da felicidade, da paz ... da alegria da ternura e de manifestá-la sem receio.

 

Não quero prender alguém. Não quero ser prisioneiro de quem quer que seja, Quero que me não cortem as asas e quero que outrem tenha tb asas para voar, mesmo que o seu voo para longe de mim seja um punhal cravado no meu peito. Mas o amoramizade é uma planta frágil e delicada !

 

eu qd estou triste gostava de estar contigo, com as pessoas que amo. E são tão pouca !  coleciono memórias. procucro estar com as poucas pessoas que me acalmam

 

não sabemos ainda as palavras certas para falarmos um com o outro. Para que haja pontes mas não punhais


eu tb nunca consegui aprender. Nem nadar nem dançar. Toda a família é dançarina e eu um homem da beira-mar.

 

As minhas danças são virtuais. Ah! também gostaria de esculpir e de compor música, mas nunca me abalancei. Fico pela fotografia e pela escrita de alíneas e parágrafos inequívocos, matemáticos, de encadeamento lógico, de jurista, ou pela escrita poética

 

O que me arrepia é a frialdade das praias portuguesas. Só gosto de V N de Milfontes e do Algarve de Tavira para leste. Habituado às de Luanda ... Mas aqui mergulho depois duma preparação psicológica: "Victor, ou és um homem ou és um bicho" e pimba, lá mergulho no gelo

 

Eu sinto apenas a voz que ouço, a mão na pele, o olhar que vejo, as palavras concretizadas em actos no quotidiano. Não levo as minhas doenças a sério. Rio-me delas. Fui eu que noutra vez consolei o médico quando me descobriu uma grave anemia e me perguntou admirado como é que eu ainda estava vivo. Pensei para comigo mas não lho disse "eu estou à morte, eu tenho um cancro", mas ele contrariamente ao habitual, não correspondeu ao meu humor e às minhas piadas. Só qd teve a certeza após vários exames, todos negativos, largos dias depois, é que me disse que sim, que fora o que pensara. Anos depos, qd  tive mesmo um carcinoma descoberto no último instante, a minha filha dizia-me "Pai, eu ando aqui toda stressada e tu levas tudo na brincadeira e numa boa." Ao que lhe respondi, como habitualmente,  que à morte ninguém escapa e não vale a pena pensar nisso !



Fotos Victor Nogueira

vendaval


 vem de entre eros e afrodite 09 - (novas cartas de soror maria madalena)

https://www.facebook.com/notes/victor-nogueira/entre-eros-e-afrodite-09-novas-cartas-de-soror-maria-madalena/10151669515519436

 

continua em  cartas de soror maria madalena

https://www.facebook.com/notes/victor-nogueira/cartas-de-soror-maria-madalena/10151849834674436

 

e em entre eros e afrodite 11 - (toadas sem eira nem beira - fragmentos)

https://www.facebook.com/notes/victor-nogueira/entre-eros-e-afrodite-11-toadas-sem-eira-nem-beira-fragmentos/10151906983624436



sexta-feira, 2 de outubro de 2020

em Coimbra, entre Lisboa e Évora - 1974

 * Victor Nogueira



Porta Férrea


Foto Victor Nogueira - Em Coimbra - Seminário da Pro-UNEP - Carlos Fortuna e António Lobo da Silva (Tocas)


Foto Carlos Fortuna - Em Coimbra - Seminário da Pro-UNEP - António Lobo da Silva (Tocas) e Victor Nogueira

Em Lisboa

6ª feira passada fui ver uma exposição sobre o 57º aniversário da Revolução Russa. Para além dumas fotografias do Lenine e dos primeiros tempos da Revolução, as restantes representam múltiplos aspectos actuais da sociedade soviética. Intencionalmente ou não, por parte dos expositores, a ideia que ficou em mim foi "Afinal na Rússia é como aqui: as pessoas riem, brincam com os filhos, estão nas aulas ou nas fábricas, há carros nas ruas,... enfim." Mas a exposição é apenas fotográfica e, salvo um livrito de propaganda, não há mais elementos e estatísticas sobre a vida dos povos soviéticos e a sua evolução, bem como dos princípios que presidem à política económica e cultural soviética. (MCG - 1974.11.12)
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Pois ontem fomos almoçar à cantina da Associação de Estudantes de Economia e a páginas tantas uma voz forte silenciou o vozear das conversas e um MRPP começou a denúncia da "traição dos sociais fascistas" (PCP mais a pró UNEP) e da provocação que foi o arranque das placas que assinalavam o Largo Ribeiro dos Santos. (1) Ao fim de algum tempo a malta ligou à terra e continuou a conversar, mas o "MR" prosseguiu o seu arengar às massas e... pôs à votação uma moção de protesto e um comunicado (perante o desinteresse notório e ostensivo da maioria dos presentes na cantina). Entretanto MR's vendiam pelas mesas o "Luta Popular" e UNITÁRIOS (PCP) o "Avante". Quem vota contra? Quem se abstém? Quem vota a favor? (Sentado a um canto da cantina observo, mas não vejo qualquer braço levantar-se. De resto, a partir de certa altura, mal consigo perceber o que o MR lê ou comenta). Assim, muito surpreendido, ouço o tipo proclamar a aprovação com 4 abstenções e nenhum voto contra! Ah! Ah! Ah! Esta táctica é que eu não conhecia. Enfim... (Foi mais ou menos assim que se aprovou a Constituição de 1933) (MCG - 1974.10.11)

Em Coimbra

O fim de semana foi bastante ocupado em Coimbra, com o Encontro Nacional de Direcções Associativas, que totalizou cerca de 15 horas de reuniões. Agora é que me estou apercebendo que os congressistas não devem ter muito tempo para turismos, pouco ficando a conhecer do mundo que percorrem, do qual pouco mais devem ficar conhecendo que as salas de conferências e os quartos de hotel. Enfim... Mas, a meio de domingo, para espairecer, tirei uma escapadela da sala de reuniões para dar uma volta pela cidade universitária, constituída pelo antigo edifício, com a sua porta férrea e a torre sineira que outrora chamava os "meninos" para as aulas. 

Para além deste edifício antigo, em cujo pátio se encontra uma estátua de D. João II (ou será o III?) e donde se avista o vale verdejante onde corre o Mondego. Existem também novos edifícios, maciços, lineares e sem graça, ao bom estilo arquitectónico fascista [como no Campo Grande, em Lisboa] Neste aspecto Lisboa é mais airosa e a sua cidade universitária (incompleta) situa-se no meio de campos relvados e arborizados. Da cantina para a Cidade Universitária, percurso que fizemos algumas vezes durante o fim de semana, o acesso faz-se por uma enorme escadaria, tão custosa de subir que ao chegar quase ao cimo pouco havia para me faltar o ar ou as pernas se recusarem a subir. Creio que foi por esta escadaria que a GNR fez subir os seus cavalos, em perseguição dos estudantes, durante a greve académica de 1969. Não o teriam conseguido porque os estudantes deitaram lá de cima água com sabão, que fez a cavalaria bater com os ossos no chão. Tudo isto na sequência da inauguração dos novos edifícios da Universidade, durante a qual o Presidente da Associação Académica pediu a palavra em nome dos estudantes, que lhe não foi concedida pelo "Pai" Tomás e que abriu a época a uma feroz repressão contra os estudantes (...)

São cerca de 18 horas e há 1 [uma] que terminou a sessão inaugural do Seminário Sobre a Democratização do Ensino. [1974] Estou aqui num café (O Mandarim), meu velho conhecido, com a malta de Évora. Está frio e ameaçando chuva. Ficámos num lar de estudantes, ao cimo duma ladeira imensa. Perante a enormidade do tempo à minha frente - só logo às 22 horas há uma sessão de cinema sobre a campanha de alfabetização. Sinto-me aborrecido. Tenho que arranjar com que ocupar o tempo. Amanhã quero ver se vou à matinée ver um filme "A Estratégia da Aranha" [de Bertolucci]. (MCG - 1974.11.13)
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Aqui na esplanada do café Moçambique está frio e húmido e os meus sapatos parecem autênticos chafarizes. Lá dentro o ruído e o fumo não são convidativos. De resto este café, como um outro aqui ao lado, têm um cheiro esquisito, que não sei bem definir, talvez resultante do aglomerar de corpos. São 20:50 e daqui a pouco tenho de ir ao outro lado da praça apanhar o autocarro. (MCG - 1974.11.15)
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Por cá chove e as ruas chegam a ser autênticos rios, que os carros chapinham encharcando os transeuntes descuidados. Aqui para os lados onde paro mais - Universidade, Cantina e Teatro Gil Vicente - predomina a malta nova e não se vêm táxis. Pouco tenho visto da cidade, que me parece desgraciosa; sem harmonia estética, ao contrário do que sucede em Lisboa ou mesmo  Évora. Parece-me uma cidade incaracterística na traça dos seus edifícios e no delineado das suas ruas. Amanhã é o último dia do "Seminário Sobre a Democratização do Ensino", que hoje teve a presença do Ministro do Trabalho. Amanhã haverá um convívio. Sinto-me cansado: saio de manhã e só volto à noite. (MCG - 1974.11.16)


(...) Cá vou de regresso a Lisboa, num comboio cheio mas onde consegui arranjar um lugar sentado. Os meus companheiros de cabine dormem e um deles ressona beatificamente. Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra!!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler! (MCG - 1974.11.17)

Évora




No Instituto o Director [António da Silva, s.j.] anda nervoso e carrancudo. Comunica à Comissão Administrativa da Associação dos Estudantes que não autoriza a Reunião Geral de Alunos convocada para essa tarde, pretende que a [referida] Comissão nomeie outra Comissão, que deverá submeter à sanção da Direcção do Instituto. A Comissão discorda, o Director desdiz-se mas exige que lhe sejam comunicados os nomes, reservando-se o direito de vetá-los. A reunião realiza se, comparecendo 30 estudantes.

É aceite por maioria absoluta uma moção minha: "Escolher uma Comissão que terá como finalidade detectar junto dos estudantes dos problemas que os afectam enquanto estudantes., o modo de resolvê-los bem como à sua atitude face à Associação dos Estudantes. (...) (MCG - 1974.04.26)
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Fui hoje ao ISESE: aquela malta anda pelos cantos, perguntando uns aos outros (e alguns a mim): "Então, que vamos fazer?" (MCG - 1974.09.02)

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Passo pelas ruas de Évora, debaixo dos arcos [arcadas]. As pessoas cruzam se comigo e do café vêm o vozear e algumas gargalhadas, que extravasam para as ruas, agora cheias de papéis rasgados e com as paredes pintalgadas de cartazes. Évora, a cidade limpinha onde não se viam outrora cartazes, salvo os da ANP [2) em tempos de farsa eleitoral


No ISESE o piquete (3) saúda-me calorosamente à minha entrada e, após algumas piadolas - por causa da pró-UNEP (4) - retomam o jogo das cartas. As casas de banho cheiram a ácido úrico. Puseram sofás num corredor do r/c e aí dormem os do piquete. Que os jesuítas consideram ilegal e abusivo. Pela paredes e bancos, o "Revolução", do PRP-BR, o "Luta Popular", do MRPP e comunicados e cartazes do MES e da Associação Portugal China. O ISESE é um reduto anti PC. Para muitos, creio que parece bem e está na moda! (4) (MCG - 1974.11.25/26)
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Assinatura da acta de desocupação, subscrita pelos representantes da Associação dos Estudantes, da Fundação Eugénio de Almeida e da Direcção do ISESE

O ISESE foi desocupado às 14:30, por decisão do Plenário de Estudantes. [Os jesuítas] vistoriaram o edifício, que foi achado em bom estado de conservação, apesar de não sei quantas lâmpadas fundidas, dum interruptor partido dum quebra luz partido - 15 contos (resultado duma bola mais alta) e duma poltrona combalida. (...) Nas instalações da Associação dos Estudantes foi assinada a acta de desocupação, depois de mais discussão sobre os termos [da mesma] (1974.12.26)
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Chove, nesta tarde de inverno. Rápido, o matraquear da máquina deixa atrás de si um rasto de letras. O céu está cinzento, a soleira da porta alagada. Ouvem-se as bátegas da chuva no lajedo da calçada, enquanto o Olímpio e outro camarada assobiam, por entre o tac-tac ensurdecedor que atroa a sala da Associação dos Estudantes. (...) Entretanto o ambiente aquece aqui na sala com o "revolucionarismo" do Carrageta, que quer destruir - verbalmente - o poder burguês! Rajadas de palavras cruzam o ar, por causa do colectivismo e da anarquia! (...) Bem, vou tomar ar para outra freguesia: ler o jornal, lanchar e espairecer. 

O Carrageta continua ao ataque, contra a escola burguesa, contra os professores, pela escola anarquista, com intervenções verdadeiramente revolucionárias, que não devam nada à burguesia e à sociedade de consumo. "Destruamos a civilização, contra os autoritários que não querem destruir as instituições mas reformá-las. A prática quotidiana dirá o que surgirá dos escombros das instituições burguesas destruídas pelos anti-autoritários." Terminada a "Revolução Carragetiana", há um intervalo para um bagacinho. Mas o bar está fechado e o Carrageta sobe ao balcão e num brilhante improviso convoca os presentes para se juntarem à classe operária pela destruição do capitalismo com a Manuela a fornecer as balas para a G 3, porque "a Revolução não está no verbalismo pequeno-burguês mas na ponta duma espingarda". O ambiente aquece à medida que se aproxima a hora da revolução, perdão,... da avaliação. (MCG - 1975.02.08).


ISESE - Proclamação aprovada em RGA (Reunião Geral de Alunos)  de 3 de Maio de 1974

 


Os estudantes do Instituto Superior Económico e Social de Évora   reunidos em 3 de Maio de 1974, saúdam todos quantos, sobretudo na clandestinidade e  com risco da sua segurança e bem-estar, têm lutado contra todas as formas de repressão e violação dos Direitos Humanos em sociedade, nomeadamente a partir da instauração da ditadura fascista em Portugal.

 

Incluem nesta saudação o Movimento das Forças Armadas

 

Na sequência lógica das Declarações Universais dos Direitos Humanos e da Doutrina Social da Igreja;

 

Considerando os poderes discricionários da Direcção do ISESE, exclusivamente formada por membros da Companhia Portuguesa de Jesus e dela directa e exclusivamente dependentes,

 

REIVINDICAM

 

- o direito de participação na gestão do ISESE.

 

DECLARAM que o direito de participação na gestão do ISESE implica:

 

- o reconhecimento imediato dum Conselho de Estudantes (cuja constituição será objecto duma próxima RGA)

-  a liberdade de expressão do pensamento e na procura da verdade, o que implica a abolição do ensino dogmático e magistral;

- o reconhecimento imediato do direito de participação na constituição dos júris de exame;

- a liberdade de comparência às aulas, o que implica a abolição imediata do regime de faltas;

- a liberdade de reunião nas instalações do ISESE.

 

RECONHECEM aos empregados o direito de participação e decisão na resolução dos próprios assuntos.

 

SAÚDAM todos os professores do ISESE que de  forma inequívoca e expressa adiram ao conteúdo da presente Proclamação.

 

PROCLAMAM que prosseguirão na sua luta contra todos quantos, de qualquer modo, se oponham às declarações e reivindicações da presente Proclamação

 

Évora, 3 de Maio de 1974


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NOTAS

(1) - Houve na altura uma grande controvérsia pois a Câmara de Lisboa de então não concordava com o baptismo do Largo, ali para Santos e perto de Económicas, como se dará notícia mais adiante. (1998.Maio)
(2) - Acção Nacional Popular, partido único legal, que sucedeu à UN - União Nacional, após a substituição de Oliveira Salazar por Marcelo Caetano na Presidência do Conselho de Ministros anterior ao 25 de Abril.
(3) - O ISESE (Instituto Superior Económico e Social de Évora) fora ocupado pelos estudantes, na sequência de desacordos com a direcção da Companhia Portuguesa de Jesus, vulgo Jesuítas, detentora do alvará.
(3)  - pró União Nacional dos Estudantes Portugueses, organismo criado após o 25 de Abril, conotada com o Partido Comunista Português.
(4) - MES - Movimento de Esquerda Socialista, MRPP - Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, PC - Partido Comunista Português, PRP-BR - Partido Revolucionário do Proletariado - Brigadas Revolucionárias.
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Direcções da Associação dos Estudantes do ISESE

1969/70
José Inácio Leão Varela (Pesidente)
Victor Manuel Barroso Nogueira da Silva (Vice-Presidente)
José António Primo Carrapiço (Tesoureiro)
Maria Elsa Pinto Bastos Pereira Capinha (Secretário)
António Viegas Ferreira de Carvalho (Vogal)
 
1970/71
António Viegas Ferreira de Carvalho (Presidente)
Maria Isabel Bello de Serpa Pimentel (Vice-Presidente)
Francisco Manuel Lopes Figueira (Tesoureiro)
Victor Manuel Barroso Nogueira da Silva (Secretário)
António Custódio Biscaia (Vogal) 
 
Em 1971/72 nenhuma lista se apresentou a eleições para os Corpos Gerentes da AE, pelo que a partir deste ano lectivo e até 26 de Abril de 1974 e por falta de candidaturas a Associação de Estudantes foi gerida por Comissões Administrativas nomeadas pela Direcção do ISESE.

Em 1973/74 a malta dos três primeiros anos resolveu retomar a associação através de eleições e pressionavam-me para que encabeçasse a lista.
 
Realizávamos então reuniões clandestinas numa sala das traseiras do Café Parque, junto à Praça de Touros, para preparar o processo eleitoral e programa da lista. Dos "conspiradores" lembro-me que também faziam parte o Tó Veladas, o Carrageta, o Manuel Gonçalves, o João Garcia e creio que a Maria Antónia, entre outros. Entretanto aconteceu o 25 de Abril e em Plenário Geral de Estudantes realizado a 26 de Abril de 1974 estes elegeram uma I Comissão Coordenadora das Actividades da AEISESE, constituída por representantes de cada um dos anos, malogrando a tentativa da Direcção do ISESE impor uma nova Comissão Administrativa. 

Esta I Comissão Coordenadora era constituída por:
 
Victor Manuel Barroso Nogueira da Silva (5º ano) - Coordenação e Contactos com o Movimento Associativo Estudantil e outras entidades, incluindo os partidos e forças políticas
João Luís Garcia (3º ano)
Luís José Pereira Carmelo (2º ano)
Manuel Cunha Rego (4º ano), posteriormente substituído por Diamantino Pardal Ribeiro
José Maria Simões Ribeiro (1º ano) - Tesouraria
Faria Monteiro (1º ano) - Tesouraria
 
Esta Comissão Coordenadora esteve em funções até 23 Maio de 1974, data em que a RGA (Reunião Geral de Alunos) ratificou o pedido de demissão de Vitor Nogueira, João Garcia e Luís Carmelo, sendo eleita nova Comissão Coordenadora
 
Comissão de Redacção que assessorava a I Com Coord.

Carlos Fortuna (3º ano) - coordenação
Manuel Gonçalves (2º ano)
José Soares (3º ano)
Penha (2º ano)
Quintas (1 ano)
Carlos Cadavez (1º ano)
Eugénio (2º ano)
 
 
II Comissão Coordenadora (Provisória)
Ana Paula Cruz
Diamantino Pardal Ribeiro
Fernando Cruz
Jorge Figueira
Luís Penha (2º ano)
Manuel Gonçalves (2º ano)
Osvaldo Régua
Victor Manuel Barroso Nogueira da Silva (5º ano) - Cordenação e Contactos com o Movimento Associativo Estudantil e outras entidades, incluindo os partidos e forças políticas

 
III Comissão Coordenadora
Capitão Alves
Miguel Bacelar
António Valadas (?)
Joaquim Grave Ramalho (?)
 
Victor Manuel Barroso Nogueira da Silva (5º ano) não aceitou fazer parte da III CC mas continuou delegado da AEISESE às RIA's (Reuniões Inter-Associações de Estudantes), pró-UNEP (União Nacional dos Estudantes Portugueses) e co-responsável pelos contactos com outras entidades e ligação aos Partidos Políticos.
 
A Associação dos Estudantes do ISESE cessou a sua existência em Dezembro de 1974, por força da suspensão das actividades do ISESE então decidida pelos detentores do alvará de funcionamento deste, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus, com integração dos estudantes na então criada Escola Superior de Estudos Económicos e Sociais  Bento Jesus Caraça.