Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

domingo, 31 de dezembro de 2023

Pingos do Mindelo em 2023 dezembro 31 - Canto moço

 


* Victor Nogueira


Canto Moço, por Zeca Afonso


Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara

Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha

Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Auto-retrato no Mindelo, numa soalheira manhã com amena temperatura

 


27 de dezembro de 2022  · 

Auto-retrato no Mindelo, numa soalheira manhã com amena temperatura, vislumbrando o céu entre o azul e o cinzento, sobre os campos verdejantes para lá da vidraça, rodeado pelo silêncio, depois de ouvir o Concerto nº1 para piano, de Tchaikovski, no leitor de CD's, em 2022 12 27. 

Regressaram as aves, que em voos planados passam no horizonte. É tempo de ir almoçar:, estufado de coxas de frango ou de galinha  com arroz de tomate.  Para o jantar ficará a sopa de abóbora, produto ali do quintalejo.

Para o almoço a companhia musical será mais serena: dois dos imoromptus ou improvisos de Schubert, para piano.

EM TEMPO – Tchaikowski surge nas minhas cartas do meu exílio em évoraburgomedieval.

*** «A tarde está tristonha. Dos alto-falantes do gira discos saem as notas da "Rapsódia Húngara" de Liszt. .

Não há dúvida que o piano é um instrumento agradável de ouvir. E a Rapsódia Húngara nº 6?!  Dá uma sensação de afirmação persistente, que nunca se quebra. Mas uma das minhas composições preferidas é o "Concerto para piano, nº 1", de Tchaikowski.  (NSF - 1970.03.21)

À "Rapsódia Húngara" de Liszt (o piano é maravilhoso!) junta-se o chilrear dos pássaros no telhado, o ronronar duma avioneta pelos ares e o ruído abafado do trânsito na Praça do Giraldo, aqui a dois passos. (NSF - 1970.05.17)»

*** «Ouço o Concerto nº 1 para piano, de Tchaikowski. Os sons desprendem-se em cavalgada, saem do piano pelo alto-falante, umas vezes de mansinho, outras violentamente, elevam-se, envolvem-nos, penetram em nós e arrebatam-nos. Neste momento os violinos dialogam com o piano, tentam impor-se-lhe, este assemelha-se a um riachozito saltitante. A voz daqueles eleva-se, tentam emudecê-lo. Os violinos perdem a sua delicadeza, tornam-se autoritários. Abafam o piano, o frágil, quem diria, piano! Veio a calma. Lentamente, a medo, uma flauta tenta quebrar o silêncio. Outras vozes vão-se-lhe juntando. Violinos e piano restabelecem o diálogo, secundados por outros elementos. Há uma quietude no ambiente. Uma voz grave, que não identifico, surge. O piano saltita pelo riacho, de pedra em pedra, apressa-se, corre ligeiramente pelos prados. Os outros seguem-no. Os sons misturam-se, elevam-se em cascata. O diálogo repete-se serenamente, em espiral. Termina mais uma cena.

Silêncio. Violência. Brusquidão. Violinos e piano defrontam-se de novo. Implacavelmente o piano tenta impôr-se. Consegue, com alguma luta. Os violinos aceitam a derrota e rendem-lhe homenagem. Ele aceita-la do alto da sua vitória. Os sons ora dialogam, ora competem entre si. Os violinos são os árbitros. Parece que nada mais pode deter o piano, soltito, com ternura, com delicadeza, umas vezes, com altivez, outras. Ah! os outros silenciaram-no.  Mas ele debate-se, liberta-se, corre, surdo à majestade dos violinos. Está sozinho. É perseguido, tenta fazer-se ouvir. Mas é tarde! Este final soberbo, empolgante, arrebatador! (NSM - 1969.01.23)


Joana Espanca Bacelar

Adoro Schubert! Oiço muitas vezes....

1 ano(s)

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Joana Espanca Bacelar

Estás com ar satisfeito! 👌

1 ano(s)

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Victor Barroso Nogueira

Joana Espanca Bacelar Agora já consegui ultrapassar as minhas inibições e já consigo "representar", olhando em frente, desassombradamente, para a cintilante luzinha verde do PC (entenda-se, personal computer)

1 ano(s)

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Joana Espanca Bacelar

Victor, a experiência faz milagres.... 😄😄

1 ano(s)

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Victor Barroso Nogueira

Joana Espanca Bacelar Tinha dez anos em Luanda quando fui designado para interpretar o "Príncipe das mãos vazias," um texto do livro de leitura, na récita da 4ª classe, e parece-me que nos ensaios desempenhava bem o papel. Mas, quando chegou o dia da representação pública deu-me uma branca e esqueci as minhas falas. Fiquei imensamente aborrecido por todos me aplaudirem, apesar do meu fiasco clamoroso.

Remeti-me ao silêncio até que decorridos 10 anos pedi a palavra num plenário de estudantes, em Económicas, em Lisboa. Meti os pés pelas mãos, não dise coisa com coisa e calei-me com uma enorme frustração:

Depois disso ganhei calo e passei a ser capaz de "enfrentar" audiências de largas centenas de pessoas, por vezes aplaudido pela assistência LOL.

1 ano(s)

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Joana Espanca Bacelar

Victor Barroso, só te conheci quando já eras um grande comunicador e com sucesso. Um líder...

Desconhecia até, das tentativas falhadas 😄

1 ano(s)

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Victor Barroso Nogueira

Joana Espanca Bacelar Gracias pela gentileza 🙂

1 ano(s)

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Madalena Mendes

Merry Christmas and a Happy New Year!

Nenhuma descrição de foto disponível.

1 ano(s)

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Nzuá Aral

Este homem é um ponto!

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Victor Barroso Nogueira

Nzuá Aral Um ponto ? Porquê?

Bom ano de 2023 🙂

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Nzuá Aral

É único! Era uma força-de-expressão mto usada em Angola. Faz-nos ficar bem-dispostos Doc. Feliz 2023, abraço

1 ano(s)

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Nzuá Aral

Victor Barroso Nogueira, nada a ver com o texto, ok?!!!

1 ano(s)

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Yolanda Botelho

Bom Ano,amigo.

1 ano(s)

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Victor Barroso Nogueira

Yolanda Botelho

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Victor Barroso Nogueira

Yolanda Botelho Igualmente para ti. Beijos do "esquerdista" preferido 😛

1 ano(s)


marco do correio 01

* Victor Nogueira

Última edição 27 de dezembro de 2014


As larguíssimas centenas de cartas que recuperei dos muitos milhares que escrevi permitem vários tratamentos. Nesta série o tema é  o Marco do Correio. 

(…) Antigamente as pessoas escreviam muito e as cartas eram meio de transmitir notícias e muitas delas, com maior ou menor valor literário, tornaram-se testemunho dos factos, acontecimentos, ideias e sentimentos. Mas hoje, hoje as pessoas telefonam ou encontram-se, devido à facilidade e rapidez dos transportes e das comunicações, e o tempo é pouco, paradoxalmente, devido à sobrecarga do que se gasta em transportes, sentado frente à TV ou em tarefas domésticas. 

 O mesmo sucede com o convívio e a conversação: por vários motivos os cafés e as tertúlias desaparecem, só se conhece o vizinho da frente ou do lado, quando se conhece, e as pessoas metem-se na sua concha, casulo, carapaça ou buraco. Muita gente junta, ao alcance da mão ou da voz, não significa que estejamos mais acompanhados e humanizados. (…) (Victor Nogueira à «Maria do Mar», 18.08.1993)


foto victor nogueira - beja - marco do correio

1959

Eu não sei escrever cartas sem ser em estilo telegráfico, pois a minha vida aqui [em Pointe Noire, na Àfrica Equatorial Francesa] é sempre igual. (MNS - 1959.08.05)

Quase todas as terças-feiras ia ao correio comprar selos e despachar as cartas. Escrevi vinte e uma cartas: cinco ao pai (3), três ao José João (2), oito à mãe (6), duas à Gininha (0), uma ao avô Zé Luís (0), uma à Maria Luísa (0), uma ao Espinheira Rio (1). Os números entre parênteses indicam o número de cartas que recebi em resposta. Não recebi resposta a nove cartas.

Fui a dez matinées e onze soirées. Vi 25 filmes. Todas as terças feiras e algumas vezes à quarta havia dois filmes à noite, num dos cinemas.

Em Pointe Noire  comprei quatro livros e uma lembrança, além de várias coisas que necessitava. (MEB - 1959.09.04

1962

Por cá tudo bem. Tem feito algum frio e há uns dias que não conseguia pegar na caneta para escrever. No dia de Natal fomos a Goios. Gostei do passeio. Ontem o tio [Zé Barroso] foi a Vila Nova de Gaia, a Matosinhos e à Foz do Douro e eu fui com ele.

Anteontem houve um tremor de terra, mas aqui no Porto parece que só se abriram brechas num prédio. Em Lisboa é que o sismo teve maior intensidade, tendo abatido alguns telhados e rachado as paredes de muitos prédios. (...) Já estou a gostar um bocado mais do Porto. Contudo não modifiquei a minha opinião: é uma cidade triste e velha. (NSF - 1962.12.21)

1968

Escrevo sob a luz dos holofotes que iluminam a Praça do Giraldo, o Rossio cá do burgo, escrevo apoiado no parapeito duma fonte aqui existente. ( ) (NSF - 1968.1

São 12 h 00.m. Estou a escrever sentado numa das mesas dum dos cafés do Rossio, [em Lisboa] que tem resistido às investidas dos bancos (por quanto tempo, ainda?) mais precisamente o Nicola, que foi o poiso dum dos nossos maiores poetas: Bocage. Escrevo e simultaneamente vou comendo um "croissant", sorvendo aos poucos um escaldante "garoto" claro (ou "pingo", como se diz lá para o Norte).

Nas mesas homens que já não são jovens - pelo menos cronologicamente como eu - encafuados em pesados sobretudos, alguns de chapéu na cabeça, cavaqueiam (sobre quê?), lêem o jornal ou limitam-se a seguir com os olhos, absortos em pensamentos, o fumo dos cigarros. Também estão algumas mulheres (talvez senhoras, mas isso não interessa, somos só homens e mulheres). Aquela ali à minha esquerda escreve, não cartas mas, numa agenda ou bloco, notas.

Ali a porta gira, gira, gira. Na fonte que se entrevê pela montra, a água jorra, jorra, jorra. Os automóveis passam, passam, passam. E o murmúrio das vozes, o tilintar das louças, a gaveta da caixa, constituem um pano de fundo. Évora morta, chata, entediante, onde estás tu!? (...) [Depois da monotonia de Évora, todo este bulício é reconfortante]. São 14:50. Fui corrido do café pois um "garoto" e um bolo não dão direito a mesa "per omnia saecula, saecolorum"! Especialmente à hora do almoço. (NSF - 1968.12.23)

1969

Lembras-te do Cunha? Em Luanda era um alfarrabista de corpo dolorido e disforme a quem os miúdos roubavam e provocavam. Cria em mim, esperava ainda ver o meu canudo de senhor doutor, dizia ser eu um jovem diferente dos outros e nunca o consegui convencer do seu erro; falávamos de ópera  e ele trauteava as árias, falávamos do Camilo e do Zola e da enorme fortuna que ele teria se o os livros em stock fossem libras. O homem que não conseguiu ser ele mesmo, condenado a vender a abominável literatura de cordel. "Escreva-me, não se esqueça deste pobre velho!""Havemos de ver-nos nas Ferias Grandes! " O meu postal ficou sem resposta. O Cunha morreu, só, abandonado, como um cão! (Eu, que era seu amigo, nunca o convidara para a minha mesa). E nas tardes quentes e plúmbeas mais uma voz silenciou-se: os frigoríficos do Pólo Norte -Frimatic, o Rei dos Frigoríficos - substituem os livros que nunca foram libras! ( ) (1969.02.24)

Aproveito a frescura da noite, que entra pela janela entreaberta, para escrever. Daqui a cerca de uma hora irei até ao Largo da Sé, em cujas escadarias se fará uma récita, integrada nas Festas dos Finalistas do ISESE, que têm brilhado pela falta de brilho e pela improvisação. Ontem estive a fazer o serviço de bar durante o torneio de tiro aos pratos, organizada por aqueles. Uma experiência nova, que me fez sair de lá com a cabeça aguada, perguntando-me qual a piada que a fina flor da "nobreza" cá do Alentejo encontra no "pratopumpumzero" (Alguns lá conseguiam acertar mesmo). (...) A cidade mais bela do mundo tornar-se-à insuportável, muitas vezes, para os desenraizados. (NSM - 1969.05.22)

1970

Um novo postal para a colecção do Zecas, este de Setúbal, onde vim passar uns dias em casa do Dr. Armindo Gonçalves. A igreja da foto tem um aspecto vagamente hispânico, mexicano. Dei hoje uma volta pelo centro da cidade, sem ficar a conhecê-la. Tenciono ir a Lisboa 2ª de manhã, para tratar de alguns assuntos e à noite regressarei, de comboio, ao burgo alentejano. Chegada prevista lá para a meia-noite, como é costume. Estou a escrever-vos de casa duma amiga minha, a mesma em casa de quem passei parte das férias da Páscoa há dois anos [em Sousel]

 Dentro de dias – 3ª feira – inicia-se mais um ano lectivo; espero seja o penúltimo do meu desterro na cidade museu. Saudades e um abraço amigo do VM (NSF 1970.10.24)

A igreja da foto está na praça principal da cidade. Penso que deve ser do século XVIII. Tem uma série de azulejos referentes à vida e martírio  de S. Julião. Dei hoje uma volta mais demorada pelo centro da cidade. Algumas das suas ruas assemelham-se às de Badajoz. Ultimamente a cidade tem sofrido um grande desenvolvimento, graças à industrialização, sendo actualmente talvez a 3ª cidade do país, aquela que foi um pequeno porto de pesca. Assim, pouco há para ver, pela inexistência de passado histórico. Mas os arredores são maravilhosos. Estou a escrever-vos em casa do Dr. Armindo, enquanto a TV trabalha. Enviam-vos cumprimentos e a sra D. Maria José escreverá em breve. (NSF 1970.10.25)

São quase horas de jantar. Passei o dia com malta amiga numa Quinta dos arredores; foi agradável! Estudei umas coisas e a agora escrevo-vos, brevemente. Uma direcção da Associação [dos Estudantes] terminou o mandato e outra tomou posse: passei de Vice-Presidente a Secretário. Claro, estou na nova Direcção. Rever os estatutos, tornando-os mais flexíveis e funcionais, e dinamizar a Junta dos Delegados de Curso são as duas principais metas que nos propomos. Dentro de 13 dias começam as férias. Vou ao Porto, onde quero ver se consigo participar num Encontro sobre Cinema Português.  (NSF 1970.12.06)

Hoje tentei pôr a correspondência em dia, mas aquilo está tão atrasado que devem ser necessários uns longos serões. A partir da recepção deste postal devereis começar a escrever‑me para Évora. Espero que tenhais recebido o SDS que enviei na véspera de Natal.. Que mais dizer? Estou na estação dos CTT da Batalha [no Porto]; a escrivaninha treme que se farta com o esforço que um "hominho" faz para fechar um envelope. Uma mulherzinha procura quem lhe preencheu um telegrama para dar‑lhe qualquer coisa. E ao contar‑me isto poisa‑me a mão no braço. Gosto da gente do Porto; parece‑me mais humana que a de Lisboa e de Évora. (NSF 1970.12.26)

1971

Escrevo-te e ouço a "Sagração da Primavera" do Stravinsky. Sou doido! Estou endividado, preciso urgentemente de renovar o meu inestimável guarda roupa, não quero pedir dinheiro para casa, não sei como ganhá-lo ...  E continuo a gastá-lo em livros e discos! Sei que não devo fazê -lo, que ficarei chateado por isso, mas continuo a fazê-lo. (NSM - 1971.01.14)

Em 5 de Abril de 1971 escrevia eu: "Sábado fui com o Jorge ao cinema, ver um filme de desenhos animados com o Asterix. Pois bem, o miúdo pulava e ria‑se, enfim, era um espectáculo. Gosto dele, só tenho pena ... que não estude. Tem‑me oferecido rebuçados, uma daquelas bolinhas de plástico que saltam muito  e até me chegou a pagar o jornal ! Há dias apareceu‑nos no café todo eufórico. Tinha ganho algum dinheiro e então comprou um cinto com uma espada de plástico, postais, maçãs e ... um copo. Enquanto não mostrou a espada a toda a malta sua conhecida não descansou. Queria também que aceitássemos as maçãs dele e os postais.   (MCG - 1971.04.05)

1972

Estou no café, no "velho", barulhento e de ar viciado que é o Arcada. Deixei os jornais em cima de uma mesa, para marcar o lugar, enquanto ia à tabacaria comprar uma folha de papel. (...)   Enquanto escrevo vou bebendo o galão e comendo a sanduíche de fiambre, acto quotidiano das 17 horas.

Na sala meio cheia umas pessoas conversam, outras lêm os jornais da tarde, alguns estudam, uns olham simplesmente para coisa nenhuma, embrenhados sabe se lá em que pensamentos. Reconheço alguns, poucos, companheiros indiferentes, quase móveis da casa. Dos outros, é de assinalar o seu mau gosto no vestir, fatos escuros, a boina ou o chapéu de abas viradas para os olhos. Conversam com a cabeça apoiada na mão, uns sorridentes, outros de rosto grave, testas enrugadas. Por vezes recostam se para trás nas cadeiras, outras juntam as cabeças, convergindo para o centro da mesa, quais conspiradores.

Olho à minha volta e o café está [continua] meio cheio. O João Luís [Garcia]  chegou e começou a ler o jornal. Daqui a pouco chegarão o Camilo e o Carlos Nunes da Ponte, que virão do exame. Domingo Évora será um deserto, estupidificante. Eis que assomam à porta do café o Chico Garcia e o Manel. Ficaram se pelo balcão da pastelaria. Entretanto entra também o Álvaro Lapa, que é pintor, e corresponde cordialmente ao meu largo aceno. Entretanto o João Luís protesta porque não consegue ler o jornal; a mesa está desengonçada e tremeliques. (MCG - 1972.03.18)

Aqui em casa novamente; a tua carta amiga e cordial diante de mim,  Zorba no gira discos, uma vontade doida, que acordou esta manhã comigo, uma vontade doida de bailar até ao delírio para cansar sei lá o quê ... as tensões pela alegria e pela impossibilidade da tua presença ... Mas o importante és tu e a alegria ao pensar-te. Como ficaria ou me sentiria se aceitasses namoro ao Diogo? É parva, a miúda! Sei lá como ficaria ou me sentiria se isso acontecesse! Vê lá se queres que eu me estenda ali na cama a pensar no que sentiria se... (…) Apenas sei dizer-te que gosto da tua maneira de falar e de escrever - reflexo teu - e que sinto um enorme desejo da tua presença, do teu riso, do teu corpo, em suma, de ti. E sei também que a minha maneira de ser, a minha frieza e austeridade, se não permitem que eu viva tão intensamente como desejaria, também não me deixarão morrer. Eduquei-me para nunca me entregar totalmente e deixar sempre assegurada a retirada. Esta é a única resposta que posso dar à tua questão hipotética. (MCG - 1972.07.06)

O senhor Marquês  escreveu-me [de Aveiro], uma carta muito formal. Está bem. ( ). Da Bia [Almeida, de Safara]  não há notícias; escrevi-lhe meia dúzia de linhas pelo aniversário. O Diogo  [de Santo Aleixo da Restauração] foi-se embora sem dizer água vai nem a mim nem ao seu homónimo. O Diogo Guerreiro [da Amareleja]  agora mais sorridente e falador - fez hoje oral de Inglês [e passou com 13] (MCG - 1972.07.21)

São 12:30. [Em Paço de Arcos) Ouço o portão chiar e assomo à janela... e não vejo ninguém (Algum miúdo que entrou e saiu, penso eu). Mas eis que batem com a aldraba na porta. Abro-a e lá está o carteiro no gesto habitual, mão estendida com as cartas (hoje, apenas carta!) Cumprimentamo- nos e agradecemos mutuamente. Fecho a porta. Regresso à sala de estar, pego na tesoura para abrir o sobrescrito, que resguarda as notícias. (MCG - 1972.09.06)

Aqui estou no meu quarto [em Évora], buscando para ti as palavras que não encontro, corpo sem imaginação mas irritado e desassossegado pela constipação que me percorre as veias e me enche dum nervoso miudinho. Busco para ti as palavras dos outros, nos livros dos outros, os ponteiros aproximando-se das nove e trinta, hora da vinda do homem que levará de mim as letras que cadenciadamente vão surgindo no papel branco que já não é só! Busco as palavras e apenas encontro estas, hoje vazio de ti pela tua ausência, ontem pleno pela nossa presença. São vinte e uma e vinte, hora de parar, os livros espalhados pela mesa, o corpo quebrado, a imaginação e a voz quase secas e frias. Daqui desta terra, para ti noutra terra, te abraço e beijo com ternura e amizade, na memória do tempo que fomos juntos. Aqui estou!  (MCG - 1972.09.21)

O Arcada é um mar de gente em burburinho, uns lendo, outros comendo, outros escrevendo ou preenchendo sonhos de Totobola, outros conversando com a língua e os dentes e os lábios e as mãos quando não com o corpo inteiro. Do outro lado, além à minha esquerda, um homem está sentado tirando dum saco de plástico algo cujo conteúdo lhe enche as mãos: talvez moedas. Insólito, a seus pés, uma enorme e brilhante bacia de cobre amarelado. O homem levanta se - tem uma pasta de cabedal quase do seu tamanho - pega na bacia e encaminha se para a porta, por onde entra e sai muita gente, com ar lento e vagaroso de quem nada tem para fazer. Lembro me de há quatro anos - ou mesmo há dois - e há muito mais mulheres e raparigas - algumas bem giras por estas mesas. Évora "civiliza se". (…)  À minha direita dois velhotes conversam: um deles conta qualquer episódio relacionado com a sua estadia na Grande Guerra de 14/18. Olho à minha volta e o café está mais vazio; não encontro o Camilo,  que pela segunda vez passou há pouco além no corredor central. Deve estar em dia não. Mais velhotes sentam-se ao lado da minha, iniciando amena cavaqueira. Agora reparo que esta é a mesa deles. Adeus, estudo. Um deles diz que os gajos da situação são os que mais maldizem o Marcelo [Caetano] e os que mais o homenageiam. (MCG - 1972.09.28)

Ali o José Emílio pergunta-me se estou escrevendo as minhas memórias, entre uma garfada de arroz e outra de carne. (...) É depois do jantar. Chove e as pingas caiem descompassadamente no cimento, lá em baixo no pátio. O rádio transmite uma música solene e majestosa que não identifico.  O Aristides vai folheando um livro de poesia e divido a minha atenção entre o que escrevo e o que ele me diz. - lá vou dando conta do recado (O Aristides comenta o  Fernando Pessoa dizendo que é poesia de salão). (MCG - 1972.10.12)

Enquanto o Carlos  fazia os seus estudos de piano e o Camilo  vasculhava a secção de poesia da Margarida [Morgado], eu peguei numa folha que estava  na camilha  e fui rabiscando, com a caneta do Chico Bellizi,   um pintor brasileiro de que terás visto comigo uma exposição no Palácio D. Manuel. (…)  Mas é muito fácil desenhar com uma caneta daquele género. Tem um traço muito fino e sensível, contrariamente, por exemplo, à Pelikan com que estou escrevendo. (MCG - 1972.11.07)

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas?  (MCG 1974.11.17)

Fatima Mourão

Obrigado pela partilha,beijo e continuação de um bom fim de semana!!!

9 ano(s)

Viriato F. Soares

Hoje a frieza e desumanização das relações humanas, são produto desta sociedade ocidental dita civilizada, moderna e "democrática", em que os donos do mundo , dos países e dos governos querem e estão a manipular e fazer lavagem ao cérebro dos cidadãos para melhor os escravizar. Obrigado pela partilha! Um abraço!

9 ano(s)

Editado

Joaquim Carmo

Um forte abraço, caro Victor com votos de um óptimo 2015!

9 ano(s)

Isabel Dias Alçada

Feliz fim de semana meu amigo , que o novo Ano te traga muitas descobertas e alegrias , beijos e um xi ❤

9 ano(s)

Deolinda F. Mesquita

Excelente, Victor, gostava imenso de receber cartas....praticamente já não acontece...Muito obrigada pela partilha.

9 ano(s)

Clara Roque Esteves

Que saudades eu tenho de uma carta trazida pelo correio que não venha das finanças ou do IMT. Gosto dessa tua veia saudosista mas sempre actual. Obrigada pela partilha. Beijinhos.

9 ano(s)

Alice Coelho

9 ano(s)

Cecília Barata

❤ ❤

9 ano(s)

Elisa Fardilha

Poucas cartas escrevi...não tinha a quem!!!

9 ano(s)

Maria João De Sousa

Obrigada, Victor Barroso Nogueira! Entre baixas médicas e vales postal, ainda dependo muito dos correios e da papelada que tenho de preencher. Mas que tenho saudades desses velhos marcos do correio, tenho! Abraço!

9 ano(s)

Nascimento Maria

Nunca gostei de escrever cartas Mas ademiro quem gosta de escrever

9 ano(s)

Maria Rodrigues

Gostei Victor, um Feliz 2015, beijinho ❤ 😃

8 ano(s)


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Paço de Arcos - Por do sol na Tapada do Mocho

 


2012 12 26 Foto Victor Nogueira - Paço de Arcos - Por do sol na Tapada do Mocho


Deolinda F. Mesquita

Belo por do sol.

11 ano(s)

Graça Maria Teixeira Pinto

Entardecer...Faltam cortinas nas janelas e tb uma flor a alegrar a vista e a vida. 🙂

11 ano(s)

Victor Barroso Nogueira

Graca Maria Antunes A janela tem cortinas mas afastei-as para a foto. E as flores estão na/pela sala e não na janela LOL

11 ano(s)

Margarida Piloto Garcia

Muito interessante mas para mim o reflexo da lâmpada tirou aluma magia da foto.

11 ano(s)

Lia Branco

Bonita foto. Beijinhos 🙂

11 ano(s)

Graça Maria Teixeira Pinto

Mea culpa 🙁

11 ano(s)

Ver tradução

Mia Pires Griff

A foto é isso mesmo.Adoro esta paz... Obrigada Victor!Bjo.

11 ano(s)

Victor Barroso Nogueira

Margarida Piloto Garcia O reflexo da lâmpada foi propositado para introduzir uma dissonânca LOL

11 ano(s)

Margarida Piloto Garcia

Pois Victor acredito mas para mim é dissonante ...em demasia 🙂

11 ano(s)

Belaminda Silva

Bela foto amigo, beijinhos 🙂

11 ano(s)

Manuela Vieira da Silva

Gosto da dissonância sem cortinas. Vejo uma lâmpada a sair de uma nuvem a atravessar o estore. e se não conhecesse esta luz, diria que foste visitado por uma nave extraterreste com o Pai Natal lá dentro. Bjos.🙂 Boas Festas!

11 ano(s)

Judite Faquinha

O por do sol seja de que angulo seja...é sempre lindo pela paz que transmite, e se for junto ao mar...é de sonhos bjs

10 ano(s)

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Pingos do Mindelo em 2023 dezembro 25

 Fotos victor nogueira - A ceia da Consoada seria bacalhau assado, acompanhado com puré de batata e ovo cozido, refeição comedidamente regada com Porta da Ravessa e coroado por um Porto, “Velhotes”.

Uma refeição simples, sem a complexidade e dias prévios de preparação como os da festa de despedida de Babette (1). Mas acabei por decidir-me por uma refeição fast-food, com uma pizza de atum, preparada ali no forno eléctrico.
Para o almoço do Dia de Natal hesitei entre frango assado no forno ou massada de marisco. Decidi-me por esta última.
Desta vez havia comprado o marisco separado: bivalves, sobretudo mexilhão, e camarão “selvagem” grande. Não ficou tão saborosa esta refeição como uma anterior, de que falei num dos “Pingos do Mindelo”. Afinal o molho que da outra vez acompanhava a embalagem tinha razão de ser.
Algumas pessoas lembraram-se de mim. Telefonaram-me a Susana, a Faia Maria, a Salta-Pocinhas, o vizinho Geraldo, as minhas tias Isabel e Teresa. Sem esquecer a vizinha Amélia. Recebi mensagens de Virgílio Campos, do Fernando Pratas e das Lyudmila I e II.
Não tendo ido prévia e antecipadamente Maomé à montanha, esta também não veio até Maomé! Sem ovos não se fazem omeletes!
Ontem e hoje o dia esteve cinzentonho e chuviscoso, não incentivando saídas de casa!
EM TEMPO - Entretanto, com o correr das horas, já houve oportunidade de falar com a Susana, Sérgio, Rui Pedro, Francisco, João e Mariana, para além de mensagem da "Princesa".
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(1) A “Festa da Babette” é um conto de Karen Blixen, adaptado ao cinema, numa realização de Gabriel Axel, em 1987. Babette é uma cozinheira duma casa nobre francesa, que se refugia numa recôndita e austera aldeia piscatória dinamarquesa, para evitar ser executada na sequência da repressão àos revoltosos da Comuna de Paris, em 1871. Tempos depois, ao dar-se conta de que fora localizada pela polícia francesa, resolve partir de novo, depois de preparar uma opípara refeição aos frugais e austeros aldeões que a tinham acolhido, refeição como as da casa nobre onde servira.
Sobre pizzas e cinema. Em tempos vi um filme chamado “Pizza, Amor e Fantasia” (Mystic Pizza), realizado por Donald Petrie, em 1988. A história passava-se nos Estados Unidos, pretensamente numa colónia de emigrantes portugueses que tinham um restaurante especializado em ... pizzas deliciosas, com ingredientes cujo segredo passava de geração em geração desde uma avó algarvia!
E eu a pensar que as pizzas eram uma especialidade italiana. Nada como estas histórias americanas para melhor ficarmos a conhecer este Portugal á beira-mar plantado. É verdade que durante o filme só se falava inglês e que as únicas palavras portuguesas constavam dos cartazes turísticos nas paredes do referido restaurante. Ah! mas não haja desesperos, porque deram a festa de casamento duma das três meninas luso mericanas do filme e durante a mesma os espectadores foram brindados com duas canções em português castiço e mau sotaque: a Sapateia açoriana e um fado lisboeta, que já não me lembro bem se era aquele da morte da andorinha que não põe termo à Primavera.

domingo, 24 de dezembro de 2023

Carlos Rodrigues - Era uma vez um perú

 * Carlos Rodrigues 


2019 12 23

                                                Óh, Senhores, é um alvoroço,

                                                  Esta Festa de Natal,

                                                  Comprei um peru para o almoço,

                                                  Todo made in  Portugal.

 

                                                  Mas tenho a estranha sensação

                                                  De que outra Ave o comeu,

                                                  E, aqui, por fim de Estação,

                                                  A refeição sou sempre eu.

 

                                                  O que é uma forma de dizer,

                                                  Que  a carne também se importa

                                                  E quando é nossa faz doer,

                                                  Se é para  outro a comer.

 

                                                  Mesmo assim não estou bem certo,

                                                  Se a dieta é um dever,

                                                  Com o devir, aqui, tão perto

                                                  Que nem o consigo ver.

 

                                                  Será D. Sebastião,

                                                  Esta névoa na balança,

                                                  Que assim nos tolhe a visão

                                                  E nos pesa na despensa ?

 

                                                   De um lado estão os Vilões,

                                                    Do outro lado os bacanos,

                                                    E uma carga de opiniões

                                                    De ocultos ratos de cano,

  

                                                    Que dão palpites, à barda,

                                                    Sobre a encanação,

                                                    Têm as mão cheias de…perda,

                                                    E ainda querem ter razão.

 

                                                    E a culpa morre inocente,

                                                    Que o Mundo nasceu ruim.

                                                    Boas Festas, minha gente,

                                                    Para Peru, já basta assim.

                                                                                                      

C.R

Victor Barroso Nogueira

Bem, o peru já é de aviário e o bacalhau ... da Noruega, ficando a consoada pouco consolada. Faltam o borrego e o cabrito, que não sendo de aviário, por perto devem andar. Um poema com humor e leve, que o tempo não está para indigestões. Bom Ano, Carlos, sem polvos nem tubarões 🙂

12 ano(s)

Carlos Rodrigues

" Mas eles andem aí "...Vitor, quer dizer os polvos e os tubarões e ou os comemos ou somos comidos...Tudo de melhor para o 2011, Vitor.

12 ano(s)

Clara Roque Esteves

Nem como nem sou comida

porque parva eu não sou

a Noruega é sabida

e eu ...com os polvos não estou...

12 ano(s)

Carlos Rodrigues

Rimas até ao fim do Ano. Eu não te chamei polva, nem parva, nem nada ( Nada, onde é que já li isto ? ). Xiiis e melhor 2011.

12 ano(s)

Victor Barroso Nogueira

E vivam os dragões pk o resto são canções 🙂

12 ano(s)

Clara Roque Esteves

Será que dragões rima com LEÕES?????O nosso rugido está quase ao nível do do BPN...mas ainda temos alguma esperança...

Xiis!

E comam o peru depressa. Carlos, o que achas que faça para a ceia de amanhã? No Natal inspirei-me nas tuas dicas.Saíu cabrito. Agora vai sair o quê?Mais perú não!!!

12 ano(s)

Carlos Rodrigues

Olha o Vitinha com provocações desportivas e outras coisas a rimar com Dragões. Mesmo assim, eu que sou Leão, mas mansinho, devolvo as saudações desportivas e o resto das canção que foram e são ainda para um outro Inteligente que dirige as touradas. Não era disso que estavas a falar. Bom 2011 e cá te espero...

12 ano(s)


Carlos Rodrigues - " O SUMO DAS PALAVRAS "

* Carlos Rodrigues .  

                   

2012 12 23

                                  Há palavras que não gastam,

                                  Há palavras que nos bastam,

                                  Palavras de que se gosta,

                                  Música em que se aposta.


                                  Há palavras realejo,

                                  Há palavras que são beijos,

                                  Das que não perdem o ensejo

                                  De serem o que se deseja.


                                  Podem dizer tudo ou nada,

                                  Podem ser até Orada

                                  Dos que rezam sem pensar

                                  Ou nos dizem, sem sentir.


                                  Há palavras que são vitrais,

                                  Há palavras vespertinas,

                                  Há palavras tangerinas,

                                  Há outras que são demais.


                                   Há palavras que são gente,

                                   Há palavras tão urgentes,

                                   Com gosto e sabor sem teias,

                                   Que até nos correm nas veias.


                                    Há palavras que abrem portas,

                                    Há palavras que são outras,

                                    Há palavras sem igual,

                                    Palavras feitas de Sol,


                                   Há palavras sumaúma,

                                   Algodoeiros da bruma,

                                   Falam uma língua diferente,

                                   Não duram mais que o instante,


                                   Há palavras embondeiros,

                                   Que abarcam o mundo inteiro,

                                   Há palavras que são fracas,

                                   E se dissolvem nas vagas.


                                   Há letras gordas e magras,

                                   Não são palavras são vacas,

                                   Mas todas têm função,

                                   Umas dão leite outras não.


                                    Há palavras que dão sumo,

                                    Do fruto escolhi a Amora,

                                    Misturei-o com Amor

                                    E seja lá pelo que for

                                    A palavra fez-se mel,

                                    Não por ser doce ou flor,

                                    Mas por ser Familiar

                                    E não haver outra igual,

                                    Quando se quer desejar

                                    A TODOS UM FELIZ NATAL !


                                     Carlos A.N. Rodrigues 23 / 12 / 2017


Victor Barroso Nogueira Para lá das palavras, com emoção no coração, retribuo, Carlos 🙂

AOESCORRERDAPENA.BLOGSPOT.COM
Ao (es)correr da pena e do olhar: Victor Nogueira ~ De palavras ...
Carlos RodriguesVitor é com muito gosto que te vejo no meu humilde re(canto). Foi a imagem do Embondeiro que te trouxe até aqui ? Já conhecia parte de um dos teus épicos Blogs, o relativo às Campanhas de Alfabetização, cujo link aí colocaste é um marco na tua vida e de muita gente e dizes muito bem no teu Poema " Com ou sem alegria de palavras vestes o dia ". Sempre que quiseres por alguma coisa daqui nos teus Blogs, está à vontade, eu é que sou um Tótó a jogar aos Shares e aos Tags. Saúde e tudo o que desejares de Bom para este Natal, 2012 e anos seguintes. Obrigado, Grande abraço.11 ano(s)Carlos RodriguesObrigado pelas tuas Palavras Vida, devolvo com o coração, porque essa á e principal função / Das palavras Sentidas / Com emoção. O Melhor Natal possível para ti e todos os teus Familiares e Amigos.11 ano(s)