Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNsexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
com teu receio
com teu receio
de
permeio
as flores
fenecem
nas
dores
e
o
cais
deserto
de naus
setúbal 2014.02.28
calamos as palavras
são ocas as tuas palavras
são ocas
as
tuas
palavras
balofas
balelas
sem velas
desfolhadas
são de areia
a tua determinação
uma
efabulação
brlham talvez
com a leveza
etérea
do pechisbeque
uma borboleta
que volteia
e
não
aquece
a
chama
os teus mimos
não são arrimos
mas pantominas
setúvbal 2014.02.28
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
não há entre nós palavras belas
não há
entre nós
palavras belas
nem versos
apenas reversos
pois não escutas
o que escrevo
escrevo
como se
entre o meu cérebro
que comanda
e as minhas mãos
que executam
dedilhando
eu não estivesse
mas sim a máquina
em que me transformo
e
tu
não entendes
o meu cansaço
é o da máquina
que não sou
e tu insistes
na minha desumanização
setúbal 2014.02.27
pétala a pétala
pétala
a
pétala
silabando
e
rimando
é tecido
o poema
teorema
cálido
ou
ventoso
setúbal 2014.02.27
à lareira
à lareira
ponteias
na braseira
com areia
não ateias
a teia
nem incendeias
remedeias
setúbal 2014.02.27
na poesia
na pousada
da poesia
as palavras
são
os sonhos
encobertos
do leitor
e
do
autor
anelo
anel de papel
pesadelo
rimando
ou remando
com
flores
ardores
andores
e
dores
ou nada
rimando
e
remando
ou
naufragando
setúbal 2014.02.27
nú recreio
no recreio
enleada
mordes
e
remordes
a
imaginação
desenfreada
sem
o
freio
do
receio
a ventura
sem cobertura ?
setúbal 2014.02.27
na janela aberta
na janela aberta
encoberta
estás
coberta
de véus
sem a descoberta
tecida de receios
de medos
sem arremedos
setúbal 2017.02.27
nú esteiro
nú esteiro
esteio
sem receio
mordes
e
remordes
o seio
avulta
a vulva
encoberta
setúbal 2014.02.27
trancas as palavras
trancas
as palavras
o olhar
sem
vaguear
nem
vadiar
brancas
ou
negras
as sílabas
o Syllabus
setúbal 2014.02.27
trincas as palavras
trincas
as palavras
as tintas
retintas
e brincas
lavrando
e
lavando
as palavras
setúbal 2014.02.27
o mistério do saltério
o mistério do saltério
sentes
e
no ministério
mentes
psalmo a palmo
as palavras
em tiras
tiaras
das mentiras
ao rés do chão
sem pão nem a vinha
advinha
a
adivinha
em sentido
neste sentido
que sentido
o sentido
sem ti
sentado
pasmado
setúbal 2014.02.27
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
presa e represa
presa
e
represa
nas teias
não ateias
nem incendeias
receias
setúbal 2014.02.26
não esperes
não esperes
nem desesperes
na esfera
escuta
não é nossa
a lei deles
a da submissão
revolve
a
revolta
e
canta
no ovo
contra o polvo
firma
e
afirma
a revolução
setúbal 2014.02.26
elegia
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
hoje não falamos de flores
hoje não falamos
de flores
nem de amores
ardores
ou andores
hoje falamos
dos nós
sem voz
lassos de embaraços
hoje falamos
de nós
(quase) todos
sem pauta
e
a malta
sem acordo
desafinando
e
desfiando
setúbal, 2014.02.24
a reforma do estado está em curso - desde há muito - pela mão do ps(d), seja qual forem a narrativa e o manageiro de turno
... mas a "reforma" do Estado, rumo ao minimalismo, por obra e graça do ps(d) não está a ser implementada ? Encerramento de maternidades, centros de saúde, tribunais, lojas do cidadão, escolas do ensino básico e secundário, "reorganização" administrativa (em Lisboa e no País), desinvestimento público na ADSE (em benefício dos hospitais privados e das seguradoras),desinvestimento no ensino superior e na investigação científica e tecnológica, extinção progressiva da Caixa Geral de Aposentações (em benefício das seguradoras), generalização do "Outsourcing", como nas ligações telefónicas do Governo, agravamento das custas judiciais, privatização de farmácias hospitalares, notariado, distribuição de água em alta e em baixa, seguros da CGD, "exploração" de museus e parques naturais, correios e telecomunicações, distribuição de gás e da energia eléctrica, recolha e reciclagem de resíduos industriais e sólidos e urbanos, auto-estradas e travessias do rio Tejo, empresas públicas em sectores estratégicos da economia, impostos dos cidadãos direccionados para as PPP's, swap's, "recapitalização" da banca da usura, cheques-ensino ...
E não está na forja a privatização total dos transportes públicos, dos TAP, da ANA, da CGD, dos estabelecimentos prisionais, da segurança social em benefício das seguradoras, da RTP (em benefício da TVI e da SIC), entrega de hospitais à Igreja Católica através das Misericórdias ... ?
na festança
abril
abril
das águas mil
em maio
no funil
otário
na boca larga
o povo
'tormentado
no estreito
canal
em cornucópia
os cifrões
crescente
de bolsa
a(ba)rrotando
os salafrários
e
os
seus patrões
setúbal 2014.02.25
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
em casa minha
em casa minha
os
livros são como coelhos
e de joelhos
estou
do chão ao tecto
não em adorações
de andores
mas em arrumações
com dores
tarefa infinda
dia-a-dia
na berlinda
pum catrapum
setúbal 2014.02.24
com mil olhos
e
dez mil bocas em cadeia
na verdade
sem vida
de interditos
benditos ou malditos
é
a cidade
entre dentes
a serpente
em surdina
setúbal 2012.02.24
o cansaço
o cansaço
do baraço
às braçadas
é meu
teu
o
abraço ?
setúbal 2014.02.24
tiritas
tiritas
de medo
ou
de frio
não sei
e
não rio
setúbal 2014.02.24
triste traste
triste
traste
all-quebrado
e
cansado
vegetando
na ínsula
setúbal 2014.02.24
domingo, 23 de fevereiro de 2014
o gato
o gato
não é pato pató
ao ri- sol
não esfria
aquece
e
não arrefece
lampeiro
no
boieiro
Setúbal 2014.02.23
O Gato
Com um lindo salto
Lesto e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão
E pega corre
Bem de mansinho
Atrás de um pobre
De um passarinho
Súbito, pára
Como assombrado
Depois dispara
Pula de lado
E quando tudo
Se lhe fatiga
Toma o seu banho
Passando a língua
Pela barriga.