Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Tanta gente, Mariana !


Victor Barroso Nogueira Pois ... Hoje pouco se lê ou discute, no sentido de debate. com "substância". Basta pass(e)ar pelas caixas de comentários nas redes sociais, como a do inFaceLock, ou dor jornais on line. As tertúlias dos cafés e das livrarias praticamente desapareceram E os cinemas, como locais de encontro aos intervalos, também passaram à história.Tanta gente, "Mariana", e tanta solidão ou silêncio em mar de calmaria ! Abraço, Ana


Ana Paula Sena Belo
9 h
Dou três voltas de carro ao lugar e hesito em parar e entrar. A colega de trabalho que já não via há ano e meio morreu. Subitamente. Um dia diz que estava e no outro já não. Não fomos amigas, mas fomos companheiras. Eu desisto de entrar, volto para casa e vou jantar. Pergunto porquê. Quero ficar com a imagem que tenho dela. A imagem de insubmissa nem sempre simpática. Ela é-me importante pelo que representava. Explico mas não sei se o retrato é o dela ou o meu. Talvez das duas. Sobretudo de um tempo. O das professoras de filosofia. Ela foi uma professora de filosofia das do tempo em que as havia de uma certa forma. Cheias de defeitos seguramente e de inúmeras qualidades. Os professores regra geral ficam no anonimato. Eu quero falar dela anónima agora e da imagem que me deu. O que me desarmava nela era uma lógica imbatível. Desenvolvida em abstracto e pouco aplicada talvez. Mas assim, tal e qual. Do tipo que escreve e-mails sobre questões científicas. Onde é que isso já vai. O cogito em David Hume é uma impressão ou uma ideia? Ela discutia calmamente estas coisas e gostava compulsivamente de cinema. Eu falava com ela. Sugeriu-me um filme japonês sobre a pena de morte. Sugeria-me filmes esquecidos e recentes. Adorava como eu policiais. Ela era inteligente e difícil. Ela morreu mas foi uma daquelas professoras de filosofia que eu admirava por serem do tempo em que a filosofia tinha outra dignidade. Para onde vai esse tempo que foge com estas pessoas? O tempo em que se discutiam realmente coisas nos intervalos. Onde é que isso já vai. O mundo mudou, a escola mudou, eu mudei. Acho que ela não. Para mim, ela fica aqui. Assim.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

jogging

* Victor Nogueira



fotos victor nogueira - Setúbal - Parque Urbano de Vanicelos -Neste aprazível Espaço Verde foi uma vez mais a festa de aniversário do Francisco. Por ele vagueavam pessoas, brincavam crianças, praticava-se jogging, jogava-se à bola ou passeava-se de bicicleta.

VER 

Setúbal: fim de dia em Vanicelos

quarta-feira, 19 de abril de 2017

reflexões

* Victor Nogueira

1. - Depois da paixão e da ressurreicao do Homem feito deus, foram-se os dias luminosos e soalheiros e veio a neblina cinzentonha. 

2. Dias pesados de trovoada, dias luminosos muito para lá do cansaço que há dentro de mim, como se fosse corpo informe, inflexo.


Lamentação sobre o Cristo Morto, obra de Mantegna (1470 / 1474)


Salvador Dalí - Crucificação, 1954


Cristo de São João da Cruz. Autor, Salvador Dalí


terça-feira, 18 de abril de 2017

Em torno da escravatura

* Victor Nogueira

versários das ideias que culminariam na Revolução Francesa, pesem embora alguns aspectos "progressistas" da política de D. José I contra a nobreza terratenente e a Igreja Católica, O tráfico esclavagista e a escravatura não foram abolidos nas colónias (Brasil, Angola e Guiné) e classificar de "humanistas" acções repressivas como as executadas contra os taberneiros do Porto ou os pescadores da Trafaria e de Sto António da Arenilha (Algarve) ou contra os Távoras é obra. Aliás a escravatura nas colónias foi abolida por pressão do nascente capitalismo inglês no século XIX- Apesar disso e de facto a escravatura nas colónias prosseguiu através da menorização dos povos das colónias, travestida a partir de certa altura pelo regime do indigenato e do trabalho “contratado”.
Se a relação de Portugal com a escravatura é muitas vezes mal contada, a sua relação com a abolição é-o ainda mais.
PUBLICO.PT

Filipe Chinita - conversas com e sem endereço.

* Filipe Chinita

conversas com e sem endereço.
ou
de uma zita e de um barreto!
cheios de credibilidade
de percurso de vida
a vender vinhos...
do tio patinhas...
- mas 'não foi o gorbatchov que
(também) acabou a vender
pizzas e/ou coca-cola(s)'...
- é o que acontece
quando deixamos
de ser...
nós.
isto é...
quando nos negamos
nós.a nós próprios
ou nos negam
outros em
vida
.
com o victor.no branco muro
- manchado de vinho! -
do chinita
fj

2017.04.18



segunda-feira, 17 de abril de 2017

Zita Seabra, os "Sapatos Vermelhos" e as "Aparições" em "Governo-Sombra"

* Victor Nogueira


(...) Perguntarão porquê este arrazoado [escrito em 2012] ? Bem, ele veio da leitura do último livro da Zita Seabra, que li sem tomar notas à margem. Só falei uma vez com a Zita [em Maio de 1974], na António Serpa, para expor as razões da nossa luta [no ISESE] e solicitar o apoio do PCP. Nunca me lembro de ver a Zita nos inúmeros plenários e RIA´s (Reuniões Inter Associações de Estudantes) e no seu livro nem sequer fala nas tentativas de Fundação da pro-UNEP (União Nacional dos Estudantes Portugueses). De quem me lembro a dar a cara é da Sita Vales e de outros cujos nomes já se me varreram.

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Se é verdade que a primeira parte do livro parece o romance duma menina rebelde que mergulhou na clandestinidade sem saber muito bem ao que ia, com uma ou outra alfinetada pelo meio, a parte final é efectivamente um ajuste de contas. Impressiona-me que fale sempre no «Eu» fiz, «Eu» decidi, «Eu» mandei, Cunhal tinha inveja de mim (que ego tão auto-insuflado!) tal como Otelo  ou Mário Soares, este “reescrevendo" a história como se fosse uma pitonisa, na alentada entrevista em 3 volumes feita por Maria João Avilez.

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Não sei se Estaline mandou assassinar tantos milhões de que é acusado e porquê. Mas esses incomodam Zita, que adere impávida e serena aos que vivendo das migalhas dos ricos (nem Mário Soares, apesar das louvaminhas, lhe deitou a mão) não se preocupam com os milhões de mortos e os genocícidios cometidos pela Igreja Católica ou pelos capitalistas. Nos massacres das revoltas camponesas, no massacre dos que fizeram a efémera Comuna de Paris ou ordenados pelo Czar de Todas as Rússias, quando os manifestantes, humilde e pacificamente, lhe pediam pão e trabalho.

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Em África foi uma razia para arranjar escravos, «coisas» sem direitos como os trabalhadores assalariados para as fábricas. «escravos» para as explorações agrícolas nas Américas, incluindo os EUA, a pretensa Pátria da Liberdade, da Democracia, dos Direitos Humanos e da Igualdade, ou da sobe-exploração de homens, mulheres e crianças nas fábricas.

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Zita não se preocupa com o derrube de governos progressistas em todo o mundo, graças às manobras sombrias dos Estados Unidos e Companhia. Zita não se preocupa com o extermínio de africanos nem com o genocídio dos índios, especialmente nos EUA, nem dos aborígenes australianos, pelo Reino Unido, ou dos habitantes da Ilha de Páscoa. Zita, na Versalhes, de sapatos vermelhos, não se preocupa com a fome e a doença endémicas nos países chamados sub-desenvolvidos, cujas economias foram destruídas pelos ávidos capitalistas, amarrados a uma dívida externa imparável. Zita não chora os milhões de mortos pelos Nazis ou de alemães pelos Aliados em Dresden, ou Japoneses em Hiroshima e Nagasaqui. Zita não se preocupa que os EUA tenham sido o único país que lançou as duas únicas bombas atómicas, para amedrontar a URSS e fazer «experiências» humanas, tal como os nazis. Zita “esquece” que a URSS e os restantes países socialistas tiveram de levantar-se dos escombros da horda nazi sem a ajuda de qualquer Plano Marshall. Zita “esquece” que uma parte dos recursos do bloco socialista foi absorvido pela corrida aos armamentos para evitar a supremacia dos EUA.
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Zita não diz que os países capitalistas estavam à espera que os nazis derrotassem a URSS para se expandirem, como agora sucedeu após a queda do Muro de Berlim. Zita nada diz dos vergonhosos muros erguidos por Israel, potência nuclear, que não acata as decisões da ONU sem sofrer qualquer embargo dos EUA ou da UE. Como também nada diz do vergonhoso muro que os EUA estão construindo na fronteira com o México, assassinando os mexicanos que atravessam a fronteira clandestinamente em busca de trabalho miseravelmente pago. Zita nada diz sobre as orelhas moucas dos Aliados aos apelos da URSS para abrirem uma frente Ocidental, para descomprimirem o ataque nazi a Leste. Tiraram a cera, sim, mas só quando viram que o exército vermelho avançava com tal determinação que provavelmente só pararia nas praias portuguesas. Nem uma palavra sobre os argelinos massacrados pelos colonos e pelas forças armadas francesas, aliás como sucedeu nas colónias portuguesas ou nas inglesas.
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Zita nada diz sobre as «purgas» feitas na América Latina na sequência de golpes fascistas apoiados pelos EUA e outros países capitalistas, nem com os falsos argumentos para invadirem o Afeganistão (onde pára Bin Laden, se é que existe ou não está a jogar ao pokercom Bush?), depois o Iraque e agora o Irão?
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Zita nada diz sobre as «purgas» feitas por Mário Soares no PS ou Sá Carneiro no PSD. Zita nada diz sobre o facto de em 1974 Spínola e Sá Carneiro pretenderem manter em funções a polícia política, a proibição de partidos políticos e a continuação dos presos comunistas ou maoístas ou a «clandestinalização» da actividade do PCP.
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Zita agora vive bem, com os seus sapatos vermelhos, frequentando locais de luxo e dedicando-se aos seus rebentos. Em Portugal, como nos países capitalistas, não há bichas porque não há dinheiro e a alternativa é roubar, morrer de fome, emigrar, trabalhar para assegurar dia a dia o pão nosso de cada dia ou acumular empregos precários. Ah! ou meter-se na droga ou na prostituição !
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Zita, poderia ter saído do PCP em rota de colisão por discordar da estratégia e da táctica do Partido onde tinha altas responsabilidades e dever de solidariedade na tomada e concretização das decisões. Mas não, Zita, quadro de confiança do PCP, mais ortodoxa que Cunhal, borrou-se inevitavelmente nos capítulos finais do seu «livro». Zita poderia ter saído do PCP por amor aos famélicos, aos explorados, aos alienados na sua consciência de classe, aos deserdados da sorte. Mas Zita saiu no fundo porque se cansou de ser aquilo que se considerava: agora, pode ter mulheres-a-dias e amas. Que ordenado lhes paga, que regalias e direitos lhes reconhece? Zita divorciou-se da enorme quantidade de mulheres-a-dias que todos os dias surgem, divorciou-se da solidariedade para com as mulheres sem direitos ou que são obrigadas a entrarem nos circuitos da prostituição.
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Zita não saíu só do PCP. Zita não compreendeu a hipotética «desilusão» de Cunhal pela traição de alguém que era tão importante na estrutura do PCP que até tinha o Gabinete no mesmo andar do Secretário-Geral. Zita traiu o PCP, desiludiu quantos nela confiaram. Quando alguma das suas grandes amigas e confidentes a trai, que faz Zita? Se alguma mulher-a-dias a roubar naquilo que materialmente lhe é valioso, que faz Zita? Que fez Zita afinal sair do PCP? Que faz Zita ao desvendar pretensos «segredos», sem falar nos partidos à «esquerda», sem implantação nas massas mas «acarinhados» e «visíveis» em determinados momentos, por tolerância» do grande capital, que controla os meios de comunicação? De que tem medo Zita, 20 anos depois, quando a direita avança em grandes passadas pela batuta de Sócrates, mais «eficiente» que o PSD?
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Zita, qual filha pródiga, regressou ao seio da burguesia, seio que nunca esqueceu e onde encontrou a compreensão da família e dos amigos, «magoada» pela incompreensão dos antigos «camaradas».
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Zita ficou impressionada com a (falta) de qualidade das habitações que viu após o colapso do Socialismo. Zita nunca terá visto os bairros de lata, os bidonvilles, as favelas, os musseques ou os contentores ou roulotes ou os «sem-abrigo» que existem miseravelmente mas com «liberdade» em toda a «democrática» sociedade capitalista, a do pensamento único, com o imperialismo travestido de globalização e a economia capitalista como «economia» de mercado, que é muitíssimo anterior ao desenvolvimento capitalista.
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Zita não «vê» que as «companheiras» das casas do Partido não eram simples mulheres-a-dias [que horror «madame» Zita ser mulher-a-dias), mas responsáveis pela segurança das casas e dos camaradas, todos na clandestinidade. Zita não sabe das elevadas taxas de analfabetismo entre homens e sobretudo entre as mulheres, que deste modo não podiam ler nem imprimir ou distribuir os documentos de Partido. Mas Zita, uma privilegiada, com estudos, podia fazê-lo. Não era pois uma simples «mulher-a-dias»
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Zita escamoteia que naquele tempo e ainda hoje persiste a mentalidade machista e que a Revolução se faz com os homens e mulheres com as virtudes e defeitos do tempo e do lugar em que estão. Ao entrarem para o PCP, os/as comunistas não eram nem são ungidos pelo sacramento do baptismo, limpando-se do pecado original de quererem pensar por si, o que talvez explique muita miséria e mortandade desde os primórdios do(s) cristianismo(s). E difícil seria, naquele tempo, às mulheres andarem por aqui e por ali a «conspirar», numa sociedade em que o lugar da mulher era em casa e o trabalho era quase exclusivamente reservado aos homens!
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Em Évora, eram consideradas «putas» as poucas raparigas que iam ao café connosco ou as mulheres alemãs dos dirigentes da Siemens. Mulher ou rapariga sérias não iam ao café ou andavam sozinhas, quer de noite, quer de dia.
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Quando Zita numa passagem do seu livro relata a brutal actuação da Polícia num país do outro lado da «cortina de ferro», «típica desses países», como afirma, onde estava, dirigente da UEC (União dos Estudantes Comunistas), quando a polícia carregava sobre os estudantes ou sobre os trabalhadores grevistas em Portugal? Onde está Zita quando a TV passa os brutais ataques da polícia sobre manifestantes nos «democráticos» países capitalistas ou a eles agora «convertidos» com a ajuda da mãozinha de João Paulo II? Tolda-se-lhe a vista cansada de escrever e de ler as mortalhas ou aproveita para ir à cozinha beber um copo de água?
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Tal como dizia Alçada Baptista na sua «Peregrinação Interior», eu não sei se os jesuítas são bons ou maus educadores, mas lá que são educadores, são. Com eles aprendi que para sermos eficazes temos de «encontrar» os líderes duma comunidade, lideres muitas vezes informais, e só depois podemos transformá-la. E que devemos estudar o pensamento e modo de agir dos adversários, para melhor podermos combatê-los ou neutralizá-los.
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E depois o retrato «sinistro» que apresenta de Álvaro Cunhal e a insinuação de cobardia da Direcção do PCP no exterior! Basta ter estado em comícios ou encontros do PCP ou assistir às «reportagens» na TV para ver como ele era acarinhado pelas populações, como lhes correspondia com humanidade, com fraternidade e simpatia, não isentos de humor! E que dizer do acompanhamento gigantesco dos que lhe quiseram prestar uma última homenagem comparecendo ao seu funeral. Eram todos militantes e simpatizantes do PCP?
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Eu não engoli qualquer sapo ou precisei de tapar o retrato de Mário Soares no boletim de voto. Eu votei Soares contra Freitas do Amaral. Por isso comprei e li o «Foi assim», na perspectiva de alguém, Zita,  que voltou ao calor do seio materno, abandonando os deserdados da sorte, que agora são esmifrados em todo o mundo por uma minoria com quem Zita no fundo nunca terá deixado de estar. Como dizia o poeta «Ah, esta vã glória de mandar»!
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Se Zita visitar a capela dos ossos na Igreja de S. Francisco, em Évora, poderá ler «Nós que aqui estamos pelos vossos esperamos». (escrito em 2012)

in 

Resultados da procura

 Para a História do ISESE com incursão pela Zita Seabra 



Zita podia ter mudado de campo mas com dignidade. Depois da publicidade à Garrafeira do Pingo Doce, em parceria com Barreto. Como se diz no post, a haver conversão, seria da [religião cristã] ortodoxa para a católica apostólica romana. E falando de regimes, na altura das alegadas aparições o que vigorava na Rússia feudal era um regime autocrático e despótico. Como Zita e qualquer pessoa minimamente culta deve saber. Como culta deve ser Zita, que até é ou foi dona duma editora.



OPAN - Princípios Fundamentais de Organização Politica e Administrativa da Nação

Alguém se lembra deste livro???



Página gostada · 29/3 

Princípios Fundamentais de Organização Politica e Administrativa da Nação
A. Martins Afonso
1950
Papelaria Fernandes
Bom estado com carimbo de posse.



Victor Nogueira - Lembro-me. E lembro-me que na aula da "Piriquita" consegui que ela reconhecesse a similitude entre o fascismo italiano e o corporativismo português   Creio que o Martins Afonso era tb o autor dos compendios de História do 3º ciclo liceal. Eu gostava da disciplina, aliás o meu 1º contacto com o Direito.



Publicado no Diário de Luanda em 7 de maio de 1974 in https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1480523318632559&set=p.1480523318632559&type=3&theater

Efemérides em 2017.04.17 ou 4 gerações, contando com o fotógrafo


foto victor nogueira - Em Serúbal, 4 gerações contando com o fotógrafo: Emília (m..2013.04.17), Lilí (m.2017.03.17), Francisco (n 2009.04.17), e Susana

domingo, 16 de abril de 2017

breve mensagem



* Victor Nogueira

Que sejam todos os dias de renascimento primaveril, soalheiro, luminoso e florido, sem cruzes, chibatas ou calvários, mas doces e coloridos

Victor Nogueira - 6ª feira Santa


Com uma vida até aí vivida em cidades abertas e onde havia solidariedade como em maior ou menor grau sucedia em Luanda, Lisboa  (da Academia e das Associações de Estudantes) ou Porto (a terra onde haviam nascido e vivido os meus pais e tios e onde viviam os meus avós), évoraburomedieval era uma ilha de pedra e cal parada no tempo, nas mãos dos agrários e dos machos lusitanos ou marialvas, e foi um enorme sufoco, sem esquecer a enorme desilusão do ISESE nas mãos dos Jesuítas, uma escola "velha" e não a "nova" que procurara. Nesse 1º ano ainda não se cimentara o que chamo o "grupo do Café Arcada", que reunia alguns poucos alentejanos e os estranhos "estrangeiros" provenientes de Angola e Moçambique e dos 4 cantos de Portugal para lá do Alentejo, sobretudo da Beira Interior e de Trás-os-Montes. 

Em Luanda a casa dos meus pais sempre foi uma casa de portas abertas e o meu quarto na casa de hóspedes eborense sempre foi uma "cidade sem muros nem ameias", tal como abertos eram os meus colegas alentejanos em Lisboa. Mas Évora, Évora era uma cidade sitiada e temerosa. Para mim todos eram amigos até prova em contrário mas dizia-me a D. Vitória Prates, minha hospedeira, que os alentejanos apenas davam a sua amizade a quem previamente provasse merecê-la. Tirando duas colegas minhas, a Lúcia e a Guida, e mais tarde o Miguel Bacelar e o Aníbal Queiroga, nenhum dos alentejanos com quem convivia alguma vez me convidou para sua casa. Foi apenas nos montes e aldeias do Alentejo que senti o sabor da palavra "amigo", não nas vilas ou cidades.

E desse tempo anterior ao 25 de Abril que falam escritos meus como este texto de 1969..

* Victor Nogueira

6ª feira Santa

Ah! 15 horas!
Sim, foi há uns dois mil anos
Houve um Deus feito homem
- ou um Homem feito deus -
não sei bem.
A memória dos homens é fraca.

Mas, ... não interessa
Há dois mil anos alguém morreu numa cruz
Vejam lá!
Até disse coisas simples
"Que o vosso falar seja sim, sim, não, não"
"Amai-vos uns aos outros!"
"Perdoai as nossas ofensas
"Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido"
Tudo coisas neste género,

Bem, também falou em choro e ranger de dentes
em maus servos,
infiéis,
Lembro-me, bem, lá lembrar não lembro
- ainda não era nascido
pois, lembro-me
NÃO!
Dizem-me que esse alguém disse
para não cortar as ervas daninhas
antes de vir o tempo da ceifa,
não fosse estragar-se a seara.

Foram assim coisas nesse género.
Coisas simples..
Pois só os simples as entendiam.

"Não julgueis para não serdes julgados"
Parece-me ser também de sua autoria.

Não interessa.
Deve ter sofrido muito
-até chorou lágrimas de sangue! -
Vejam lá!
A mesma multidão que lhe cantou hosanas
ululou selváticamente no Calvário
- não confundir com o António.

Não brinco.
Sei quanto pesa a solidão,
a traição dos amigos
o sono dos que dizem acompanhar-nos

Ah! sei! Oh! se sei!
Quão pesados são os risos de escárnio
as galináceas multidões
cacarejando
aos uivos.
E eu não tenho pretensões de morrer
para salvar as meus irmãos
- só dou para alguns.

Dizem que foi há dois mil anos
que os seus frágeis ombros de Homem feito deus
ou Deus feito homem
suportaram o pesado madeiro
feito das nossas lágrimas,
dos nossos desesperos,
das nossas angústias,
das nossas raivas,
das nossas faltas
que não são nossos,
mas do Adão e da Eva.

Morreu sózinho,
abandonado,
numa a cruz
ladeado por dois ladrões
- o bom e o mau,
o Judas e o João
o espírito e a matéria
o homem e a mulher
o lupanar e a igreja
Gabriel e Lúcifer
o bem e o mal ...

Dizem que foi por mim, por nós.

Depois
os homens pegaram na sua solidão
Institucionalizaram-na
(é um termo bonito)
Juntaram-lhe artigos
alíneas,
parágrafos,
ritos
gestos
penumbras,
trindades,
Trentos e Vaticanos.

"Quem não for por mim
é contra mim!"

Organizaram-se cruzadas
Alcácer Quibir
a Inquisição
o Index
os autos de fé
- ah! o fogo purificador -
Vá, em fila
"Arbeit macht frei"
Auschwitz Bergen-Belsen

Está tudo bem escrito
o que deve fazer-se
o que não deve fazer-se
artigo 8º e suas alíneas  [1]
É preciso estudar muito
Direito Natural
Doutrina Social da Igreja
Filosofia
Teologia
Teodiceia
Direito Canónico
Internacional Público

Ética
e muita matemática
cálculo infinitesimal
para extrair a média aritmética
da raiz quadrada disto tudo
(parto sem dor)
e planificar bem. a distribuição dos pecadores
e dos bem aventurados,
para que não haja inflação
para que se equilibrem
as curvas da oferta e da procura.


Hoje não se come carne·
nem se ouve música
deve comungar-se ao menos·
uma vez cada ano
Pela Páscoa da Ressurreição
Domingo
Mete-se a moeda
sai a confissão - perdão - absolvição
despache-se
não vê a multidão
enorme
quedesejalavaraalma?

1969.Abril.04 - Évora



 [1] o artº 8º da Constituição fascista enumerava os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos que logo de seguida negava ou condicionava

sexta-feira, 14 de abril de 2017

THOSE WERE THE DAYS, my friend


foto Victor Nogueira - Sobrevoando Évora em 1974, num voo com o Seruca Salgado
O antigo Palácio da  Inquisição, onde funcionava o ISESE, à sombra da Sé Medieval e das ruínas do Templo Romano, perto da antiga Mouraria


* Victor Nogueira


Este grupo é, na generalidade, um grupo de pessoas silenciosas. Os Administradores ausentaram-se e fora a necrologia que alguns publicam e as minhas tentativas para que ele tenha algum significado, algum partilhar de memórias, algum "Olá, como estás ?", (quase) tudo em feed-back é silênciotem a aridez e a secura dos desertos, da "ilha de pedra e cal, de ruas estreitas e tortuosas, perdida na imensa planura alentejana" de que falo num poema e nas minhas cartas de então,povoado que para alguns de nós évoraburgomedieval sempre foi, temerosamente encerrada em si mesma, na sombra da Sé medieval e do antigo Palácio da Inquisição, o dos autos de fé,cidade nas mãos dos agrários no Giraldo  "cepos sem vida em terça.mercado", o de S. Porco, para lá do grupo de "estrangeiros" ou estranhos  no Café Arcada, a "tavern" de que fala a canção .... ..... ..


THOSE WERE THE DAYS
Once upon a time there was a tavern
Where we used to raise a glass or two
Remember how we laughed away the hours
And dreamed of all the great things we would do
Those were the days my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we choose
We'd fight and never lose
For we were young and sure to have our way.
La la la la...
Then the busy years went rushing by us
We lost our starry notions on the way
If by chance I'd see you in the tavern
We'd smile at one another and we'd say
Those were the days my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes those were the days
La la la la...
Just tonight I stood before the tavern
Nothing seemed the way it used to be
In the glass I saw a strange reflection
Was that lonely woman really me
Those were the days my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes those were the days
La la la la...
Through the door there came familiar laughter
I saw your face and heard you call my name
Oh my friend we're older but no wiser
For in our hearts the dreams are still the same
Those were the days my friend
We thought they'd never end
We'd sing and dance forever and a day
We'd live the life we choose
We'd fight and never lose
Those were the days, oh yes those were the days
La la la la...



"Those Were the Days" foi a primeira música lançada por Mary Hopkin, em 30 de agosto de 1968.[A composição é creditada a Gene Raskin, que fez uma versão em inglês para a canção russa Дорогой длинною "Dorogoi dlinnoyu"), escrita por Boris Fomin (1900-1948) com texto do poeta Konstantin Podrevskii. A música trata da reminescência sobre a juventude e o idealismo romântico. (Wikipeda)


Aqueles Tempos

Compositor: Boris Fomin, Konstantin Podrevskii

Hoje ainda recordo aqueles dias
que eu trazia o céu no coração.
Se era primavera não me lembro
só recordo o amor que nos uniu.

O tempo que passou 
não conseguiu matar
o amor que eu
insisto em recordar
Eu sei que não morreu
o que você e eu
em um sonho bom
deixamos florescer!

Tanto amor perdido no momento
que o meu coração compreendeu
Que o adeus chegou como um lamento
de repente o céu escureceu

O tempo que passou 
não conseguiu matar
o amor que eu
insisto em recordar
Eu sei que não morreu
o que você e eu
em um sonho bom
deixamos florescer!

Hoje, que o inverno está comigo
triste inverno da recordação
Deixo esta saudade no abrigo
que fiz dentro do meu coração.

O tempo que passou 
não conseguiu matar...

http://www.vagalume.com.br/joelma/aqu...