Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNterça-feira, 27 de abril de 2010
Novas de mim e o que mais se verá
“Appertura” – Allegro ma non troppo e Gavissimo
NOTA IMPORTANTE
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domingo, 25 de abril de 2010
Victor Nogueira e o 25 de Abril
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* Victor Nogueira
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Em 25 de Abril de 1974 e outras memórias - texto e fotos de Victor Nogueira
O 25 de Abril - Os Prós e os Contras da Democracia - Victor Nogueira e outros
25 de Abril - Dia da Liberdade - Victor Nogueira e outros
Mortos com os «safanões» ordenados por Salazar e Caetano (1) - Victor Nogueira
No Ao (es)correr da pena e do olhar
Fernando LOPES-GRACA (1906 - 1994) Requiem pelas Vítimas do Fascismo - 1926 a 1974 - 48 anos sem direitos. - Victor Nogueira
Em 25 de Abril de 1974 e outras memórias - texto e fotos de Victor Nogueira
O 25 de Abril - Os Prós e os Contras da Democracia - Victor Nogueira e outros
25 de Abril - Dia da Liberdade - Victor Nogueira e outrosUma sessão cultural em Évora - 1972 - Victor Nogueira
Fotos de Victor Nogueira
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sábado, 24 de abril de 2010
E no entanto ela move-se (Galileu)
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Tu és a clara madrugada
sábado, 17 de abril de 2010
Arte e Poesia em Modus Vivendi
Modus vivendi
"Werde der du bist."
Goethe
COMENTÁRIOS (2)
No 1º aniversário do Francisco
My baby Boy will be 4 years old monday 19~04~2010. God bless u, Ingvar!!!
hoje
Margarida Garcia
" É possível ser jovem sem ter dinheiro, mas não se pode ser velho sem ele." Tennessee Williams
há 1 hora
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Operação" facadas à direita e à esquerda "
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Vitor Correia diz:
10/Abr 11:10
As tuas rápidas melhoras amigo.E um bom final de semana.Um abraço
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Notícias de mim, a quem interessar
quarta-feira, 17 de Março de 2010
Reza, Maria - José Craveirinha
REZA, MARIA (1. versão)
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Suam no trabalho as curvadas bestas
e não são bestas
são homens, Maria!
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Corre-se a pontapés os cães na fome dos ossos
e não são cães
são seres humanos, Maria!
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Feras matam velhos, mulheres e crianças
e não são feras, são homens
e os velhos, as mulheres e as crianças
são os nossos pais
nossas irmãs e nossos filhos, Maria!
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Crias morrem á míngua de pão
vermes na rua estendem a mão a caridade
e nem crias nem vermes são
mas aleijados meninos sem casa, Maria!
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Do ódio e da guerra dos homens
das mães e das filhas violadas
das crianças mortas de anemia
e de todos os que apodrecem nos calabouços
cresce no mundo o girassol da esperança
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Ah! Maria
põe as mãos e reza.
Pelos homens todos
e negros de toda a parte
põe as mãos
e reza, Maria!
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JOSÉ CRAVEIRINHA
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D'ali e D'aqui
Fechadura – Allegro ma non troppo
NOTA IMPORTANTE
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Saudações do.
Victor Nogueira
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segunda-feira, 12 de abril de 2010
Boa semanada ...
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* Victor Nogueira
A VIDA É VARIADO GOSTO E DESGOSTO
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Com boa fala ou coração calado,
A vida é um correr bom ou mau tempo,
Triste, ledo, colorido ou cinzento,
Dos outros próximo ou apartado.
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Com ou sem casa, bem ou mal amado,
Macho, fêmea, trazem seu sentimento
Do mundo ser ou não um bom momento,
No quotidiano com diferente rendilhado.
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É crer nervos crispados suavizar;
Leda ou triste, a dor desta jornada
Em florido peito acalmar, a rir.
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Tal é a vida, sendo o respirar
Do viajeiro, com sua passada,
Tenção p'ro horizonte se atingir.
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Nas suas longas caminhadas João por vezes entrevia uma janela aberta, uma porta mal fechada, uma luz para além da curva da estrada. E o coração de João vestia-se com os melhores fatos e o seu andar tornava-se leve e fresco e as palavras eram um rio a cantar. Mas era tudo uma ilusão, porque a imaginação dos homens não tem limites e os gestos e as palavras ora são límpidos como cristal translúcido, ora um cristal multifacetado, ora um espelho baço de mil imagens e sons, mesmo se adornado com as cores do arco íris.
E João procurava Aquela Cujo Nome Se Não Desvenda, volúvel como o vento, contrastante como o dia é da noite sem luar, e perante o seu silêncio e as suas fugas em redondel, ficava João sem norte como navio no mar alto em dia de tempestade, como frágil pardal de asas cortadas sem nada de águia altaneira, como cana agitada pela mais leve brisa sem a solidez do roble centenário. Estados de alma que se não perdoam a guerreiros vestidos com suas armaduras que nunca devem despir, mesmo se cansados da guerra, mesmo quando perdidos ou cavalgando no meio das quentes areias do deserto (porque os cavaleiros não andam pelos gelados desertos polares).
E João procurava de novo pôr a máscara, erguer as muralhas, tapar as fendas e os interstícios nela abertos por onde entravam em golfadas crescentes a fragilidade, o desamparo e a tristeza que afogam o coração mesmo dos mais fortes se não mudarem de rumo em busca de portos e marés onde os dias sejam tudo menos uma noite cinzenta, fria, triste e sem esperança.
Foto Victor Nogueira
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segunda-feira, 5 de abril de 2010
Victor Nogueira - Um dois, três textos em tempo de Páscoa
Para - 'Clube sem estrelas'
Cc - 'Sinal.de.vida.vicnog'
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Abertura – Allegro ma non troppo
NOTA IMPORTANTE
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Victor Nogueira
1 - Carta aberta em tempo de Páscoa
Assunto: | Carta aberta em tempo de Páscoa |
Data: | 3/Abr 13:59 |
Caríssimo Eu fui trabalhador da Administração Pública e tu ainda és ! . Que eu saiba, fazes parte dum serviço indispensável às populações. Como o pessoal da Saúde, do Ensino, da Segurança Social, da Justiça. Farto estou de «modelares» empresas privadas que nada valem, a começar pela Banca e pelos grandes accionistas e seus capatazes, ou que controlam o processo produtivo a montante e a jusante. Como as grandes superfícies comerciais, que nada produzem! . A tua juventude não desculpa a irreflexão deste mail. . Negar aos trabalhadores o direito de se manifestarem por melhores condições de vida e de trabalho ou defender um serviço público de qualidade, só é reaccionário para o patronato. E a cantilena do «pénis rasca» não passa disso! Se todos fossem empresários não haveria trabalhadores e se todos fossem serventes de pedreiro ou mulheres a dias não haveria empreiteiros nem patrões ou patroas! . Estou-me borrifando que os ricos não paguem mais para usufruírem do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da Segurança Social, da Justiça … O que exijo é que esses sejam de qualidade, públicos, gratuitos e universais. E que as empresas e os ricos não fujam ao fisco e as empresas não esmifrem os trabalhadores sugando-lhes o tutano, sem pagarem impostos, salários justos, estabilidade de emprego, direito a terem vida social para além da empresa e descontarem para a segurança social. . As pensões de reforma não são uma esmola, são um direito ! . O que os sucessivos governos PS/PSD/CDS fizeram desde 1976 foi destruir o sector produtivo, colocando o país na completa dependência do exterior, impedindo quaisquer veleidades dum governo de esquerda! Fecham a torneira e acaba a «reforma». Enchem-nos os ouvidos com o deficit, mas não falam do crescente deficit da balança comercial ! . Um abraço Victor Nogueira . Obviamente que não repasso o teu mail nem me parece que distribuas este :-) Basta-me reflectires . |
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2. - Goios - a Páscoa numa aldeia minhota (1974)
Na casa de Goios - Na janela eu e o meu tio Zé Barroso
(foto de família)
(...) São 16 horas e o meu avô já me chamou ali do lado para me pedir um favor, muito de mansinho: que me ajoelhe e beije os pés da imagem. Se o não fizesse seria um escândalo, que as pessoas reparam em tudo: "Então ele é um ateu ?!" Quem diria, o sobrinho-neto do senhor D. António [de Sousa] Barroso", [que foi] Bispo do Porto (e esteve em S. Salvador do Congo, em Angola) ! Enfim ...
Na varanda coberta e fechada e comprida para onde dão os quartos de dormir a família aguarda o compasso. O primo Adelino tem o gravador aos berros, transmitindo música de ranchos folclóricos. É uma música mexida e movimentada, própria para bailar. Gosto muito mais da música alentejana.
Ali do guarda-fatos e das arcas retirou-se já a roupa domingueira. Estão todos enfiados nas fatiotas, colete, camisa de ver-a-Deus e gravata. Das arcas retiraram-se as cortinas, agora colocadas nas janelas, o soalho lavado, na casa velha cujo solo treme com o peso dos passos. Olho pela janela e a minha vista alcança os campos verdejantes, no meio da pequena e densa mata arborizada. O meu primo, dono da casa, sai descalço do quarto, sapatos e calçadeira na mão. O avô Barroso fala com o António e o resto da malta fala alto atrás de mim, enquanto o tio Zé [Barroso] está ali embrenhado na leitura dum "Précis de Statistique", dizendo‑me que ainda não percebe para que serve a Estatística.
Estralejam foguetes neste entardecer frio, cinzento e nublado. O compasso já está ali a dois passos: Vim agora da ponte que atravessa além o riacho, ao cimo da estrada, junto à pequena escola abandonada e arruinada onde o meu avô estudou.
Trouxeram o televisor lá de baixo da cozinha, onde estivemos no Natal, Estão a transmitir uma tourada do Campo Pequeno [em Lisboa] e toda a gente está entusiasmada, esquecida de meditar na Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, nesta casa onde há imagens e estampas devotas nas paredes da sala de estar, para além das fotografias do já falecido "Senhor D. António "e do seu secretário e sobrinho, também padre mas que não chegou a bispo.
A dona da casa, minha prima, pede‑me que avise quando o compasso se aproximar. Pego em mim e venho até aqui à janela, assim transformada em posto de vigia. No peitoril continuo o relato dos acontecimentos.
A malta ali na sala e na varanda está entusiasma: "Aquilo é que foi uma pega!".
A estrada está atapetada de flores, melhor, de pétalas.
Reparo que sou o único barbado das redondezas. Tenho desculpa (terei ?) porque sou da cidade.
A televisão pode mais que o Nosso Senhor!
O compasso veio, as pessoas foram para a sala de entrada. Toca a sineta, que um miúdo traz adiante; uma cruz florida transportada por um homem de opa vermelha é dada a beijar às pessoas - que não se ajoelham - e o jovem seminarista aperta a mão aos presentes, desejando Boas Festas. Segue‑se uma "orgia" de apertos de mão e votos de boas festas. Alguns velhotes detêm‑se a falar com a sra.Elvira, criada do avô Barroso. Este está muito sorridente, apresenta a filha "que é professora em Luanda" e o neto. Não posso deixar de sorrir‑me e enternecer‑me com o ar jovial do avô, enquanto cumprimento "gravemente" as pessoas.
É para aí o 5º compasso em 8 anos e alguns destes homens são "habitués" nestas andanças (Sempre se come e bebe à custa dos outros). Mas ainda o compasso não abandonou a casa e já os meus primos e alguns amigos se precipitam para o televisor, "onde" um forcado é retirado de maca do redondel.
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São 18:20 e ainda estralejam foguetes. O pessoal continua a assistir à tourada. A prima Clementina - mãe das que vimos a conduzir um carro de bois - tem um linguarejar (pronúncia) muito catita. Ali na outra casa [do primo Manuel] só se fala de terras e riqueza! Safa! Fazem parte da "elite" cá do sítio. Mas enquanto que os filhos do José são folgazões e desinibidos, mais que o pai, os do Manuel são muito acanhados.([1])
A senhora Elvira foi visitar uma amiga e ainda não voltou. A tourada já terminou e agora transmite‑se um programa de ginástica. (MCG - 1974.04.16)
[1] - Em 1975, com a morte do meu avô Barroso e com o meu casamento com a Celeste, perdi o contacto com os primos de Barcelos (Goios e Pedra Furada). Em 1989, sediados no Mindelo no Verão, fui com a minha mãe, o Rui, a Susana e a Joana Princesa a Goios, para (re)vermos os primos. Mas uns tinham morrido, os mais sociáveis, e os outros nem apareceram, deixando-nos a secar na estrada. Como na altura me não lembrava do nome dos da Pedra Furada, não fomos a esta aldeia, onde regressei mais tarde, com a Fáfá das Caldas, mas apenas numa das nossas múltiplas deambulações turísticas por Portugal de lés a lés, amiga, navegadora, auxiliar de fotógrafo e scipt-girl dum Livro de Viagens inacabado do qual restam milhares de fotos e o borrão duma «peregrinação» em livro inacabado, casa vez mais perdido nas brumas do tempo e da memória.
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