Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

domingo, 12 de outubro de 2025

PALAVRAS DE ONTEM PARA TODOS OS DIAS

 * Victor Nogueira

 

                        Ser amigo é colorido presente
                        Ao darmos nossa mão, sem maldade,
                        Mantendo a vera luminosidade
                        Do silêncio ou do verbo assente.

                        Na tarde calma, serena, luzente,
                        Ou de noite, dia sem claridade,
                        É uma dádiva, felicidade,
                        Esta da vigília ser não dormente.

                        Amigos têm vária feição:
                        Dão-nos sua tristeza ou alegria,
                        Compartilhando bons e maus momentos.

                        Velho, novo, mulher, homem, bem são;
                        Na estrada e no dia-a-dia
                        Nem sempre atentos, prontos, nos tormentos.
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1989.09.03 (3)
[1989.12.22]
Setúbal

                               Ser amigo ou amante

                                                         Terra construída
                                                                            feita                   de
                                                          portas que se não fecham
                                                          janelas que se abrem
                                                                          rasgadas ao sol
                                                                          á   chuva
                                                          ou nas noites do lobisomem
                                                                       plenilúnio da sereia
                                                                       a sombra refrescante
                                                                       brisa     no campo sem       fronteiras

                                Presente
                               a presença
                                                          atenta
                                                         necessária
                                                         livre
                               resguardada
                               sem muros nem barreiras


Abril de 1995

Rien que la verité



Eu sou eu
tu és tu
ele é ele
ela é ela
tudo o resto é ilusão e/ou
ingénua boa vontade




Victor Manuel



Que é a verdade?




1971.JAN.26
Évora




Neste jogo de palavras
e de gestos comedidos
Aqui
neste canto da cidade
preso à roda do leme
em sonhos
que sonho em ti
busco o passado que não fui
no futuro que não serei


suspenso do teu andar


Arde-me o sangue nas veias
neste fogo vento suão
murmúrio do teu sorriso
verde brisa na planura
fresca do teu olhar



Setúbal 1985.07.23


No beiral da minha porta
Veloz mal vieste a poisar
E debicando na horta
Tu partiste sem cuidar.

 1992.03
SETUBAL

CANÇAO DE RODA


Uma semente
Dentro da semente
Uma seara
Para lá da seara
Uma barca


Uma rapariga
Para lá da rapariga
Uma floresta
Em torno da floresta
O sol e o mar


Um homem
Dentro do homem
Uma criança
Para lá da criança
uma aguia


Uma leoa
Dentro da leoa
Uma águia
Para lá da águia
Uma sereia ao luar de Agosto


Uma semente
Para lá da semente
Uma rapariga
Em torno da rapariga
O sol e o mar


Um homem
Dentro do homem
Uma leoa
Para lá da leoa
Uma barca aparelhada


19.11·94
SETUBAL


CALENDÁRIO



Uma cidade
No meio da cidade
Uma rua
No cimo da rua
Uma casa
Dentro da casa
Uma flor
Em torno da flor
Um jardim
Perfeito um amor
girassol
malmequer
muito
pouco
nada
Uma pétala
No meio da pétala
Um sorriso
Em torno do sorriso
Uma lágrima
Dentro da lágrima
Uma saudade
água e
cloreto de sódio
Uma palavra
No meio da palavra
Uma luz
Para lá da luz
Uma sombra
No meio da sombra
Um deserto
Uma cisterna de pedra e
areia
Muitas palavras
No meio das palavras
Uma alvorada alvoreada na planície

Para lá da planície uma árvore
Em torno da árvore
Uma rosa verde papoila.

1989.Novembro.03 - Setúbal

Dizem que os livros são os nossos melhores e maiores amigos.
Mas os livros não se sentam á nossa beira,
nem tem olhos, nem sorriem
nem nos abraçam,
nem connosco passeiam pela rua, pelo campo.
Nada podemos dar aos livros
senão as letras dos nossos pensamento ou
um pouco de nós
 para que chegue aos outros.

Os livros têm os olhos que nós temos.
E os seus lábios são os nossos lábios.
Porque se os livros tivessem olhos
e lábios e mãos e dedos
seriam talvez pessoas
mas nunca livros.

Évora
1969.Março.19


SEM A VENTURA

Tu foste a esperança
em que mergulharam meus dias sequiosos
Esperança feita de pequenos nadas
Um sorriso
Uma palavra amiga
Um gesto de alegria!
Mil pássaros nasceram nos teus lábios!
Mas hoje
hoje
escuto nas tuas mãos
o silêncio dos campos destruídos
enquanto um navio sulca
lento
um deserto de flores esmaecidas!

1988.01.04
Setúbal


Sorriste e
na tua voz
os pássaros vieram de longe
pensando que era madrugada!

1992.03.10
Setúbal


Rio canto e choro
    e todos os dias respiro o ar que me rodeia
    com a limitação dos grandes sonhos
    imaginações feitas de nada
    Sustenho os gestos e as palavras
    ou deixo que elas nasçam
    rodeados de mil cautelas
    sem o desassombro da aventura e do risco plenos
    Resguardo os gestos e
    lanço as palavras ao vento
    para que um novo dia surja
    no horizonte
    mas na orla das ondas vem a ressaca
    de estar aqui
    de olhos secos
    silencioso
    como a esfinge no deserto
    Rasgo o peito e as palavras
    e nem uma gota de sangue cai
    dentro de mim
    Abro o riso e as mãos
    as aves passam de longe e
    os rios correm
    silenciosamente para o mar
    As vozes dos marinheiros passam no horizonte
    enquanto sonho e luto e te procuro
    mergulhado na multidão que está e permanece
    para além de mim
    .
    .
    FIM 1989


 

7. E João Bimbelo caminhava pelos caminhos da vida em busca de coisa nenhuma. Pensava nela por vezes com uma grande ternura e acordava no silêncio da madrugada com um desejo sufocante do ouvir o seu sorriso, ver a sua voz, sentir a carícia do seu corpo de mulher apetecida. Mas os seus dedos e os seus lábios não a encontravam e a madrugada era um poço sem fundo e o tempo cada vez mais curto. .

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Nas suas longas caminhadas João por vezes entrevia uma janela aberta, uma porta mal fechada, uma luz para além da curva da estrada. E o coração de João vestia-se com os melhores fatos e o seu andar tornava-se leve e fresco e as palavras eram um rio a cantar. Mas era tudo uma ilusão, porque a imaginação dos homens não tem limites e os gestos e as palavras ora são límpidos como cristal translúcido, ora um cristal multifacetado, ora um espelho baço de mil imagens e sons, mesmo se adornado com as cores do arco íris.

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E João procurava Aquela Cujo Nome Se Não Desvenda, volúvel como o vento, contrastante como o dia é da noite sem luar, e perante o seu silêncio e as suas fugas em redondel, ficava João sem norte como navio no mar alto em dia de tempestade, como frágil pardal de asas cortadas sem nada de águia altaneira, como cana agitada pela mais leve brisa sem a solidez do roble centenário. Estados de alma que se não perdoam a guerreiros vestidos com suas armaduras que nunca devem despir, mesmo se cansados da guerra, mesmo quando perdidos ou cavalgando no meio das quentes areias do deserto (porque os cavaleiros não andam pelos gelados desertos polares).

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E João procurava de novo pôr a máscara, erguer as muralhas, tapar as fendas e os interstícios nela abertos por onde entravam em golfadas crescentes a fragilidade, o desamparo e a tristeza que afogam o coração mesmo dos mais fortes se não mudarem de rumo em busca de portos e marés onde os dias sejam tudo menos uma noite cinzenta, fria, triste e sem esperança.

 

E DE REPENTE É COMO SE TODAS AS ESTRELAS SE APAGASSEM

 

     De repente é como se todas as estrelas se apagassem ficando o cansaço e a velha vontade, por vezes renascida, de partir para longe, de apagar tudo, como se fosse possível recomeçar tudo de novo, rasgando o que escrevera, lixo para lançar aos quatro ventos, porque não ria, nem chorava, nem tinha uma pedra no lugar do sentir pelo qual se deixara envolver.

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         Estava assim porque o tinha considerado seu igual e confiara nele e com ele procurara falar sem reservas. Parecia contudo evidente que ele jogava à  defesa e que as palavras seriam para ele fogo de artificio e manobra de diversão por detrás das quais se escondia e protegia. Assim o julgava, apesar de poder considerar-se má leitora dos factos e dos gestos, como outrora o fora de outras pessoas, nuns casos porque se ficara pelas palavras, noutros, como no presente, por ter procurado "ler” para além delas.

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    Talvez a considerassem presumida porque em determinada altura do seu  relacionamento não acreditara em tudo o que ele lhe dizia, relativamente a ela  própria e aos sentimentos que afirmava nutrir por ela: seria uma presunção diferente da que ele tinha, porque ela perante ele se descobrira, talvez cedo e desajeitadamente demais, talvez porque tivesse lido nele aquilo que desejara ler. E assim, conhecendo-lhe os sentimentos dela, seria levado a pensar que lhe bastaria dizer quem era para que ela largasse o trabalho ou interrompesse a reunião para atendê-lo ao telefone, fosse do emprego, fosse da casa onde morava.   Era simultaneamente verdade e mentira afirmar que pouco ou nada lhe  interessava saber se ele estivera, estava ou algum dia poderia vir a estar "enamorado” por ela. Era de presumir que fosse adulto, crescido, responsável; então porque não haveria de acreditar no que ele lhe dizia e deixar-se de "poesias" e de imaginações!?

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     Recordava-o por vezes com uma grande ternura mesclada de inquietação e  desassossego. Lembrava-se das primeiras vezes em que o vira, quando procurava  conhecê-lo, e de como se encantara por ele. Recordava-se das vezes em que pretendera envolvê-lo numa longa e doce caricia ou o desejara como um homem pode ser desejado por uma mulher. Como esquecer a rede em que se deixara enlear, que ele muitas vezes parecera também tecer e outras rompera? Recordava o seu jeito gaiato, sorridente e brincalhão, sem esquecer os desencontros e as vezes em que ele disparatara ou faltara sem dizer água vai, apesar da importância que ela, parvamente, dera à sua presença e companhia.

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     Ele dizia-se amante da liberdade e no entanto não poucas vezes desrespeitara a dela, deixando-a a falar sozinha, com a refeição fria ou o fim de semana “estragado". Ele dissera preocupar-se com o efeito que os seus actos e as suas palavras poderiam provocar nos outros, por recear e não querer magoá‑los, mas não poucas vezes a magoara, sem que ela soubesse verdadeiramente distinguir quando falava a sério ou na brincadeira ou se estava apenas desatento por feitio ou preocupação. Não podia esquecer-se das vezes em que ele lhe entrara pela casa dentro, enchendo o ar de poalha dourada e refrescante, libertando a sua fragilidade, como ave inquieta na brisa que ela era.

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    Recordava-se disso e de muitas coisas e palavras, que gostaria tivessem (o)corrido ou acontecido de outro modo. E lembrava-se de algumas cartas, poucas, duas ou três, que lhe escrevera, arrumadas no fundo duma qualquer gaveta, porque resolvera deixar sedimentar as palavras, que deste modo, com o decorrer do tempo, haviam perdido o sentido e a oportunidade. Pensava ser natural que os homens e as mulheres procurassem uns nos outros amizade, ternura e carinho, considerava natural que os homens e as mulheres se sentissem mutuamente atraídos por serem de sexos diferentes ou que, se fosse caso disso, pudessem ir para a cama um com o outro, dum modo saudável, sem táximetro e tabela de preços consoante o serviço.

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    Mas nem sempre acontecia o que deveria ser natural, não poucas vezes porque muitas e variadas razões levam a renegar, condicionar, proibir e "regulamentar" a sexualidade e as suas manifestações duma forma que nada tinha a ver com a expressão saudável da vida.

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      E fora como uma expressão de vida e um cântico de alegria que ela o considerara, de forma aberta. No entanto e talvez demasiado cedo partira, quando em vão por ele esperara, para logo de seguida considerar o amor um bem que suaviza, quando alguém afaga a nossa vida, o que lhe dissera inopinadamente. 

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      Há na vida um tempo e uma ocasião para tudo e para cada coisa, segundo expressava um belo poema judaico, e por isso talvez as palavras e os sentimentos dela tivessem sido expressos demasiado cedo.

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      Entendia ser natural que o desejasse como natural seria que outros homens a desejassem, mas não ele, que até era um homem que sabia "provocar" as mulheres, que a "provocara" não poucas vezes, embora dum modo que na altura lhe parecera "natural", sem maldade.

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       Contudo, o passar dos dias e os "desentendimentos” pelo que talvez fosse ou tivesse sido por ambos desejado fazia com que ela pensasse já não ser natural que ele "provocasse" e amesquinhasse (consciente e deliberadamente ou não) quem "provocara" (por ela não o entender), apenas porque teria tido com a mulher com quem vivera experiências, isto é, vivências, humilhantes ou perversas, gerando situações que ambos não haviam conseguido ultrapassar (supondo que ele desejaria ultrapassá-las), por preconceito ou falta de simplicidade ou por utilizarem gestos e códigos diferentes. Situações que não haviam logrado superar em busca da amizade, do amor, da ternura, do prazer, da paz ...

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         É um facto que fora por ele seduzida e que, ao considerá-lo seu igual, procurara sobretudo a sua amizade. Mas tendo ambos códigos e chaves de leitura diferentes, só veramente poderiam saber quem eram através da convivência, para descobrir o que estava para lá das categorias redutoras que (des)ajudavam ao entendimento das pessoas. Porque ele falava nas mulheres dum modo simplista, cómodo, mas irreal (são todas iguais, logo são todas tratadas da mesma maneira); outros falariam nos homens (são todos iguais, andam todos ao mesmo, logo devem ser todos tratados da mesma maneira).

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    E no entanto, por temperamento, vivência e "leitura", ela sabia que há  homens e mulheres, com características comuns, é certo, mas que para além disso cada pessoa tem as suas características próprias, especificas, da sua cultura e  classe social; para lá das "cómodas” categorias e definições redutoras ela procurava o que existe de próprio, de pessoal, fosse no Zacarias ou na Carlota, fosse na Maria ou no Manel, independentemente de se não empenhar em "convencer”  as pessoas, o que por vezes em nada facilitava a sua relação com outrem.

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     Falava com as gentes, é certo, mas não como apóstolo; buscava aquelas com as quais se identificava, afastava-se das que nada tinham em comum com ela naquilo que reputava essencial, aceitava e tolerava as outras.

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      Sendo assim, é natural que tenha pensado e lhe tenha dito "gosto deste  homem, gosto dos filhos dele, postaria de com ele viver e compartilhar o dia-a-dia". É natural que ele lhe respondesse ter outros objectivos prioritários na vida e que ela estava à margem deles, apesar dela o considerar seu igual e procurar respeitar a sua liberdade. Admitia contudo que algumas vezes os seus gestos e atitudes para com ele pudessem parecer desmenti-la, apesar de serem também condicionados pelos gestos e atitudes dele. Admitia pois que ele quisesse provar que sozinho poderia triunfar, sem a solidariedade dos outros, e que ela o desejava "controlar", a ele que estava farto de prisões, pressões e bofetões; por isso talvez tivesse sido erradamente levado a pensar para consigo mesmo que o paleio é sempre igual e que no princípio são tudo rosas e arco-íris, para lá dos quais surgem os espinhos e as tempestades e os ventos ciclónicos.

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    Tudo bem, continuaria ela a pensar, ninguém a mandara ser apressada, sem  dar tempo ao tempo, embora depois os erros se possam a vir a pagar raro, face à brevidade da vida e à impaciência dos mortais. É natural que os sonhos" não sejam os mesmos para todos, é "natural" que para algumas pessoas fique a nostalgia dos sonhos que se sonharam mas não viveram ou falharam. Afinal os sonhos nem sempre são pesadelos e por isso podem também  ser a expressão dos anseios com vista à concretização, talvez por vezes dum modo errado e desajustado, dos desejos de uma vida diferente, melhor, mais cheia e saborosa.

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    Como a que ela pensara encontrar nele e retribuir-lhe!

 

Setúbal 1990.03.19/20          

 

(Victor Nogueira, sobre uma epístola de S. Sebastião aos gentios, em 4 de Outubro de 1989, a D.)

 

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segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Pingos do Mindelo - visões dos trabalhos agrícolas

 * Victor Nogueira

Nas campos que daqui avisto para lá da janela, num ápice o milheiral desapareeu, com a colheita e debulha mecânicas. Resolvi pois "instruir" o chatGPT para gerar imagens da colheita do milho, em várias épocas e diversos estilos. Eis o resultado:


Naïf


Magritte


Courbet


Livro de horas (iluminura)


José Malhoa, gótico


Vitral gótico


(Genérica)


Edward Hopper


José Malhoa

 



quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Pingos do Milndelo, às gotas

 * Victor Nogueira

Esteve o dia quente, mas a nortada ao fim da tarde tornou desagradável estar no quintalejo. Anoiteceu, de breu está o céu para lá da janela, enquanto vou ouvindo música portuguesa, no You Tube. Uma das prateleitas de cd's ali no corredor é dedicada à m´sica clássica, ordenados por ordem alfabética do compositor. Hoje já vou em Antonín Dvořák  . Nos últimos dias coube a vez a Chopin. A música soava-me le, saltitante, cristalina, como águas dum riacho saltitando de pedrinha em pedrinha. Interrogava-me, mas que estranho violino é este, que não consigo identificar. Até que se me fez luz: o Chopin compnha para piabo, era um dos compositores favoritos da minha mãe. A idade já me vai colocando armadilhas, como por vezes esquecer-me do nome das coisas ou dos objectos. 

Há muito que desejava comer diospiros mas nos minimerados do Mindelo não os tenho encontrado e não tenho procurado por eles quando encomendo os víveres on line, para entrega ao domicílio. Mas hoje tive uma agradável surpresa; a vizinha Guiomar ofertou-me meia dúzia deles, um aboros pitéu.

Começo a ficarx farto de recorrer ao ChatPT para gerar imagens, agora para os "12 trabalhos de Herr Venturra, o Homem-Orquestra". Aquilo funciona para duas ouk três ilustrações, não para uma dúxia ou mais, sujeitas a correcções, ocupando tempo com esgotamento da paciência. 




Estes são as ilmagens de ontem. Hoje pedi outras, a partir de prompts anteriormente gerados pelo chatGPT, prescindindo de ajustamentos prévios meus, antes da imagem final. Tal como ontem este recusou-se a gerar ma das imagens, pelos mesmos motivos já atrás por mim referidos, sendo as restantes as que s segem, que correspondem ao que tinha em mente. 





Quebrando o silêncio, os aviões troam nos ares, embora o aeroporto se situe a cerca de 12 km a sul e les aqui passem muito lá no alto, quer nas aterragens, quer nas decolagens. Para este últimp rermo recorri ao prestimoso Dr. Google. Perguntei-lhe: «Aterragem é o avião descer até ao solo. E numa palavra só, como se chama o ele levantar voo?»

Solícito, ele esclareceu-ne: «AI Overview -  O ato de um avião levantar voo chama-se decolagem. 

Aterragem: é o ato de pousar um avião no solo. Decolagem: é o ato de um avião sair do solo para iniciar o voo. »

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Pingos do Mindelo, salteados

* Victor Nogueira

* Victor Nogueira

Escureceu e lá fora é uma noite de breu, cujo silêncio é apenas quebrado pelo troar abafado e longinquo das aeronaves e pelo rodar das rodas dos automóveis no empedrado da rua. Com as janelas ainda descerradas, na vidraça defronte de mim refecte-se imprecisamente a sala e, lá longe, tremulizam lâmpadas.

A meio da tarde a minha pituitária acusou um leve odor a água choca. Assomo a uma das janelas e numa das leiras um tractor rebova uma cisterna, adubando o campo para as futuras plantações de milho. Lá vai o mosquedo  empaturrar-se! Mas o trabalho incidiu apenas numa as leiras, pelo que haverá "perfme"  em próximos dias

As couves galegas têm sofrido um grande desbaste. Não as tenho utilizado nas minhas culinarices. A vizinha Amélia diz-me que são demasiado duras para caldo verde, pelo que as tem desbastado para alimento da criação no seu quintal. Fora estas as espécies hortícolas que medram "tímidamente" são a salsa e os espinafres, que já T~em servido paea cozinhar sopa, seja ou não em caldo verde.

Depos das "Sete vidas por um título" preparava-me para outra coprodução com o chatGPT: "Os 12 trabalhos de Herr Venturra", a partir do seguinte guião:

Ai, credo, Jesus, Maria Santíssima| Valha-nos a Santinha da Ladeira. Um dos querubins, com ar seráfico, queixa-se das ameaças dum ferrabrás. E o Venturra, o líder da bancada dos querubins, fica-se sem arregaçar as mangas, rasgando as vestes e gritando "Vergonha! Vergonha! Vergonha! Três vezes sem vergonha, ameaçando uma inocente criancinha!" "Ainda se mandasse amorosos beijos. Mas não, é com porrada que nos ameaça!".





Quatro das propostas do chatGPT para a cena 1

Para ilustrar o meu guião, apenas com 12 cenas, o chatGPT  foi-me fazendo propostas até que parei em três blocos de doze cada um. 

Bloco A – Versões Estilísticas (1–12) - 
1 – Cartoon Clássico   2 – Barroco Satírico . 3  - Tira de Quadrinhos.  4.- Xilogravura Humorística  5 – Caricatura Moderna   6– Minimalista Surrealista   7 – Expressionista Dramático  8 – Mangá Cómico   9 – Gravura Medieval   10  - Futurista Minimalista   11  - Caricatura Política  12 – Surreal Grotesco

Bloco B – Variações da Cena Base (13–24)

Bloco C – Cenas Criativas (25–36)

A partir daí foi um entalanço, porque o "programador" deve ter "ordenado" que para uso gratuito era um alambazamento, Lá consegui tornear o bloqueio, ainda consegui a cena 4, mas quando voltei à  cena 2, pimba, Eu havia dado completa liberdade criativa ao ChatGPT. Para a cena 2 do 1º bloçco ele havia sugerido:

Descrição detalhada para ilustração (estilo barroco exagerado):

  • Estilo geral: Barroco exagerado, cheio de ornamentos, detalhes dourados, curvas dramáticas e efeito teatral intenso, iluminação dramática com claros-escuros fortes (chiaroscuro).

  • Personagens:

    • Querubim: Figura de altar clássico, expressão de pânico, olhos arregalados, mãos levantadas como se pedisse socorro.

    • Venturra: Pregador inflamado, postura dramática, rasga as vestes no gesto, boca aberta gritando “Vergonha! Vergonha! Vergonha!”, cabelos esvoaçantes.

    • Ferrabrás: Musculoso, parcialmente nas sombras, expressão ameaçadora, com músculos tensionados, postura dominante.

    • Diabrete/putto travesso: Pequeno e travesso, espalha corações dourados pelo ar, expressão maliciosa.

  • Fundo: Ornamentos barrocos complexos, colunas torcidas, anjos esculpidos e em relevo, detalhes dourados e mármore, iluminação dramática com foco nos personagens centrais.

  • Atmosfera: Intensamente teatral e exagerada, sensação de movimento contínuo, emoções extremas, cores ricas e profundas, luz dourada incidindo sobre os personagens principais, sombras dramáticas nas bordas.


Surpreendentemente o ChatGPT informou-me que não daria seguimento porque a ser assim "ofenderia" / "violaria" os "padrões da comnidade", seja lá o que isso for! Mais concretamente "This image generation request did not follow our content policy."

Vai daí  interpelei o chat que me disse:

«Ah, agora faz sentido. O prompt que você compartilhou provavelmente está sendo sinalizado pelos filtros de conteúdo não por estilo artístico ou descrição barroca, mas por causa de alguns elementos que os sistemas de moderação podem interpretar como violência, ameaça ou sexualização de menores, mesmo que a intenção seja puramente artística ou histórica. Vamos analisar:

[...]

💡 Resumo:
O prompt não é ofensivo no sentido humano, mas contém palavras-chave e combinações de temas (crianças/angelical + perigo/malícia/sexualidade/violência) que acionam filtros de segurança.

Se você quiser manter o estilo barroco exagerado, pode:

  • Trocar termos como pânico, socorro, malicioso por algo mais neutro (ex.: surpreso, espantado, travesso mas inocente).

  • Evitar descrever nudez ou músculos de forma sexualizada ou ameaçadora em figuras infantis.

  • Focar em drama, luz, cores e movimentos sem ligar crianças/anjos a perigo ou malícia sexualizada.

Se quiser, posso reescrever seu prompt totalmente seguro para geração de imagens mantendo todo o estilo barroco exagerado e a teatralidade. Quer que eu faça isso?


Dito por mim

Mas este prompt foi escrito por ti
Dito pelo ChatGPT:

Ah! Isso explica a confusão 😅. Sim, olhando de perto, o prompt que você me mostrou parece ter sido escrito em uma sessão anterior — provavelmente eu mesmo ajudei a criar aquela descrição barroca exagerada.

O detalhe é que quando geradores de imagem analisam o texto, eles não “sabem” que a intenção é histórica ou artística. Eles só leem palavras-chave como:

  • pânico, socorro, malicioso, parcialmente nas sombras, ameaçador

  • Figuras angelicais ou crianças em situações de perigo ou travessura com conotação sexual

E isso aciona automaticamente os filtros de conteúdo, mesmo que você esteja descrevendo uma pintura barroca exagerada e totalmente simbólica.

Então, mesmo que o prompt seja meu, a moderação de imagens não faz julgamento artístico, apenas técnico — e é por isso que ele é sinalizado.

Se você quiser, posso reescrever o mesmo prompt mantendo todo o estilo barroco exagerado e dramático, mas de uma forma que não acione os filtros. Quer que eu faça isso?



Claro que isto é conversa da treta, pois no prompt não se encontram as palavras "suspeitas" ou "proibidas". Por outro lado o  chatPT já "desenhara" cenas em que surgiam querubins com rostos infantis, diabretes vermelhos e ferrabrazes seminus e ameaçando pancada. Enfim ...



Cai o pano!