Teatro e Ópera
No dia 5 [Junho 1963] vi na TV a peça de teatro "Os Anjos estão Connosco", de T.Morris. Gostei bastante. Após uma luta entre Lúcifer e Miguel, este consegue que os homens embrutecidos e sem fé, neste século de máquinas, a reencontrem. É o ressurgimento da igreja de Cristo, que há de prevalecer sempre das trevas. (Diário III)
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Vi ontem pela primeira vez esse programa novo da RTP que tantos rios de tinta e palavras tem feito correr. "Ver o Zip Zip" tornou se a expressão característica do princípio da semana. Bem, nada de especial achei na sessão de ontem, nada que justifique tanto entusiasmo (até o Mário Castrim - () - gasta os seus tão avaramente guardados adjectivos elogiosos). Dizem me os "fiéis" cá da casa que de facto o de ontem não foi o melhor. E eu fico com pena de não ter visto o da semana passada, com o discurso do [Raúl] Solnado ao seu povo Zip-Zipzeano, mais o O'Neil e a menina Elsinha ou lá como se chama. Bem, o de ontem teve alguns momentos bonzinhos: o das interpretações do Quarteto Musica Novarum, com um sabor de outras épocas, repousante, as do Gino Becchi e a do vendedor de banha da cobra, igual a tantos que encontrei por essas ruas de Lisboa e do Porto! Não gostaria de estar na pele do Espadinha. O Solnado entalou o bem; vamos ver para que lhe dá a genialidade. (MLF - 1969.06.17)
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Vi em Lisboa uma peça no Teatro Vasco Santana, "Lar", de um dramaturgo cujo nome não me ocorre. Gostei dela , apesar de haver momentos em que se apoderou de mim um estado de tensão explosiva. Cinco pessoas que se encontram num jardim, que falam umas com as outras, que fingem dialogar mas a sua conversação é convencional, inautentica, pois elas estão demasiado isoladas para poderem ouvir realmente os outros, para sintonizarem no mesmo comprimento de onda. (NID - 1971.01.04)
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Ontem fui pela 1ª vez ao teatro de revista, ver "Pides na Grelha", ali num barracão do Martim Moniz. [Teatro Ádoque] Para começar achei carote para espectáculo popular: 100 "palhaços". As piadas eram essencialmente políticas - algumas com piada, outras baseadas em trocadilhos. As miúdas, algumas, eram giras, mas os biquinis nada tinham de ousado. Mesmo nas duas cenas mais ousadas a ousadia centrava se em seios à mostra: a democracia a tomar banho - um quadro piroso - e a estátua da liberdade, que acaba coberta para não sofrer a influência das correntes de ar. O Spínola e o Galvão de Melo, os reaccionários, a Igreja, os capitalistas, o Otelo Saraiva de Carvalho eram os pratos fortes.
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A revista (esta) era essencialmente pedagógica, isto é, pretendia alertar os espectadores para a situação política actual. E embora no pano de cena se lessem siglas do MES, PPD, PS, MRPP, embora entre os assassinados pela PIDE figurasse o Ribeiro dos Santos do MRPP, ficou me a impressão que o PC () estaria por detrás da revista na qual, no final, se lembram os crimes de 48 anos de fascismo, desde aqueles assassinatos até à extinção das escolas primárias, passando pela repressão sobre os trabalhadores, os intelectuais e os estudantes.
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O último número era uma canção à qual o público não aderiu em massa, apesar dos actores se terem colocado pela plateia e a letra aparecer no palco. Ou as pessoas eram pitosgas ou não têm o hábito de confraternizar [Quanto a mim ... não tenho voz!] (MCG - 1974.10.11)
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Eis-me, pois, regressado a Setúbal, onde amanhã começa mais um Festival de Teatro, este homenageando o Mário de Sá Carneiro, mas que não me seduz muito pelo programa apresentado. Outrora sempre vinham cá companhias de todo o país, das consagradas, que nos permitiam ver ou rever as peças durante o ano representadas em Lisboa, Porto e arredores. E assim se vai perdendo o teatro. Mas não só o teatro. [Também o cinema ] (MMA - 1990.09.19)
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Carlos Cruz, Raúl Solnado e Fialho Gouveia, apresentadores do Zip Zip
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Ver
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