Añañuca amarela - flor do deserto Por Leon Calquin
por Victor Nogueira a Sábado, 2 de Outubro de 2010 às 20:43
Fui, como ervas, e não me arrancaram (4) - De que são feitas as minhas saudades?
* Victor Nogueira
De que são feitas as minhas saudades?
Não sei se tenho saudades! Talvez lhes chame ... o vazio da ausência? Mágoas? Penas? «Saudades» do sol arrancado antes de nascer? Das praias de Luanda, das águas cálidas, do cheiro a sal e a sol e a maresia? Da chuva e da brisa? Do sol e do mar e dos dias cheios de claridade? Do «peso» de ficar sempre um pouco de mim nas pessoas que conheci, nos caminhos que percorri, nas terras onde estive? De não haver passado, mas sim um eterno presente, ali ao alcance da mão, da voz ou do gesto, mesmo que silenciosos?
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Uma vez no «Um contra Todos» o Malato perguntou a uma concorrente qual seria a resposta dela se tivesse possibilidade de ver satisfeito um pedido,ao que ela respondeu «que a minha filha fosse sempre feliz». Ele parou e depois respondeu duma maneira que achei bela «Que todos aqueles de quem gostei e partiram voltassem de novo para ao pé de mim»
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Sim, às vezes tenho «saudades» dos que já partiram, dos gestos que fiz ou não fiz, das palavras que disse ou não!Mas se podesse responderia que houvesse autêntica paz e alegria dentro de nós! Ou apenas feliciddade sem miséria para todos.
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Mas como isto são sonhos, deixo para quem quiser um abraço apertado e amigo.
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Victor Manuel
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26 de Setembro de 2007 16:56
Publicada por Victor Nogueira em Sábado, Novembro 03, 2007 no Mu(n)do Phonographo
RAÍZES
"Maianga Maianga
Bairro antigo e popular
Da velha Luanda
Com palmeiras ao luar ..."
''A Praia do Bispo
Cheiinha de graça
De manha á noite
sorri a quem passa ..."
(das Marchas Populares em Luanda)
Longo era o bairro ao longo da marginal
Longo era o bairro do morro de S. Miguel ao morro da Samba
Grande era o bairro e grandes as casas
No meio o bairro operário e a igreja de S.Joaquim,
estreitas as ruas, pequenas as casas.
Nas traseiras, o morro,
no alto o Palácio,
Na frente a larga avenida,
o paredão, as palmeiras e os coqueiros
a praia que já não era do Bispo
mas das pedras, dos limos e dos detritos.
Mais além a ilha que era península
com a sanzala dos pescadores
casas de colmo no areal
da extensa e boa praia
o mar sem fim.
Em Luanda nasci
Em Luanda vivi
Em Luanda estudei
Não Angola mas Portugal
Todos os rios e afluentes
Todas as linhas férreas e apeadeiros
Todas as cidades e vilas
Todos os reis e algumas batalhas
as plantas e animais
que não eram do meu país.
De Angola
pouco sabiamos
até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março
Veio a guerra e
a mentira
que alimenta
a Guerra,
Veio a guerra e a violência
veio a guerra e a liberdade.
Em Évora a 11 de Novembro
Em Luanda a bandeira do meu país
no mastro subiu.
Era o tempo da liberdade e da esperança.
Em Luanda
No Porto
Em Lisboa
Em Évora estudei
Em Évora casei
Em Évora vivi e nasceram o Rui e a Suzana.
Em Setúbal moro e no Barreiro trabalho
Perdidos os amigos,
perdida a infância
Estrangeiro sem raízes sou em Portugal.
ELEGIA PELA MINHA FAMÍLIA DISPERSA
Esta mensagem foi publicada para Ao (es)correr da pena em 17:42:50 03-11-2007
Conta Ao (es)correr da pena
Meu avô António Barroso
- primo de missionário em S. Salvador do Congo
E bispo do Porto,
Exilado
a quem puxaram as barbas nos alvores da República -
filho de lavradores abastados de Barcelos
casado jovem
guarda livros num banco
passando noites somando
intermináveis colunas de cifras
e o dinheiro que faltava para tantos filhos.
Meu avô, quando jovem, tinha nas fotografias
um ar austero e severo
sempre de preto
viúvo.
Meu avô, já idoso
um ar jovem e sereno
um sorriso moço e tímido
uma fala mansa
um gesto amigo.
Minha avó, Francisca da Conceição, de Chaves
não conheci
casou mais velha
falava francês e tocava piano
alegre e generosa, dizem-me.
Minha avó trocou o convento pelo casamento
mas antes deixou os bens aos padres
das Oficinas de S. José,
Encontraram-se no Porto e muitos filhos tiveram
que não conheci senão minha mãe
e meu tio Zé Barroso
grandiloquente e folgazão
curioso e letrado.
Minhas tias Marias Almira e José
Meu tio Joaquim
estes só conheço das recordações da minha mãe
Meu avô Zé Ferreira
nascido em Mora
filho de comerciante ribatejano
Meu avô quimico-analista
alegre jovem despreocupado
que em menino me levava ao café
e de quem recebia o Pim Pam Pum e o Cavaleiro Andante.
Meu avô que eu adorava e amo.
Minha avó Alzira gorda e doméstica
no seu colo me refugiava quando
à janela o homem do saco aparecia
na Travessa da Carvalhosa.
Minha avó morreu era eu menino em Luanda
e meu pai chorou ao volante da carrinha.
Tiveram três filhos: Manuel Lili e Zé João.
Meu avô casou novamente
com a Alexandrina
e nasceram a Isabel e a Teresa
irmãs que não tive.
Meu bisavô centenário
que me teve no colo e conheço da fotografia
na cadeira do quintal sentado.
Meu tio Jorge, em S. Tomé
(não) conheci
em Évora companheiro de estróina do Zé Ferreira.
Minha tia Esperança. farmacêutica no Chiado
das primeiras mulheres na Universidade
minha amiga que não mais verei
partida em Janeiro de 84.
Minha tia Lili, modista em Paço de Arcos
minha confidente da juventude
minha amiga.
Meu tio Zé João, a calma em pessoa
hoje arquitecto em Chaves
tão longe
amigo da infância e da adolescência.
Meus tios não casaram
Apenas meus pais em Cedofeita se encontraram
e para Angola partiram.
Meu avô António viveu sempre na Rua dos Bragas
Meu avô que mandou fazer uma casa no Mindelo
perto da praia e de Vila do Conde
com um quarto para o neto quando o fosse visitar
a casa fechada e abandonada
porque morreu em tempo de Páscoa.
Meu avô Luís viveu com os filhos em muitas terras
até em Angola onde nasci.
Meu avô Barroso católico ferrenho
apóstolo ingénuo
mas que depois de Abril aceitava os comunistas.
Meu avô Luís agnóstico
livre pensador e tolerante
que não aceita os bolcheviques.
Meu avô Luís que não vejo senão tão espaçadamente.
Meus primos de Barcelos
o Manuel o Joaquim a Laurinda
a Deolinda a Celeste a Cândida
e tantos outros
tímidos uns
alegres rosados e folgazões outros
Meus primos espalhados pelo mundo
pelo Brasil Alemanha Venezuela e terras de França.
Minha família grande e dispersa
conhecida e desconhecida
que a vida e a morte têm separado
Perdidos cada vez mais
na bruma dos tempos e da memória!
Retratos (4) - A Belocas
* Victor Nogueira.Perdi a semana passada uma amiga. Era um quadrado no "Diário de Luanda", uma dúzia de linhas e um nome:.
.- Maria Isabel Belo Serpa Pimentel -
.
Não havia dúvida, era a Belocas, aquela miúda cheia de vida, duma franqueza generosa, dum sorriso riso sonoro que nos dispunha bem, a Belocas que eu e o Camilo tanto apreciávamos. Que ficou de telefonar-me quando passasse por estes dias em Luanda, a caminho de Moçambique, para onde a convidaram. Com 21 anos, a Belocas (como eu e o Camilo lhe chamávamos) morreu. No seu primeiro salto o pára-quedas não se abriu. Sinto me desolado. O meu estoicismo não me é suficiente. Dou por mim a pensar nisto tudo, no porquê e no para quê da nossa existência e de tudo o que nos rodeia. Porque corremos nós?! Estudo, e não estudo nem o que quero nem como quero. Morrerei, mas não sei quando nem como (o que de resto não me preocupa muitas vezes) Entretanto não serei eu. Estou emocionado porque quero e como a emoção - neste caso - não leva a parte alguma, tenho de querer não estar emocionado. Mas estou!
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É meia noite. No meu colo está aninhado o "Chá-Chá", um gatito preto cá de casa. Tudo é silêncio, salvo o ronronar do gato e o zumbir dum insecto encadeado pela luz da lâmpada, além dos carros que passam além na rua (é a hora do regresso do cinema). Amanhã entro na segunda semana de estágio de fim de curso, na Petrogal.
.
(NID - 1971.08.22)
Publicada por Victor Nogueira em Segunda-feira, Outubro 15, 2007 no Mu(n)do Phonographo
Sábado, 13 de Outubro de 2007
Retratos (2) - O Cunha, alfarrabista em Luanda
* Victor Nogueira
(...) Lembras-te do Cunha? Em Luanda era um alfarrabista de corpo dolorido e disforme a quem os miúdos roubavam e provocavam. Cria em mim, esperava ainda ver o meu canudo de senhor doutor, dizia ser eu um jovem diferente dos outros e nunca o consegui convencer do seu erro; falávamos de ópera e ele trauteava as árias, falávamos do Camilo e do Zola e da enorme fortuna que ele teria se o os livros em stock fossem libras. O homem que não conseguiu ser ele mesmo, condenado a vender a abominável literatura de cordel. "Escreva-me, não se esqueça deste pobre velho!""Havemos de ver-nos nas Ferias Grandes! " O meu postal ficou sem resposta. O Cunha morreu, só, abandonado, como um cão! (Eu, que era seu amigo, nunca o convidara para a minha mesa). E nas tardes quentes e plúmbeas mais uma voz silenciou-se: os frigoríficos do Pólo Norte -Frimatic, o Rei dos Frigoríficos - substituem os livros que nunca foram libras! (1)
____________
1 - Escrito em Évora, em 1969.03.16 (Num repelão) O Cunha havia falecido em fins de 66, princípios de 67. O "Notícias" de Luanda dedicou-lhe umas linhas, lastimando a sua morte e o egoísmo dos homens. Teriam posto em leilão os livros da livraria e a Casa dos Frigoríficos anexou a lojeca, perto da Sé. Ficou deste modo privado do seu único meio de subsistência. O seu sonho era vender tudo e regressar a Portugal (à Metrópole, como então se dizia). Gostaria de ter vendido bons livros, de ter sido um bom alfarrabista. E dizia-me, quando vim para Lisboa: "Escreva me, meu amigo, não se esqueça deste velhote. O senhor há de ser alguém!" (NSF - 1968.08.20)
ECCE HOMO (1)
Era o dia 26 de Fevereiro
O Pituca morreu!
Encerrado em si
hirto no seu pijama azul
as mãos bonitas e o rosto frio
um vergão em torno do pescoço
o rosto violáceo
o ar sereno.
Longe vai o tempo da minha alegria
das nossas brigas
da nossa amizade
silenciosa
tímida
desajeitada.
Fica-me no pensamento
a lembrança de ti
nas coisas que me deste
os livros os posters
os bibelots as estatuetas
africanas as tuas pinturas
a Marilyn e o Pato Donald
os discos e as cassetes.
Memória da infância perdida
nas palavras silenciadas
Meu irmão!
Victor Nogueira - Poesia
1987.Dezembro.22 (1989.Março.10) - Setúbal
É TEMPO DE CHORAR
É tempo de chorar
silenciosamente
os nossos mortos
irmãos encerrados
encurralados
É tempo de chorar
enquanto
para lá desta hora
a vida se renova
por entre
os bosques e
os regatos
sussurantes
do imaginar o son (h) o estilhaçado
É tempo de chorar o tempo que voa!
(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luís, morto de morte matada por ele próprio e por muitos outros no tempo que para ele terminou naquela tarde de 26 de Fevereiro de 1987 ............................. )
Victor Nogueira - Poesia
1989.Fevereiro.03 - Setúbal
OBRIGADO
Esta mensagem foi publicada para Ao (es)correr da pena em 17:46:33 03-11-2007
Conta Ao (es)correr da pena
* Victor Nogueira
Obrigado, muito obrigado
obrigado por todos os presentes que hoje me ofereceste
obrigado por tudo quanto vi, escutei, recebi
obrigado pela luz que me despertou
obrigado pela roupa que me veste, pelas cores que ela
tem e pelo corte que a faz bela
obrigado pelo jornal, pelas histórias do Tintin, sorriso semanal, pelas reuniões
austeras, pela justiça que se fez, pela partida ganha
obrigado pelo camião do lixo e pelos homens que o acompanham,
pelos gritos que soltam de manhã, pelos ruídos da rua que acorda
obrigado pelo metal, entre os dedos apertado, pelo longo lamento que
ele solta sob o aço que o morde, pelo olhar satisfeito do contramestre,
pelo carinho cheio das peças terminadas
obrigado pelo Camilo que se sentou à minha mesa, pela simplicidade
do Rocha, pela mão do director no meu ombro, pelo
sorriso - sempre é sorriso - do Rola, pela malta de Económicas
que me reconheceu, pela amizade do Artur e do Luís Filipe
obrigado pela rua acolhedora que recebeu os meus passos, pelas
montras das lojas, pelos automóveis, pelos transeuntes, por
toda a vida que escorria lenta, entre as paredes das casas,
manchadas de sol
'obrigado pela comida que me sustentou, pelo copo de café com
leite que há pouco me matou a sede
obrigado pelo autocarro que facilmente me levou onde eu queria
pela gasolina que o fez funcionar, pelo vento que
me afagou o rosto, pelas árvores que me saudavam quando
eu ia a passar
obrigado pelas miúdas que encontrei hoje
pela graça marota da Isabel., seu sorriso-riso sonoro
que alegra a gente
pelo ar sereno da Noémia
pelo sorriso da garota do Chiado, aquela que tinha uma
covinha no queixo,
pelas travessuras da Microbianas
pelo olá da puta que se cruza comigo diariamente
obrigado pela alegria do Jorge perante os brinquedos que comprara
obrigado pelos bons dias que me desejaram
pelos apertos de mão que reparti
pelos sorrisos com que me brindaram
obrigado pela mãe que em casa me acolhe, pela sua presença
obrigado pela amizade do pai, apesar do seu silêncio
obrigado pela amizade desajeitada do Zé Luís
obrigado pelo tecto que me abriga, pela luz que me ilumina,
pela música que ouço
obrigado pelo Zeca Afonso, pelo Vivaldi
obrigado pelos livros, pelo Steinbeck pelo Jorge Amado,
pelo Manuel Alegre e pelo António Reis
obrigado por tantos eles
obrigado pelo ramo de flores,
pela erva no telhado, pequenas florestas galgando montes
obrigado pelos dias luminosos
pela noite serena
pelo céu estrelado
pelo silêncio
obrigado pelo tempo que me deste ...
pela vida
por sentir tudo isto
obrigado por estares aqui
obrigado porque me escutas, me levas a sério. recebes em
tuas mãos o feixe dos meus dons para oferecê-los aos
outros
obrigado
muito obrigado
Michel Quoist
(adaptado - Évora 1971.ABR.14)
(1989.MAR.01)
*
*
Lia Branco, Carmen Montesino e Irene Dias gostam disto.
*
o
Alzira Henriques Adorei Amigo,
Tal como tu, também eu tenho num cantinho muito especial do meu coração aquela bela Luanda que me viu crescer e ser Gente!
Bjo Amigo.
há 3 horas ·
o
Carlos Rodrigues
São ausências sempre presentes na memória e uma bela homenagem à Família e Amigos, onde não falta o amor à terra onde o Vitor nasceu. Alguns desses nomes soam-me aos ouvidos como campaínhas doces, muito embora não tenha nascido em Luanda, l...á nasceu o meu primeiro filho, o Dário, que também anda por aí a surfar no FB e a trabalhar que se desunha, para sobreviver dignamente. Nasceu na Freguesia do Cruzeiro, se bem me lembro,esteve até aos quatro meses, connosco, comigo e com a mãe, lá para os lados da Maianga ou da Samba, Rua Lobato Faria, recordo o Hospital Militar não muito longe dali, o Cinema Tivoli, o Miramar, aberto ao espaço numa colina, com uma vista fantástica, lá mais acima,depois a uns quantos quilómetros dali,o Cacuaco, a última fronteira, mais ou menos segura, com o seu frango na púcara, as chegadas do Niassa, cujo Comissário era nosso amigo e nos convidava para jantar a bordo e continuar a noite cá fora, no Baleizão e por aí dentro, até não mais poder, a bela Baía, o seu primeiro banho nas águas mornas, do outro lado da Ilha e, enfim, tudo aquilo que, vergonhosamente, só nos falava de paz, amizade e amor, no meio da guerra, mas a verdade é que ela estava a poucos quilómetros da BA 9 e todos os dias chegavam más notícias do mato e corpos de soldados com vida e futuro limitados ou pior,jovens estropiados ou sem vida.Os primeiros amigos da camarata, no quarto alugado na Maianga,com quatro tarimbas e direito a banho, antes dela chegar à guerra, num avião que nunca mais chegava. Os helicópteros a aprestarem o novo heli-canhão Francês,altamente eficaz no mato,mas que já sabíamos não ia resolver coisa nenhuma, a montagem do Napalm nos F's, coisa que aqui se dizia nunca termos usado, as evacuações dos nossos feridos, as descrições mais ou menos dramáticas das frentes de guerra e, apesar de tudo, aquele calor humano, as amizades que nunca se perdem, a partilha de ganhos e perdas, o pouco que havia e era de todos e, fica sempre, mesmo que a maioria, já cá não esteja, ou se tenha perdido de vista, pelo mundo fora, pois, compreendo muito bem o que, melhor do que eu, tens a dizer, sobre o assunto, a geneologia familiar e a sensação de vazio e perda, Vitor. Um abraço.Ver mais
há 2 horas ·
o
Victor Nogueira O meu irmão foi furriel miliciano enfermeiro, primeiro numa zona de combate, depois no Hospital Militar em Luanda. Raramente falava na dor de ver os camaradas e outros regressarem mortos ou feridos, aos bocados. Queria ficar em Angola, mas depois de começar a guerra post independência foi mobilizado pelo MPLA e veio para Portugal dizendo que já lhe tinha chegado o horror duma guerra. Acabou por suicidar-se. O stress da guerra também mata ! Mas essas vítimas não são contabilizadas
há 2 horas ·
o
Victor Nogueira No Grafanil, ponto de passagem da tropa, lembro-me que havia um enorme barracão onde em letras grandes se lia "Depósito de Convalescentes". Não eram pessoas, eram coisas em depósito, como se dum armazém de mercadoria se tratasse.
há 2 horas ·
o
Carmen Montesino
Olá, Victor!
Só para lhe agradecer por me ter incluido nos destinatários. Sei o que sente, porque é igual ao sentimento que me assalta por vezes e cada vez com mais frequência!
Não me considero infeliz, achar que sim talvez fosse um acto de... egísmo; mas sinto tantas saudades!!! Da minha infância, das brincadeiras com brinquedos feitos por nós, de África (onde também estive), dos tempos de Liceu, de tudo o que perdi irremediávelmente!
E agora este belo texto faz-me recordar tudo isso e emociona-me tanto...
Um abraço apertado, caríssimo amigo !Ver mais
há cerca de uma hora ·
o
Odete Maria Botelho Botelho Fiquei emocionada...Não tenho palavras.Mas a verdade está ai bem descrita.O stress de guerra tb. mata mas ninguém se lembra disso e daqueles que perderam a vida por uma guerra "falsa" e injusta.Obg. amigo.
há 39 minutos
o
Alzira Henriques Um abraço para ti Victor. O teu Irmão, onde estiver, está liberto da do sofrimento. Mas, na verdade, essas foram, e infelizmente continuam a ser marcas que a nossa memória não apaga.
há 38 minutos ·
o
Ausenda Hilario Saudades, feitas de memórias felizes outras vezes sofridas...mas memórias de uma vida resistente! Irresistíveis os textos! Grata!
há 16 minutos ·
o
Lia Branco Um abraço e um beijo.... ENORMES!
há alguns segundos
.
Carlos Rodrigues
Um primo meu de Gouveia era 1º Sargento enfermeiro, no Hospital Militar de Luanda.Foi o primeiro sorriso familiar que aí me recebeu e indicou a melhor forma de enfrentar o descalabro. É verdade que falávamos de quase tudo, do espaço, de ext...ra terrestres que a existirem haviam de ser muito melhores do que nós, não conheciam a guerra e contornavam a dor e as perdas com sorrisos de criança.o resto, o que sabíamos, dos " Depósitos de convalescentes ", dos corpos de amigos cobertos com a bandeira Naciona, falávamos pouco ou nada, eram tão reais que a voz se calava, se afundava dentro de nós, impotente para entender ou transformar, de momento, noutra coisa qualquer, como o que acabaria por acontecer. Voltámo-nos a encontrar, mais tarde, em Lisboa, com um cravo na mão e lágrimas nos olhos. E, então dissémos tudo o que nunca havíamos dito. Não eramos assim, antes, depois algo nos transformou, para melhor.l Durante muito tempo, mesmo depois de regressados da guerra, tinhamos perdido a voz, engolíamos, a seco, as palavras, até ao sufoco, porque não conseguíamos digerir a realidade. E mesmo assim a vida continua e continuou, meio envergonhada, por que para muitos, como o irmão do Vitor, isso não aconteceu e, para tantos, as marcas do passado foram e são ainda indeléveis e corrosivas. Um abraço.
há 19 minutos .
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