* Victor Nogueira
* Nota Prévia (reeditada)
* 2º Retrato do pessoal da pensão de Évora
* A malta e cenas do Arcada
* Auto retrato II, em évoraburgomedieval, no exílio
* A Maria Antónia
* Um Natal em Beja
* A Bita que irrita
* Viagens e dispersos
* o início da guerra em angola, a 4 de Fevereiro de 1961
* Viagem a Cambambe
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Nas nossas vidas o que é o domingo ? Antes de tudo, o dia de ir à missa, dia de religião mas também de convívio, de vestir o fato de ver-a-Deus. Especialmente em Luanda, dia de ir à praia na estação quente ou de na estação fresca (cacimbo) almoçar num dos restaurantes dos arredores (frango assado ou bacalhau assado ou bife com ovo a cavalo e batatas fritas) - não me lembro se na estrada do Cacuaco, se na da Catete. Dia do passeio dos tristes, sobretudo em Portugal - pela linha do Estoril (com os meus padrinhos), em Lisboa, pela Estrada da Póvoa (de Varzim) ou a Matosinhos ou à Foz do Douro e Castelo do Queijo, se no Porto (com os meus avós). Ou de ir a Goios e conviver com os meus primos e primas. Também havia em Luanda o passeio dos tristes, de ir até à ponta da Ilha do Cabo (com lanche numa cervejaria), ou ao Cacuaco ou à barra do rio Dande,
Em Portugal era também para muitos portugueses/as o dia do namoro, no jardim, não poucas vezes com a banda a tocar no coreto. Era de sábado para domingo também o dia (ou a noite) dos bailaricos, nas sociedades recreativas, as miúdas sob o olhar atento das mães, das tias ou dos irmãos mais velhos. E também o dia das bebedeiras dos homens nas tabernas. Ou da ressaca. E era também para muita gente o dia da ida ao cinema, fossem de estreia, fossem de "reprise", estes com dois filmes diferentes.
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2º Retrato do pessoal da pensão de Évora
É um domingo indefinido, um começo de tarde. Três novos hóspedes entrarão hoje lá para casa. Somos agora oito (para além da hospedeira, irmão [Ambrósio Prates] e sobrinho [Manuel]: duas miúdas [Celeste Gato e Bia Almeida], estudantes no Magistério Primário, como este, e a mãe duma delas [D.Maria], e o Diogo [Guerreiro] (6º ano liceal e futuro economista). Os novos são um velhote, [o sr. Marquês], empregado comercial, uma assistente social [D.Teresinha] e a ilustre mãe [D.Ilda]. Sou, actualmente, o mais antigo. Todos os outros entraram este ano. (NSF - 1971.01.31)
A malta e cenas do Arcada
Olho à minha volta e vejo malta conhecida: além, o Morte que me acena, como o Calisto, que há muito não via. O namorado da Gabriela discute acaloradamente e o senhor D. Alexandre de Lencastre ([1]) conversa com dois amigos (sê‑lo‑ão ?), que falam também com a cabeça e as mãos. Aqui, à minha esquerda, está o velhote pequenitates que anda à Charlot; costuma pôr uma flor no copo de água que normalmente acompanha a bica, fala em verso - os dois últimos primam quase sempre pela falta de rima e métrica - e oferece moedas da sua colecção às personalidades importantes que passam por Évora e às caras bonitas. Fala com toda a gente e não sei se falará com alguém. Quando regressei de Luanda reparou que eu tinha rapado a barba ... largos meses depois do acto solene que me tornou irreconhecível ao espelho, provocando‑me, durante alguns dias, ataques de hilariedade frente àquela face rejuvenescida e francamente risonha, sem o sorriso voltaireano que dizem ser o meu - irónico e trocista - de que muitas vezes me apercebo mas não contenho, mesmo nos momentos mais solenes e sérios, de gravidade de circunstância. (...) O ar está [agora] pesado; olho à minha volta e há clareiras na humanidade que me cercava. (NSF - 1971.01.31)
Estou no café, no "velho", barulhento e de ar viciado que é o Arcada. Deixei os jornais em cima de uma mesa, para marcar o lugar, enquanto ia à tabacaria comprar uma folha de papel. (...) Ao regressar encontrei um moço a folheá‑los muito descontraidamente. Devia ser dos Regentes Agrícolas. Que ficou algo atrapalhado e balbuciou pensando serem do café. Que não acabou de lê‑los, apesar da minha cordialidade. Enquanto escrevo vou bebendo o galão e comendo a sanduíche de fiambre, acto quotidiano das 17 horas. Na sala meio‑cheia umas pessoas conversam, outras lêm os jornais da tarde, alguns estudam, uns olham simplesmente para coisa nenhuma, embrenhados sabe‑se lá em que pensamentos. Reconheço alguns, poucos, companheiros indiferentes, quase móveis da casa. Dos outros, é de assinalar o seu mau gosto no vestir, fatos escuros, a boina ou o chapéu de abas viradas para os olhos. Conversam com a cabeça apoiada na mão, uns sorridentes, outros de rosto grave, testas enrugadas. Por vezes recostam‑se para trás nas cadeiras, outras juntam as cabeças, convergindo para o centro da mesa, quais conspiradores. Olho à minha volta e o café está [continua] meio cheio. O João Luís [Garcia] chegou e começou a ler o jornal. Daqui a pouco chegarão o Camilo {Monteiro] e o Carlos [Nunes da Ponte], que virão do exame. Domingo Évora será um deserto, estupidificante. Eis que assomam à porta do café o Chico Garcia [seria o Chico Bellizzi ?] e o Manel. Ficaram‑se pelo balcão da pastelaria. Entretanto entra também o Álvaro Lapa, que é pintor, e corresponde cordialmente ao meu largo aceno. Entretanto o João Luís protesta porque não consegue ler o jornal; a mesa está desengonçada e tremeliques. (MCG - 1972.03.18)
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Auto retrato II, em évoraburgomedieval, no exílio
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Hoje é domingo, uma vez mais! O tempo conta‑se pelos domingos, especialmente quando são como este, soalheiros, quentes, e que nos fazem sentir o peso dos 25 anos, praticamente solitários, incomunicáveis, cheios de barreiras entre mim e os outros. Que é daquele tempo em que se cria em alguma coisa, em que se colhiam flores para dar aos entes queridos, cabelos esvoaçantes ao vento? Que é do tempo dos sorrisos, das gargalhadas cristalinas? Que é do tempo deslizando suavemente, das mãos esperançosamente estendidas? O tempo é isto, esta desilusão, este vazio, estas malhas que enredam mais e mais e que angustiosamente procuro afastar. Sou um guerreiro cansado por batalhas inúteis, contra o vento! "Grandes são os desertos e tudo é deserto" ([2])
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Como única companhia nesta tarde o José Afonso, melhor, a voz do Zeca Afonso, que sai dos alto‑falantes e enche o quarto, mas não a minha alma, demasiado grande para a minha alma tão pequena. (NSF - 1971.02.28)
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A Maria Antónia
O dia [em Luanda] hoje está frio e a água gelada, pelo que não tomei banho. Nos anos anteriores normalmente a Maria Antónia [Ferreira de Almeida] ia connosco, mas desta vez não houve companhia, pois no domingo anterior embarcou para a Metrópole, com os pais. Estes irão passar férias e ela [para] frequentar o 1º ano de História da Faculdade de Letras. É uma miúda que muito aprecio, embora ao falar com ela não consiga evitar o adoptar duma certa atitude de "mais velho". Gosto da maneira natural como fala comigo de assuntos que pus na lista negra, (quase) derrubando os meus pendores racionalistas de quem quer ordenar tudo: pensamentos, emoções e acções, sofrendo por não consegui‑lo. Há dias falou‑me do rapaz de quem gosta, perguntando‑me o que sentia eu quando estava apaixonado! Mais adiante perguntou‑me, depois de alguma hesitação, porque me dava com ela.
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Surpreendi‑me a dizer‑lhe muito naturalmente: "Porque gosto de ti" E a conversa continuou. É interessante como começou a nossa amizade. Embora tivesse ido ao apartamento em que eu e a minha mãe com o Zé vivíamos em Lisboa há seis anos, já não me recordava dela. Voltei a encontrá‑la, com os pais e irmã, faz por esta altura três anos, [no aeroporto de Luanda]. Como gostei da maneira séria como falava, sem deixar de ser uma rapariguinha de 15 anos, começámos a conviver. (n/ident.1972)
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Um Natal em Beja
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Pois eu cheguei a Évora ontem à noite, cerca das 23:30, vindo de Beja, onde estive domingo e segunda, em casa dos tios do Camilo [Monteiro] e na companhia de mais dez adultos e umas catorze crianças, do recém‑nascido ao Pedro e à Teresa, os mais velhos com os seus treze anos. ([3]) Aquilo não era uma casa, era um quartel familiar ... que me "adoptou" por dois dias. Por todas as salas não se viam senão miúdos. Domingo à tarde, horas antes da consoada, andava o Camilo às voltas com a árvore de Natal e presépio, com a mania das perfeições e de as coisas serem como ele queria. Tenho a impressão que se não fosse o aparecimento da tia Emília, ou aquilo nem para o ano estaria pronto ou o tio Jacinto terminaria aquilo a grande velocidade, sem preocupações perfeccionistas. Sim, que afinal parecia‑me que o Camilo não queria nem deixava fazer, pedindo mas não aceitando as minhas sugestões. Enfim ... Fosse eu romancista e estes dois dias teriam muito peso na minha renomeada. O mais interessante foi a tia freirinha, a irmã Maria, que se percebi bem saiu pela primeira vez em 24 anos de convento, e que tentava catequizar as crianças com umas prédicas tais que nem ouvidas! Ah!Ah! Os miúdos é que se divertiam depois nos seus grupos, relatando e comentando as suas havidas conversas particulares, e que eu ouvi porque eles são desinibidos por educação - todos me tratavam por tu e por Victor, que é como eu gosto - e também porque não devo ter cara de polícia. Gosto de miúdos e acho que tenho um certo jeito para estar com eles. Desta vez o João passou o tempo com o "Vitinhas", subindo‑lhe para o colo, fazendo‑lhe imensas perguntas ou mostrando os brinquedos e o modo como funcionavam, brinquedos que, na sua maioria, ao fim do 2º dia já andavam muito combalidos. Entretive‑me com um automóvel electrificado, com comando à distância, o que permitia manobrá-lo em todas as direcções. (MCG - 1972 NATAL)
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A Bita que irrita
A Bita hoje andava muito ufana. Tadinha da Bita. Tem um primo capitão e no domingo foi ao quartel com ele. No carro da tropa com soldado motorista. Com continência e apresentação de armas à porta de armas. Com uísque bebido com os oficiais na sala dos mesmos. E cumprimentos do coronel. E aquele oficial que queria levá‑la para um canto. "Venha cá ver isto!" Não foi, que já sabia o que ele queria. Era solteiro, que bem lhe viu os dedos sem anéis. Tadinha da Bita. Tão ridícula. Que não lê o jornal porque suja os dedos. Que encorna as sebentas e tem boas notas mas não sabe fazer nada além da má língua. ("mulheres!"), de cabeça oca e bordados. Que me perguntava, no tempo em que me queriam "casar" com ela (os dois únicos "solteiros" do 4º ano - eu que já não era mas não sabiam) e se admirava de eu me marimbar para as "prendas" dela: "Não gostavas duma mulherzinha que te fizesse bordados?”. Que até seria tragável ... se não fosse tão frustrada sexualmente. No fundo, quase todos nós o somos. Uns mais, outros menos! Deixemos a Bita! É a vítima das minhas frustrações ... escolares! Porque tem uma personalidade camaleónica. PONTO FINAL. (MCG - 1973.11.27 A)
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Viagens e dispersos
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Aos domingos os habitantes deslocam‑se para as praias de Luanda, como sejam as da Ilha do Cabo, Samba, Corimba e tantas outras. À noite frequentam‑se as elegantes "boites" e exibem‑se filmes nos cinco principais cinemas da cidade.
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Enfim, Luanda é uma cidade moderna, que se desenvolveu prodigiosamente e que muito mais se desenvolverá num futuro próximo. Pode orgulhar‑se, com justiça, de 1ª cidade do Ultramar Português e 3ª de Portugal. (1961.04.) ([4])
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No último dia de aulas os estudantes [do Liceu Nacional de Salvador Correia]insubordinaram‑se contra os polícias e muitos deles foram ver o céu aos quadradinhos. (MLF - 1959.07.27) ([5])([6])
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Eu, o pai e o José João fomos almoçar ao "Mar e Sol" [na Ilha do Cabo]. Comemos sopa, batatas com linguado, batatas fritas com rim grelhado e pudim flã. À tarde o Rui [Almeida]veio brincar comigo. Já arranjámos a bicicleta (descansa que eu vesti uns calções e uma camisa velhas. Em Pointe Noire dei‑me ao trabalho de contar os buracos dessa camisa e contei mais de 21) (MEB - 1959.09.03 - a minha mãe e o meu irmão tinham ido de férias a Portugal, no Verão em que as passei na África Equatorial Francesa)
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As corridas automobilísticas têm lugar sábado e domingo, respectivamente 19 e 20 de Setembro. Concorrem 1 finlandês, 1 inglês, 3 belgas, 2 portugueses (Metrópole), 1 senegalês, 4 rodesianos, 3 sul‑africanos, cinco congoleses belgas, 3 congoleses da AOF ([7]), 3 moçambicanos e 7 angolanos. São ao todo 33 automobilistas - 32 homens e 1 senhora (da AOF). Alguns já são conhecidos por terem participado na I e II Taças da Cidade de Luanda ou no I ou II Grande Prémio de Angola ou ainda no I Circuito Automobilístico da Fortaleza, realizado há três semanas. (...) Mais de metade dos automobilistas que concorrem têm palmarés brilhantíssimos, o que já mostra que as provas serão renhidas e emocionantes. (MEB - 1959.09.13)
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Após o almoço fomos todos passear: Cacuaco, Estrada da Circunvalação, Estrada da Samba e pela cidade. Voltámos para casa tendo estado a ouvir música. Foi um domingo bem passado. (1964.06.22 - Diário V)
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Mais um domingo sem história. Passámo-lo no Mossulo, uma ilha ao sul de Luanda. O meu pai já lá estava desde ontem, com os operários, pois está construindo uma casa de fim-de-semana que, quando terminada, deve ficar interessante. (...) No regresso, já noite fechada, faltou a gasolina ao barco e andámos à deriva. Como já estávamos perto do cais viram os sinais luminosos e rebocaram‑nos num barco a remos. Se tivesse sido mais ao largo da baía podia ser uma chatice, pois embora houvesse rádio‑transmissor a bordo a corrente poderia arrastar‑nos para o mar alto e até que nos encontrassem passaríamos um mau bocado. É simplesmente inconcebível o desleixo da maioria dos possuidores de barcos de recreio que se fazem ao mar marimbando‑se para as normas regulamentares. Não sei como é agora [1971], mas quando tirei a minha carta de marinheiro amador - que me autorizava a governar embarcações até três toneladas - aquela era concedida após audição duma amena palestra feita pelo Capitão do Porto de Luanda durante três horas, sem mais formalidades ou provas!!! (NID - 1971.08.22)
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o início da guerra em angola, a 4 de Fevereiro de 1961
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Como já deves saber pelos jornais, houve assaltos a vários estabelecimentos de Luanda (cadeias civis, Casa de Reclusão Militar e Quartel da Brigada Móvel da PSP), na madrugada do dia 4 do mês corrente. No dia seguinte, domingo, quando a maioria da população desta cidade acompanhava à última morada os agentes da ordem mortos no dia anterior, alguns agitadores dispararam tiros, entregando‑se a demonstrações de provocação. A polícia e o exército intervieram logo, travando luta com os díscolos. Houve dez assaltantes mortos e muitos outros foram presos. Também num outro ponto da cidade houve motins. Vários polícias ficaram feridos. Na quarta‑feira, dia 8, os assaltantes atacaram a cadeia de S. Paulo. Morreram 17 assaltantes e muitos foram feridos, efectuando‑se numerosas prisões, tal como já acontecera no sábado, dia 4. A grande maioria dos assaltantes nativos estavam fortemente drogados com “marijuana” e possuíam armas brancas (catanas) e armas de fogo de origem checoslovaca. Entre os assaltantes mortos ou presos havia alguns europeus pintados de preto. A polícia e o exército têm efectuado “rusgas” pelos muceques e prendido numerosos indígenas suspeitos de tomarem parte nos assaltos. Perto do cemitério foram encontrados muitos pretos feridos, tratados por duas feiticeiras, num hospital improvisado. Foram todos presos. ([8])
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Os polícias da Brigada Móvel terraplanaram os terrenos à volta do quartel, instalaram projectores nos diversos edifícios do dito quartel e cercaram‑no de arame farpado que, segundo dizem, está pronto a ser electrificado no caso de um novo assalto. Na cadeia de S. Paulo foram instalados projectores e a guarda foi reforçada. No Quartel General da PSP a guarda foi reforçada. De vinte em vinte metros encontra‑se um polícia de metralhadora e com a baioneta calada. São ao todo seis polícias e um cipaio. Tirando isto e as “rusgas” aos muceques, tudo está normal, como antigamente. (MLF - 1961.02.23)
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viagem a Cambambe
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A igreja de Cambambe (ou Dondo?) é modesta, sem estilo arquitectónico. À saída encontrámos o Ruca, filho da Beatriz. Está muito sério, a tropa modificou‑o fisionomicamente. O terreno agora é mais acidentado. Demos uma boleia a um tropa até Cambambe, onde chegámos às 10:20. Dentro de Cambambe há um bairro, com casas modernas e arvoredo. O terreno é acidentado e há uma pousada .Há um cinema, com bilhetes a 50$00, às 5ªs e domingos.
Visitámos a barragemx, cujas turbinas giram a 230 rotações por minuto. A 1ª fase da construção está concluída. O rio passa a um nível superior ao das turbinas. A água sai pelo descarregador com uma força impressionante, oferecendo um aspecto maravilhoso.
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Visitámos as ruínas da antiga povoação de Cambambe. Fomos até à ponte do Rio Cuanza. Almoçámos num restaurante duma estação de serviço FINA, a uns 8 km da povoação: bife com ovo estrelado... e batatas fritas.
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Às 14:45 demos início ao regresso a Luanda. No Dondo está sol. Na viagem de ida e volta a Luanda percorreram se cerca de 430 km. (Das notas manuscritas da viagem, 1964.06.14)
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[1] - O senhor D. Alexandre de Lencastre era entre nós conhecido pelo BIDON, porque a família o baptizara como D. Alexandre de Lencastre, conveniente para o devido tratamento numa república. Mas assim sendo, ele ficou a ser o Senhor D. D. Alexandre de Lencastre! Se a história verdadeira é esta, não sei, mas lá que era o que corria, disso não tenho dúvidas.
[2] - Fernando Pessoa.
[3] .- Estes tios do Camilo eram os Brito Lança - ele médico - e tinham uma casa em Beringel, a poucos quilómetros de Beja. Do terraço da casa da quinta avistei pela primeira vez o espectáculo deslumbrante que foi contemplar o céu coberto de estrelas, sem a interferências das luzes da cidade a que estava habituado e que as escondiam.
[4] - Dum exercício de Português (5º ano Liceal), no Colégio Cristo Rei, dos Irmãos Maristas, em Luanda.
[5] - Quando terminava o ano lectivo os estudantes ocupavam a rua defronte ao Liceu Salvador Correia, obstruindo o trânsito e “baloiçando” os automóveis com os ocupantes lá dentro. Numa das vezes descarregaram, espalhando pela via pública, as laranjas transportadas numa camioneta. Num dos anos o filho do Governador Geral Sá Viana Rebelo também foi preso, enquanto reclamava a sua filiação, com o polícia a retorquir “Pois, pois, e eu sou o Presidente da República". A verdade é que dessa vez e passado pouco tempo tinha sido toda a malta libertada!
[6] - O Liceu situava-se na Rua Brito Godins, no cimo duma alameda ajardinada, rodeado dum amplo recinto O edifício é constituído por dois claustros, azulejados e ajardinados. possuindo dois corpos laterais, um deles com a torre sineira e outro com o salão de festas, ginásio e balneários. Havia Liceu apenas e Luanda, Sá da Bandeira e Nova Lisboa, que me lembre, e em Luanda havia praxes semelhantes às de Coimbra. Embora não fosse generalizado o uso de fato preto e capa, aos caloiros fazia‑se a coroa, podendo ser protegidos pelos veteranos (repetentes do 6º e 7º anos), estando os alunos do 1º ano sujeitos a que os dos anos subsequentes lhe batessem na careca. E no fim do ano haviabarracadas e estudantadas como a que se referiu neste parágrafo.
[7] - Afrique Ocidentale Française.
[8] - Toda a população branca da cidade foi aos funerais. Estava tudo dentro do cemitério da Estrada de Catete quando alguém gritou Eles venhem aí! começando a ouvir‑se rajadas de metralhadora. A partir daí foram o pânico generalizado e o caos, com as pessoas a correrem desordenadamente, aos gritos, uns para aqui e outros para ali, todos confluindo para o portão principal do cemitério, pequeno para tão grande avalanche. Lá dentro, havia sapatos pelo chão, pessoas correndo com um pé descalço e outras partindo árvores e estacas de sustentação para improvisadas armas. Conseguimos sair, todos juntos, em direcção à carrinha no meio dos inúmeros veículos que estavam cá fora estacionados. De repente ouviram‑se novas rajadas de metralhadora, e aí deitei‑me no chão, esperando que uma cova se abrisse debaixo de mim para me proteger. A viagem de regresso fez‑se a passo de caracol e seguramente que muitos brancos teriam sido chacinados se tivesse mesmo havido um ataque. E a imagem que me ficou, perante o absurdo evidente daquela retirada geral sem qualquer segurança, foi a imagem dum negro desolado à beira da estrada, esfarrapado e ensanguentado. Essa noite e os dias que se seguiram foram de represálias e massacres sobre os negros dos musseques, perpetradas pelos civis armados.
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vem de O Domingo na Poesia ~ segundo vários escritores - 01
sobre setúbal 03
Luanda - avenida da Praia do Bispo e, defronte, a Ilha do Cabo
Luanda - na Ilha do Cabo, defronte à Praia do Bispo
Luanda - uma das praias da Ilha do Cabo
Angola - jangada para atravessar o rio Quanza (na foto, o meu irmão Zé Luís)
Uíje - 1947 - num piquenique, com a minha mãe
Luanda - num passeio pelos arredores - na fotos, os meus +ais, eu, o Zé Luís e um amigo da família, o Espinheira Rio
Uíge - 1947 - a minha mãe a encestar
Luanda - arredores - piquenique com os irmãos Gaspar - à esquerda, eu, o meu irmão e os meus pais, sentados
Luanda - no Vilela, restaurante na estrada da Cuca, com os meus pais e irmão - a especialidade eram assados no carvão - bacalhau ou frango, este carregado de gindungo (piri-piri), refeições rehadas com cerveja Cuca ou Nocal e sumos (Fanta, Canada Dry, Sumol, Coca-Cola ... )
o artista aos 27 anos
Foto Victor Nogueira - Cambambe - ruínas da igreja. n sra dos remédios - (á porta, minha mãe) = 1964 06 14
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