victor nogueira retratado por Aníbal Queiroga, Évora 1970 04 20.
O Aníbal Queiroga era nosso colega no ISESE, creio que no curso de Economia. Baixo, entroncado, era director dum jornal de Évora, republicano e oposicionista, "A Democracia do Sul" publicado entre 1917 e 1971, A sede do jornal de que era proprietário situava-se perto de Rua da Selaria e aqui era impresso numa impressora "antiquíssi
ma", à base de tipos de chumbo montados e alinhados nas caixas respectivas, sendo o produto final como se imprensa do século XIX fosse, no grafismo, na textura do papel ...
O nosso estágio de fim de curso foi um trabalho colectivo (meu, do Queiroga e do José Emídio Guerreiro), sob orientação do Pe. Augusto da Silva, sj, executado para a Fábrica da Siemens em Évora, creio que publicado numa revista alemã, mas dele não tenho qualquer exemplar.
Outras referências são-lhe feitas no blog "Viver Évora", que a seguir são transcritas:
"A distracção dos coronéis não foi tão longa quanto muitos desejavam. A seguir ao final da Segunda Guerra Mundial, os serviços de censura proibiram a afixação das sinopses prévias das edições. Desta medida resultou a desactivação deste tipo de painéis em todo o país, à excepção de Évora. As notícias de necrologia, agora diariamente incluídas no jornal de parede, foram o argumento utilizado para convencer as autoridades censórias da necessidade de preservar o painel na Praça. Uma vitória que comportava alguns riscos para o correspondente (Aníbal Queiroga), o qual ficava com a responsabilidade de, além da necrologia, apenas fornecer informações desportivas e o calendário das festas e romarias do concelho. À menor infracção a estas regras o ‘placard’ seria extinto e ao correspondente levantado um processo disciplinar e outro de natureza criminal. A manutenção do painel não foi pacífica nas duas décadas seguintes. Acontecia que tanto o Queiroga pai como depois o filho, além de correspondentes de “ O Século” eram proprietários da «Democracia do Sul», um jornal regional republicano de oposição ao regime.
Os elementos situacionistas locais não descuravam a vigilância sobre as actividades dos dois homens. Diziam, à boca cheia, que ambos aproveitavam qualquer oportunidade para desrespeitar o sistema político vigente, o que se tornava notório na forma como tratavam os dados necrológicos relativos aos que tinham militado na oposição, ou apenas apoiado essas forças, os quais eram habitualmente acompanhados de menções elogiosas, ao passo que os falecidos afectos ao regime eram referidos de forma breve e seca. Até que, em 1967, já falecido o pai cinco anos antes, Aníbal Queiroga Pires foi preso pela PIDE. Sobre ele pesava (além da suspeita de ter auxiliado alguns dos assaltantes da agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz) a acusação de cumplicidade na deserção de um alferes miliciano que fugiria para Argel com armas roubadas no Quartel General da Região Militar do Sul: o então alferes miliciano Seruca Salgado, então apenas com 21 anos, depois membro fundador do Partido Socialista e jornalista da RTP. No seguimento da prisão veio o despedimento. O correspondente Queiroga recebia uma carta em que a direcção de “O Século”, «por razões conhecidas», lhe dispensava a colaboração." in
http://viverevora.blogspot.pt/2010/08/o-painel-necrologico-da-praca-do.html
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