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Os quentes dias de verão, cheios de sol, convidam à sensualidade, ao convívio em grandes espaços, enquanto estes frios e cinzentos dias de "inverno" convidam ao "aconchegamento", como gato ronronando aos pés da lareira quentinha e crepitante, em amena cavaqueira ou jogatina.
Aproveitando a lassidão deste dia, fui dormir depois de almoço, para pôr os sonos em dia e para ganhar alento para logo ver na TV o filme da meia noite. 0 Rui foi brincar para casa do Chico e a Susana foi com a Cinda e demais amigas à festa de Natal da Junta de Freguesia de S. Sebastião. E eu, como não me apetece sair, por causa do frio mas também por causa desta chuva miudinha que todo o dia tem caído, pus-me a ouvir música no leitor de cassetes que a Susana "ganhou" na Festa de Natal da Câmara; primeiro o UHF e agora o Paulo de Carvalho e a seguir a Gal Costa. É daqueles leitores que tem uns auscultadores e que a malta jovem traz pendurados nas orelhas, na rua ou nalguns empregos. O Rui também ficou encantado com a prenda que lhe coube, um robot que deita luz por todos os lados e muda de direcção quando choca com os obstáculos.
De modo que me sentei aqui à mesa, desta feita a do "escritório", para fazer-lhe como que uma visitinha, a visitinha que se não proporciona. Estou com uma certa curiosidade, não isenta de alguma apreensão, pela carta que a Maria do Mar prometeu escrever-me este fim-de-semana.
Vi o final do "Faz de Conta'' (desta feita o Solnado não foi tão irritante nas suas conversas com o júri) e, quando me preparava para continuar a nossa conversa de surdo-mudos, alguém tocou à porta; eram a Isabel e o Ricardo, nossos velhos amigas e vizinhos de Évora, do casarão de que atrás falei. Estivemos na conversa até às tantas -acabei por não ver o filme da meia noite - dormiram cá - e há pouco abalaram, com um desenho para encontrarem a casa da Celeste.
Posso pois continuar a minha visita á Maria do Mar, enquanto o Rui e a Susana brincam pegados um com o outro, com a exclamação "pai" nos lábios, até que se magoem e gritem a sério, obrigando-me a intervir com bonomia ou zangado, conforme a minha disposição na altura.
(...)Releio o que escrevi, porque esta conversa não passa de imaginação e a Maria do Mar não está aqui, com o seu jeito gentil, o seu sorriso afectuoso ou levemente trocista, a sua palavra ou o seu gesto amigos. (...)
Setúbal, 1986.12.14
1 comentário:
Um dia a dia esperançoso, do que não chega...
as coisas comuns por dentro das amizades e do amor espectante, a mal disfarçada ânsia do que não chega...o resto é rotina!
Maria Mamede
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