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Poderia tentar perceber isto tudo bem, como perturbação e poderia tentar por isso compreender e "desculpar"-te, mas apenas como amigo e nunca como amante ou companheiro de vida em comum. Posso tentar perceber muita coisa, mas para tudo há limites. (1)
Não aceito abdicar do meu espírito crítico, não tenho sentimentos exclusivistas e de posse das pessoas, no meu "coração" há lugar para todos, cada um no seu canto e com a dimensão adequada. (2)
Sei o que é uma pessoa gostar imenso doutra, pôr nela a esperança e o futuro, sei o que é "subir ao céu e á lua e cobri-los de estrelas" quando estamos com ou pensamos na pessoa por quem estamos "enamorados", sei quanto custam a (des)ilusão e o (des)encanto, os sentimentos não correspondidos.
Apesar de tudo o que nos tem separado, o tempo e a convivência criaram em nós laços e em mim sentimentos que em vários momentos me têm levado a querer estar contigo, a sentir a tua ausência, porque para além do que nos separa, tens qualidades e aspectos que me aproximam de ti, nos momentos em que parece tudo estar resolvido.
Ao contrário do que me tens dito, sei o que pretendo da vida e dos outros, embora nem sempre alcance o que pretendo. Posso morrer buscando em vão a liberdade, a paz e a serenidade. Mas não aceito a paz e a serenidade dos cemitérios, porque a procuro na Vida com os outros, em sociedade. E sei que amando embora os outros, "amo (também) a liberdade, mesmo que ela seja um punhal cravado no meu peito". E não posso nem tens deixado que ambos compartilhemos a nossa vida, porque temos da Vida concepções diferentes. (3)
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1 - Tens uma maneira distorcida de te ajustares a certas situações, que em meu entender tem a ver com as condições em que se formou a tua personalidade. Em vez de procurares quem te dê os amens e toda a razão, deverias procurar quem te ajudasse a perceber e a ultrapassares o modo com (re)ages, "martirizando" os outros. Mas neste campo, não tenho competência para mudar as "coisas", porque para tu te afirmares teria eu de me negar.
2 - E por isso não adoro quem quer que seja - homem ou mulher, pai ou mãe, filho ou filha, amizades ou amante e companheira. A adoração e a paixão são intolerantes e cegas e nada têm a ver com a razão, o entendimento e a compreensão das pessoas, das coisas, dos sentimentos, das relações humanas e sociais. O que não significa que a minha amizade ou o meu amor não sejam valiosos.
3 - Acho que a amizade é mais serena e compreensiva do que o amor. E o amor (ou a paixão) podem surgir repentinamente, e terem a duração dum fogacho ou dum tempo de verão. Mas também o amor pode surgir aos poucos, hoje por causa duma palavra, amanhã por causa dum sorriso, depois devido a um gesto de carinho ou ajuda. Mas o amor e a amizade, menos este que aquele, não existem por si só para todo sempre, antes têm de ser (re)conquistados no dia a dia.
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ADENDA
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Toda a Série «Entre Adão e Eva» é puro romance inventado e qualquer semelhança com factos ou personagens reais é pura coincidência.
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Victor Nogueira
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