texto e fotos victor nogueira
Hoje o que teria sido a cadeia é um local coberto e mal amanhado para estacionamento não de cavalgaduras mas sim de automóveis, através dum estreito acesso, em ruas sinuosas e de calçada irregular, polida pelos passeantes. Se cadeia foi e se as vistas de então fossem semelhantes às de hoje, não teria o ar soturno e sombrio de outras enxovias, como as do Limoeiro, em Lisboa, ou daquela no Porto em que estiveram presos Camilo Castelo Branco e Ana Plácido, estes cada um para sua banda porque para escãndalo já chegavam os seus adúlteros amores e as tragédias do "Amor de Perdição".
Há muitas décadas que não ia a Sintra de comboio e a estação cheia de barreiras para controle de blhetes dos passageiros já não é o que era. Mas adelante.
Pela vila e na encosta do Castelo dos Mouros acima - que me faz lembrar Coimbra em torno da Sé Velha e da Calçada do Quebra-Costas - pelas estreitas ruas ou pelo amplo largo do Palácio da Vila, acotovelam-se turistas, incluindo brasileiros com seu falar cantante. Num banco um jovem alegre e risonho, colorido nas suas vestes e pele como se fosse uma estátua de bronze, toca viola e amealha uns cobres deixando-se fotografar junto às turistas.
Entramos na Igreja de S. Martinho, templo medieval completamente derrubado pelo terramoto de 1755 e muito descaracterizado. Insólito: pelos bancos algumas pessoas sentadas e duas delas embrenhadas em ver talvez vídeos em tablets ou smartphones. Uma placa publicita um Museu de Arte Sacra que não vislumbramos nem nos afadigamos a procurá-lo.
Voltando à "prisão" cuja janela ilustra este post, lembro-me do casarão duma amiga numa vila alentejana (Sousel), remontando aos tempos do senhor D. Manuel I, embora as janelas deste não tivessem grades mas sim uns banquinhos de pedra de cada lado, adossados à parede, para as damas outrora apreciarem o movimento da ruas, talvez bordando e cavaqueando entre si, resguardadas embora e possivelmente por detrás das janelas com adufas, como aquelas que ainda existem no Algarve, sobretudo em Tavira, e que foram preservadas nos balcões duma das ruas do centro histórico de Braga.
Sem comentários:
Enviar um comentário