Em Luanda a casa dos meus pais sempre foi uma casa de portas abertas e o meu quarto na casa de hóspedes eborense sempre foi uma "cidade sem muros nem ameias", tal como abertos eram os meus colegas alentejanos em Lisboa. Mas Évora, Évora era uma cidade sitiada e temerosa. Para mim todos eram amigos até prova em contrário mas dizia-me a D. Vitória Prates, minha hospedeira, que os alentejanos apenas davam a sua amizade a quem previamente provasse merecê-la. Tirando duas colegas minhas, a Lúcia e a Guida, e mais tarde o Miguel Bacelar e o Aníbal Queiroga, nenhum dos alentejanos com quem convivia alguma vez me convidou para sua casa. Foi apenas nos montes e aldeias do Alentejo que senti o sabor da palavra "amigo", não nas vilas ou cidades.
Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNdomingo, 16 de abril de 2017
Victor Nogueira - 6ª feira Santa
Em Luanda a casa dos meus pais sempre foi uma casa de portas abertas e o meu quarto na casa de hóspedes eborense sempre foi uma "cidade sem muros nem ameias", tal como abertos eram os meus colegas alentejanos em Lisboa. Mas Évora, Évora era uma cidade sitiada e temerosa. Para mim todos eram amigos até prova em contrário mas dizia-me a D. Vitória Prates, minha hospedeira, que os alentejanos apenas davam a sua amizade a quem previamente provasse merecê-la. Tirando duas colegas minhas, a Lúcia e a Guida, e mais tarde o Miguel Bacelar e o Aníbal Queiroga, nenhum dos alentejanos com quem convivia alguma vez me convidou para sua casa. Foi apenas nos montes e aldeias do Alentejo que senti o sabor da palavra "amigo", não nas vilas ou cidades.
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