Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNsegunda-feira, 6 de agosto de 2007
Eugénio de Andrade
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CIDADE
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Meti-me por setembro fora, a caminho do fulgor das maçãs, deixando para trás os bruscos golfos da tristeza e uma luz de neve quebrada de vidraça em vidraça.
Contemplava a cidade das pontes pela última vez, envolvida por lençóis encardidos e uma névoa que subia do rio para lhe morder o coração de pedra.
Era um burgo pobre, sujo, reles até - mas gostaria tanto de lhe pôr um diadema na cabeça.
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in Memória doutro rio
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RUA DUQUE DE PALMELA, 111
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Pelo lado dos lódãos ao fim do dia
depressa se chega agora no verãoà pedra viva do silêncio
onde o pólen das palavras se desprende
e dança dança dança até ao rio.
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in Escrita da terra
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JARDIM DE SÃO LÁZARO
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É um suspiro a água -
ergue-se
como os lentíssimos lábios do amor
descem pelas espáduas.
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Canção Breve
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Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.
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Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com resto de ternura.
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Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas
deste amor a escorrer melancolia.
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in «Os amantes sem dinheiro»
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http://www.icicom.up.pt/blog/passosnainvicta/arquivos/cat_cultura.html
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Para a menina da Cidade de Granito
escolha de Duarte Sousa Dias
3 comentários:
OBRIGADA Victor!
Aprendi a amar Eugénio de Andade com um Amigo, que há muito se perdeu de mim...
E é precisamente "Os Amantes sem dinheiro", aquele de que mais gosto!
Quanto à menina, só no espírito Victor, só no espírito.
Um beijo de ternura e de agradecimento.
PS.:-Obrigada a Duarte Sousa Dias pela escolha.
Maria Mamede
é aqui que queres que deixe os meus comentarios? desculpa mas hoje tou furiosa .bjo
carla granja
Sabes eu tenho lido pouca poesia, mas gostei tanto destes poemas que resolvi que vou procurar e começar a ler Eugénio de Andrade.
Um beijinho
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