* Victor Nogueira
1969 - CENAS DO JARDIM (excerto)
1972 – Lassos
1972 – excerto duma carta
1973 – excerto duma carta
1973 – Cartas de Soror Maria Madalena ao Conde Niño (excerto)
1974 – excerto duma carta
1975 – excertos de cartas
1982 - O que amo em ti é a vida
1985 - Estão roucas as palavras
1985 - Sedento nas tuas mãos esguias e belas
1986 - É um pássaro, é uma flor
1989 – DISTRACÇÃO
1989 - Com desconcerto, há na vida tempo
1989 - SÃO TRISTE MADRIGAL E MELANCOLIA
1989 - O AMOR É BEM QUE SUAVIZA
1990 - NOSTALGIA
1990 - SOLILÓQUIO EM TORNO DE SEBASTIANA BALDE DE ÁGUA FRIA, PRINCESA DOS MUITOS, CÁLIDOS E ÁSPEROS NOMES…) (excerto)
1991 -RECEITA PARA UMA MENINA CALADA
1992 – Sorriste
1993 – Com os meus dedos
1994 - quadras para o dia da mulher
1995 - concurso para as marchas populares (excertos de 3 poemas)
1997 - Tenho uma dor no meu peito
1999 - Ai! bom bom, calor humano
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1969
CENAS DO JARDIM (excerto)
1. Era um jardim
geometricamente desconfortável
artificial
No coreto
a banda tocava.
Além
caridosamente
alguém partilhava com os "jardineantes"
as goelas do transístor escancaradas
No banco
ao meu lado
uma matrona e uma gaiata conversam
banalmente,
"Puxa a mala um bocadinho mais para baixo.
Isso! Assim!
Para que te não vejam as pernas"
E eu sorrio-me
por entre a sisudez duma "Introdução à Vida Política"
Pobres e ridículas gaiatas!
Pobres e ridículas matronas!
1969.Fevereiro.24 - Évora
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1972
Lassos
como roupa
no chão....... em rodilha
…............... Rugas
(imperceptíveis)
….................nos olhos
um leve sorriso:
olá amiga!
.
um erguer pela gola
um desalento
um sorriso brando
.
na serenidadde do entardecer
uma enorme interrogação
a luz do candeeiro
o pó dos caminhos
.
nos lábios
um leve sorriso
(imperceptíveis)
…......................ao canto dos olhos
rugas
..........................na alma
um enorme cansaço
.1972.Março.04 – Évora
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1972
(..) Aqui estou no meu quarto, buscando para ti as palavras que não encontro, corpo sem imaginação mas irritado e desassossegado pela constipação que me percorre as veias e me enche dum nervoso miudinho. Busco para ti as palavras dos outros, nos livros dos outros, os ponteiros aproximando se das nove e trinta, hora da vinda do homem que levará de mim as letras que cadenciadamente vão surgindo no papel branco que já não é só! Busco as palavras e apenas encontro estas, hoje vazio de ti pela tua ausência, ontem pleno pela nossa presença. São vinte e uma e vinte, hora de parar, os livros espalhados pela mesa, o corpo quebrado, a imaginação e a voz quase secas e frias. Daqui desta terra, para ti noutra terra, te abraço e beijo com ternura e amizade, na memória do tempo que fomos juntos. Aqui estou! (MCG - Évora - 1972.09.21)
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1973
(...) Podia falar te da tristeza sem sentido desta vida que levo. Da necessidade de agarrar o presente com ambas as mãos. Do nenhum entusiasmo ao avistar anteontem à noite as luzes de Évora. A viagem [de regresso da Amareleja] foi rápida, com minutos de silêncio, outros de conversa animada e outros de busca desesperada de palavras, no negrume da noite, com a estrada deslizando sob nós, o rádio transmitindo música e as pontes aparecendo bruscamente na curva da estrada, dois parapeitos brancos, esguios, varridos pelos faróis do automóvel. Chegados ao burgo, deixada a Marília e [outro] em casa, foi a busca dum lugar para estacionar. As aulas recomeçaram, mas ... quero ir-me embora. É quase uma obsessão. Évora e o Instituto não são apenas o negativo. (MCG - Évora - 1973.11.20)
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1973
Cartas de Soror Maria Madalena ao Conde Niño (excerto)
(...)
3. - Este tempo enlouquece os sentidos e dos nossos lábios brotam as palavras ainda há pouco envoltas em espinhos e agora frescas e acetinadas, brilhantes como o orvalho. Dizem que a Primavera é a estação do amor. Mas o amor primaveril é recatado e suave. Mas o nosso, meu Amor, é quente como o fogo, convidando-nos à loucura; o nosso é um amor de Verão, pois é dos dias em que fora de nós estamos, em que o meu pensamento por ti me faz desejar-te até ao delírio, em que o sorriso e a voz terna fazem desejar-te, paradoxalmente, com toda a simplicidade que deveria haver entre um homem e uma mulher. Estás longe e os gestos e as palavras simples, os deslumbramentos, estão interditos. Não sei escrever coisas bonitas como as que me escreves. Queria apenas dizer-te da minha imensa ternura por ti, nestes dias quentes de verão, na cidade que proíbe os gestos que a mostrariam. envolta neste maldito vento suão. Ah! não poder escalar-te lábio a lábio, seguir-te com os meus dedos o perfil do nosso corpo em ti, em mim, até que a loucura corra livremente em nós ! Beijo-te e abraço-te e abandono-me-te com Amor, com ardor, porque não quero hoje pensar no futuro.
Cartas não datadas escritas por Soror Maria Madalena, encontradas numa feira de velharias, vertidas em português actual por Victor Nogueira, na cidade de setúbal aos 3 de Julho de 2012
ver o texto completo aqui
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1974
Estamos a meio da tarde de domingo, aqui no Monte de AROUCA [ Unidade Colectiva de Produção Soldado Luís] onde a Celeste dá aulas, uma herdade enorme que quase parece uma aldeia, agora (quase) abandonada pela crise da agricultura e da política dos agrários. O monte fica junto ao rio Sado, a 10 km ao sul de Alcácer do Sal e a 2 horas de camioneta de Lisboa. No meu colo está a minha amiga Eva, filha duma trabalhadora [Aciolinda], e que tem 3 anos. Uma "mulherinha", como me diz. A mãe dela aquece se ali ao lume, enquanto a Celeste lê e a mãe arranja as azeitonas que colheu ontem à tarde. (NSF - 1974.11.27)
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1975
Os dias estão maravilhosos e cheios de sol. As andorinhas enchem a Praça do Giraldo com os seus chilreios. (...) Está um domingo maravilhoso, daqueles que convidam à camaradagem e alegria. (. (MCG - 1975.03.20)
(...) Está uma tarde maravilhosa: uma tarde verdadeiramente primaveril. A "malta" foi para o campo; a mim também me apetecia ir, mas ir com eles todos era quase o mesmo que ir sózinho. A primavera é para o namoro e a camaradagem. Assim... vim para casa, lavei a roupa e sentei-me aqui à mesa a estudar: os primórdios do capitalismo e as ideias liberais. Cá recebi os teus "conselhos" para a lavagem da roupa. (MCG - 1975.03.20)
A mesa é pequena e está atulhada de livros, empilhados uns sobre os outros. O rádio transmite música, aos soluços, Faz me falta o gira discos, mas não tenho local para colocá lo aqui no quarto. Está um domingo frio, enevoado - anteontem à noite choveu - e resolvi ligar o aquecedor. (MCG - 1975.01.13)
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1982
O que amo em ti é a vida
são os campos, as encostas verdejantes
a cidade, os carros que passam
os animais, as plantas e as árvores
as montras iluminadas e coloridas
a chuva na vidraça ou no rosto
o sol, o mar, a brisa
o cheiro a maresia
o perfume das flores
.
O que amo em ti é
a verdade
a ternura amor que entre nós é
a camaradagem
o andar que percorre o corpo
sem segredos nem esconderijos
a novidade aventura
o frémito, o prazer, a paz
.
Somos milhares somos milhões
...........pelas estradas e pelos atalhos
...........pelos campos e pelos pinhais
...........pelas ruas e pelos becos
na cidade dos homens
................ombro a ombro
................frente a frente
................lado a lado
desencontrados
.
.
1982.01.16 Setúbal
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1985
Estão roucas as palavras
gastas as tuas mãos
duras
secas
cortantes
como punhais
1985.Julho.23 - Setúbal
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1985
Sedento nas tuas mãos esguias e belas
aqui
na estrada da vida
à beira do caminho
de pé nesta tarde de verão
louco pássaro
.....................de asas partidas
busco a carícia do sorriso
..........o quente murmúrio da voz
..........o frémito das nossas mãos
..........o suave perfume do corpo apetecido
..........turbilhão incandescente sufocante
..........rio mar profundo
sigo ...com os dedos e os lábios o teu contorno
..........aqui os olhos ....a boca ....o lóbulo das orelhas
..........o andar decidido
..........os seios pequenos e firmes
além a ondulante seara
........a curva suave
........o moreno vale
fresco límpido agridoce refrigério
1985.Julho.28 - Setúbal
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1986
É um pássaro, é uma flor
Uma águia paira no ar.
Correm os rios e as ondas
….....................em espuma se desfazem
A brisa traz o cheiro a maresia
enquanto ouço nesta alvorada
….....................a carícia do teu rosto
….....................no veludo da voz quando despertas
….....................o teu corpo esbelto e apetecido.
Procuro-te na ternura das mãos
…...............enquanto
….....................….......sequiosos
….....................….......os lábios murmuram
palavras de silêncio e prazer.
Gaivotas partem em bandos.
É um pássaro trémulo o silêncio desta flor do mar
E dói esta mágoa do que ficou encoberto
….....................….como bosque semeado fora do tempo
….....................….como sol arrancado antes de florir.
Ah! quem parasse o escorrer destes dias!
1986.Maio.01 - Setúbal
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1989
DISTRACÇÃO
.
Procuro-te
levando-me-te
como quem nas mãos leva
um sopro de fragilidade
que tu
em gesto ou palavra dispersas.
Caindo
na seriedade
o sorriso
apagado.
.
.Setúbal . 1989.Setembro
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1989
Com desconcerto, há na vida tempo
Com desconcerto, há na vida tempo
P'ra estar sózinho ou na companhia,
Em paz ou na guerra do dia-a-dia
Com grã siso ou sem qualquer assento.
Devagar na viagem correndo,
Çom má tristeza ou boa alegria,
Os pés em terra ou na fantasia,
Palrando ou nada mesmo dizendo;
A casa com ou sem comodidade,
Com comida em fartura ou faltosa,
Com amor, ódio, carinho ou secura.
Vivendo ou não, onde a felicidade,
Na vida, destemida ou receosa,
Perdida ou na doce candura?!
1989.09.10 Setúbal
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1989
SÃO TRISTE MADRIGAL E MELANCOLIA
.
Pus a bordada toalha de renda,
No candelabro acendi a vela,
Alindei a mesa com trigo e rosas,
Preparei o vinho e a codorniz.
Em surdina a música e a prenda,
Feliz contigo, poema na tela:
Ternura e beleza mui preciosas.
Mas faltaste ao amador-aprendiz;
O jantar lixou-se, não estou feliz!
1989.09.11 SETUBAL
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1989
O AMOR É BEM QUE SUAVIZA
.
A tua presença na minha casa
Enche o ar de color e alegria,
Arte, doce, terna, bela magia;
Assim meu coração ganha outra asa.
.
Espantando a tristeza que arrasa
Rio, danço com tua cantoria;
Cozinhamos o pão que não esfria
Brincando, procuramos boa vaza!
.
Com tua feição nos vasos pões flor
A tudo dando vida e bom sabor;
Caricio teu corpo, os teus lábios,
Afago teu rosto, aparto as dores;
A rua, plena de sol e louvor,
É verde planura com riso dos sábios.
,
Setúbal 1989.09.05 (3)
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1990
NOSTALGIA
Procuro dentro de mim
................a memória das naus que partiram
................nesse teu gesto de me
.........................................tocar o rosto
.........................................afagar os cabelos
.........................................ajeitar o kispoo
................toque das tuas mãos
................tocata ligeira e graciosa
Recordo a tua pele morena
................a tua voz camarada e amiga
quente sedutora
................o teu ar fresco e donairoso corpo
................a tua mão na minha
no café no cinema ou no restaurante
................o teu cabelo curto ou comprido
................as tuas palavras
................quando me dizes
................à partida
................rápido pela auto-estrada
................não vás depressa
................cuida de ti da tua saúde
................o beijo na face ou como ave
............................pássaro lançado ao vento
Regresso em pensamento viajo
Percorro os sítios onde estivemos
................o areal o lugar à beira-mar
................a esplanada as ruas da cidade aberta
................a tua casa acolhedora
................o silêncio
Hoje raro me telefonas ou procuras
a não ser quando me sabes doente ou
no dia do meu aniversário
na passagem dos anos
com delicada gentileza!
Flor do mar retraída.
1989 03.11 setúbal
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1990
(…) E no entanto eram doces e macios a pele e os lábios de Sebastiana Verde Sol, brilhantes de mil promessas os olhos da cor do trigo em flor, um campo de giestas com sabor a cravo e canela a ondulante nau onde vogava a Princesa que encantara João Bimbelo, que sem nada de ratão ou gatarrão se tornou novelo enleado com fraca rede na roca de Sebastíana Raio de Sol,
Nesta altura Sebastiana Mil Sóis soltará uma das suas deliciosas gargalhadas com sabor a menina dizendo com agridoce sorriso “Não há meio, João, de ganhares juízo, de me tirares do pedestal em que me colocaste. Pois as princesas morreram há muito; as que existem em teu pensar não são raposas nem raposinhas e o derradeiro dos príncipes há muito que faz tijolo e não há manhãs de nevoeiro ou dias de sol que o façam renascer, mesmo que me agrade o que escreves e dizes de mim com tal gentileza, encanto e sinceridade"
E com duas palavras, um sorriso (trocista?) por detrás dos óculos escuros., um jeito de encolher os ombros de quem olha para outro lado com a pressa e enfado de viver depressa, derrubará Sebastiana Mandrágora o xadrez calculadamente encenado por João Baptista Cansado da Guerra ou o improviso repentinamente suspenso no vazio!
Coitado do João Bimbelo, dirá talvez o espectador parafraseando Pessoa, coitado do João Baptista que um dia se agradara duma certa Sebastiana Verde Sol, Princesa de muitos e cálidos nomes. E neste ponto do conto João Baptista Cansado da Guerra sentar-se-á defronte de si mesmo e rir-se-á dos seus (des)enganos porque um dia se agradara de Sebastiana da Cor do Trigo em Flor.
E o riso de João Bimbelo ficar-se-á uma vez mais pela flor da pele, mas dessa marca poucos se aperceberão, porque João Baptista fora seduzido e se agradara de Sebastiana Princesa dos muitos e cálidos nomes, primeiro porque a considerara diferente das muitas Maria-Vai-Com-As-Outras que enxameavam os campos e o povoado e em segundo porque é natural que um homem se agrade duma mulher, especialmente se ela for sedutoramente sedutora e nela se reconhecer como igual em busca da liberdade e do horizonte vermelho. (…)
E João Que Não Chegara a Príncipe dirá que a felicidade não tem história e que todo o tempo é escasso para vivê-la e saboreá-la, acrescentando que a vida é feita de sonho (e também de mudança, como diria o poeta), embora vivido com os pés na terra, e que a vida é sempre feita de novos amanhãs, como dissera uma certa Maria Papoila Vai Com As Outras, embora fique sempre a mágoa ou a nostalgia dos sonhos que se sonharam e não viveram, do sol arrancado antes de florir.
Os sonhos que se não viveram pertencem ao mundo das ilusões e das sombras, dirá o narrador, e de tudo fica um pesado silêncio enchendo o ar e penetrando como breu em todos os poros e em todos os interstícios, bem temperado com um crescente desânimo para lá da viseira, juntando-se a outros pesos, fazendo surgir a pergunta se valera a pena encontrar e “conhecer” Sebastiana Maria da Pele Doce e Morena, que inspirara tantos bonitos textos que recebera com aparente agrado e lisonja e guardava num qualquer dossier, não se sabe bem porquê nem para quê.
E na recta final se mudou o discurso, sem boniteza, que não transparecia nestas linhas finais para encerrar com ponto mal alinhavado o solilóquio em torno de Sebastiana Princesa, dos Muitos, Cálidos e Ásperos Nomes.
Como quem arremata para que o tecido se não esfie e desfaça, levado pelo vendaval!
E retirando-se o narrador, foi encerrada a escribadura, no palco abandonado renascendo o silêncio em mar de aparente calmaria.
(in SOLILÓQUIO EM TORNO DE SEBASTIANA BALDE DE ÁGUA FRIA, PRINCESA DOS MUITOS, CÁLIDOS E ÁSPEROS NOMES…) (excerto)
1989.12 e 1990.03.13/16 SETUBAL E PAÇO DE ARCOS
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1991
RECEITA PARA UMA MENINA CALADA
Em toalha de renda
planta-se uma seara de gestos e palavras
sem novelo, q.b.
…………..azul de amizade, macia como veludo
…………..murmúrio do mar com sol a nascer
…………..ósculos, dois, odoríferos.
Estende-se bem e junta-se um traço de união
…………………………..ternura e uma esmeralda
Leva-se ao lume em fogo brando.
À parte no almofariz mistura-se
uma pitada de sal, pimenta, salsa vinho e pão.
Junta-se tudo e agita-se com delicadeza suave.
.
Serve-se fresco com doce riso sem rodela
.………………………………….au clair de la lune
Próprio para qualquer estação
…..........…acompanhado de Açucenas
………………………...........Malmequeres
………………………...........Orquídeas e
.………………………..........Rosas em fundo verde.
1991.Agosto.08
Setúbal
~~~~~~~~~~
1992
Sorriste e
na tua voz
os pássaros vieram de longe
pensando que era madrugada!
1992.03.10 Setúbal
~~~~~~~~~~
1993
2. Com os meu dedos
sigo lentamente o teu olhar
Uma leve brisa agita o teu rosto
e não sei bem se é um pássaro
………………….ou uma flor
o sorriso que nasce nos teus lábios.
Será noite
ou uma criança a navegar?
1993.09.25 setúbal
~~~~~~~~~~
1994
quadras para o dia da mulher
(…)
2.
Bate, bate, bate, bate
Toc toc sem parar
Não há casa sem rebate
Quando nos fazem chorar
Ser mulher é triste sina
Numa noite sem luar
Com alma bem pequenina
Sem vontade de bailar
1994.02.02 setúbal
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1995
concurso para as marchas populares (excertos de 3 poemas)
1 Setúbal, terra d'encanto
Meu amor vem á janela,
São os Santos a bailar,
Vai-te embora, sentinela,
Fiquem todos a cantar.
Com o povo a sorrir
E bondade no olhar,
Sem vontade de partir,
Numa noite de luar!
2. Setúbal, sempre varina
Valha-nos Sant'Antoninho,
Com mil cravos de papel,
Procurand'o sapatinho,
P'ró casamento sem fel.
Cada canção, um desejo
Em cantata de papel,
Manjerico no cortejo
Da nossa terra sem fel.
3. Setúbal mar de prata
Com a boca um beijo,
No arco em foguete,
P'ra matar desejo
Sem qualquer ralhete.
Contem esta trova,
Ao Santo confessa,
Não há Casanova
Sem falsa promessa.
1995.05.20 setúbal
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1997
Tenho uma dor no meu peito
Que m’aperta o coração
Pela tua falta de jeito
Quando me dás a tua mão.
Oh! minha cara catita
Teu sorriso d’encantar
Rosa bela, bonita,
Que me deix’a navegar !
Narigueta arrebitada
Olho negro com luneta
Doce visão, exaltada,
Se perde tino, pespeta.
1997.02.22 Paço de Arcos
~~~~~~~~~~
1999
Ai! bom bom, calor humano,
calor humano sem fim,
vamos indo, mano a mano
tocando bem no flautim.
Ai doce, bonito som,
do farfalhar do papel,
quentinho, como edredon
doce, de Belém pastel.
E a letra, ó Deus, ó Céus,
Vejam de roseta a pedra.
Acordem, pagãos, incréus,
a surpresa por mim medra.
É branco, alvo de lisura,
o cestinho desta carta
verde brisa na planura
como se fora lagarta.
E com esta lá me vou,
que a rima é suadouro,
o correio transportou
para a Lena, um tesouro
1999.01.15 setúbal
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vem de entre eros e afrodite 12 - (e de repente é como se todas as estrelas se apagassem)
operários - tarsília do amaral
foto sebastião salgado
gueto de Varsóvia - 1943 Maio - foto de Jurgen Stroop
1943 - repressão duma greve no Barreiro
Setúbal - crianças do Bairro da Bela Vista - Victor Nogueira
matriz para xilogravura - josé Luís Nogueira
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