Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

porto - nº 44 da travessa da carvalhosa 1949/1950 -



foto de família - porto - nº 44 da travessa da carvalhosa 1949/1950 - 

Para além do escriba, os meus avós António, Alzira e Zé Luís e os meus tios José e José João, para além da minha mãe. Por exclusão, a fotógrafa deve ter sido a minha tia Lili. 


Quando nasci os meus avós e seus filhos estavam em Angola, pois o meu avô Luís era quimico-analista na Fazenda Tentativa, de açúcar, no Caxito, nos arredores de Luanda. Tal como o meu pai o meu avô ficou "enfeitiçado" por Angola mas a vida não lhe permitiu que para lá regressasse. Na altura da foto o meu tio José João tinha retornado ao Porto para tirar o curso de arquitectura, tendo regressado a Luanda em 1956, pouco depois de concluí-lo. Nesta altura ainda chegou a dar aulas na Escola Industrial e Comercial de Setúbal, no ano em que ela passou do Largo da Palmeira para o Parque do Bomfim, a mudança feita por professores e alunos. Nesta mesma escola o meu pai e eu demos aulas, ele depois da independência de Angola, eu depois de terminar o curso de sociologia, contrariado pois nunca gostei de ser professor, proissão transitória que larguei mal pude. Mas o meu pai e o meu tio gostavam de dar aulas - em angola o meu pai nunca havia sido professor mas era um bom explicador de mim, qd tinha tempo para isso..

Depois do meu nascimento a minha avó Francisca insistia com a minha mãe para que mandasse o "menino" para o Porto, para juunto dela, mas faleceu antes de nos conhecermos. Existe apenas em resultado das memórias da minha mãe e do que dela a restante família me contou.

A casa tinha dois pisos e um grande quintal nas tazeiras onde havia criação - muito gostava eu de ver os coelhos nas gaiolas com o narizito a tremer e os olhos enormes ou aos saltinhois ziguezagueantes assim como os pintainhos amarelos partindo a casca do ovo e logo começando a andarilhar.. Para além da criação de animais havia uma enorme nogueira (produzia grandes nozes) e uma latada, cujas uvas a minha avó vendia para fora. A economia doméstica era complementada com o cultivo de batatas, alhos, couves e cebolas plantadas no referido quintal.

Toda a vida o meu pai não comia carne de coelho apesar dos castigos da Alzira pois em miúdo afeiçoava-se a eles e não podia vê-los no prato. Nesta altura a minha avó Francisca - que não conheci - e por quem o meu avô está de luto, que manteria toda a vida - já havia falecido.. Nesta foto falta o triciclo, que surge noutras. Tirando o meu avô Barroso, nunca ninguém na família pôs luto pela morte de familiares - o luto sempre foi e tem sido considerado pessoal, íntimo, não carecendo de exteriorização.

ELEGIA PELA MINHA FAMÍLIA DISPERSA



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