por Victor Nogueira a Quarta-feira, 24 de Agosto de 2011 às 1:23
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* Victor Nogueira
O sino de Santo Antão bate as 9 horas e a chuva bate nos vidros da janela como areia pisada. Tempo bom para a quentura da braseira ou... Mas espera! Assomo à janela e, bem me parecia. Cai granizo em cataratas! Vou dar uma volta, apanhar ar para refrescar - e daí não sei, o vento é violento – parece-me. (MCG - 1973.02.14)
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Quanto a mim, vou me embora p'rá reunião, com passagem pelo Café Arcada, cheio de fumo e parecendo que nem mar de gente quando estamos no cimo das escadas.. (MCG - 1973.03.14)
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Olho para os meus colegas e reparo que os tipos de Lisboa ainda não estão de regresso. O filho - ou um dos filhos - do António Champalimaud - aluno do 1º ano, era um pratinho às 2.as feiras, atrás do Veladas, alto, gordo, de cabelo alourado encarapinhado, para este lhe tirar a falta. Uma cena perfeitamente risível. (MCG - 1973.04.02)
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O dia hoje está maravilhoso e eu já me"averanei" no trajar. Évora está cheia de miúdas, magotes delas, de, fora, novinhas, que enchem as ruas e o Arcada, onde consomem hectolitros de laranjadas e colas. (MCG - 1973.04.06).
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E eu, que até já estava a habituar-me ao sossego dumas férias em Évora: levantar, uma volta pela cidade com passagem pelo [apartado 65, onde recebia a minha correspondência] 65, umas leituras de estudo, almoço, uma ida até à Nau [cervejaria na parte nova da cidade], mais modernizada que o Arcada e parecendo uma cervejaria em Luanda, pelas casas, pelas ruas desafogadas, pelos rapazes e raparigas menos "cinzentos" que os de cá de cima, mais umas leituras e uns inquéritos - o cinema é que está mau porque não tem corrido nada de jeito. (MCG - (1973.04.12)
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Lá fora a chuva miúdinha cai miúdinha, salvo uma ou outra pinga mais forte desprendendo se do beiral para o pátio. Está uma noite agradável. Algures ouve se talvez um rádio. Ou será das "misses" na TV? A malta do café foi especar-se para ver as meninas desfilarem mostrando as suas plásticas e sorrisos e ademanes mais ou menos (des)elegantes. (MCG - 1973.04.30)
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A Rua do Raimundo está linda. Da Rua do Lagar dos Dízimos para baixo arrancaram o calcetamento. Agora é só "covaria" e terra batida. Gosto mais assim. Palavra. Também andam para aí a deitar prédios abaixo que até chateia. Pena não os deitarem todos e plantarem árvores e relvado que não fosse proibido pisar. (MCG - 1973.06.03)
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No Giraldo Square erguem-se bancadas e toldos, que vedavam ao trânsito automóvel a rua da Selaria (ou 5 de Outubro). O Giraldo é uma "bancadaria" para [comemorações d]o 10 de Junho, que este ano deve ser comemorado em grande, para compensar os desastres que se vão averbando na Guiné e no Norte de Moçambique. (...) Domingo próximo, em Portugal de lés a lés, viver se ão jornadas de fervor patriótico! (MCG - 1973.06.07)
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O Arcada é um zum-zum de vozes e louça e máquinas e cadeiras atiradas. Na mesa ao lado o Camilo delicia-se com o "Ricardo III" do Shakespeare. De vez em quando comunica-me um ou outro dos diálogos da peça. Além, debaixo dos arcos, passam pessoas, algumas olhando cá para dentro quando de passagem. (MCG - 1973.06.08)
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(...) Num ápice o Arcada enche-se. Terminaram as condecorações, os toques de clarim e o desfilar das forças em parada. Já ontem se notavam muitos forasteiros que de longes terras vieram até ao povoado. Aqui à minha direita, muito ternos, uma moça conversa com o namorado e deixa entrever um grande pedaço da pele das costas, entre as calças e a blusa. Questões de posição! À esquerda, um marinheiro com familiares (?) exibe a sua condecoração de fresca data.
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Além o senhor Jaime abre e fecha os braços, como asas, enquanto vai dando lustro aos sapatos de um cliente. Passam empregados com as bandejas cheias de chávenas, copos e comes. O casalinho de namorados bebe chá com torradas. O mesmo que um casal já caminhando para a meia idade aqui à esquerda, na mesa ao lado. Ele já acabou de ler o Diário de Notícias (fraco gosto) e ela dá lhe uma torradinha. (...) O marinheiro levanta se e parte. Afinal a bengala não é dele mas do amigo que o acompanha. O senhor Tenente e o senhor Coronel cumprimentam se, batem a pala e apertam as mãos, enquanto as respectivas esposas se beijam. Na carequinha do senhor Coronel o vinco na pele assinala a presença do boné, agora sobre a cadeira.
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Entram pessoas de luto e há cumprimentos de mesa a mesa. Precisava duma câmara de filmar. Sobre a minha mesa, "O Século" (sabe) que dentro de dias será descerrada em Luanda uma estátua ao Marcelo [Caetano]. Para além d'O Século a lapiseira, um livro ("A Sociedade de Consumo") e o porta moedas (agora é incómodo trazê lo no bolso). (...) O Jorge apareceu ontem pelo café, depois duma longa ausência. Mais velho, já não o miúdo que conhecemos, agora com os ombros curvados, mostrando-nos os calos do trabalho de servente de pedreiro. Gosto dele, mas não encontro nem os gestos nem as palavras que lho digam. (1) ( MCG - 1973.06.10)
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Évora, à noite, ainda é comestível. Para mim, não é senão um monte de pedras, que anseio ver pelas costas para nunca mais. (MCG - 1973.06.12)
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Isto, nesta terra, é o fim da macacada. Aqui há umas semanas, à hora do almoço, a Domingas foi com o Carlos [Nunes da Ponte] ao restaurante Fialho, onde o dr. Vasco Caetano nos marcara encontro para proceder ao pagamento dos inquéritos [de Arraiolos]. Pois o amigo Valentim foi diligentemente informado, por um tipo que até nem é das relações dele, que a "sua mais que tudo" tinha ido e vindo do Fialho... acompanhada! Deu-se ao trabalho de segui-los, para conveniente informação a quem de direito! Isto é o fim! (MCG - 1973.07.03)
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Este barulho do café cansa me e dispersa me. Estou lhe demasiado sensível. O Portugal já tem esplanada no passeio, mas o Betinho, dono do Arcada, deve andar em compressão de despesas e o mar de gente daqui não se espraia pelo passeio. (...) Entretanto mudei de mesa, estou agora na de tampo azul. O Chico Garcia sentou-.se aqui, tomou uma limonada e agora aprecia o panorama em redor, enquanto assobia. (MCG - 1973.07.08)
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Isto é que hoje foi um DIA!... Uma trovoada mesmo por cima da cidade: relâmpago, trovão e corte momentâneo e breve da electricidade eram simultâneos, iluminando e escurecendo o "Portugal". Então e os aguaceiros? Vá lá, que o céu está a descobrir. (MCG - 1973.07.10)
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Greve dos Bancários em Évora? Nem cheiro dela! "Amanda se" cada "boca" ali naquelas mesas do café que é impressionante. (MCG - 1973.07.16)
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30 foram as camionetas (fora os automóveis particulares) que de Évora se deslocaram a Lisboa para apoiar o Marcelo [Caetano]. Beja, Santarém, Leiria, Portalegre, enfim, milhares de tipos confluíram para a manifestação do entardecer [em Lisboa]. Pena não autorizarem as contra manifestações. (...) O Diogo diz que da Amareleja não terão ido pessoas à manifestação (salvo talvez os da Casa do Povo). Não porque sejam do reviralho, mas porque não se metem nestas coisas (viver não custa..). (MCG - 1973.07.19)
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Chove. Está cinzento. A chuva faz barulho no pátio. Amanhã é 3ª feira, o meu dia negro, pois a cidade - e o café - enchem-se de alentejanos corpulentos, solidamente parados no meio do caminho, de chapéu na cabeça e fatos escuros, como se nada mais existisse no mundo senão as suas irritantes pessoas! Embora cheia de gente, a cidade, para mim, está despovoada. Quando não estou na minha torre (o meu quarto, cela, como diz a D. Ilda) ando por aí, pelo café, pelas livrarias, pelo Instituto[ISESE], quase sempre (fingindo-me ) muito atarefado. (NID - 1973 ?)
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Cada dia que passa, deste últimos, aumenta o empestamento dos ares de Évora. É um cheiro que enche a atmosfera, infiltra se pelos interstícios, sobe nos pelas narinas rumo aos pulmões, irritando de passagem as pituitárias. E eu estou constipado mas sinto-lo. Mesmo aqui em casa o "air freshner" não consegue sobrepor se lhe por muito tempo. A Rua do Raimundo... ah! a rua do Raimundo é uma vala enorme a céu aberto, começando aqui junto à do Lagar dos Dízimos e prolongando se lá para baixo, até às Portas do Raimundo. A rua está esventrada e pontezinhas (ai, que giras!) ligam as portas pares ao outro lado, dos ímpares, por onde circulam já não automóveis mas peões, saltitando às vezes de montículo em montículo de terra. Ao longo da vala trabalham operários, enquanto no fundo daquela, em canos abertos ao vento, corre um líquido escuro, talvez brilhante. É ele o responsável por este cheiro oloroso que me enche a pituitária algo adormecida pela constipação. Finalmente mudam-se os canos de esgoto. Évora está empestada. (MCG - 1973.08.01)
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(...) Na varanda das piscinas, em Évora, às 15:30. Está um dia quentemente abafado; nas ruas muitas saudações dos "amigos" e conhecidos que passam. Na boca um sabor amargo e de náusea. Detesto Évora. Pronto. Já disse. Poderei algum dia apreciar a beleza de Évora ? (MCG - 1973.09.07)
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Fui ontem aquela cidade mumificada (-museu, reza a propaganda turística!). Nem queiras saber como fiquei doente, como estive doente nas horas que estive naquela terra, que me parece um pesadelo, longe que dela estou. (...) Em Évora encontrei montes de malta: eram olás! hellos e bons dias quase pegados. Até encontrei o cobrador da camioneta da Amareleja! (MCG - 1973.09.08)
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Acabei agora de jantar - em casa.[ A D. Vitória deixara de fornecer comida aos hóspedes] Não é muito fácil, pois ao contrário do que sucede nos supermercados Pão de Açúcar, os de Évora apenas têm pastéis, rissóis e filetes. Acompanhamento: só salada russa ou batatas frias de pacote. E viva o velho. (MCG – 1973.10.10)
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Ontem à noite (1973.10.24), no regresso de Arraiolos, muitos Mercedes a caminho de Évora, onde às 21:30 alentejanos cinzentos de ar sisudo aguardavam ordeiramente o início da sessão de propaganda da ANP [Acção Nacional Popular]. Debaixo dos arcos [arcadas], uma fila de homens, com ar humilde e jeito de rebanho descido da camioneta, dirigia se para o cinema onde se realizaria a tal sessão. A Oposição não comparecerá as eleições no domingo. O Marcelo [Caetano] bater-se-à contra nada. (MCG - 1973.10.25).
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É noite. Do pátio chega-me o esfregar da escova no cimento e da água que escorre. Música do século XVIII abafa (quase) o tiquetaque do relógio. São 19 horas em Évora. A cama desfeita, o pijama sobre o corpo, um bocejar enorme. A viagem foi mais fatigante e monótona, cortada por longos silêncios. Cansado - fatiga nervosa - resolvi ir jantar aos "Manuéis", eram 14 horas: vitela em molho de tomate e "mousse" de chocolate (a última!) (...) Em casa deitei-me mas o dormir não veio e li O "Tintim", mais o"Expresso" (e as suas análises embirrantes, "higiénicas"), o "Comércio do Funchal" (e as suas "contradições de classe", agora em guerra com a "República"), o "Diário de Lisboa" e a "República" (cada vez me aborrece mais a "ingenuidade" do senhor Raúl Rego)... Enfim, agora é que são mesmo 19:00 horas e bocejo tremendamente, o que é mau sinal. (MCG - 1973.10.29)
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1 - Em 5 de Abril de 1971 escrevia eu: "Sábado fui com o Jorge ao cinema, ver um filme de desenhos animados com o Asterix. Pois bem, o miúdo pulava e ria se, enfim, era um espectáculo. Gosto dele, só tenho pena ... que não estude. Tem me oferecido rebuçados, uma daquelas bolinhas de plástico que saltam muito e até me chegou a pagar o jornal ! Há dias apareceu nos no café todo eufórico. Tinha ganho algum dinheiro e então comprou um cinto com uma espada de plástico, postais, maçãs e ... um copo. Enquanto não mostrou a espada a toda a malta sua conhecida não descansou. Queria também que aceitássemos as maçãs dele e os postais. Quem não gosta da brincadeira é a D. Vitória [Prates, minha hospedeira na Rua do Raimundo]. (NID - 1971.04.05)
Évora - Rua do Raimundo [à porta da Casa onde residia, nº 44] - Foto MENS
Évora - Rua do Raimundo (ao cimo a Praça do Giraldo. Antes à direita o Café Alentejano e quase defronte, à esquerda, a tabacaria donde se faziam os telefonemas - 3 ou 4 cabines públicas.A meio, à direita, a tabaccaria do Zé do Casarão) - Foto Victor Nogueira
Évora - vista aérea - Foto Victor Nogueira
Évora -( Rua 5 de Outubro ou da Selaria, a partir duma das torres da Sé) - Foto Victor Nogueira
Évora - vista aérea - Foto Victor Nogueira
Évora - vista aérea (pormenor da foto anterior - em 1º plano as ruínas do templo romano e a meio a fachada lteral do antigo Palácio da Inquisição - ISESE)- Foto Victor Nogueira
Évora - vista aérea (em 1º Plano as muralhas om as Portas de Alconchel, no termo da rua de Serpa Pinto - a meio o Convento de Santa Clara, serpenteando até à Praça do Giraldo, onde desemboca a "tira" da direita, a Rua do Raimundo, que prossegue pela Rua 5 de Outubro. À esquerda na foto, a meio, o volume dissonante do Teatro Garcia de Resende - Foto Victor Nogueira
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Alice Coelho, Ana Roque e Ana Paula Sena Belo gostam disto.
João Gonçalves, Antonio Garrochinho, João Carrapiço e 3 outras pessoas gostam disto.
Alice Coelho gostei muito mesmo!!!! obrigado Victor** abraço
Ontem às 2:26 · Gosto
Jose Eliseu Pinto Resulta numa sensação estranha, ler sobre a cidade que tão bem conhecemos. Ou talvez não. Porque a tua é uma perspectiva do forasteiro, acossado pela cidade que sempre fez questão de maltratar quem vinha de fora. Como agora, aliás (há coisas que não mudam, nunca).
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Estes fragmentos narrados da memória do ano ‘menos um’ – o derradeiro – trazem-nos à lembrança um verão saturado, numa cidade que apodrecia, esforçando-se por esconder, no coração da praça do Giraldo, o que a podridão mostrava nos esgotos do Raymundo, a veia cava subitamente rasgada.
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Fica-me a perplexidade sobre a tecnologia de suporte às fotografias aéreas: o ‘Junkers’ das piscinas municipais?
Ontem às 9:22 · Não gosto · 2 pessoas
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Victor Nogueira Zé - Havia um colega nosso cujo nome não recordo que tinha a carta de piloto e uma vez fui com ele num teco-teco, creio que alugado no Aero Clube por meia hora. .
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Sempre gostei de andar de avião, mas esta foi a segunda vez que andei num teco teco (na 1ª tinha 3 anos, de Luanda para o Uíge e fiz a viagem ao colo dum dos pilotos na cabine de pilotagem - só me lembro dum painel enorme cheio de instrumentos de navegação). Mas desta 2ª vez cortei-as qd ele aterrou, a ver ali a pista a escorrer a escassos metros, o que não sucedia nos jactos ou aviões que faziam a ligação Luanda Lisboa e vice versa. O Junker das piscinas era uma peça de museu, já não voava LOL
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Este é o 4º pedaço destas memórias; creio que te enviei as anteriores. Em 6 anos de estudante em Évora, salvo a Margarida Morgado e creio que a Lúcia Carmelo, nenhum eborense nos convidou para casa dele. De modo que isso unia .os estrangeiros nem ricos nem pobres mas desafogados que constituíam o nosso grupo no Arcada.
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Um dos aspectos que me surpreendeu foi o facto dos meus colegas alentejanos em Económicas (Lisboa) serem sociáveis e em Évora serem fechados. A minha hospedeira dizia que 1º tinha de se mostrar que se merecia ser amigo, o contrário do que sucedia no Porto e em Luanda. Aprendi a dizer a palavra amigo não nas cidades e vilas do Alentejo mas sim nas aldeias e montes.
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Em Luanda a casa dos meus pais - engenheiros, nascidos e criados no Porto - em Cedofeita, como o meu pai frisava - estava sempre aberta e à nossa mesa tanto se sentavam o engenheiro, doutor como o operário, analfabeto ou de poucas letras, o branco, o negro, o mestiço ou o indiano. Essa foi uma das razões pk Évora era para mim um sufoco.
Ontem às 9:45 · Gosto · 2 pessoas
Aristides Silva Para mim Évora foi sempre um buraco onde caí. Cada vez que de lá saía, era um alívio e uma tormenta quando tinha de regressar. Eu vinha de uma cidade conservadora como Angra do Heroísmo, mas quando cheguei a Évora fiquei bloqueado.
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Vou contar-vos uma história que demonstra bem o que Évora naquele tempo. Os verões em Évora são normalmente muito quentes, ora eu estava habituado a andar de calções e de sandálias no verão em Angra.
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Nessa altura eu estava hospedado em casa do Pingarilho, onde estava também o Varge que nessa altura estava a tirar o magistério primário, se não estou em erro. Isto deve ter acontecido em 1971, durante a hora de almoço eu discuti com os meus companheiros ali hospedados, que não aguentava mais andar de calças e que passaria a andar de calções porque não aguentava tanto calor.
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Eles riram-se e afirmaram que eu não tinha coragem de o fazer. Mas eu fi-lo e apesar de no verão aparecerem alguns turistas assim vestidos, não impediu que todo o mundo olhasse para mim durante dias. Até que se habituaram, mas a « pressão social visual» foi enorme .
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Um dia entrei num restaurante-tasca para beber um fino, na rua dos Mercadores, o segundo do lado direito cujo nome já não me recordo e o dono virou-se para e disse: o sr é que está bem, eu gostava de andar assim à fresca. E eu retorqui: -então porque é que não anda?
há 23 horas · Gosto · 1 pessoa
Aristides Silva Respondeu ele: Porque não tenho coragem!
há 23 horas · Gosto
Jose Eliseu Pinto Li, com toda a atenção, todos as notas que aqui publicaste. Como, aliás, sempre faço, mesmo quando Évora não é o seu objecto.
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Gosto, em especial, destes excertos da tua memória da cidade, desde logo, pelas largas zonas de sobreposição com a minha própria memória, das vivências comuns e da sua contemporaneidade. E acho particularmente interessante o facto de a tua exogenia te colocar numa perspectiva que, nem sempre, é familiar aos indígenas e que, por essa razão, possui uma complementaridade enriquecedora e uma capacidade explicativa única para as singularidades de Évora.
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Agradeço-te este contributo inestimável para a reconciliação com uma cidade que - paradoxalmente - não é para mim melhor, como mãe, do que foi para ti, como madrasta.
há 22 horas · Gosto · 1 pessoa
Antonio Garrochinho excelente camarada Victor ! abraço !
há 21 horas · Gosto
João Gonçalves Depois da nossa conversa telefónica mais um excelente trabalho com todo o pormenor do que se passou em tempos. Grande abraço do sempre amigo que agora tem mais tempo para apreciar os teus trabalhos.
há 15 horas · Gosto
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Victor Nogueira Bem, Zé, outro sufoco era a segregação sexual existente em Évora. Em Luanda até à 4ª classe andei em colégios mistos e na 4ª numa escola oficial, e nestas havia as masculinas e femininas,
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Depois, o Liceu Nacional Salvador Correia, em Luanda, era masculino no curso geral e misto nos complementares. No Liceu as raparigas subiam pela escadaria central vedada aos rapazes e nos intervalos ou "furos" ficavam acantonadas no 2º piso do claustro da esquerda. Um rapaz que lá permanecesse apanhava um dia de suspensão das aulas. Nos furos os rapazes dos complementares e só estes podiam sair para a cerca do Liceu. .
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Mas fora isso, na sociedade, rapazes e raparigas conviviam normalmente, sem segregações, como aliás nas Faculdades e Institutos Superiores das Universidades Técnica e Clássica de Lisboa e respectivas Associações de Estudantes.Em Évora, a única rapariga que aceitou fazer parte da Direcção da AE, liderada pelo Viegas e por mim, foi a Isabel Pimentel. [o que não quer dizer que nã houvesse algumas que colaborassem nas várias secções da AE).
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A minha 1ª aula no ISESE foi a de Direito Natural e verificando que a 1ª fila estava vaga ia sentar-me quando o Veladas me disse que não, que me fosse sentar noutra fila. Entretanto o Rola entrou pelo que só no intervalo pude interpelar o Veladas da razão de ser da sua atitude, tanto mais quanto a 1ª fila estivera vaga durante a aula inteira. Retorquiu-me que as 1ªs filas eram para as raparigas e perante a minha admiração sobre a razão de ser de tal regra, respondeu-me que era para impedir que as raparigas se misturassem com os rapazes e fizessem coisas que não deviam.
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Pelo que eu e Viegas resolvemos estilhaçar tal norma, como "derrubámos" outras, e passado umas semanas cada um/a sentava-se onde muito bem entendia: nas 1ªs filas se as aulas nos interessavam, nas últimas, com intervalo vazio a meio, se não nos interessavam.
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Na casa onde estava hospedado também funcionava um local de reunião alternativo ao Arcada e ao Cenáculo [cultural[ da Margarida Morgado, apesar dos protestos da minha hospedeira, que não via com bons olhos o meu quarto cheio de rapazes a discutir [sobretudo a situação política ou o dia-a-dia}, ler ou ouvir e gravar música [perdi uma cassete com o Aristides a cantar e tocar viola e outra do Nunes da Ponte a tocar órgão numa qualquer igreja. Em casa da Margarida ele tocava piano e sempre que podia tocava órgão em qualquer igreja].
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Também pousavam pelo meu quarto alugado algumas colegas nossas, como a Antónia e a Isabel Pimentel, sobrinha do Conde de Vilalva, para além da Lídia e das hóspedes da casa.
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Apesar de todos os protestos, amuos e resmungos da D. Vitória, a única concessão que por minha iniciativa lhe fiz foi ter a porta do meu quarto aberta sempre que lá estivessem elementos do sexo feminino [Aliás a D. Vitória aguentava as minhnas «bizarrias» e reclamações sobre a comida pois eu pagava mais de mensalidade que qualquer dos outros hóspedes pois tomava banho e mudava de roupa diáriamente - hábito de Luanda - e lhe emprestara o meu aparelho de Televisão - na altura um luxo - que ela colocara na sala de jantar e era usufruído pelo restante pessoal da casa, indo eu para o Café Alentejano sempre que havia um raro programa que me interessasse]
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No café é que fiava mais fino e no Arcada, para além das mulheres dos engenheiros da Siemens, só por lá apareciam a Dídia (com o irmão), a Antónia, a Lúcia e a Domingas (com o Valentim), para além da Lídia, todas elas mal vistas pelas castas e marialvas mentes masculinas, a que a maioria das mulheres se sujeitavam, mesmo que dentro delas lavrasse o mais intenso fogo que não deixavam transparecer.
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Em 1973 já namorava a Celeste, malogradas as pressões da malta para que eu pedisse namoro à Rita, que aliás me fazia um intenso assédio. Pois uma vez estava sentado num banco do Jardim de Diana com a Celeste e beijámo-nos "castamente" e logo senti a varinha do guarda no meu ombro enquanto nos dizia que aquelas poucas vergonhas não eram permitidas LOL
há 13 horas · Gosto · 1 pessoa
Aristides Silva Eu acho que tu Vitor fizeste bem em escrever estas coisas. A segregação sexual em Évora, era uma coisa de que os nossos colegas alentejanos não se aprecebiam, porque eles nunca tinham conhecido outro regimen. Eu não sei se estavas no meu grupo de trabalho mas parece-me que sim.
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No nosso 3º ano na cadeira de sociologia do desenvolvimento, para o trabalho final, fizemos grupos. No nosso grupo eramos 3 rapazes e uma rapariga. Eu não vou dizer o nome da nossa colega, porque passados 40 anos ela ainda pode não achar graça à história .Fizemos a primeira reunião ainda no instituto para definir o que cada um teria de fazer. Depois começámos a discutir a partir dali, onde nos iriamos encontrar para discutir a continuação dos trabalhos. A determinada altura eu coloquei a hipotese de nos reunirmos no Arcada. A nossa colega desatou a chorar, reparem que estávamos no 3º ano, ficámos todos apreensivos sem perceber a reação dela.
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Perante a nossa admiração ela explicou que não podia reunir-se no café porque o namorado, que estava na tropa na altura, mas era nosso colega e alentejano claro, a proibira de ir ao café. Eu recordo-me apenas de na altura lhe ter perguntado: Então tu andas a tirar um curso de Sociologia e ao fim deste tempo todo ainda aceitas que o teu namorado te proíba de ires ao café?
há 12 horas · Não gosto · 2 pessoas
João Gonçalves Tudo o que vocês contam é real e eu que saí de lá recordo tudo como relatam... A minha vida profissional levou-me a outros encontros e desenvolvi uma carreira longa de 40 anos ligada á educação por isso sei o que vocês falam mas não me agarro a esse passado de relações humanas em meios retrógados que felizmente terminaram a não ser que hajam alguns saudossistas por aí espalhados!!!!
há 12 horas · Gosto
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Victor Nogueira João, eu explico pk Évora e os Jesuítas para mim foram uma desilusão e um sufoco. Pk os jesuítas que eram directores espirituais do Centro de Estudantes Católicos da Universidade de Luanda e dos Cursos de Férias em Luanda e aquele que acompanhava espiritualmente o grupo de estudantes católicos/católicas das Universidades de Lisboa eram mentes abertas e dentro do espírito do Vaticano II. .
O que encontrei no ISESE [e já não era católico essa altura embora continuasse a conviver com o grupo de estudantes católicos/católicas das Universidades de Lisboa e com o jesuíta que era o seu director espiritual]- creio que só eu e o Victor Ângelo estávamos em Sociologia por opção e não como recurso - foi uma escola velha, escolástica, livresca,repressiva, especialmente nos dois 1ºs anos, comuns a Economia e Sociologia. .
Nem fiz o curso que queria nem o que os jesuítas propunham. Mas aprendi muito com eles, apesar de tudo. Os que defendiam o marxismo nas aulas e nos exames nunca foram perseguidos por isso. .
Aliás, eu recusei submeter-me ao exame de Doutrinas Sociais cuja essência era "o capitalismo tem algumas coisas más, o socialismo algumas boas, mas a Verdade está na Doutrina Social da Igreja, desancando linha sim linha não no Marx, a despropósito, o que fez com que alguns de nós passássemos a ler na Biblioteca do ISESE os livros marxistas, para rebater o professor, o que levou à nossa politização em sentido contrário, aliado às aulas de Economia II do Armando Nogueira - marxista - ou de Planeamento Social, da Manuela Silva, do Graal, que punha a tónica no desenvolvimento social e não apenas no desenvolvimento económico.
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Assim fui deixando para trás o exame final de Doutrinas Sociais, até ao 5º ano, quando fui ter com o Pe. Augusto Silva e lhe disse que aqueles não eram exames que medissem o grau de conhecimento dos alunos mas violentas provas que mediam apenas a capacidade de memorização acrítica e acéfala da matéria, pelo que me recusava a fazer tal exame pelo que em alternativa me propunha apresentar um trabalho e defendê-lo numa prova oral (os exames de Doutrinas Sociais eram apenas escritos) pois doutro modo recusava-me a concluir o curso. O Pe. Silva disse que me daria a resposta no dia seguinte. A contraproposta dele foi submeter-me a uma prova escrita idêntica às habituais e apresentar um trabalho à minha livre escolha, mas sem discussão oral. Pelo que entreguei a prova escrita normal, em branco, apenas com identificação, e um trabalho em que com base na Encíclica Pacem in Terris condenava a guerra colonial. Naturalmente, tive apenas dez valores e pude concluir o curso.
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Como escrevia António Alçada Baptista no 1º volume da sua "Peregrinação Interior", eu não sei se os jesuítas são ou não bons educadores, mas que são educadores, são. Eles davam-nos as ferramentas com que a maioria defendia o sistema e uma minoria o atacava, mas nunca perseguiram esta minoria, ao contrário do que sucedia nas universidades estaduais.
há 11 horas · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira Daí que o Pe Silva sem azedume me tivesse dito há meses que eu hoje poderia ser uma pessoa importante, mas que escolhera outro caminho ... LOL
há 11 horas · Gosto · 1 pessoa
Victor Nogueira Em tempo - Doutrinas Sociais cuja essência era "o capitalismo tem algumas coisas más, o socialismo algumas boas, mas a Verdade está na Doutrina Social da Igreja", desancando linha sim linha não no Marx, a despropósito, o que fez com que alguns de nós passássemos a ler na Biblioteca do ISESE os livros marxistas, para rebater o professor, o que levou à nossa politização em sentido contrário, aliado às aulas de Economia II do Armando Nogueira - marxista - ou de Planeamento Social, da Manuela Silva, do Graal, que punha a tónica no desenvolvimento social e não apenas no desenvolvimento económico.
Ontem às 11:34 · Gosto · 1 pessoa
Aristides Silva Há uma coisa que tu Vitor referes aqui e que eu nunca tinha pensado mas é verdade. Os padres que eu saiba, nunca descriminaram realmente, os que como nós, não nos enquadravamos nos valores defendidos por eles. Embora eles adorassem a normalização das mentes. Lembro-me perfeitamente de uma conferência do João Salgueiro no nosso 3 ano em que pela primeira vez os alunos, fomos 3 se não estou em erro, que colocámos perguntas ao conferencista. Além de termos sido os primeiros alunos a faze-lo, também fomos os primeiros a pedir a palavra, o que fez com que os professores tivessem de se virarpara trás e olhassem todos para nós de um modo espectante. Agora já tenho a certeza se era o Drº João Salgueiro o conferencista. De qualquer modo era um quadro superior do Governo de Marcelo Caetano.
Ontem às 12:07 · Gosto · 1 pessoa
Aristides Silva Eu queria dizer «agora já não tenho a certeza». Claro que na cadeira das Doutrinas Sociais os padres jezuítas « não podiam deixar passar» os que criticavam sobretudo a doutrina Social da Igreja que era para eles a base da sua argumentação. Ontem às 12:14 · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira Aristides - O João Salgueiro era um tecnocrata Marcelista, cuja opinião pedi como outras, incluindo o Pe. José Primeiro Borges, sj- o tal director espiritual - não confundir com o Pe Borges que leccionava Economia I - que me incentivaram a trocar Económicas do Quellhas (UTL - ISCEF) pelo ISESE, como escola de futuro.As cadeiras "ideológicas" estavam todas nas mãos dos Jesuítas e só a partir do 3º ano apareciam professores com outra abertura, depois da peneira e cilindragem dos 2 primeiros anos, comuns. (Doutrinas Sociais com o Pires Lopes, que não possibilitava qualquer diálogo e me parecia, apesar de tudo, o menos "formatado" na obediência cega característica da Companhia de Jesus - História da Sociologia e História das Teorias Políticas, nas mãos do Vaz de Carvalho, sj, - um poço de sabedoria que não conseguia transmitir à malta)
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Por seu turno Direito Corporativo, Legislação do Trabalho, Legislação Internacional do Trabalho, Relações e Organizações Internacionais para além de Previdência Social eram leccionadas por gente ligada ao Governo de Marcelo ou à ANP, autênticas nulidades ignorantes, salvo o de Previdência Social. Na qual se deve incluir essa autêntica aberração que era o Cónego Marques, pároco de S. Manços, que lecionavava Direito Natural e Psicologia Social, que falava de tudo menos do programa e por vezes dava aulas inteiras em ... alemão, que a maioria da malta não sabia. Em Psicologia Social o que nos valia eram os livros base de Psicologia Social [impostos pelos jesuítas ao professor ? ] - o do Stoetzel - que me permitiu outra visão e compreensão da realidade social - como aliás as cadeiras de Antropologia e Antropologia Aplicada, leccionadas pelo jesuíta António da Silva e das diferenças inter-culturais, e o do Klineberg
Ontem às 13:00 · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira Mas estes textos têm sido por mim enviados a muitos dos nossos antigos colegas e outras pessoas conhecidas, a maioria de Évora, mas a esmagadora maioria mantém-se ... silenciosa. Se os lêm ou não, desconheço pois não ha feed- ack LOL
Ontem às 13:05 · Gosto · 1 pessoa
João Gonçalves Tudo o que o Aristides diz é verdade pois presenciei essas situações em que se criticava a doutrina social da igreja e estive presente nessa conferência do João Salgueiro para levar o melhor aluno para a SEDES e foi assim que se começou o império do Granadeiro...
há 13 horas · Gosto
João Gonçalves O que aconteceu ao Armando Nogueira. excelente prof. de Economia II perdi-lhe o rasto e sempre gostei do seu trabalho pois muito aprendi com ele!!!!
há 13 horas · Gosto
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Victor Nogueira João e Aristides - Os padres António Silva, Craveiro da Silva e Manuel Belo (que leccionava Matemáticas Gerais a Economia e Matemática a Sociologia) já faleceram. Creio que também o mesmo sucedeu ao cónego Marques, o Rola.
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Já passaram vários meses desde a última vez que falei com o Pe Augusto da Silva, que se encontrava doente e me disse que gostaria de almoçar comigo qd fosse a Évora e me fez prometer que o faria, mas não sei se ainda é vivo.
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Fui várias vezes a casa do Armando Nogueira e estava convencido que falecera mas uns anos depois o Viegas desmentiu-me essa minha ideia, mas entretanto já passaram muitos anos. O pe Augusto Silva disse-me que telefonasse ao Vaz de Carvalho, o Ginjas, que de certeza se lembrava de mim e ficaria contente com o meu gesto. Telefonei-lhe mas ele não me reconheceu e não dizia coisa com coisa.
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O Armando Nogueira nas aulas de Economia II (tb foi professor de Sociologia do Desenvolvimento nos cursos de Sociologia) perguntava dramaticamente nas aulas "Donde vem este delta ?", e delta para aqui e delta para ali. Um dia nas minhas leituras na gélida biblioteca do Instituto, ao ler um livro de economia marxista, descobri que o delta não era senão a mais-valia, pelo que lho disse na aula seguinte o que o deixou algo embaraçado. Economia I (micro-economia) do Pe Borges era dada numa perspectiva capitalista e Economia II (macro-economia) numa perspectiva marxista, como aliás e também Sociologia Urbana, leccionada por um jesuíta basco.
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Depois de acabar o curso nunca mais procurei falar com o Granadeiro nem com o João Salgueiro. Aliás uma amiga minha censurava-me a atitude deliberada de não cultivar as minhas amizades ou conhecimentos com pessoas importantes. O Lira Fernandes encontrou-me uma vez em Paço de Arcos e disse-me para passar creio que pela CUF, presumo que para me arranjar lá trabalho, mas esqueci o cartão que me deu e nunca o contactei.
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A Manuela Silva, que me tinha em grande consideração e conhecia da SEDES, perdeu o interesse na minha pessoa quando depois do 25 de Abril me viu integrado numa delegação de estudantes das várias academias, maioritariamente formada por militantes da UEC, embora eu na altura já não participasse na SEDES mas também não era militante de qualquer partido político.
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Aliás depois do 25 de Abri em Évora fui convidado para aderir ao PCP, ao MDP, ao PS, ao PPD, à UDP e ao PRP/BR, mas declinei todos os convites e tive uma efémera passagem pelo MES, que durou poucos meses.
há 12 horas · Gosto
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Victor Nogueira Antes do 25 de Abril o Mesquita, deputado da ANP, convidou-me para me arranjar um lugar mas ignorei o convite dele e a consideração por mim transformou-se em animosidade e só me safei no exame porque sabia mais que ele. Aliás safei-me em todos os exames com professores ligados à situação pk- com excepção do de Previdência Social - eram todos ignorantes e eu sabia mais que eles e dos júris fazia sempre parte um jesuíta
há 12 horas · Gosto
Aristides Silva Vocês estão a falar da SEDES de que anos? É que o Viegas e eu fomos convidados pelo professor Abilio que nos dava Contabilidade no Instituto, que anos depois foi o presidente da Camara de Évora pela CDU, para fazer parte da SEDES em Évora. Eu até pensava que tu Vitor também lá tinhas estado nessa altura. Nós fomos a várias reuniões e começámos logo a colocar problemas relativamente à clarificação ideológica da SEDES.
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O Abilio pareceu-me sempre uma pessoa muito honesta, mas tinha menos formação politica do que nós e como não sabia responder-nos, ía tomando nota e colocando os problemas a Lisboa. O próprio Abilio a determinada altura já apoiava as nossas posições nas reunioes. Um dia apareceu num dessas reuniões um advogado de Évora cujo nome não me recordo, que começou a defender a teoria desenvolvimentista e nós arrumámos com ele só com perguntas. Resumindo e concluindo, ao fim de algum tempo o Abilio resolveu entregar a Lisboa «a chave» da organização em Évora. O que aconteceu depois desconheço completamente.
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Victor Nogueira A SEDES a que me refiro era a de Évora antes do 25 Abril. Para além do Abílio Fernandes, faziam parte vários estudantes do ISESE, creio que tb o Fernando Cruz, e vários eborenses que depois formaram o PPD em Évora - a maioria dos quais dos chamados católicos progressistas - de que me lembro da Mariana Perdigão, que foi governadora civil de Évora, e um Cruz, bancário, que com o Abílio (então surgido ligado ao MDP) fez parte da 1ª Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Évora post 25 de Abril.
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Num dos meus trabalhos para Planeamento Social (no tempo do Marcelo) entre a bibliografia por mim citada figurava um semi-clandestino documento programático da SEDES, o que a Manuela Silva não apreciou muito, como fez questão de mo dizer, embora mantivesse a consideração que tinha por mim. Não me lembro como fui parar à SEDES de Évora, mas talvez tenha sido "recrutado" pelo Abílio Fernandes. Mas logo a seguir ao 25 de Abril deixei de participar nas reuniões da SEDES.
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Aristides Silva O periodo a que tu e o João se referem relativamente à SEDES de Évora é posterior à minha passagem e do Viegas por lá. Para nós na altura, a função politica da SEDES era clara, por isso saímos.
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Victor Nogueira Eu continuei para fazer trabalho de sapa, mas depois do 25 de Abril aquilo desmoronou-se pois cada um seguiu o seu rumo LOL
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Aristides Silva Mas voltando atrás um pouco na história da cidade de Évora. Uma das coisas que mais me impressionava na altura, era ir ao cinema à noite e só ver homens. As mulheres só íam ao cinema às matinés de fim de semana. Aquilo mais parecia uma terra de talibãs. Não sei se isto acontecia só em Évora, ou se só no Alentejo. Eu vim dos Açores para Mafra em 1964 e depois estive em Elvas, Lamego e Abrantes. Eu nunca tinha visto uma coisa daquelas, em parte nenhuma, por onde anteriormente tinha passado.
há cerca de uma hora · Gosto
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Victor Nogueira Bem, havia as sessões do Núcleo Juvenil de Évora do Centro de Estudos e Animação Cultural (da Figueira da Foz e dirigida por um Pe. progressista, chamado salvo erro Marques) que eram seguidas duma análise do filme após a sua exibição com animados debates sobre a "leitura" do mesmo e a essas sessões compareciam várias colegas nossas
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Victor Nogueira Mas ... LOL, só eu e tu estamos a participar desta vez. Então, pessoal, não ajudam a animar a festa ?
há cerca de uma hora · Gosto
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Victor Nogueira O Alentejo era essencialmente machista. Nos inquéritos que fizemos em Arraiolos uma vez uma mulher cujo marido estava fora convidou-me a entrar para responder. Depois numa das tabernas um velhote interpelou-me volteando um cajado sobre a minha cabeça dizendo que eu faltara ao respeito à mulher. Tive de apelar para os presentes, se algum deles me podia acusar de ter faltado ao respeito a alguém e o pessoal afirmou que eu sempre fora respeitador e o velhote acalmou. Mas até ai vi o caso mal parado.
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Também um agrário ao chegar a casa em Arraiolos ao ver que a mulher estava a responder ao inquérito ia-me dando um arraial de porrada que não concretizou pk lhe fiz frente e saquei do cartão de identificação do INE com o escudo da República e a faixa verde/vermelha.
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A única excepção a este machismo era a Amareleja, a maior aldeia do Alentejo, onde a Celeste dava aulas.
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Victor Nogueira Não, o cartão não era do INE mas sim do Ministério das Corporações e Previdência Social, que decidira fazer aquele conjunto de inquéritos para uma caracterização sociológica do concelho de Arraiolos e recrutara os inquiridores entre os estudantes do ISESE, o que para mim foi útil por juntar a teoria à prática e me permitir questionar p Pe Augusto da Silva nas aulas de Técnicas de Investigação Social.
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Do corpo de inquiridores fazia parte pelo menos uma colega nossa, a Domingas, e não sei se tb a Lúcia e/ou a Dídia, do nosso grupo do Arcada.
há 54 minutos · Gosto
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Victor Nogueira Ah! Agora me lembro. Fui várias vezes a casa da Lúcia, uma das duas eborenses que me franqueou as portas da casa dela. A outra foi a Margarida Morgado. Quanto aos rapazes de Évora, apenas o Cónim. LOL
há 40 minutos · Gosto.
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Aristides Silva Mas Vitor as sessões do Nucleo Juvenil de Évora era à tarde por isso as raparigas iam. Por acaso esse padre de que falas era de facto progressista. Eu penso que dos padres jesuítas, o menos conservador digamos assim era o Silva.
há 19 horas · Gosto
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Victor Nogueira O Augusto Silva, sim. Mas também o Vaz Pato. Mas os jesuítas tinham de andar na corda bamba e gerir os conflitos de modo a evita que surgissem pretextos para que o Governo encerrasse o Instituto. Naquele tempo sociologia era considerada subversiva e o ISESE era a única escola de sociologia em Portugal
há 19 horas · Gosto
Aristides Silva Sim tudo isso é verdade o que dizes, mas em vez de colocarem professores jezuítas tão conservadores, poderiam ter pelo menos colocado pessoas mais inteligentes.
há 18 horas · Gosto
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Victor Nogueira Bem, eu acho que eram todos inteligentes, embora todos submetidos à disciplina cega da Companhia de Jesus, o braço armado da Igreja Católica para combater a Reforma protestante, conjuntamente com os Dominicanos. É interessante verificar que o vulgo liga os jesuítas à Inquisição quando na realidade o Tribunal do Santo Ofício estava nas mãos dos "Padres Negros" da Ordem dos Dominicanos e não poucos jesuítas foram por este perseguidos.
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Agora havia em Évora os que se "adaptaram" mal, casos do Borges, do Pires Lopes, do Vaz de Carvalho e mesmo do Augusto Silva, e outros que não tiveram traumas. O Vaz Pato, o Craveiro da Silva e o jesuíta basco não eram propriamente conservadores. O António da Silva, sim, politicamente, mas era um paradoxo pois as cadeiras de Antropologia davam aos alunos uma capacidade de abertura e de entendimento de outras mundividências, como aliás sucedia com a Psicologia Social do Stoetzel.
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Não te esqueças que eles estavam inseridos numa cidade profundamente conservadora, que o Vilalva era um latifundiário "progressista" e os jesuítas tinham de gerir os conflitos para evitar dar pretexto ao Governo para encerrar o Instituto. Eles sabiam de certeza que o Mesquita e o Cabral eram medíocres, mas fazia parte do jogo das compensações. Aliás quando há meses falei com o Pe Silva sobre os professores (incluindo os jesuítas) e o ambiente do ISESE ele, agora já "liberto", tinha uma análise coincidente com a minha.
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Esse jogo das compensações foi-me claramente explicitado pelo Craveiro da Silva, quando Director do ISESE. Lembra-te que na Direcção da AE liderada pelo Viegas e por mim o placard da AE estava sempre cheio de recortes contra a situação e críticos do capitalismo.
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Pois uma vez quando estava a afixar recortes o Craveiro chegou ao pé de mim e disse-me "Oh Victor, acho muito bem que afixem esse género de notícias mas por uma questão de equilíbrio deviam tb afixar notícias da situação." Retorqui-lhe, rindo, que a situação tinha tudo: a censura, a imprensa, a rádio e a televisão e nós só tínhamos aquele placard. Ele não insistiu e o "nosso" placard continuou sem notícias da situação.
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Aliás, antes do 25 de Abril, o ISESE encerrava sempre no 1º de Maio ... por ser o dia de S. José, Operário. Deves lembrar-te que no topo do 1º lance de escadas estava uma estátua com a legenda "S. José Operário" e não havia retratos dos governantes e se a memória me não não falha também não havia crucifixos.
há 17 horas · Gosto · 1 pessoa
Aristides Silva Esses pormenores de que falas eu já não me recordo de nada. Eu penso que tu criaste uma ligação forte a Évora porque namoraste e casaste com uma rapariga alentejana. Eu quando saí de Évora fui para o Porto, porque estava ligado ao pessoal do teatro que mais tarde formou a Companhia de Teatro Seiva Trupe. Gente como o Julio Cardoso com quem mantive e mantenho uma amizade muito forte ainda hoje. O mesmo aconteceu com a minha amiga Estrela Novais. São amizades que ultrapassaram sempre todas as nossas divergências ideológicas. Depois eu estava ligado ao PRP e mantive esse vinculo durante vários anos, tendo sacrificado toda a minha vida particular em nome desse ideal, com consequências bastante dramáticas em termos individuais. Já tudo passou mas a minha experiência politica foi muito intensa durante alguns anos. Apesar de tudo, e de alguns erros cometidos, tenho orgulho do meu passado politico.
há 16 horas · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira E nos 3 últimos anos dos cursos havia os professores leigos tecnocratas, "neutros" - como os de Gestão de Empresas Agrícolas, de Contabilidade Analítica, de Direcção de Pessoal, de Psicologia do Trabalho, de Informática ... e outros mais ou menos críticos da Situação - casos de Sociologia do Desenvolvimento, Planeamento Social, Sociologia Urbana, Estrutura da Economia Portuguesa ...
há 16 horas · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira Não tenho qualquer ligação afectiva a Évora. Évora para mim, especialmente no tempo anterior ao 25 de Abril, continua a ser um buraco negro na minha vida, um tempo de violência e de negação parcial de mim mesmo para poder alcançar um dos meus objectivos - concluir o curso de sociologia,
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Aliás a Celeste era da Margem Esquerda do Guadiana e de Beja (entre Santo Amador - Moura - e Salvada - Beja). Tenho uma boa memória e analiso - bem ou mal, pior ou melhor - os factos e não sou sectário, embora firme nas minhas convicções. Sou por natureza analítico, sob várias perspectivas, e racionalista LOL
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A única terra alentejana a que continuo afectivamente ligado é Beringel (em Beja mas no lado oposto à Salvada), onde residiam os tios do Camilo, e onde eu e o Nunes da Ponte passámos muitos fins de semana e eu mesmo uma quadra natalícia, como se da família fôssemos.
há 16 horas · Gosto · 1 pessoa
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Victor Nogueira Mas acho melhor, Aristides, encerrarmos o debate neste post, pois isto está a transformar-se numa conversa entre ambos perante o ruidosos silêncio duma plateia talvez inexistente LOL
há 16 horas · Gosto
João Gonçalves Tive que desligar pois tinha outros assuntos a tratar... Agora já li tudo e penso que vocês os dois estão bem informados. O Aristides fala de um advogado que é o Sertório Barona prof. de Direito Comercial. Eu saí de lá em 1973 e fui militar de Abril passando por Mafra, Lamego, Chaves, Beja e Evora. Depois fiz as Matemáticas e como gosto disto dediquei o meu trabalho a esta ciência desenvolvendo muitos trabalhos nesta +area pelo país. Grandes saudações democráticas aos meus amigos.
há 14 horas · Não gosto · 1 pessoa
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Publicada por Victor Nogueira à(s) quarta-feira, agosto 24, 2011
Etiquetas: Em Rede, Évora, ISESE, Memórias, Opinião do Leitor, Para a História do ISESE, Victor Nogueira Fotografia, Victor Nogueira Prosa
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