Isto porque se preocupam com os velhos, a esmagadora maioria, que vivem sozinhos, muitas vezes desamparados, em casa ou "armazenados" ao monte em lares mais ou menos manhosos, à espera da morte? Não, se esta sociedade, os governos e a maioria das pessoas não se preocupam com os velhos, porque carga de água haviam de mudar do dia para a noite? É natural que morram pessoas, morrem todos os dias pelos mais variados motivos, no mundo inteiro, vítimas da fome, de pandemias, de doenças, que não têm meios para evitar ou curar, vítimas da guerra, da falta de água, da falta de cuidados básicos de saúde, sejam recém-nascidos, jovens adultos, velhos, homens, mulheres e crianças, ninguém fica cá para semente, Como se todos os dias não houvesse senão a morte, o terror, o aprisionamento. De repente ocorre-me que por vezes ao chegar ao local de trabalho,encontrava o pessoal administrativo a comentar quem andava com quem, para além das mortes e divórcios da véspera, perguntando-lhes eu de seguida se na véspera não tinha havido festas, nascimentos e casamentos! Deveríamos considerar que tudo isto é um "barro à parede", criando um grupo social de potenciais infecto-contagiosos, irresponsáveis, compulsivamente confinados à solidão ainda maior, à impossibilidade de cavaquearem ou jogarem à bisca ou ao xadrez no banco do jardim ou na taberna, "proibidos" de passearem pelos jardins, pelas ruas mesmo que não ponham em causa a saúde deles ou de outrem, ainda mais impossibilitados de receberem manifestações físicas de carinho e afecto, os poucos que ainda as recebem? Confinadas a "consumirem" o que as redes sociais, a imprensa on-line e as televisões despejam nas casas das pessoas, mergulhadas na alienação das relações meramente virtuais, encasuladas em casa, vítimas crescentes do stress, da depressão, das frustrações, impossibilitadas de espairecerem ou de mudarem de ares para carregar as baterias, sujeitas aos nada inocentes massacres noticiosos, violentadas na sua condição humana, como reagirão as pessoas? Em seguida, com o "triunfo" da barbárie e da desumanidade, logo chegarão outros grupos sujeitos a confinamento e perda de direitos. Tudo isto em nome duma crise que os donos disto tudo e o capitalismo, endemicamente criam e reproduzem, com resultados cada vez mais desastrosos. Que Liberdade tem quem não tem dinheiro, quem não pode viajar ou deslocar-se porque não há meios de transporte acessíveis, quem não pode estar desempregado,com cada vez com menos ou nenhuns direitos, quem não pode comprar os produtos e géneros que abarrotam as prateleiras das lojas e dos supermercados? Quem não tem dinheiro para pagar seguros de saúde, por exemplo? Que sociedade de mercado e de produção e de troca é esta em que se não houver dinheiro são negados e tripudiados os já considerados "subversivos" direitos humanos solenemente proclamados na sequência da derrota do nazi-fascismo?
Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNsegunda-feira, 23 de março de 2020
O ENSAIO DA ORQUESTRA
Isto porque se preocupam com os velhos, a esmagadora maioria, que vivem sozinhos, muitas vezes desamparados, em casa ou "armazenados" ao monte em lares mais ou menos manhosos, à espera da morte? Não, se esta sociedade, os governos e a maioria das pessoas não se preocupam com os velhos, porque carga de água haviam de mudar do dia para a noite? É natural que morram pessoas, morrem todos os dias pelos mais variados motivos, no mundo inteiro, vítimas da fome, de pandemias, de doenças, que não têm meios para evitar ou curar, vítimas da guerra, da falta de água, da falta de cuidados básicos de saúde, sejam recém-nascidos, jovens adultos, velhos, homens, mulheres e crianças, ninguém fica cá para semente, Como se todos os dias não houvesse senão a morte, o terror, o aprisionamento. De repente ocorre-me que por vezes ao chegar ao local de trabalho,encontrava o pessoal administrativo a comentar quem andava com quem, para além das mortes e divórcios da véspera, perguntando-lhes eu de seguida se na véspera não tinha havido festas, nascimentos e casamentos! Deveríamos considerar que tudo isto é um "barro à parede", criando um grupo social de potenciais infecto-contagiosos, irresponsáveis, compulsivamente confinados à solidão ainda maior, à impossibilidade de cavaquearem ou jogarem à bisca ou ao xadrez no banco do jardim ou na taberna, "proibidos" de passearem pelos jardins, pelas ruas mesmo que não ponham em causa a saúde deles ou de outrem, ainda mais impossibilitados de receberem manifestações físicas de carinho e afecto, os poucos que ainda as recebem? Confinadas a "consumirem" o que as redes sociais, a imprensa on-line e as televisões despejam nas casas das pessoas, mergulhadas na alienação das relações meramente virtuais, encasuladas em casa, vítimas crescentes do stress, da depressão, das frustrações, impossibilitadas de espairecerem ou de mudarem de ares para carregar as baterias, sujeitas aos nada inocentes massacres noticiosos, violentadas na sua condição humana, como reagirão as pessoas? Em seguida, com o "triunfo" da barbárie e da desumanidade, logo chegarão outros grupos sujeitos a confinamento e perda de direitos. Tudo isto em nome duma crise que os donos disto tudo e o capitalismo, endemicamente criam e reproduzem, com resultados cada vez mais desastrosos. Que Liberdade tem quem não tem dinheiro, quem não pode viajar ou deslocar-se porque não há meios de transporte acessíveis, quem não pode estar desempregado,com cada vez com menos ou nenhuns direitos, quem não pode comprar os produtos e géneros que abarrotam as prateleiras das lojas e dos supermercados? Quem não tem dinheiro para pagar seguros de saúde, por exemplo? Que sociedade de mercado e de produção e de troca é esta em que se não houver dinheiro são negados e tripudiados os já considerados "subversivos" direitos humanos solenemente proclamados na sequência da derrota do nazi-fascismo?
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