* Victor Nogueira
Em Luanda não havia Jardim Zoológico e portanto a maioria dos animais do meu país Angola, só os conhecia não dos livros escolares, mas do cinema, do circo e das gravuras em livros da minha biblioteca de criança e adolescente. Em boa verdade, não é bem assim, pois numas férias grandes que em 1962 passámos na Caala, em casa do Engº Boaventura, amigo da família, visitámos o jardim zoológico de Nova Lisboa (Huambo), onde apanhei um valente susto quando ao anoitecer as feras começaram a rugir nas jaulas, fazendo-me desejar estar a milhas dali.
Disto falo no meu Diário III e na minha correspondência: «A parte baixa da cidade não é nenhuma maravilha, mas a Alta possui residências de estilo moderno e bonitas. Felizmente para os neolisboetas vi a Alta, se não pensaria que Nova Lisboa era feia e triste. Nova Lisboa não tem prédios altos (o mais alto deve ter uns quatro andares). Possui um jardim zoológico, onde vi leões, leopardos, onças, hienas, porcos espinhos, etc. (Vimos) os tanques piscícolas, nos arrabaldes, e que podem produzir, anualmente, uma tonelada de peixe para consumo. Segundo o Sr. Boaventura na antiga África Equatorial Francesa há muitos tanques idênticos.
(...) Ontem vimos a Exposição Feira, apesar de não estar em funcionamento. Há lá um Parque Infantil com um letreiro que diz "Proibida a entrada a menores de 14 anos sem estarem acompanhados dos pais"! Ontem fomos ao Jardim Zoológico. Há lá leões, onças, hienas, leopardos, um veado (ou coisa parecida), macacos, um bicho parecido com um bisonte, mas com dois chifres e muito mais pequeno. Quando as onças e os leões começaram a fazer um barulho aterrador [ao anoitecer] eu não me pus a andar para não ser alvo de chacota. (Diário III)
A cidade [de Nova Lisboa] é muito extensa. Possui um jardim zoológico onde pude apreciar pela 1ª vez - de coração aos pulos - leões, leopardos e onças a rugirem, além de hienas, porcos espinhos e outros animais desconhecidos. (...) Visitei o Zoo duas vezes. Da primeira fui ao anoitecer e quando os leões começaram a rugir desejei-me a milhas dali, não fossem eles saber que eu sou do Futebol Clube do Porto. (ASV - 1962.09.24)
Em 1962/63 estive a estudar no Porto e nessa altura, no Grande Colégio Universal, um dos meus colegas espantava-se quando lhe respondi que em Luanda não havia leões a passear pelas ruas enquanto outro admirava-se de eu não conhecer um certo familiar dele, como se Luanda fosse uma aldeola e não a 3ª cidade do que na altura se dizia ser Portugal do Minho a Timor, com cerca de 220 mil habitantes. Mas, adelante. Nessa altura terei ido pelo menos duas vezes ao Zoo de Lisboa, uma das quais com o meu avô Luís e família.
No domingo, 17, fui à Igreja de N. Sra. de Fátima, perto de casa. Depois fui com a Maria Luísa visitar o Jardim Zoológico. (Diário III 1962.12.15) No Jardim vi pela primeira vez os lindos animaizinhos da minha terra uma coisa que me chocou foi os animais terem aquecimento, quando há tanta gente que treme de frio no Inverno. (1964.06.01)
Depois, a partir de 1966, quando vim cursar Economia em Lisboa, visitei imensas vezes o zoo de Lisboa, uma das quais referida a propósito duma cigana. «Quinta-feira fui "pragueado" por uma cigana. Fui ao Zoo com o Zé, o filho mais velho da Maureen. A cigana seguiu-me durante muito tempo para ler a sina e não havia meio de largar-me. Tanto me aborreceu para mostrar-lhe a mão que assim o fiz, avisando-a de que lhe não daria um tostão. Blá, blá, blá e eu placidamente a comer um baleizão [sorvete]. "Agora deixe-me ver a sua mão esquerda" E eu deixei, com o meu sorriso céptico e trocista, enquanto mordiscava o sorvete. Blá, blá. "O Victor, deixa também ler a minha sina", diz o Zé. "Mas olhe que o menino paga", avisa a cigana. "Hein! isto é a pagar?". Responde a cigana: "Sim são vinte escudos, dez por cada mão!" (Se lhe pedisse uns cinco escudos, dava-lhe, agora vinte!?) "Não lhe dou. Eu disse-lhe ao princípio que não pagava" "Ah! mas o senhor deixou continuar e até deu a outra mão!" A discussão continuou, se é que discussão se podia chamar, até que ela descobriu: "Ah! o senhor não quer mesmo pagar!" "Pois não" "Olhe que eu rogo-lhe uma praga!" Não faz mal, eu sou céptico e aguento todas as pragas. " "Vai ficar ainda mais aleijado... " "Não se preocupe" "... e morrer atropelado!", disse ela. "Ninguém fica cá para semente", respondi-lhe. E lá se foi a resmonear. Ainda cá estou. (NSF - 1968.08.05)
Depois desta não encontro mais referências escritas a visitas a Zoos, embora tenha uma vaga ideia que nos jardins do Palácio de Cristal, no Porto, havia algumas jaulas com animais selvagens. Vou pesquisar e ..., sim, no meu Diário III há uma referência a isso. «No dia 3 [02.1963] fui com o avô Barroso ao Palácio de Cristal. Gostei bastante do jardim e das belas vistas para o rio [Douro], com bastante arvoredo. Vimos o leão e diversos animais. (Diário III - pag. 162)
Mas há fotos, designadamente com os meus tios e com os meus filhos, a long time ago. A última vez que lá fui estava tudo compartimentado, em secções, tendo de se pagar o acesso a cada uma delas, pelo que nunca mais voltei, nem para ver os golfinhos.
Embora os zoológicos nunca tenham tido para mim o encanto dos circos e das habilidades dos animais amestrados, hoje o entusiasmo para mim é nulo, pelo que uns e outros representam de violência sobre os animais enclausurados ou domesticados.
No zoo de Nova Lisboa
(fotos jj castro ferreira)
(foto mens)
Jardim Zoológico de Liaboa
(fotos jl cf e victor nogueira), em 1963
Este elefante era a alegria da petizada, mas não só, pois recolhia a moeda depositada na sua tromba para de seguida tocar uma sineta
(fotos jl ns e victor nogueira) - rolo 54 c. 1979
Esta "carteira" estava no espólio da minha tia Lili e dela não me lembrava, "instantâneo" tirado por um fotógrafo de rua em 1999
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