Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

domingo, 7 de fevereiro de 2021

colonização e resistência em África

 


Victor Nogueira

Praticamente desde o século XVI os povos de África  resistiram à ocupação dos seus territórios pelos europeus e ao tráfico de escravos, sobretudo para as colónias americanas e para o que viria a ser os Estados Unidos da América. A partir da Conferência de Berlim em 1885, que procedeu à partilha de África e  não só de acordo com os interesses do desenvolvimento capitalista, verificou-se a ocupação efectiva dos territórios. No que respeita a Portugal, este no final da Monarquia e durante a 1ª República procedeu às chamadas Campanhas de Pacificação, vencendo a resistência dos africanos devido à superioridade de armamento. 

Desde então a resistência foi mais ou menos sufocada. Em Janeiro de 1961 os camponeses da Baixa do Cassange, em Angola, (numa área equivalente à de Portugal Continental) iniciaram uma greve contra o regime de monocultura de algodão e contra as condições de trabalho. Esta greve foi sufocada pela aviação militar, metralhando e regando com napalm as populações originando entre centenas e milhares de mortos, a ela não se referindo os órgãos de informação devido à férrea censura fascista.

Em 4 de Fevereiro do mesmo ano de 1961, coincidindo com o desvio do paquete Santa Maria e as greves em Portugal, as cadeias de Luanda foram assaltadas para a libertação de presos políticos. Os assaltos, posteriormente reivindicados pelo MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) falharam e em Luanda seguiram-se tempos de massacre das populações dos musseques da periferia da cidade, perpetrados por civis brancos armados.

Em 15 de Março de 1961 a UPA (União dos Povos de Angola), apoiada pelos EUA, desencadeou no Norte de Angola um ataque e a chacina de fazendeiros e suas famílias nas roças de café e dos respectivos trabalhadores bailundos, do Sul de Angola, usados para quebrar a resistência dos camponeses do Norte dentro do princípio do dividir para reinar, como sucedia em Portugal no Alentejo. 

O Governo de Salazar sabia da preparação da revolta mas nada fez para evitá-la. Falhada a conspiração do General Botelho Moniz, Salazar e o seu governo resolveram ir "Para Angola e em Força". Nesse mesmo ano a União Indiana ocupou os territórios do chamado Estado da Índia e nos anos seguintes iniciou-se a guerra colonial em Moçambique e na Guiné.

O 4 de Fevereiro de 1961 marca pois o início da guerra colonial, a que o 25 de Abril de 1974  pôs termo, apesar da resistência e oposição  do General Spínola e das ambiguidades posteriores de Mário Soares/PS.


(Texto escrito e publicado em 2014.02.05)

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