* Victor Noguera
És a clara madrugada ?
És a clara madrugada ? Por mais que eu tente esquecer-te o meu entendimento persiste em esperar e lutar por ti. Mesmo que eu cerre os meus olhos posso sentir-te ao meu lado e renascer com o calor do teu abraço. Vives nos meus sonhos, desde sempre. O teu sorriso tem a cor da maresia, é uma brisa na planície, o rumor dum riacho ... És a esperança em que moramos e de que me alimento. Que dia será aquele em que despertarmos deste plúmbeo sono de cinzas e negro de fumo ? (2014.02.07)
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neste canto
em quebranto
canto
teu encanto
sem espanto
por nós suspiro
expiro
inspiro
e transpiro
busco
ao lusco-fusco
de verdade
a liberdade
do amor
sem dor
nem andor
mas
com fulgor
o beijo
em solfejo
é desejo
de abraço
sem laço
nem embaraço
Paço de Arcos 2014.02.08
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sem o teu gesto que as liberte
naufragando
as palavras prendem-se
nos intervalos do
silêncio
sem brilho
nem fulgor
Paço de Arcos, 2014.02.09
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Entre o ser e o nada
Calámos as palavras e prendemos os gestos, perante o nada que é a vida, breve instante, fósforo que brilha com maior ou menor intensidade, refulgente ou não, e logo se apaga. No vazio de ti, ausência eterna em que persistes enquanto de ti nos lembramos, resta uma paleta mesclada de sons e de cores, alegres ou na sombra, de cambiantes mil. Sem resposta ficarão as perguntas que não foram feitas, a vida que não vivemos ao escolher este ou aquele destino nas múltiplas encruzilhadas. Restam a saudade e a imaginação, entre o nascer e o morrer, entre o tudo e o nada. Ah! Ao pôr o pé na estrada da vida, viandante, a resposta é só uma: “caminhante, caminhando se faz o caminho.” Não há outra saída entre o ser e o nada!
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num deserto
de flores esmaecidas
sôfregas
trôpegas
atoladas de silêncio
as palavras
e o gesto
Paço de Arcos 2014.02.09
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são de mágoas as águas
véus e anáguas
com palavras lavras
são sábios os lábios
de carmim ou jasmim
nos teus olhos, aos molhos,
mergulho sem engulho
pobre poema, um teorema
cuja rima não rema ?
em carreirinha maneirinha
dor, andor, amor, fervor, calor ?
ou rio frio ?
Paço de Arcos 2014.02.10
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sorrio
no fio
do rio
e
canto
Paço de Arcos 2014.02.09
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o sorriso
suave
e
leve
muito leve
enigma
Paço de Arcos 2014.02.09
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página a página te desfolhas
pétala a pétala te recrias
gota a gota d'alegrias
dia e noite em teu olhar
Paço de Arcos 2014.02.11
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o silêncio sonoro das palavras
apenas
e
só
silabadas
enca(n)deadas
Paço de Arcos 2014.02.11
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à janela
bagos de centeio
o frio
e
a chuva
de permeio
Paço de Arcos 2014.02.12
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A cor das palavras (re)colhidas em Fevereiro
12 de Fevereiro de 2014 às 1:31
Há palavras e palavras, há emoções e sensações. Há a riqueza e a pobreza: a riqueza das tuas palavras e a pobreza das minhas palavras gastas. Seria uma eterna repetição dizer o quanto me encanta o que escreves, o quanto me encantam os sentimentos que nelas espelhas e reflectes
texto completo em
https://www.facebook.com/notes/victor-nogueira/a-cor-das-palavras-recolhidas-em-fevereiro/10151971044574436
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chovem pedras
na cidade
sufocam os campos
é de trevas a idade
à luz trémula
dos pirilampos
tempo de senhores
erva daninha nos entre-folhos
noite de estupores
enricando aos molhos
vela ensonada
a tua sentinela
calada
até que despertes
da noit'-e-dia
paço de arcos 2014.02.14
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o pantanal ... dos cifrões
é um festival
o pantanal ... dos cifrões
é o maralhal
comprado por tostões
o lamaçal do laranjal
preciosa rosa
do centro casas adentro
são os portas de pernas tortas
os loureiros da banca rendeiros
os limas das pantomimas
os santanas de pantanas
os mendes que mal sentes
os cavacos por patacos
os coelhos de joelhos
os seguros perjuros
os pinóquios em solilóquios
a manela de janela
o victor do gamancio
o guta com erres
os mário-olás com ares
o marcelo a martelo
os sarmentos dos sacramentos
os durões furões
a tropa fandanga
com a chraranga
... e os patrões
dos milhões
e o povo ?
no ovo chocando a serpente
da ditadura
que perdura
na confusão
sem tostão
a burguesia
pequena ou média
que ria
do operário sem salário
simples percalço do pé descalço.
quem vence
e convence
no caldo da cultura:
a revolução ?
Paço Arcos 2014.02.16
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marcham silenciosos
temerosos
atados
e
maltratados
sem voz
sois vós
caminham
alinhados
e
calados
silenciados
alinham
e
definham
temerosos
sem voz
sois vós
Paço de Arcos 2014.02.19
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assume o lume
assume
o lume
e
solta
a
revolta
a
canção
da
revolução
Paço de Arcos 2014.02.19
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sem lamentos
com a tristeza
em riste
cantas
mas não espantas
o escarmento
lamentas
o teu
sofrimento
as rimas
lastimas
em pensamento
sem talento
bolorento o pão
avaro
Paço de Arcos 2014.02.19
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de escárnio e maldizer
a cantiga
pobre
a rapariga
estéril a espiga
Paço de Arcos 2014.02.19
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cantiga d'amigo
semtigo
sem abrigo
sentido ceitil
sem til
sentada
pasmada
de castigo
Paço de Arcos 2014.02.19
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faz sol
em
dó ré mi
à sombra
arrefece
ao sol
não aquece
luminoso o dia
que esfria
de cinza
a claridade
Setúbal 2014.02.21
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claro o dia
que esfria
a
luminosidade
de
cinzas
Setúbal 2014.02.21
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grão a grão
aumenta o cifrão
e
o milhão
do patrão
é
a canção
do ladrão
(des)graças
do sono teu
nosso o pesadelo
Setúbal 2014.02.21
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mobiliza a dor
da fome
com ardor
acende o lume
do perfume
liquida o estrume
Setúbal 2014.02.21
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o operário
com mau solário
o camponês
sem a rês
e a classe média
que ria
pequena ou média burguesia
com azia
do capital
a razia
é fatal ?
Setúbal 2014.02.21
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mar-oceano a planície
monte maior
ou
menor
ilhas de pedra e cal
polvilhéus
imenso o calor
imersa a dor
da secura
na corredoura
o frio da telha vã
de verde a seara
em aberto campo
de vermelho o horizonte
ígnea a colheita
o magma
Setúbal 2014.02.22
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sinuoso é o rio
lento
ao relento
temeroso
é o tempo
encolhido
não há sol
nem luar
à beira-mar
em espuma
se desfazem
as ondas
na margem
do vento
sem assento
em turbilhão
Setúbal 2014 02 21
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gato que brincas na rua
gato
que brincas
na rua
a beira-mar
ao luar
não é minha
mas
é
tua
a liberdade
de
vadiar
setúbal 2014.02.23
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nús
com pús
purulentos
e
macilentos
na rede
com sede
enleados
e
oleados
capacho
são
ou não ?
setúbal 2014.02.23
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o gato
não é pato pató
ao ri- sol
não esfria
aquece
e
não arrefece
lampeiro
no
boieiro
Setúbal 2014.02.23
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triste traste
triste
traste
all-quebrado
e
cansado
vegetando
na ínsula
setúbal 2014.02.24
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tiritas
de medo
ou
de frio
não sei
e
não rio
setúbal 2014.02.24
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o cansaço
do baraço
às braçadas
é meu
teu
o
abraço ?
setúbal 2014.02.24
~~~~~~~~
com mil olhos
e
dez mil bocas em cadeia
na verdade
sem vida
de interditos
benditos ou malditos
é
a cidade
entre dentes
a serpente
em surdina
setúbal 2012.02.24
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em casa minha
os
livros são como coelhos
e de joelhos
estou
do chão ao tecto
não em adorações
de andores
mas em arrumações
com dores
tarefa infinda
dia-a-dia
na berlinda
pum catrapum
setúbal 2014.02.24
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abril
das águas mil
em maio
no funil
otário
na boca larga
o povo
'tormentado
no estreito
canal
em cornucópia
os cifrões
crescente
de bolsa
a(ba)rrotando
os salafrários
e
os
seus patrões
setúbal 2014.02.25
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na festança
da abastança
o povo
com apneia
e a classe média
pequena ou média burguesia
com azia
todos proletários
os otários
ricos
os mafarricos
setúbal 2014.02.25
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hoje não falamos de flores
hoje não falamos
de flores
nem de amores
ardores
ou andores
hoje falamos
dos nós
sem voz
lassos de embaraços
hoje falamos
de nós
(quase) todos
sem pauta
e
a malta
sem acordo
desafinando
e
desfiando
setúbal, 2014.02.24
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não esperes
nem desesperes
na esfera
escuta
não é nossa
a lei deles
a da submissão
revolve
a
revolta
e
canta
no ovo
contra o polvo
firma
e
afirma
a revolução
setúbal 2014.02.26
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presa e represa
presa
e
represa
nas teias
não ateias
nem incendeias
receias
setúbal 2014.02.26
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o mistério do saltério
sentes
e
no ministério
mentes
psalmo a palmo
as palavras
em tiras
tiaras
das mentiras
ao rés do chão
sem pão nem a vinha
advinha
a
adivinha
em sentido
neste sentido
que sentido
o sentido
sem ti
sentado
pasmado
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
trincas as palavras
trincas
as palavras
as tintas
retintas
e brincas
lavrando
e
lavando
as palavras
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
trancas as palavras
trancas
as palavras
o olhar
sem
vaguear
nem
vadiar
brancas
ou
negras
as sílabas
o sílabus
setúbal 2014.02.27
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nú esteiro
esteio
sem receio
mordes
e
remordes
o seio
avulta
a vulva
encoberta
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
na janela aberta
encoberta
estás
coberta
de véus
sem a descoberta
tecida de receios
de medos
sem arremedos
setúbal 2017.02.27
~~~~~~~~
no recreio
enleada
mordes
e
remordes
a
imaginação
desenfreada
sem
o
freio
do
receio
a ventura
sem cobertura ?
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
na pousada
da poesia
as palavras
são
os sonhos
encobertos
do leitor
e
do
autor
anelo
anel de papel
pesadelo
rimando
ou remando
com
flores
ardores
andores
e
dores
ou nada
rimando
e
remando
ou
naufragando
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
à lareira
ponteias
na braseira
com areia
não ateias
a teia
nem incendeias
remedeias
setúbal 2014.02.27
~~~~~~~~
pétala a pétala
pétala
a
pétala
silabando
e
rimando
é tecido
o poema
teorema
cálido
ou
ventoso
setúbal 2014.02.27
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não há entre nós palavras belas
não há
entre nós
palavras belas
nem versos
apenas reversos
pois não escutas
o que escrevo
escrevo
como se
entre o meu cérebro
que comanda
e as minhas mãos
que executam
dedilhando
eu não estivesse
mas sim a máquina
em que me transformo
e
tu
não entendes
o meu cansaço
é o da máquina
que não sou
e tu insistes
na minha desumanização
setúbal 2014.02.27
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são ocas as tuas palavras
são ocas
as
tuas
palavras
balofas
balelas
sem velas
desfolhadas
são de areia
a tua determinação
uma
efabulação
brlham talvez
com a leveza
etérea
do pechisbeque
uma borboleta
que volteia
e
não
aquece
a
chama
os teus mimos
não são arrimos
mas pantominas
setúbal 2014.02.28
~~~~~~~~
calamos as palavras
e morremos
sem as dizermos
resguardamos os gestos
dos afectos
e partimos sem
os
partilharmos
em semi-breve
enleamos de nós
a meia-voz
a vida
vivida
e
morremos
sem cantarmos
setúbal 2014.02.28
~~~~~~~~
com teu receio
de
permeio
as flores
fenecem
nas
dores
e
o
cais
deserto
de naus
setúbal 2014.02.28-
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