* Victor Nogueira
2022 06 12 - Marcelo, inimputável? Vale tudo no reyno em que Marcelo pretende ser o Rey da Monarchia Nova? Fala Marcelo na "arraia-miúda", a quem deve o seu bem-estar, seu e de seus dilectos amigos de peito e berço, e a turba entra em delírio nas redes sociais? Marcelo vai á sopa dos pobres e dos sem-abrigo e a turba entra em delírio nas redes sociais? Marcelo não cuida do SNS português mas em terra estranha condecora o enfermeiro emigrante que cuidou de Boris, e a turba entra em delírio, esquecendo que Marcelo em Portugal, tal como Cavaco, apoia quem em Portugal não apoia o Estado Social e obriga o "povo" a emigrar em busca de melhores condições de vida e de trabalho?
É Marcelo o Presidente da República Portuguesa saída do 25 de Abril ou do "somos (quase) todos ucranianos" (mas não marroquinos, afegãos, líbios, iraquianos, palestinianos, iemenitas, sudaneses, ameríndios, venezuelanos, cubanos, nígerianos, sarauítas, sudaneses .....?
Esta é uma terra como poucas, aldeia, grande embora, mas com ... postais turísticos. E bem povoada de mirones nas esquinas. O Largo do Regato é o Giraldo do sítio, com muita gente conversando, acima do qual existe um jardim. Dois cafés: o dos ricos... e o dos pobres, como não podia deixar de ser. Tal como sucede com as duas Sociedades [Recreativas]. (MCG - 1972.10.17)
Pois é, isto de um tipo ser conhecido tem as suas consequências: montes de malta e quase todo o 4º ano sabem que andei pela Amareleja em companhia da amada! Nunca supus que as notícias fossem tão rápidas. E a "Ritinha" muito solícita em saber pormenores da menina e como fora arranjar uma amarelejense. ("Ora, muito fácil, não costumo perguntar previamente ás pessoa com quem me relaciono donde são") (MCG - 1973.03.09) ( )
A acreditar [no sr. Coelho], entre outras coisas, os(as) amarelejenses são libérrimos em matéria de relações e tolerância ("Tudo boa gente e amiga de receber") Ah! Ah! Ah! ("Mas parece-me que lá pela Amareleja não apreciam muito a MA " [ao que me responde]: "Bem as pessoas não vêm com bons olhos que ela meta o namorado lá em casa a qualquer hora, mas ninguém liga que vá com ele para qualquer lado, de carro, ou que vão passear pelo campo, como vocês fazem". Ah! Ah! Ah! (MCG - 1973.03.09)
(...). Podia falar-te da tristeza sem sentido desta vida que levo. Da necessidade de agarrar o presente com ambas as mãos. Do nenhum entusiasmo ao avistar anteontem à noite as luzes de Évora. A viagem [de regresso da Amareleja] foi rápida, com minutos de silêncio, outros de conversa animada e outros de busca desesperada de palavras, no negrume da noite, com a estrada deslizando sob nós, o rádio transmitindo música e as pontes aparecendo bruscamente na curva da estrada, dois parapeitos brancos, esguios, varridos pelos faróis do automóvel. Chegados ao burgo, deixada a Marília e [outro] em casa, foi a busca dum lugar para estacionar. As aulas recomeçaram, mas ... quero ir-me embora. É quase uma obsessão. Évora e o Instituto não são apenas o negativo. (MCG - 1973.11.20)
Ajoujado de sacos de viagem, ele apeia-se no largo da aldeia, circundado de casas de dois pisos, feias como não são as que conhece doutras terras alentejanas. É um rapaz moreno, em cujo rosto avulta um enorme bigode. Olha em volta e a cara ilumina-se (ou antes, as guias do bigode permanecem imóveis, enquanto o rosto se abre). Seguimos o seu olhar enquanto ele atravessa a praça e entra no largo [do Regato], cheio de homens gozando a aragem quente do entardecer, falando em todas as coisas sem interesse: a última história do velho sargento mai-la professora (aquilo é que foi um forrobodó!), de olhinhos "concupiscentes" e língua ferina - guardado estava o bocado.... Mas estas e outras histórias não as ouve o moço que agora atravessa o largo, algo atrapalhado pela multidão - forasteiro em terra estranha - até pousar os sacos e abraçar, com muito carinho, a rapariga que se aproximara dele. Os homens do largo abaixam-se para apanhar os queixos que tinham entretanto deixado cair ao chão e recolhem os olhos às órbitas. Houve um, coitado, a quem eles saltaram com tal força e rapidez que as lunetas ficaram apenas em cacos de lentes agarrados aos aros (como irá ele logo ver o teleteatro?)
Abraçados, ambos entram em casa e aqui o escriba interroga-se se não deverá retirar-se discretamente, não vá perturbar a sua (deles) intimidade. Mas tal discrição é desnecessária, porque a D. Maria, senhora muito simpática (quando não está com a mosca) lá está ao cimo das escadas, para zelar pela moral e bons costumes. Portanto continuamos a seguir o parzinho que vai retirando da mala livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros, livros … bolas, chega! Eles riem-se às gargalhadas e dão-se mais outro beijinho.
No dia seguinte, ela aparece roufenha, quase afónica, tossindo cavernosamente, enfim, parecem o espelho um do outro. Os homens no largo têm mais uma história e um vale de lágrimas corre pelas escadas abaixo e a toda a pressa vêm barquinhos que passeiam pelas ruas da Nova Veneza, em noites de luar com alvoreceres de rouquidão! (MCG - 1973.08.02)
Estávamos pois sentados no jardim ou à beira-rio. Perguntavas-me mas não sei o que é o amor. O valor e a força das palavras não reside no seu exterior mas sim no seu conteúdo. Mas dir-te-ia: estava por ti apaixonado, isto é, estava contente, feliz, deslumbrado, com uma imensa ternura por ti. Eras uma pessoa de carne e osso e não uma ideia ou palavras num papel. E isso permitiu-me dizer-te: “Então, quando é que a gente se casa?”.
Naquela altura não tinha dúvidas nem questões a pôr. A vida é que nos dá a resposta. Tu terás certezas. Eu, não! As minhas certezas sobre as pessoas e as coisas nascem dos acontecimentos quotidianos.
Penso muitas vezes em ti. Por vezes com um desejo muito grande da tua presença. É ridículo: esperar que entres pela porta adentro, que estejas aqui comigo, que o telefonema seja a tua voz, que a voz lá em baixo sejas tu! Esta é a única certeza: o desejo, por vezes intenso, da tua presença, da tua mão no meu braço. Que nome dar a isto? Não me preocupo. Sei apenas que acontece.
Outras vezes olho para as pessoas que estão ao meu lado: “personas” de carne e osso, que sorriem e falam, que eu conheço ou não, que muitas vezes gostaria de conhecer. Não porque deseje ou tenha feitio para coleccionar “amores”. Mas não posso deixar de sentir ou calar aquilo que me falta. E tu, tu estás longe, com as tuas reservas, a tua falta de confiança em mim (será?), os teus impedimentos. E perante a nossa reserva as palavras são uma ausência, uma barreira, e não uma ponte ou um caminho.
Olho para ti, para as tuas fotos, as que tirámos, no paredão, no jardim junto ao riacho, nas dunas à beira-mar, na tua sala acolhedora, em minha casa, na estação ferroviária, na esplanada da cidade aberta, no meio da multidão que enche a rua. Olho para ti e tu sorris, com esse teu jeito atencioso, gaiato, leve e risonho, e isso é uma carícia que os nossos dedos e os lábios completam. Mas tu não estás aqui e … o cansaço cai novamente sobre mim e o dia se faz noite cerrada, com o vazio pela tua ausência.
Como quebrar o silêncio das palavras? Como libertar os gestos? Como sair da terra de ninguém e distinguir o canto da sabedoria?
Escreveu Alberto Caeiro: “O amor é uma companhia/Já não sei andar só pelos caminhos/ Porque já não posso andar só / … / E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar”.
Quem és tu, não sei. E tu, sabes?
Paço de Arcos 2014.06.12
Foto Victor Nogueira
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