Para - 'Clube sem estrelas'
Cc - 'Sinal.de.vida.vicnog'
.
.
Abertura – Allegro ma non troppo
NOTA IMPORTANTE
.
Victor Nogueira
1 - Carta aberta em tempo de Páscoa
Assunto: | Carta aberta em tempo de Páscoa |
Data: | 3/Abr 13:59 |
Caríssimo Eu fui trabalhador da Administração Pública e tu ainda és ! . Que eu saiba, fazes parte dum serviço indispensável às populações. Como o pessoal da Saúde, do Ensino, da Segurança Social, da Justiça. Farto estou de «modelares» empresas privadas que nada valem, a começar pela Banca e pelos grandes accionistas e seus capatazes, ou que controlam o processo produtivo a montante e a jusante. Como as grandes superfícies comerciais, que nada produzem! . A tua juventude não desculpa a irreflexão deste mail. . Negar aos trabalhadores o direito de se manifestarem por melhores condições de vida e de trabalho ou defender um serviço público de qualidade, só é reaccionário para o patronato. E a cantilena do «pénis rasca» não passa disso! Se todos fossem empresários não haveria trabalhadores e se todos fossem serventes de pedreiro ou mulheres a dias não haveria empreiteiros nem patrões ou patroas! . Estou-me borrifando que os ricos não paguem mais para usufruírem do Serviço Nacional de Saúde, da Escola Pública, da Segurança Social, da Justiça … O que exijo é que esses sejam de qualidade, públicos, gratuitos e universais. E que as empresas e os ricos não fujam ao fisco e as empresas não esmifrem os trabalhadores sugando-lhes o tutano, sem pagarem impostos, salários justos, estabilidade de emprego, direito a terem vida social para além da empresa e descontarem para a segurança social. . As pensões de reforma não são uma esmola, são um direito ! . O que os sucessivos governos PS/PSD/CDS fizeram desde 1976 foi destruir o sector produtivo, colocando o país na completa dependência do exterior, impedindo quaisquer veleidades dum governo de esquerda! Fecham a torneira e acaba a «reforma». Enchem-nos os ouvidos com o deficit, mas não falam do crescente deficit da balança comercial ! . Um abraço Victor Nogueira . Obviamente que não repasso o teu mail nem me parece que distribuas este :-) Basta-me reflectires . |
.
2. - Goios - a Páscoa numa aldeia minhota (1974)
Na casa de Goios - Na janela eu e o meu tio Zé Barroso
(foto de família)
(...) São 16 horas e o meu avô já me chamou ali do lado para me pedir um favor, muito de mansinho: que me ajoelhe e beije os pés da imagem. Se o não fizesse seria um escândalo, que as pessoas reparam em tudo: "Então ele é um ateu ?!" Quem diria, o sobrinho-neto do senhor D. António [de Sousa] Barroso", [que foi] Bispo do Porto (e esteve em S. Salvador do Congo, em Angola) ! Enfim ...
Na varanda coberta e fechada e comprida para onde dão os quartos de dormir a família aguarda o compasso. O primo Adelino tem o gravador aos berros, transmitindo música de ranchos folclóricos. É uma música mexida e movimentada, própria para bailar. Gosto muito mais da música alentejana.
Ali do guarda-fatos e das arcas retirou-se já a roupa domingueira. Estão todos enfiados nas fatiotas, colete, camisa de ver-a-Deus e gravata. Das arcas retiraram-se as cortinas, agora colocadas nas janelas, o soalho lavado, na casa velha cujo solo treme com o peso dos passos. Olho pela janela e a minha vista alcança os campos verdejantes, no meio da pequena e densa mata arborizada. O meu primo, dono da casa, sai descalço do quarto, sapatos e calçadeira na mão. O avô Barroso fala com o António e o resto da malta fala alto atrás de mim, enquanto o tio Zé [Barroso] está ali embrenhado na leitura dum "Précis de Statistique", dizendo‑me que ainda não percebe para que serve a Estatística.
Estralejam foguetes neste entardecer frio, cinzento e nublado. O compasso já está ali a dois passos: Vim agora da ponte que atravessa além o riacho, ao cimo da estrada, junto à pequena escola abandonada e arruinada onde o meu avô estudou.
Trouxeram o televisor lá de baixo da cozinha, onde estivemos no Natal, Estão a transmitir uma tourada do Campo Pequeno [em Lisboa] e toda a gente está entusiasmada, esquecida de meditar na Paixão e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, nesta casa onde há imagens e estampas devotas nas paredes da sala de estar, para além das fotografias do já falecido "Senhor D. António "e do seu secretário e sobrinho, também padre mas que não chegou a bispo.
A dona da casa, minha prima, pede‑me que avise quando o compasso se aproximar. Pego em mim e venho até aqui à janela, assim transformada em posto de vigia. No peitoril continuo o relato dos acontecimentos.
A malta ali na sala e na varanda está entusiasma: "Aquilo é que foi uma pega!".
A estrada está atapetada de flores, melhor, de pétalas.
Reparo que sou o único barbado das redondezas. Tenho desculpa (terei ?) porque sou da cidade.
A televisão pode mais que o Nosso Senhor!
O compasso veio, as pessoas foram para a sala de entrada. Toca a sineta, que um miúdo traz adiante; uma cruz florida transportada por um homem de opa vermelha é dada a beijar às pessoas - que não se ajoelham - e o jovem seminarista aperta a mão aos presentes, desejando Boas Festas. Segue‑se uma "orgia" de apertos de mão e votos de boas festas. Alguns velhotes detêm‑se a falar com a sra.Elvira, criada do avô Barroso. Este está muito sorridente, apresenta a filha "que é professora em Luanda" e o neto. Não posso deixar de sorrir‑me e enternecer‑me com o ar jovial do avô, enquanto cumprimento "gravemente" as pessoas.
É para aí o 5º compasso em 8 anos e alguns destes homens são "habitués" nestas andanças (Sempre se come e bebe à custa dos outros). Mas ainda o compasso não abandonou a casa e já os meus primos e alguns amigos se precipitam para o televisor, "onde" um forcado é retirado de maca do redondel.
.....................
São 18:20 e ainda estralejam foguetes. O pessoal continua a assistir à tourada. A prima Clementina - mãe das que vimos a conduzir um carro de bois - tem um linguarejar (pronúncia) muito catita. Ali na outra casa [do primo Manuel] só se fala de terras e riqueza! Safa! Fazem parte da "elite" cá do sítio. Mas enquanto que os filhos do José são folgazões e desinibidos, mais que o pai, os do Manuel são muito acanhados.([1])
A senhora Elvira foi visitar uma amiga e ainda não voltou. A tourada já terminou e agora transmite‑se um programa de ginástica. (MCG - 1974.04.16)
[1] - Em 1975, com a morte do meu avô Barroso e com o meu casamento com a Celeste, perdi o contacto com os primos de Barcelos (Goios e Pedra Furada). Em 1989, sediados no Mindelo no Verão, fui com a minha mãe, o Rui, a Susana e a Joana Princesa a Goios, para (re)vermos os primos. Mas uns tinham morrido, os mais sociáveis, e os outros nem apareceram, deixando-nos a secar na estrada. Como na altura me não lembrava do nome dos da Pedra Furada, não fomos a esta aldeia, onde regressei mais tarde, com a Fáfá das Caldas, mas apenas numa das nossas múltiplas deambulações turísticas por Portugal de lés a lés, amiga, navegadora, auxiliar de fotógrafo e scipt-girl dum Livro de Viagens inacabado do qual restam milhares de fotos e o borrão duma «peregrinação» em livro inacabado, casa vez mais perdido nas brumas do tempo e da memória.
.
.
.
4 comentários:
dom 04-04-2010 12:20
Caríssimo tu
Nem te quero falar mais das Índias... Já deves estar farto de tantos textículos no blogue. Mas, cuidado Amigão, que eu vou continuar... Continuo saudoso daquela magnífica terra e das suas gentes. Aquilo é outra loiça...
Belos textos os teus, como sempre. Na foto não se vêem muito bem as vossas fronhas. Mas, a intenção é excelente.
Prontos (sem s...) por aqui me fico. Uma Páscoa tão feliz quanto te seja possível. O teu amigo sincero
Henrique, o Gordo
Henrique Antunes Ferreira
dom 04-04-2010 17:24
Olá.
Gostei muito da descrição da Páscoa num aldeia minhota (penso que já li sobre isso num dos teus blogues)
um beijinho
Gábi
dom 04-04-2010 18:18
Olá, Vitor! Muito obrigada pelas imagens. Muito sintomáticas e representativas...
Podias ter enviado tb uns submarinos...
Votos de um feliz Domingo ( de Páscoa)
Um abraço.
Clara Roque Esteves
4/Abr 21:52
SOPHIE diz:
gracias por tu comentario victor
Enviar um comentário