* Victor Nogueira
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RIMANCE DE JOAO BAPTSTA
Andando João Baptista
Mal descansado da guerra
Caminhava pela pista
Do mar ao cume da serra,
Bem ao longe avistou
Um Paço no horizonte;
Pela ponte atravessou
Chegando ao cimo do monte.
Viu uma bela Princesa
Que na fonte se banhava,
Por ela ficando acesa
A flama que incendiava,
- Que fazeis aqui senhora
Dona da pele morena?
A noite será cantora
Se vossa mão for serena.
- Por alguém vim em caminho
Com muitas naus voando
Mas não ficarei sozinho
Se convosco for ficando.
Ouçam qual foi a resposta
Calmosa, doce, brilhante,
Sem temor de lua posta,
Precioso diamante.
- Num crescendo de calor
Nesta fonte mergulhada
Por vós espero, senhor
Não me deixeis assombrada.
- Belo é vosso cavalgar
Vosso desejo um espanto
Vinde comigo arrulhar
Alegre, mas sem quebranto.
E com esta fala doce
Se prendeu o cavaleiro
Contente como se fosse
Um artista, jardineiro.
- Andando me fui chegando
Para convosco encantar
E ao ver-vos nesse encanto
Passo a descansar.
- Pois vosso olhar é botão
Em busca do sol e do mar;
Sereís bela sem senão
Vinde comigo bailar.
- E convosco bailo a noite
Dedilhando esta guitarra
Não há quem não se afoite
Vendo a fruta sem a parra.
Da fala ficou suspenso
Um punhal no coração
Com olhar lembrando imenso
0 vale da solidão,
Veio o gesto finalmente
Negro de rosa dourado
Rosmaninho com semente
Em seu rosto acobreado,
Cem mil águias voaram
Mais, seguidas dum faisão
E com leveza abalaram
Silentes que nem trovão.
- Convosco não bailo eu
Bem gosto da liberdade,
Ide-vos embora, oh! meu,
Sou presa da soledade.
Com esta fala malina
A pensar ficou João.
Era uma fala felina
D'ensombrar o coração,
Dez mil pássaros em viagem
Sem nada no horizonte,
Fechada aquela portagem
Como arvore sem ponte,
- Sinhá moça, a vida é jogo
Sabemos nós muito bem;
Ele há fumo sem fogo
Sempre que tal nos convém.
Como era belo seu sorriso
D'encantar o navegar!
À Princesa achou preciso
Ver de novo seu falar.
- Como tu desejas ficam
Estrelas no meu olhar:
Doçuras, beijos que picam,
A brisa e o marulhar,
Com esta fala ficou
A Infanta Gabriela,
Um pintarroxo voou
P’ra lá do castelo dela.
1991.06.19 (2)
SETUBAL
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RIMANCE DO CONDE NIÑO
Ia o Visconde Niño
Pelo caminho real
Com andar bem pequenino
Por causa do areal.
Cavalgava noite e dia
Por rio, vale e montes,
Quando o sol refulgia
Bebia água das fontes.
Um falcão no ar voava
Em busca do céu d'anil
Com o seu olhar buscava
Mui para lá do redil.
Numa curva do caminho
Oh! céus, cantando estava
Só, num ermo sózinho,
Quem pelo Niño chamava.
Era uma fada princesa
Com um manto de jasmim
Envolto em muita sageza
Num campo de alecrim.
Com pós de perlimpimpim
Seus cabelos penteava
Enquanto um bom lagostim
No fogaréu se cozinhava.
Bom, soberbo, valioso,
Cálido refrigerante,
Um apelo precioso,
Raro, belo, cativante.
Parou Niño, o Visconde,
Em pose primaveril;
Ao chamamento respondeu
Mui garboso, senhoril.
Com um gesto desenvolto
Tirou, de breu, o capuz,
Com o cabelo revolto
Guardou o arcabuz.
O cavalo à rédea solta
Ali ficou a pastar,
Sua verde crina envolta
Na doce brisa do ar.
A viseira levantada,
Pé em terra, sem temor,
Ao coração descansado
Cantou pacificador:
"Sinhá moça, és tão linda!
Com teu corpo donairoso
Comigo vem na berlinda
Mais teu mosto precioso;
Ao ver-vos sinto o luar
Aquecer-me sem ardor."
Disse o Conde sem pasmar,
armado em versejador.
"De vós não quero eu ser
Prisioneira, cativa,
Ide-vos, ensandecer
Qualquer outra nativa."
"Eu não vos quero guardar
Como o vento vós sois livre,
Assim ide cavalgar
Que não sóis do meu calibre!"
De negro ficou o céu,
De branco, o Visconde Niño,
Na montanha um escarcéu
Mui descontente o malino!
"Chorai, gaivotas, chorai,
Por dona tão altiva,
Na tempestade vogai
A nau presa, fugitiva."
No seu cavalo real
O herói vai abalar.
O canto acaba mal
Se o Conde não ficar?!
1991.Maio.23/28 - Setúbal
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