marco do correio em Beja - foto victor nogueira - Daqui a pouco vou sair - à chuva, ao vento, desafiando as intempéries e o furor das divindades - para meter esta presença de mim no marco do correio. (MCG - 1973.01.16)
Da Carta - segundo Garcia de Resende, António Jacinto, Manuel Bandeira e Victor Nogueira
por Victor Nogueira a Domingo, 17 de Outubro de 2010 às 10:06
- 4. - Escrevivendo e Photoandando por ali e por aqui «Ao lermos uma novela ou uma história imaginamos as cenas, a paisagem, os personagens, dando a estes uma voz, uma imagem física. Por isso às vezes a transposição para o cinema revela-se-nos uma desilusão. Quando leio o que a Maria do Mar me escreve(u) surge perante mim a sua imagem neste ou naquele momento da nossa vida, uma pessoa simples, encantadora, gentil e delicada.» Victor Nogueira .
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- 5. - Dizem que os livros são os nossos melhores e maiores amigos. Mas os livros não se sentam á nossa beira, nem tem olhos, nem sorriem nem nos abraçam, nem connosco passeiam pela rua, pelo campo. Nada podemos dar aos livros senão as letras dos nossos pensamento ou um pouco de nós para que chegue aos outros. Os livros têm os olhos que nós temos. E os seus lábios são os nossos lábios. Porque se os livros tivessem olhos e lábios e mãos e ded s seriam talvez pessoas mas nunca livros. Évora 1969.Março.19 Victor Nogueira .
9. - O Apartado 65 ([1]) pede‑me para dizer‑te que tem sentido muito a tua falta e que se sente muito sozinhito (como diria o João Machado); ele bem gostaria de dar‑me o contentamento das tuas notícias, e para isso bem se mantém alerta e vigilante, numa expectativa gorada sempre que se ouvem os passos do carteiro e o acender da luz. Mas é quase tudo ali p'ró lado, p'ró 63, que por sinal até é uma agência de casamentos muito falada nos pequenos anúncios do Diário de Notícias ! Coitadinho, eu bem lhe digo que se não preocupe por ter a mala vazia quando lá vou, mas que queres, fica sempre triste por não me contentar. Digo‑lhe que os negócios do 63 são outros, que ali o 65 é mais para outros negócios, de coração ou não, mas ele não se convence. Lá o deixo meditabundo, mas diz‑me lá. C., que mais lhe hei‑de eu dizer? Ás vezes torno lá à tarde, para fazê‑lo apanhar uma lufada de ar fresco, mas ele mostra‑me logo que não! Vês, C., vês o que fazes? Habituaste‑lo mal e agora ...
Erma, úmida e silente...
A chuva, em gotas glaciais,
Chora monotonamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
Enternecido sorrio
Do fervor desses carinhos:
É que os conheci velhinhos,
Quando o fogo era já frio.
Cartas de antes do noivado...
Cartas de amor que começa,
Inquieto, maravilhado,
E sem saber o que peça.
Temendo a cada momento
Ofendê-la, desgostá-la,
Quer ler em seu pensamento
E balbucia, não fala...
A mão pálida tremia
Contando o seu grande bem.
Mas, como o dele, batia
Dela o coração também.
A paixão, medrosa dantes,
Cresceu, dominou-o todo.
E as confissões hesitantes
Mudaram logo de modo.
Depois o espinho do ciúme...
A dor... a visão da morte...
Mas, calmado o vento, o lume
Brilhou, mais puro e mais forte.
E eu bendigo, envergonhado,
Esse amor, avô do meu...
Do meu, — fruto sem cuidado
Que ainda verde apodreceu.
O meu semblante está enxuto.
Mas a alma, em gotas mansas,
Chora abismada no luto
Das minhas desesperanças...
E a noite vem, por demais
Erma, úmida e silente...
A chuva em pingos glaciais,
Cai melancolicamente.
E enquanto anoitece, vou
Lendo, sossegado e só,
As cartas que meu avô
Escrevia a minha avó.
In A cinza das horas, 191
Rio Grande - Postal dos Correios
Tony de Matos - Cartas de amor
Com verdade o amor que senti
Quantas noites em claro passei
A escrever para ti
Cartas banais
Que eram toda a razão do meu ser
Cartas grandes, extensas, iguais
Ao meu grande sofrer
Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem
Porém de ti
Nem sequer uma carta de amor
Uma carta vulgar recebi
Pra acalmar minha dor
Mas mesmo assim
Eu para ti não deixei de escrever
Pois bem sabes que tu para mim
És todo o meu viver
Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem.
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