[3] - Não havia pratos apenas um recipiente donde com a sua colher cada um se ia servindo. Essa foi a pior parte para mim, mas lá fiz das tripas coração. Ao contrário doutra vez em que nos Santos Populares fomos até Alfama (do grupo, em 1968, faziam parte as minhas tias Esperança e Lili, a minha mãe, o meu irmão, a Armanda Meles e o Brás Gonçalves) onde passei uma fome de cão, enquanto o maralhal se divertia e me gozava, comendo sem pruridos nem esquisitices: as mesas de madeira não tinham toalhas, entre cada freguês eram limpas apenas com água e um pano cada vez mais sujos, os talheres e os pratos, lavados numa barrica de água que nunca deve ter sido mudada, vinham com gordura e restos de sardinhas agarrados. Claro que no barco o problema para mim não era a falta de asseio mas comer tudo da mesma malga. Mas como registei na altura, fome não passei e o almoço estava muito saboroso.
Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNquarta-feira, 19 de agosto de 2020
Rio Tejo acima, com o João Meles
[3] - Não havia pratos apenas um recipiente donde com a sua colher cada um se ia servindo. Essa foi a pior parte para mim, mas lá fiz das tripas coração. Ao contrário doutra vez em que nos Santos Populares fomos até Alfama (do grupo, em 1968, faziam parte as minhas tias Esperança e Lili, a minha mãe, o meu irmão, a Armanda Meles e o Brás Gonçalves) onde passei uma fome de cão, enquanto o maralhal se divertia e me gozava, comendo sem pruridos nem esquisitices: as mesas de madeira não tinham toalhas, entre cada freguês eram limpas apenas com água e um pano cada vez mais sujos, os talheres e os pratos, lavados numa barrica de água que nunca deve ter sido mudada, vinham com gordura e restos de sardinhas agarrados. Claro que no barco o problema para mim não era a falta de asseio mas comer tudo da mesma malga. Mas como registei na altura, fome não passei e o almoço estava muito saboroso.
1 comentário:
Armanda Gonçalves Fiquei comovida com a tua narrativa beijo grande💓
VN - No texto faço referência a uma ida a Alfama, mas não me lembro de todos os que foram. Terás ido também connosco? E a tia Esperança? :-)
Armanda Gonçalves Sim a madrinha foi eu é o Brás lembro-me bem saudades destes tempos beijinhos
VN - Tenho de vos incluir no texto
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