* Victor Nogueira
2 de outubro de 2012
A propósito de intervenções nas redes
sociais, em blogs ou comentários de leitores em jornais on-line
Mas que pobreza de argumentação. Com
tal nível, os defensores de Salazar contra o 25 de Abril na sua universidade
salazarista nem passariam do 1º semestre do 1º ano. Quando muito seriam
“licenciados” como polícias de giro e cacete. Daqueles que usavam fartos
bigodes. E muitas vezes imponente barriga
Serão "analfabrutus"
ou "inteligentes" os que defendem salazar ou a troika? Há relação
entre salazar e as troikas ?
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Como cogumelos depois da chuva
aparecem os defensores de Salazar e do Paraíso. Transformado em Inferno pela
"traição" do 25 de Abril." Mas será o 25 de Abril uma traição ao
Portugal de Salazar/Caetano? Que Paraíso havia antes do 25 de Abril? Paraíso
para quem?
Sim, antes do 25 de Abril era o
Paraíso. Havia uma elite de endinheirados ou iluminados e uma corja de milhões
de analfabetos. Ou analfabrutos. Tão analfabrutos que largando o Jardim das
Delícias à beira-mar plantado emigravam aos milhares de milhares para
procurarem lá fora o pão e o mel que aqui não vislumbravam para além da fome e
da miséria e dos bucólicos tugúrios campestres ou encantadores bairros de lata.
Aos milhares de milhares. E só os brutos viam e sentiam o trabalho de sol a sol
nos campos do Alentejo. E os dias não pagos quando fazia mau tempo. Dias não
pagos na agricultura. . Na construção civil e obras públicas. Na indústria das
conservas de peixe. E nas horas extraordinárias à borla. E trabalhadores
despedidos se adoeciam. Sem assistência na doença. Nem eles nem as famílias.
Trabalhadores e suas famílias sem qualquer apoio no desemprego. E trabalho sem
direito a férias para a esmagadora maioria.
Havia as praças da jorna.
Sucessores dos mercados de escravos. Antecessoras das empresas de trabalho temporário!
Tudo igual no essencial - trabalho escravo. Trabalho assalariado. Trabalho precário.
Trabalho à peça ou à hora. Um elo de ligação- desvalorização do trabalho e da
liberdade que não seja a do explorador! Seja patrão, seja capitalista, seja
empresário, empreendedor ou não!
E havia pedintes e crianças e
aleijados - uma esmola “pelo amor de Deus”. Ou “pela sua rica saúde”. E
pedintes e aleijados e crianças esmolando. Pelas ruas. Pelas esquinas. À porta
das igrejas. E crianças trabalhando sem ir à escola. Vendendo jornais. Ou como
marçanos levando as compras da mercearia às casas. E criadas de servir sem
direitos e de que se serviam os patrões e seus filhotes. Despedidas – as
desavergonhadas – se engravidavam. E os aprendizes - crianças - mão de obra
barata. E maridos que matavam impunemente as mulheres para “lavarem a
honra”. Machos lusitanos viris com amantes e ”espanholas” a quem montavam
casa.
E mulheres dependentes da autoridade
e arbítrio. do marido e das suas autorizações, do senhor todo-poderoso. E
apenas “curiosas” para assistirem aos partos. E para fazerem abortos. E filhos,
muitos filhos, arrastando-se pela miséria. Ranhosos, Esfarrapados, Famintos.
Enfezados. E as mães tendo de ir trabalhar logo a seguir ao parto. Para
não serem despedidas! E as mulheres com salários inferiores aos dos homens.
Porque salazar e os patrões as consideravam seres inferiores. Era a Lei. Estava
na Lei!
Porque será que as crianças nascidas depois
do 25 de Abril são mais altos que os nascidos anteriormente? Talvez porque só
depois do 25 de Abril passou a haver acompanhamento das mães durante
a gravidez e partos assistidos nos hospitais públicos com
acompanhamento médico às crianças e jovens. E possibilidade das populações
darem melhor alimentação aos filhos. Incluindo leite e abandonando as
"sopas de cavalo cansado", isto é, pão e vinho, que embruteciam logo
desde a nascença em muitas aldeias e vilas e cidades de Portugal.
E velhos que se enforcavam devido à
miséria. Sem dinheiro. Sem saúde. Sem apoios sociais. E famílias a comerem o
pai uma sardinha e os filhos côdeas de pão. E vinho, muito vinho e tabernas a
cada esquina para “dar de comer a um milhão de portugueses”. E em muitas vilas
e aldeias do Alentejo duas sociedades “recreativas” – a dos pobres e a dos
ricos. E a pobreza envergonhada da pequena burguesia.
E os “criados” dos cafés e os
motoristas de taxi e os engraxadores – velhos ou miúdos – vivendo apenas da
gorjeta. Sem direitos. E os aprendizes de operário ou de costureira ou mesmo
criadas de servir - crianças - que muitos não eram remunerados pelos patrões.
E na verdade não havia tantos
automóveis. O povo e os trabalhadores andavam de eléctrico ou de autocarro,
cada vez mais amontoado como gado nos transportes colectivos. Ou de motorizada.
Ou de bicicleta. Ou a pé. Meios de transporte saudáveis, curtidos pelo sol, ou
pelo frio, lavados pela chuva, refrescados pela brisa no rosto!
E aldeias e vilas e bairros de lata
de norte a sul e no interior, sem água canalizada. Sem electricidade. Sem
esgotos. E as casas sem instalações sanitárias ou de banho.
"Aliviando-se" as pesoas ao ar livre. Atrás duma moita ou das
estevas. E as malvas a servirem de papel higiénico. E as ruas lamaçais. E uma
bicia ou fonte para o povo. De cantaro à cabeça ou à ilharga.
E a Ponte sobre o Tejo! Ah! A Ponte
sobre o Tejo que não era de Salazar construída com o desalojamento forçado e
com indemnizações de miséria aos habitantes e proprietários de Alcântara. E os
bairros de lata. E os mortos nas cheias de 1967 em Lisboa porque Salazar não
permitiu que as populações fossem alertadas das chuvadas torrenciais que se
avizinhavam. E os milhares de camponeses mortos em Janeiro de 1961 na Baixa do
Cassanje, em Angola, numa área maior que Portugal, em greve contra o regime de
monocultura da Cotonang, metralhados e regados com napalm pelas Forças Armadas
Portuguesas E tantos e tantos massacres com as almas voando para o Paraíso se
inocentes de que os jornais não falavam. Massacre da Baixa do Cassanje anterior
aos massacres perpetrados pelos camponeses do Norte de Angola, enquadrados pela
UPA com o apoio não da URSS, mas dos EUA. Em 15 de Março de 1961
A mentira do Portugal do Minho a
Timor, onde nas colónias e apesar de 5 séculos de ocupação a esmagadora maioria
das populações não falava português nem tinha direitos de cidadania. Eram os
"indígenas"". Os cafres. Os "não civiliizados".
Os "contratados" para trabalhar nas roças e nas minas. A quem
não se reconhecia a qualidade de cidadãos portugueses. Direitos de
cidadania apressadamente reconhecidos apenas depois do início das
revoltas na Guiné, Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe ... Isto é,
depois de 1961. E os brancos lá nascidos, durante muito tempo oficialmente
considerados "brancos [ou cidadãos] de 2ª." Era o registo no Bilhete
de Identidade.
Colónias portuguesas cujos
territórios em África só foram "ocupados" depois da Conferência de
Berlim, em 1885. Após as campanhas militares de ocupação e
"pacificação" contra a resistência dos africanos. Campanhas
militares efetuadas no final da Monarquia e prosseguidas durante a I
República ! Resistência dos povos africanos tão respeitável e louvável
como a que ao longo de séculos o povo português tem feito à ocupação ou
tentativas de ocupação de Portugal pelo Reino de Castela ou fazem à invasão e
ocupação pela Troika FMI-BCE-UE..
E cargas policiais e da GNR e a PIDE
para os “desordeiros” e "díscolos". “Desordeiros” ou
"díscolos" eram todos os que faziam greve. Ou reivindicavam melhores salários!
Ou melhores condições de vida e de trabalho! Ou pediam trabalho. Ou que se
manifestavam fora do enquadramento do Governo. Despedidos de imediato e não
poucos presos e torturados. Ou - pelas forças de "segurança" -
impunemente assassinados. Trabalhadores. Assalariados rurais,
Gente do Povo. Incluindo comunistas. Ou estudantes. Ou o General Humerto
Delgado. Tudo "a bem da Nação". "Tudo pela Nação e nada contra a
Nação! Eram "(des)Governos de Salvação Nacional"
Gente tão bruta que precisava de ser
vigiada para não se tresmalhar. Tão bruta que precisava de autorização para se
manifestar. Tão bruta que precisava de autorização para se associar.
Tão bruta que precisava de autorização para se reunir. Tão bruta que não
podia votar para não escolher ... mal. Isto é, para não mijar fora do penico.
Outros pensavam e decidiam pelos analfabrutos. Gemte tão bruta, sempre vigiada
no que escreviam ou diziam. Vigiada pelos pelos coronéis da censura prévia do
lápis azul ou cercados por dez mil olhos e cem mil orelhas em redor.
Salazar dizia e os livros da escola repetiam - "Casa onde há
fome todos ralham e ninguém tem razão" ou "Se soubesses o
que custa mandar toda a vida gostarias de obedecer". Por isso só era
reconhecido um Partido - o da União Nacional. Proibidos e perseguidos sobretudo
o Partido Comunista Português e os sindicatos. Sindicatos
"protegidos" pelo Governo e Patronato. Tudo em nome da submissão e do
respeitinho. Submissão e respeitinho ao pai e chefe de família. Submissão
e respeitinho ao professor e na escola. Submissão e respeitinho a
"Sua Excelência" o "venerando" Presidente da República, aos
governantes e ao Governo. Submissão e respeitinho a "sua
Excelência o senhor professor doutor" Salazar/Marcelo. E, sobretudo,
submissão e respeitinho ao Patrão e ao Chefe e à Santa Madre Igreja. Tudo,
repete-se, "a bem da Nação". "Tudo pela Nação e nada
contra a Nação" . Eram "(des)Governos de Salvação
Nacional"
Analfabrutus e falhos de inteligência
todos quantos tentaram derrubar Salazar ou Caetano? O Presidente da República,
general Carmona, após a II Guerra Mundial. O almirante Quintão Meireles. O
general Norton de Matos. O general Craveiro Lopes, Presidente da República. O
General Humberto Delgado em 1958. O General Botelho Moniz depois do início da
guerra colonial, em 1961. Coadjuvado pelo futuro general Costa Gomes. Os
Generais Spínola e Costa Gomes. [Afinal o único Presidente da República que não
quis demitir Salazar após o termo da II Guerra Mundial foi o
"Venerando" corta-fitas Almirante Américo Tomás] Muitos destes
apoiados não pela URSS mas pelos EUA. E, sobretudo - aberta ou surdamente
-contestavam o Paraíso a maioria do povo português e os trabalhadores, incluindo
os comunistas!
E as colónias que até 1961 se não
podiam industrializar nem desenvolver para se proteger a indústria de Portugal,
na Europa. E a guerra colonial. Cada vez com mais refractários ou
desertores. Entre os soldados e os oficiais. Analfabrutos que não percebiam
porque haviam de morrer ou ficar inválidos e abandonados. Ou traumatizados pelo
stress da guerra. E que, “sem inteligência”, zarpavam e zarpavam e zarpavam …
de Portugal.
Sim não eram portugueses de rija cepa
e pegas de cernelha ou a rabejar. Eram todos estrangeiros. Milhões de
estrangeiros. Que analfabrutos não vislumbravam o Paraíso, mas apenas a fome, a
miséria, a doença, a falta de trabalho. Sim milhões de estrangeiros, milhões de
estrangeiros na Pátria que os viu nascer. Pátria madrasta onde, analfabrutos,
muitos sem a 4ª classe, apenas viam a fome, a miséria, a doença, a falta de
trabalho.
Sem inteligência para vislumbrarem o
Paraíso do dia-a-dia espelhado nos jornais e na televisão de Salazar/Caetano E
lembrado pelos filhotes de Salazar/Caetano. Eles sim, Portugueses de alto gabarito!
Mas, ao contrário de Salazar/Caetano, pouco dados ao estudo. E à reflexão. E ao
contraditório. Porque estudar e argumentar sem frases feitas ou bafos de
café-taberna custa e cansa. Na razão inversa da inteligência.
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