* Victor Nogueira
Ora a Avenida Luísa Todi era o passeio da burguesia da viragem de século XIX / XX e o Troino o bairro dos pescadores, que com ela confinava a poente.
E pode entender-se que Mariana Torres está de olhos vendados porque se vendavam os olhos de quem era fuzilado e ela foi assassinada a tiro, em 13 de Março de 1911, pelas forças policiais que reprimiam a manifestação em que o operariado reivindicava melhores condições de vida e de trabalho. Para além de vários feridos, houve outra morte: a do operário António Mendes. O acontecimento ficou na altura conhecido como os "fuzilamentos de Setúbal". O monumento, da autoria do escultor Jorge Pé-Curto, inaugurado a 8 de Março de 2016 (Dia da Mulher) homenageia Mariana Torres. Poderia haver outro mais abrangente, que homenageasse as lutas operárias, designadamente na indústria conserveira. Mas optou-se por destacar a mulher, que eram a maioria, sobre-explorada.
E já agora, a feminista e republicana Ana de Castro Osório na altura tomou o partido da sua classe, (a burguesia proprietária das fábricas conserveira) contra a luta e reivindicações do operariado conserveiro de que Mariana Torres e António Mendes faziam parte.
Sobre a escultura e o local em que foi colocada, cada um faz a sua interpretação mas ... qual delas é a certa ?
Quem construiu a Luísa Todi como Passeio Público foi a burguesia novecentista, anteriormente à morte da operária Mariana Torres. Mas nunca a burguesia setubalense iria homenagear uma operária ou colocar no Troino a estátua da "artista" Luísa Todi tal como não colocou a estátua de Bocage em S. Domingos.
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