Allfabetização

Este postal é - creio - uma fotografia retirada dum dos dois filmes que há dias vi sobre as campanhas de alfabetização, as tais em que eu gostaria de ter participado em Agosto último se ... Esta cena do filme era comovente: uma mulher que até aí não sabia comunicar por escrito, conseguir fazê-lo. A procura das sílabas, o gesto hesitante, o voltar atrás para corrigir ou desenhar melhor a letra !!! Deve ser bestial um tipo descobrir que sabe ler, não achas? (1974)

Escrevivendo e Photoandando

No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.

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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.

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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.

VN

sábado, 18 de novembro de 2017

luanda cerca de 1952 - esta carrinha Morris, creio que de cor creme




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Victor Barroso Nogueira atualizou a sua foto de capa.

foto de família - luanda cerca de 1952 - esta carrinha Morris, de matrícula L - 17179, creio que de cor creme, foi o 1º carro da família, contemporâneo do "jeep" cuja carroçaria o meu pai construiu no quintal, referido em post anterior. Na foto a paisagem árida e seca dos arredores de Luanda, onde proliferam imbondeiros, figueiras da índia, entre outras plantas xerófilas como os cactos candelabros ou similares aos do sisal, para além do capim, erva, verde apenas na estação "fria".

Na carrinha, por detrás da cabine, a característica grade onde a miúdagem se agarrava para viajar em pé na carroçaria, o vento acariciando o rosto.

Devido ao clima e ao contrário do que vim encontrar em Portugal, as carrinhas eram de caixa aberta e não se chamavam camionetas.

Atendendo à vestimenta, devera ser o "cacimbo", uma das únicas duas estações climáticas tropicais, esta caracterizada pelo "frio", seca, não pluviosa, do orvalho (cacimbo) e do nevoeiro. que à noite nos fazia sobre a camisa enfiar um casaco ou uma camisola.

A outra estação, a das chuvas, não tinha nome, coincidindo com o ano lectivo em Portugal, a partir de 1952, qd passei da 1ª para a 2ª classe: 9 meses de calor infernal, elevada humidade relativa, torrenciais aguaceiros e terríficas trovoadas estrondosas e relampejantes, seguidas de sol e céu límpido.

A chuva e as trovoadas eram quase sempre nocturnas e a forçada coincidência dos anos lectivos nas colónias a sul do Equador, e na "Metrópole", sacrificando milhares de estudantes, destinou-se a "proteger" sem "hiatos" lectivos a minoria muito minoritária capaz e com possibilidade de prosseguir estudos universitários em Portugal.

Em 1952 as viagens de barco entre Portugal e Angola duravam 12 dias e a partir de 1960 e tais reduziram-se para 8 dias. Quanto às viagens por avião eram de 12 horas (aviões a hélice, quadrimotores) no início da guerra colonial, reduzidas para 8 horas com os aviões a jacto. Contudo em 1963 ainda eram os quadrimotores a hélice e levámos 19 horas devido à proibição de voos portugueses sobre o espaço aéreo dos países africanos recém-independentes, devido à guerra colonial
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Note-se que a rede escolar se ia afunilando desde a escola primária – abrangia essencialmente a minoria "branca" e não havia universidades nas colónias antes do início da guerra colonial em Angola, no início de 1961, potência colonizadora, como não poucos de nós, nascidos em Angola, paulatinamente, a passámos a considerar a partir de 1961, como se reflecte no meu poema "Raízes"

............."Maianga Maianga
.............Bairro antigo e popular
.............Da velha Luanda
.............Com palmeiras ao luar ..."


.............''A Praia do Bispo
.............Cheiinha de graça
.............De manha á noite
.............Sorri a quem passa ..."

............(das Marchas Populares em Luanda)
Longo era o bairro ao longo da marginal
Longo era o bairro do morro de S. Miguel ao morro da Samba
Grande era o bairro e grandes as casas
No meio o bairro operário e a igreja de S.Joaquim,
estreitas as ruas, pequenas as casas.

Nas traseiras, o morro,
no alto o Palácio,
Na frente a larga avenida,
o paredão, as palmeiras e os coqueiros
a praia que já não era do Bispo
mas das pedras, dos limos e dos detritos.

Mais além a ilha que era península
com a sanzala dos pescadores
casas de colmo no areal
da extensa e boa praia
o mar sem fim.

Em Luanda nasci
Em Luanda vivi
Em Luanda estudei

Não Angola mas Portugal
Todos os rios e afluentes
Todas as linhas férreas e apeadeiros
Todas as cidades e vilas
Todos os reis e algumas batalhas
as plantas e animais
que não eram do meu país.

De Angola
pouco sabíamos
até ao 4 de Fevereiro, até ao 15 de Março
Veio a guerra e
....................a mentira
que alimenta
..................a Guerra,
Veio a guerra e a violência
veio a guerra e a liberdade.

Em Évora a 11 de Novembro
Em Luanda a bandeira do meu país
no mastro subiu.
Era o tempo da liberdade e da esperança.

No Porto
Em Lisboa
Em Évora estudei
Em Évora casei
Em Évora vivi e nasceram o Rui e a Susana.

Em Setúbal moro e no Barreiro trabalho
Perdidos os amigos,
perdida a infância
Estrangeiro ......sem raízes ......sou em Portugal.

Victor Nogueira
1989


15 comentários
Comentários
Maria Lisete Almeida Grata pela partilha Amigo Victor Nogueira. Abraço.

Isabel Dias Alçada Fazes com que me lembre da minha passagem por Moçambique , beijinhos 
Fatima Mourão obrigado pela partilha,adorei 
Arminda Griff A do pai era mais moderna,acho! Tenho uma miniatura aqui em casa. Todos para a praia...
Lya Tavares As fotografias guardam momentos que jamais se repetirão, a não ser em sensações, lembranças... Nossas histórias do tempo. Belas lembranças suas! Grande abraço!
Elsa Cardoso Vicente Traz-me recordações tão boas, obrigada
Clara Roque Esteves África nossa, certo? Cada um em seu canto, eu passando por quase todos. As recordações são semelhantes. O nosso carro era preto em Moçambique, beje em Angola. Gostei muito da tua descrição, Vítor. Levas-me todos os dias ao passado, uma fase muito importante e bonita da minha vida. Um grande beijinho.
Deolinda Figueiredo Mesquita Muito bom, gosto imenso, obrigada, Victor.
Octávio Guedes Coelho Em 1959, comprei na SOREL (representante da Morris) o L-17000. um Morris igual, mas em automóvel, verde escuro, que tinha sido Taxi e tornara-se muito conhecido pela matricula 17000. Carro que tinha sido muito estimado, estava quase novo. Foi o meu primeiro carro a sério, depois de um "malvado" DODGE que só me deu despesa e acabou transformado em "pacaceira" para a caça. Abraço.

Anabela Valagão Valentim Bom dia ! Victor Barroso Nogueira  Adorei as suas recordações e recordar é viver 
Milu Vizinho Gosto obrigado Victor Bjs 

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