No tempo em que eu era mais novo
Fazia muitas perguntas e
metia conversa com muita gente, nos transportes colectivos ou na rua
No tempo em que eu era mais novo
A casa dos meus pais tinha sempre portas e janelas abertas - ao sol e ao vento -
e à mesa sentavam-se do operário ao engenheiro
qualquer que fosse a cor da pele
Também a minha casa sempre teve portas e janelas abertas
E à minha mesa senta(va)-se toda a gente.
- este toda a gente tem como limite reconhecer-me no outro/outra –
E muitas vezes os operários me dizem
que me consideram um deles
Hoje estou mais velho
- envelheci neste país pequeno, cinzento e de vistas curtas –
No tempo em que era jovem e no país em que nasci
- na camada social a que pertenciam os meus pais –
e mesmo depois na Universidade em Lisboa
os rapazes e as raparigas andavam juntos
no café, na praia, no cinema, em passeio.
Agora envelheceram-me
E se o Victor dos 20 anos se sentasse defronte do Victor de hoje
Seriam quase dois estranhos frente a frente
- neste país pequeno, cinzento e de vistas curtas –
Não perdi a juventude
mas envelheceram-me ou envelheci
e no outono da vida
continuo à espera da primavera.
Apesar de tudo as mãos e os gestos continuam abertos
- embora mais retraídos –
Mas das mãos escorre apenas areia
e um deserto de flores esmaecidas.
Vim com a esperança de rever velhas amizades e conhecer novas
mas nenhuma delas respondeu ao meu convite
e recolhido em mim
desisti de reencontros ou de conhecer novas gentes
Assim regresso ao sul
ao céu azul, luminoso e pleno de claridade
para um mar chão e de calmaria
onde não há penélope e ulisses
e a amizade é também quase sempre uma palavra vã..
No tempo em que eu era mais novo
cada pessoa era um amigo/amiga.
Mas isso, isso é passado,
Hoje ..., hoje as aves não [não são um pássaro em campo azul
- Alguma vez voarão de novo ?
[Setúbal 2017.11.28]
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