* Victor Nogueira
2022 10 21 - A relação de Portugal com as colónias sempre foi uma relação de exploração de produtos "básicos" (ouro, diamantes, especiarias, café, algodão, cacau ...), com utilização, de mão de obra sem direitos (em regime de escravatura ou de trabalho "contratado"), como aliás sucedia na "Metrópole".
Sendo um país pouco industrializado, essencialmente agrícola (predomínio do minifúndio e do latifúndio, com processos de exploração baseados na utilização intensiva de mão de obra, analfabeta, familiar ou proletarizada e mal remunerada) e no uso de processos arcaicos, pouco ou nada mecanizados e automatizados) (nas colónias a maioria dos naturais não falavam português nem era escolarizada), as colónias eram, assim, meros fornecedores de matérias primas, necessárias á Metrópole.
Por isso uma parte das classes dominantes em Portugal, representadas e defendidas pelos Governos de Salazar, num jogo de equilíbrios, opunham-se ao desenvolvimento das forças produtivas, quer na Metrópole, quer nas colónias.
Em 1961 e contra os "ventos da história", venceram as forças "colonialistas" que adiaram apenas o choque entre os que defendiam e os que se opunham á industrialização e desenvolvimento na Metrópole e a uma certa abertura nas colónias.
Em 1961 isso foi visível no choque e contradições entre o General Deslandes, Governador Geral de Angola, e Adriano Moreira, Ministro do Ultramar de Salazar, um dos vários delfins em competição com Marcelo Caetano. Oito anos mais tarde venceu Marcelo, que foi incapaz de cortar o nó górdio para resolver na continuidade as contradições agravadas pela guerra colonial e pela emigração.
O problema da necessidade duma carta de chamada, para os "brancos" da Metrópole, maioritariamente pouco letrados ou analfabetos, não me parece que fosse o medo. O problema era que não tendo os "brancos" garantia de trabalho, caíram na mendicidade ou exerceriam em competição as tarefas desqualificadas "naturalmente" reservadas aos autóctones.
Tal poderia sem problema suceder e aceitar-se com os emigrantes portugueses para as Américas ou para os países industrializados europeus, pois constitum uma fonte de rendimento para Portugal, mas era inadmissível relativamente às colónias, por ser inaceitável, por razões ideológicas, que os "brancos" concorressem com os trabalhadores autóctones em tarefas desqualificadas e mal remuneradas.
O problema entre Portugal e as colónias é que o desenvolvimento da burguesia, do mercantilismo, do capitalismo e da industrialização foi deliberadamente travado com a expulsão dos judeus e a acção da Igreja Católica, (terratenente, em articulação com a nobreza), sem esquecer o papel fulcral da Inquisição, dos Pina Maniques e da PIDE/DGS.
2022 10 21 - Marcelo de Sousa, Presidente da República Somos (quase) Todos Ucranianos, assume-se despudoradamente como putativo intérprete do pensamento dos portugueses e portuguesas, como porta-voz duma eventual candidatura de Passes de Coelho á Chefia do Estado e como contumaz protector do "seu" PSD.
Marcelo não garante o regular funcionamento das instituições democráticas. Marcelo é um entorse ao regular funcionamento das chamadas instituições democráticas e á Constituição da República, que jurou respeitar, defender, cumprir e fazer cumprir.
Afirmando que fala(va) como Presidente da República, Marcelo de Sousa segregou pérolas deste calibre e alto gabarito:
“Eu falei [sobre Passos] para dizer que o país lhe deve, porque deve mesmo, aquilo que fez durante o período da troika, e que é um ativo político importante para o futuro”,
“Em relação a Passos Coelho, como em relação a outras pessoas, falei como Presidente da República, e não como Marcelo. É a minha opinião como Presidente da República, dizendo em voz alta o que muitos portugueses pensam.”
Deste modo Marcelo conseguiu sacudir e desviar os holofotes das suas inábeis prestações na trama com a Igreja Católica e a pedofilia no seio desta, dando á comunicação social a oportunidade de mudar o foco e surfar a crista das ondas, ao escorrer da espuma dos dias.
O que não impediu que Miguel Relvas, um empenhado passista, tivesse logo de seguida, aconselhado o Presidente da República a “preocupar-se com o seu mandato e a exercer a sua função de fiscalização do Governo”. Relvas avisou, aliás, que “Passos Coelho não tem nenhum dever nem nenhuma obrigação moral de avançar nas presidenciais” e que, se alguma vez o entender fazer, “isso só pode vir da sua vontade pessoal e nunca de grupos ou, muito menos, de seus antecessores”.
Na senda de Bolsanero e de Aníbal, os passistas desconsideram Marcelo de Sousa, apesar da aparente bonomia sorridente e a orgia de afectos e selfies que são a sua imagem de marca.
ADENDA - Em tudo isto ressaltam dois aparentes equívocos:
O Presidente da República apresenta-se como uma espécie de oráculo que, perante o silêncio duma eventual "maioria silencioso", dá voz a esta, indicando-lhe os caminhos do futuro que reconhecidamente deve trilhar, em reconhecimento rumo ao paraíso na terra sob a liderança dum novo pastor ou caudilho.
Miguel Relvas, tal como Marcelo de Sousa, parece desconhecer a Constituição da República, ainda em vigência, isto e, a tarefa de "fiscalizar" o Governo não é da competência do Presidente da República, mas sim da Assembleia da República e, em última instância, do eleitorado que elege os deputados e determina a correlação de forças entre os partidos políticos que em cada legislatura a integram.
2020 10 21 Foto victor nogueira - azenha e ponte sobre o Rio Cávado, que liga Barcelinhos e Barcelos. Distinguem-se também as ruinas do Paço dos Condes de Barcelos e Duques de Bragança assim como a Igreja de Santa Maria e, à esquerda, as torres do Solar dos Pinheiros.
VER Barcelos, Barcelinhos e Rio Mau em 2003
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