Allfabetização
Escrevivendo e Photoandando
No verão de 1996 resolvi não ir de férias. Não tinha companhia nem dinheiro e não me apetecia ir para o Mindelo. "Fechado" em Setúbal, resolvi escrever um livro de viagens a partir dos meus postais ilustrados que reavera, escritos sobretudo para casa em Luanda ou para a mãe do Rui e da Susana. Finda esta tarefa, o tempo ainda disponível levou me a ler as cartas que reavera [à família] ou estavam em computador e rascunhos ou "abandonos" de outras para recolher mais material, quer para o livro de viagens, quer para outros, com diferente temática.
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Depois, qual trabalho de Sísifo ou pena de Prometeu, a tarefa foi-se desenvolvendo, pois havia terras onde estivera e que não figuravam na minha produção epistolar. Vai daí, passei a pente fino as minhas fotografias e vários recorte, folhetos e livros de "viagens", para relembrar e assim escrever novas notas. Deste modo o meu "livro" foi crescendo, página sobre página. Pelas minhas fotografias descobri terras onde estivera e juraria a pés juntos que não, mas doutras apenas o nome figura na minha memória; o nome e nada mais. Disso dou por vezes conta nas linhas seguintes.
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Mas não tendo sido os deuses do Olimpo a impor me este trabalho, é chegada a hora de lhe por termo. Doutras viagens darão conta edições refundidas ou novos livros, se para tal houver tempo e paciência.
VNquinta-feira, 19 de junho de 2014
Não é de Ulisses a história dela
Não é de Ulisses
a história dela
mas de João Baptista
escribador sem pão
sem andor
nem ardor
Não era João rei de Ítaca
aquele cujas narrativas eram escritas a golpes de espada,
sem pena nem medo
Era João simples aedo
peregrino
não de Compostela
não da estrada de santiago
mas filho do diabo
baptista sem alpista
como fernão mendes não minto
em suas narrativas
Não estava João liberto
mas sem o canto de Calíope
indiferente
Penélope
no encanto irresistível
de Circe
surda e muda
ao marinheiro
do navio fantasma
aventesma
Paço de Arcos 2014.06.19
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