entre eros e afrodite 27 - cartas a penélope 13
Perguntas porque estou ausente, sério
Aquela casa à beira-mar plantada
O forte, no cimo daquele monte
Do cimo do forum está, bem vejo
entre nós não há nós
Que nós desejamos nós alcançar
De mil anos parecem os meus dias
Em teu brando olhar eu me aqueço
recordo o teu sorriso
quem me quer não quero eu
(es)vai-se a vida num instante
comend'a sopa de letras
MEMÓRIA DESCRITIVA
retrato de gioconda por Fra Angélico
Não é de Ulisses
está penélope
aqui o paredão
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Perguntas porque estou ausente, sério,
sentado, contigo, na esplanada,
entretecido em malha parada,
como se no ar houvesse mistério.
A chave da caixa está no saltério,
não frente-a-frente mas lado-a-lado
com o gesto bem articulado
buscando em nós suave minério;
flor, roseiral, de juntos na jornada
reconhecernos nossa voz, teus passos,
sem que minha alma ande penáda,
presa no silêncio dos teus laços.
sem o gesto, o verbo, a chamada,
destemido rio sem embaraços.
2014.07.21 setúbal
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Aquela casa à beira-mar plantada
a partir dum soneto de Maria João de Sousa
Aquela casa à beira-mar plantada
cheia de sol, ar, sal e maresia,
com extenso areal onde cabia
o mundo numa risonha jornada
Palmilhando ridente caminhada
que de folguedos, jogos, se fazia.
com vasto horizonte a estadia.
sem medos, receio, da trovoada.
Grande calor, abafado verão,
logo seguido do fresco cacimbo,
nas ondas correndo a viração
De palma, estacaria, o quimbo,
seus pescadores na ondulação
lançam rede, luzindo seu cachimbo.
2014.07.21 Setúbal
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O forte, no cimo daquele monte,
terrorizante é de S. Filpe
com a serra, o sado, em despique
o vale, palmela no horizonte.
O rio azul, da musa é fonte
E eu, circundando este acepipe,
em ti busco vaza, o trunfo, naipe,
para que entre nós o sol desponte.
É de novo Setúbal a teus pés,
a brisa luminando teu sorriso,
minha pena liberta das galés
como se vogando no paraíso
pintando ou esculpindo no crés
com sapiência, preclaro aviso.
2014.07.21 setúbal
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Do cimo do forum está, bem vejo,
brilhante, refulgente, o rio,
entretecendo a roca, o fio,
da serra-mãe, em braçada, um beijo.
Tu comigo, dona do meu desejo,
és senhora do meu abecedário,
ária de ópera, um santuário,
delicado cante no azulejo.
E na arrábida é o Portinho
que além, naquela ponta vês,
com santa margarida bem juntinhos
dos deuses, deidades mil, golfinhos,
vogando cavaleiros sem arnês.
no forte do outão, com pão e vinho.
2014.07.21 setúbal
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entre nós não há nós
apenas dura noz
coração em pedra dura
que perdura e pendura
lassos, sem laços,
com embaraços aos baraços
sem abraços ...
nem beijos
... bem vejo
a pegada sem pega
... piando sem pio a piada
desfiando
no fio da navalha!
2014.07.20 setúbal
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Que nós desejamos nós alcançar
noite e dia, noite e dia, fiando
de barca em barca esvoaçando
no charco, lamaçal, a chapinhar?
Vinte e quatro são letras a juntar
em minutos que se vão escoando,
vera claridade ou ensombrando
a vida, o tempo, o sol, o ar.
E de enigmas se enchem as horas
na cidade, no campo, giroscópio
de sons, luzeiros, sabores, metáforas
que em gigantesco caleidoscópio
nos dá de penélope e pandora
a chave, sem heroína nem ópio.
2014.07.20 setúbal
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De mil anos parecem os meus dias,
em nau mal aparelhada vogando.
com as penas sem pernas remando
o verde, azulado, como enguias.
Pergunto ao vento se me quererias
em clara sintonia entoando,
nos ribeiros pardais esvoaçando
e na volta da campina trarias
mil artes, mel, engenhos, mui ágil
com a sabedoria dos bem sábios
que céus e terra cobrem de anil
Mil flores nascendo em teus olhos, lábios,
em campina a pedra, o fuzil,
reluzindo novos, doces, desígnios.
2014.07.20 setúbal
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Em teu brando olhar eu me aqueço,
com sons que no horizonte verdecem,
e as linhas dos teu lábios tecem
mil sóis rendilhados que não esqueço.
Ah! o mar e sol em vós, confesso
afastam-nos dos cais que anoitecem;
no monte, flores, águias, entretecem,
esculpindo nosso amor em gesso.
O mundo todo abarco e nada afasto
dos sábios tendo ciência, sabedoria,
certeira, na caminhada com rasto,
Será tal riqueza da alegoria
que nosso sentir não será nefasto.
antes estralejando de alegria.
2014.07.20 setúbal
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recordo o teu sorriso
desejo meu de nele mergulhar
Na madrugada que tu és
retenho sempre
as finas rugas do teu olhar
o teu porte e a tua voz doce
ridente e cristalina
de menina e moça
donairosa
Mas ...
face à tua reserva
guardo em mim as palavras ...
… e os gestos
Quando partes
sufocam-me o deserto
o vazio em mim
este nó na garganta e no peito
as flores esmaecidas
pela tua ausência.
Ah! Não me convidares
numa só palavra
num só gesto
o da tua mão na minha
e
contigo partirmos
na onda
senda de novos portos
e marés.
Este é, sem ti
fraco poema
malabarismo
oco e apagado verbo
verbo sem veia
que sem rima não rema
- desincendeia.
2014.07.19 setúbal
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quem me quer não quero eu
quem eu quero não me quer
assim no banco, de breu,
fica jogo por fazer
eu sem sumo assumo:
em branco, tu somas, somes,
e eu no mar sem tua rima,
nu cant'o desconto, canto ...
... e o desencanto conto:
a vera fera o ferro ferra
... em fuga seu encanto
de mim, mal conto e erro
muito pouco nada
2014.07.18 setúbal
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(es)vai-se a vida num instante
e corrend'a charneca em flor
estala fogo, crepitante,
na campina, com esplendor.
Soará na brisa sufoco
ou aragem refrigerante;
nas minas santa-do-pau-oco
e na cidade contrastante.
Em rendilhado, no andor,
a teia, tece e ateiam
no mar, as ninfas com seu esplendor,
os marinheiros que doideiam.
Letra a letra nasce a pintura
nota a nota vem a pauta
com jogos, baile de cintura,
de eros e com pã a flauta.
Isto não é boa poesia,
pois em papel se esfarela,
como se em neurastenia
se rompesse a farpela!
De nada valem, meras tretas,
em carreirinhas desiguais,
são lantejoulas, mal rimando,
papoilas, pardais, nos trigais.
2014.07.13 setúbal
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caias de cair
com mil estrelas no toutiço
caias na parede
alva de cal
é o o cais
navegando
tem-te e tens
não te tens
e em vai-vem ... vens-te
viste a véstia
e na restia ... a veste
despes
no bom cair é que está o ganho
em cama ou na casa
nos braços meus ou ... teus
apanho
Oh Céus de Zeus !
o sonho sonha
bisonho ou risonho?
não rima o poema
nem rema a trama
treme o trema
na rama
e o ramo
é o cais?
2014.07.11 Setúbal
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comend'a sopa de letras
vai crescendo a canção,
entretecida com tretas
batendo ou não, coração.
2014.07.06 Setúbal
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MEMÓRIA DESCRITIVA
no jardim
aragem chinesa ou nipónica
em filigrrana rendilhada
um jogo de luzes em chiaroscuro
dicotómico e caleidoscópico
sombria de sombras
na penumbra em contrastaria
rútilo é o i
entre o gradeamento
e a folhagem
a preto e branco
síntese ou ausência da cor
senza cuore il senso
a cinza e a neve
il silenzio
sem refração
na espiral rectilínea
visto o registo
em curvilínea planura
2014.07.03 Setúbal
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os dedos em arremedos
um beijo em solfejo
abraços em baraços
nós sem laços
e na rua
a lua nua`
lassa
cruciforme
baça
sem ti
e o destino
um malão de cartão
no porão
e
a
ínsula
onde a pena ou a "pen" da península
istmo com ritmo
o sábio astrolábio ?
2014.06.04 setúbal
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retrato de gioconda por Fra Angélico
2014.07.02 setúbal
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Não é de Ulisses
a história dela
mas de João Baptista
escribador sem pão
sem andor
nem ardor
Não era João rei de Ítaca
aquele cujas narrativas eram escritas a golpes de espada,
sem pena nem medo
Era João simples aedo
peregrino
não de Compostela
não da estrada de santiago
mas filho do diabo
baptista sem alpista
como fernão mendes não minto
em suas narrativas
Não estava João liberto
mas sem o canto de Calíope
indiferente
Penélope
no encanto irresistível
de Circe
surda e muda
ao marinheiro
do navio fantasma
aventesma
Paço de Arcos 2014.06.19
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está penélope
nos braços de calíope recostada
muda no túrgido seio
e
no passeio jaz
prometeu sem ela
nem palma na arte de talma
no jogo
vulcano sem fogo
Paço de Arcos 2014.06.18
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aqui o paredão
ali as rochas
o iodo das águas
sem lodo
e
as velas
a dança ritimica
compassada
das ondas
marulhando
ao vento em filigrana
o teu cabelo bailando
ao fundo o bugio
e o teu sorriso planando
finas rugas no teu olhar
o mar
na praia e na rede
o mistério
e
o suave perfume
do corpo apetecido
e do sorriso
riso liberto
quem mora dentro de nós ?
Paço de Arcos 2014.06.10
vem de entre eros e afrodite 26 - cartas a penélope 12
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