* Victor Nogueira
Não está poeticamente outonal nem soalheira e dourada a manhã, mas invernalmente cinzentonha e chuviscosa. Para lá da vidraça mas para cá do horizonte voam pássaros em cerradas e velozes formações, a rasar o solo. Tudo é silêncio, salvo o zumbido nos meus ouvidos, quebrado pelo hoje raro sobrevoo desta ou daquela aeronave, e o baque rápido e compassado do meu dedilhar nas teclas - com intervalos de silêncio para refazer adequadamente esta ou aquela expressão ou palavra.
Os regos do cegado milheiral convergem para o edifício branco lá longe, tal como as hastes remanescentes do milho se alinham em rectilíneas fileiras, junto ao solo. Olho novamente pela janela e a mata verde escura parece-me mais próxima e não tão longínqua. Mas nem este é o Castelo de Dunsinane, nem aqui mora Macbeth. Logo, aquela não é a Floresta de Birnam.
Levanto-me, aproximo-me da vidraça e de facto, envoltas pelo nevoeiro, as árvores e as casas que bordejam o campo parece terem aumentado de tamanho e parece estarem muito mais próximas, como se estivessem agora ao alcance dum braço estendido. Vou buscar a Canon e pelo visor tudo me parece como habitual, às distâncias habituais. O terreno do quintal está despido e castanho - dentro em breve germinarão as nabiças - as folhas dos feijoeiros vão-se desverdando em tons de amarelo - é tempo de colher as últimas vagens - e algumas dálias laranja e rosas avermelhadas como vinho tinto timidamente tentam dar alguma cor ao tristonho meio-ambiente que me cerca.
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