* Victor Nogueira
Aqui na "Mexicana" nos meus tempos de estudante e mesmo depois disso muitas vezes lanchei e muitos encontros tive com colegas, sobretudo com a Emília mas não só. Perto ficavam os Cinemas Império, Estúdio e Londres e a Livraria Barata, que frequentava. Mais distante e num cinema de bairro cujo nome me não ocorre, numa transversal paralela à Almirante Reis e perto do Mercado Municipal, eram as sessões do CCUL - Cine Clube Universitário de Lisboa, de que era associado.
A Confeitaria "Mexicana" abriu as suas portas em 28 de Dezembro de 1946, na Avenida Guerra Junqueiro, junto à Praça de Londres, em Lisboa. ...
RESTOSDECOLECCAO.BLOGSPOT.COM
Desses tempos ficaram os registos na minha correspondência relativos aos idos de 1974.
Da Alameda a Alvalade
Já é sábado, ao
entardecer. Estou aqui na esplanada da pastelaria
"Mexicana", aqui na
Praça
de Londres. As pessoas falam animadamente; todo o comércio, no entanto, está
todo fechado: está em vigor a semana de 5 dias de trabalho. Assisti, ao
meio da tarde, ao encerramento dos cafés e pastelarias, cujos clientes as
abandonaram calmamente - muitos com pacotinhos de bolos - não fossem manifestantes (que não cheguei a ver) partirem
os vidros. Esperemos que a
"palavra de ordem" não se tenha esquecido
que há muita malta que precisa dos restaurantes para almoçar e jantar; no 1º de
Maio, um tipo ainda aguenta, mas agora... (
[1]) Ah! neste preciso momento abrem‑se as
portas da pastelaria. Talvez o encerramento tenha sido apenas para o tempo da
manifestação dos caixeiros, iniciada no Rossio. (Foi mesmo!). (MCG -
1974.05.11)
Sentado aqui no
"Copacabana" vejo as pessoas que passam aqui na rua ou que
"estacionam" na esplanada. Um velho mal barbeado pede qualquer coisa
às pessoas com chávena, pires e copos mais ou menos vazios diante de si, mas
ninguém lhe liga. Relanceio o meu olhar ao meu redor e são velhos e velhas que
enchem as cadeiras da esplanada. Além, na "Mexicana", a juventude é a
nota característica. Que fazem estas
pessoas ? De que vivem? Tão ociosas que estão!
Faço horas aqui na
Avenida Guerra Junqueiro, [na "Mexicana"] junto à Praça de Londres. (...) Levanto o olhar e
dou pela papelaria em frente; na montra títulos de livros ou assuntos na
"berra": "Sobre o Capitalismo Português", "4
ismos" (uma porcaria!), "O Drama do Chile", "Tarrafal,
Aldeia da Morte", "Watergate, o Processo do Século"´ (e eu a
pensar nos julgamentos de Nuremberga ou de Estocolmo, respectivamente, sobre os
crimes contra a humanidade, dos Nazis e dos Americanos no Vietname!), "O
Capital (Karl Marx), "O Estado e a Revolução" (Lenine), "Como
Iludir o Povo" (idem)...(MCG - 1974.09.12)
Ali as Galerias ITAU, aqui na Alameda D. Afonso, estão fechadas - e deve ser há muito - pelo que
resolvi sentar‑me na Esplanada do Pão‑de‑Açúcar a lanchar e, enquanto faço
horas para ir até à Gulbenkian, vou escrevendo. O barulho é muito: dos carros
que passam, o roncar dos motores e as buzinadelas, o chiar dos pneus no asfalto
e o roçar das cadeiras e mesas de ferro no empedrado da calçada, isto sem falar
no homem que varre o passeio e no vozear das pessoas que conversam. Enfim, uma
"sinfonia" pouco agradável, mas lá dentro o ar está quente e de
cortar à faca. (MCG - 1974.10.17)
Esta zona das Avenidas de Paris, de Londres, do Brasil e dos
Estados Unidos, incluindo as Praças de
Londres e do Areeiro, ligadas pela Avenida da Igreja, correspondem ao
desenvolvimento dos anos 50/60, aqui se pretendendo então que coexistissem em áreas recatadas e protegidas do bulício
diversas classes sociais, espalhadas
por vivendas ajardinadas e prédios de andares. Tudo isso ficou para trás e as
avenidas de Roma, dos EUA e do Brasil são continuamente ocupadas por automóveis
em movimento e atravessadas por viadutos ou por túneis, que facilitam o
escoamento do tráfego. Os passeios da avenida de Roma foram parcialmente
ocupados pelos automóveis e as ruas já não se atravessam com o descuido de
outrora. (Notas de Viagem, 1998.Maio)
Sem comentários:
Enviar um comentário