Morreu Manuela Silva, a economista para quem a pobreza é uma violação dos direitos humanos
https://www.publico.pt/2019/10/08/economia/noticia/morreu-professora-catedratica-iseg-manuela-silva-1889253
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* Victor Nogueira
Uma Mulher de armas
Tivemos hoje à tarde a 1ª aula de Planeamento Social, com a Manuela Silva, já minha conhecida do ano passado, quando frequentei voluntariamente as suas aulas. Sua Excelência - que tem um sorriso e olhos bonitos e cerca de 40 anos - é também uma mulher de armas. O curso quase todo apaixonou-se pela sua simpatia e frescura. Mas Sua Excelência deixou-me algo intimidado, com as suas deferências para comigo, quer durante as aulas, quer no intervalo (a aula dura 4 horas). (1) (MCG - 1972.10.31)
Um breve regresso a Económicas
Está um dia de calor abafado. Desconhecendo ainda o que a casa gasta, saí de manhã com o guarda chuva na mão e o casaco debaixo do braço. O que vale é que Lisboa é grande e a minha parvoíce passa desapercebida. Estive em Económicas com a Manuela Silva, sobre a possibilidade de participação no corpo docente do ISESE. Para além disso S. Exa perguntou-me o que fazia eu, e como lhe dissesse que estava no "exército industrial de reserva", perguntou-me o que me interessaria (talvez haja possibilidade no MEC) e ficou de contactar comigo. Os contínuos (o sr. Pinto e o sr. Cascais) - vê lá! - ainda se lembram de mim e perguntaram-me se eu voltava para Económicas. Ah!Ah!Ah! (2) (MCG - 1974.09.12)
1) - Esta economista fazia parte dum movimento católico laico: o Graal. Os seus exames eram com consulta livre, o que escandalizava os jesuítas eborenses. Tendo deixado o meu para a 2ª chamada, fui o único numa sala vigiada pelo secretário, Pe. Augusto da Silva, sj, que pretendeu impedir-me a consulta dos elementos de estudo. Lá o consegui convencer que não era essa a posição da professora que vigorava nos seus exames e que para quem não soubesse a matéria, não havia consulta que lhe valesse. Pelo que voltou atrás e foi-se embora, deixando-me sozinho, e passei com 14 valores.
(2) Embora eu fosse simpatizante do MPLA desde os bancos do Liceu em Luanda, em Évora participei com a Manuela Silva em reuniões da SEDES, onde predominavam os chamdaos católicos progressistas, antes do 25 de Abril, e encontrámo-nos por diversas vezes em Lisboa a seguir a esta data. Muitos anos mais tarde cruzámo-nos acidentalmente na estação ferroviária de Cascais. Cumprimentei-a enquanto lhe perguntava se ainda se lembrava de mim e simultaneamente pensava que estava a ser estúpido pois já havia passado muito tempo e ela já teria conhecido milhares de alunos e pessoas. Com o seu sorriso deslumbrante disse que sim, Seria verdade ou apenas simpatia? Talvez fosse verdade porque dezenas de anos decorridos há não poucas pessoas que me reconhecem e ainda se lembram da minha pessoa.
Nessas reuniões na SEDES, em Évora, participavam entre outros, o arquitecto Manuel Tierno Bagulho (membro do MDP/CDE e Presidente da 1ª Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Évora depois do 25 de Abril, de 1974 a 1975), a dra. Mariana Perdigão (que aderiu ao PPD e veio a ser Governadora Civil do Distrito,de Évora), o Cruz, bancário, membro do MDP/CDE, vereador na 1ª Comissão Administrativa da CMÉvora, que aderiu depois ao PPD, o dr. Abílio Fernandes, professor no ISESE, membro do MDP/CDE que aderiu posteriormente ao PCP (1º Presidente eleito da CMÉvora, de 1977 a 2001). Dos alunos do ISESE recordo-me que participaram além de mim o Viegas de Carvalho e o Aristides Picanso da Silva. Estes dois últimos achavam aquelas reuniões demasiado reformistas e abandonaram-nas. Por ser um espaço de debate possível no tempo do fascismo, participei nelas até ao 25 de Abril, pois considerava ser eu uma voz que questionava e remava contra a maré.
Após o 25 de Abril vários partidos convidaram-me para seu militante: o MDP/CDE, o PS, o PPD, a UDP, o PRP/BR mas fiquei-me pelo MES (Movimento de Esquerda Socialista) que abandonei passado algum tempo, pois independentemente do eventual interesse das suas análises políticas considerei que não passavam dum grupo de intelectuais que não sabiam falar às massas, desligados destas, assumindo a filiação partidária em finais de 1976, quando se realizou o VIII Congresso do PCP.. Não poucos militantes do MES acabariam por aderir ao PS.
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MDP/CDE . Movimento Democrático Português/Comissões Democráticas Eleitorais
MES - Movimento de Esquerda Socialista
MPLA - Movimento Popular de Libertação de Angola
PPD - Partido Popular Democrático
PRP/BR - Partido Revolucionário do Proletariado/Brigadas Revolucionárias
PS - Partido Socialista
UDP - União Democrática Popular
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